[Quem é você?] Olá Satyaprem! Agradeço sua presença nesta entrevista e não podia perder a oportunidade de começar com esta pergunta: quem é você?
[Satyaprem] Não tenho a menor idéia!
[Sobre iluminação] Satyaprem, você pode afirmar que é um iluminado? Por que? No que o estado de iluminação difere do estado de não-iluminação?
[Satyaprem] Não posso nem afirmar, nem negar. Quanto ao estado... Eis onde este diálogo fica obscuro. As perguntas feitas são reducentes. Iluminação não é um estado. Como uso dizer, é um pais inteiro, um planeta, um universo... Todos os estados acontecem e desacontecem no silêncio realizado, na luz. E ademais, aponta para a realização de que não há um eu/identidade. A qual em ausência não é nem uma coisa nem outra, não pode ser, por não ser existencial... Assim, não há "eu" iluminado. Não há "eu". Isso é iluminação. Que é a natureza de todos. No entanto, a diferença repousa na realização. A maioria ignora.
[Constatação] Satyaprem, suponho que você usou a palavra "realização" com o significado de "constatação" e em oposição a idéia de ignorância. É isto? Suponho, então, que iluminação é a constatação de que eu-não-existo e a não-iluminação é a ignorância desta verdade? É isto? Se for, minha pergunta é: se eu-não-existo como eu posso constatar minha não-existencia? [Satyaprem]Pois, Não é você quem constata. Há a constatação sem constatador... Por isso, r-e-a-l-i-z-a-ç-ã-o.
[O começo da busca] Satyaprem, suponho que você chegou a esta realização sem um realizador e foi assim que teve fim a sua busca. Mas já que começamos pelo fim, vamos voltar ao começo. Quando, como e porque começou a sua busca? Conte-nos os acontecimentos que o levaram a buscar. Narre os primeiros passos de sua busca.
[Satyaprem] Você tende a sinonimizar real-em-ação e consta-t-ação. No constar significa estar-em, dentro de, portanto, daria para entender que o real está dentro da mente que tem o mapa, consta na mente... No real-em-ação, o avesso fica evidente, a mente e seus mapas estão no real. E notáveis como irreal. O foco mudou sem alguém que o tenha mudado. A mente não entende... ou entende? A busca começa com a sensação de inadequação, descontentamento nas relações com o mundo. Como mudar o mundo fica impossível, fica claro o mudar a si mesmo. Eventualmente, o si mesmo revela-se ilusório. Ploft! Primeiros passos da busca: meu pai levou minha mãe num pic-nic. Fui com ele, voltei com ela. Entre milhões de espermatozóides um encontrou o óvulo. Ou será o óvulo que o escolheu? De qualquer forma, a busca é vida. Somos buscadores mesmo sem sabermos... O desenrolar dessa busca é inevitável. Tanto o buscar quanto o encontrar. Uns encontram no começo, outros no meio, outros no fim. Mas todos encontram. O "um" não se divide nunca, embora pareça. Fatos, eventos, tornam-se superficiais. Deixemo-los para a Revista Caras. Brevemente: drogas, espiritismo, umbanda, psicologia. Descontentamento. Osho veio como a resposta: meditação. Não como fim mas como meio. A meditação prepara. O fim não está nas nossas mãos.
Trecho de uma entrevista realizada no Orkut, na comunidade "Caneca na rede", por Marcelo Ferrari.