sexta-feira, agosto 31

na luz


Participante – A sua proposta não é que eu pare a mente, pois você afirma que ela sempre vai continuar presente.

Sim, ela vai continuar – mas você deve saber que ela não é você. Dessa forma, ela tenderá a encontrar um outro ambiente que a acomode de forma mais confortável.

A mente vai se ausentando cada vez mais até que, num momento de extrema clareza, você vê que não tem mente em lugar nenhum. Note o Silêncio presente agora.

Nosso encontro potencializa essa revelação, porém, essa experiência pode ocorrer através do seu próprio discernimento e esclarecimento. A mente está lá e você está aqui. Sem um relacionamento profundo com ela, sem magnetização, ela se perde.

Podemos ilustrar de outra forma. Visualize um centro com uma órbita de pensamentos à sua volta. O que mantém essa órbita intacta é o centro – lá estão o "eu" e o "meu". Se rotula tudo o tempo todo, você magnetiza essa órbita, mantendo-a em movimento. No momento em que assumir o não-eu e o não-meu, a órbita perde a gravidade.

"Gravidade" é uma palavra interessante de usar nesse contexto. Uma pessoa egóica é uma pessoa "grave". Uma pessoa sem ego é leve, é light – e a luz não tem gravidade nenhuma. Na luz, nasce a não-pessoa. 

quinta-feira, agosto 30

livre de si, você é liberdade


– Participante: Satya, você fala e eu entendo. Mas às vezes, lá fora, me sinto tão burra...

Lembre-se: mente inteligente é um contrassenso, e mente burra é uma redundância. Inteligência não é departamento da mente. E burrice não é departamento da Consciência. Você é inteligência. Você é a suprema inteligência.

Ter sucesso no mundo, tal qual ele está posto, não é sinal de inteligência. O mundo  demanda um enquadramento, um encaixe. Há uma equação, um esquema que basta ser entendido e pronto: você tem sucesso no mundo.

Você faz o primário, o secundário, um concurso público, compra um Vectra, casa, faz um filho e pronto! Veja: a vida é uma brincadeira! Claro que você pode fazer tudo isso, mas ver esses acontecimentos sem identificar-se é muito melhor. A Graça vem de um outro lugar, não vem das concessionárias, não vem do supermercado, não vem das grandes estradas, não vem da repetição... vem da originalidade, da exclusividade, do risco de poder errar.

Ter um filho e prepará-lo para um concurso público é desejar muito pouco que ele seja realmente feliz. O mundo precisa de mais poesia, arte, boemia... coisas que façam a diferença.

Se você é um juiz e sua filha se casou com um garçom, você merece os meus "parabéns"! Sério! Originalidade demanda coragem e coragem traz o frescor da liberdade implícito.

Inteligência, portanto, não vem da repetição mecânica inconsciente, não vem da mente, não vem da nuvem, inteligência é contraditória com isso. Inteligência é o risco. Faça tudo errado, arrisque e siga em frente! Todos temem o risco de errar e se mantém enquadrados num sistema que  é violento, que destrói as raízes da originalidade. Satsang rompe as barreiras do conhecido e propõe que você se des-enquadre totalmente. 

quarta-feira, agosto 29

because o céu nāo é azul


Um mantra:

 "Because the world is round it turns me on.

Because the world is round love is all.

Love is new.

Love is all.

Love is you.

Because the sky is blue it makes me cry"

 

Traduzindo:

"Porque o mundo é redondo ele me deixa ligado (me dá tesão, me deixa vivo).

Porque o mundo é redondo o amor é tudo.

O amor é novo.

O amor é tudo.

O amor é você.

Porque o céu é azul ele me faz chorar"

 

É um canto devocional do John Lennon, um roqueiro. Tem uma melodia lindíssima, espero que vocês conheçam. É de fazer chorar... "Because the sky is blue it makes me cry" – porque o céu é azul ele me faz chorar. E o céu nem azul é. Imagina o que seria do John Lennon se ele descobre isso...

Abra suas mãos, exatamente onde você está, e o céu estará nas suas mãos. Neste momento, seus pés estão pisando num pedacinho do céu. Isso não é incrível? Isso realmente merece uma canção e basta um pouquinho de carinho no coração para chorar por esta bênção.

 

A mente está sempre fazendo alguma coisa. Portanto, proponho que você consuma em totalidade a simplicidade disponível neste momento. Comumente você ignora as bênçãos do momento presente, ainda que esteja comendo a manga mais saborosa, a sua mente está sempre comparando e pedindo mais. Veja! Ela não quer parar, não foi feita para isso. Por isso o apelo em Satsang é: desvie os olhos da mente, desvie os ouvidos da mente, desvie toda a sua atenção da mente e volte-se para o Agora.

 

Sua natureza é paz, é observação – seja íntegro com essa realidade e simplesmente observe: enquanto o pássaro canta, a mente pensa. Enquanto o sol se põe, a mente pensa. O que você faz? Dá ouvidos à mente ou silencia com o canto do pássaro? Deixe a mente pensar e ouça o que o Silêncio tem para dizer... É tão lindo! É de fazer chorar...

 

terça-feira, agosto 28

ser é pura poesia


Se tem algo que precisa ser visto primariamente é: Quem é você? Não deixe a mente responder e veja. Se disposto e bem encaminhado, você pode ver claramente. E, uma vez visto, estará acesa uma pequena chama. Na verdade, o crescimento dessa chama vai depender do quanto você está disposto a perder.

O que acontece é que existe uma sensorialização da espiritualidade, você espera por um "orgasmo cósmico". Você projeta as suas experiências também na ideia que tem a respeito do que seja espiritualidade. E, claro, você não confia numa simples sensação, espera por uma sensação homérica, algo experimentado por muito poucos, por pessoas especiais.

Esse momento promove uma "des-sensorialização" do espiritual. Você tem que se dar conta que a espiritualidade repousa na simplicidade de tomar um café, de comer um sanduíche, de ler um bom livro, de simplesmente respirar...

Idealizando um acontecimento utópico, quantos já tentaram e frustraram a possibilidade da realização do essencial? Por isso reforço o convite à "des-sensorialização" do espiritual, pelo simples fato de que não é através dos sentidos que você pode vir a conhecer a Si mesmo.

Tampouco se trata de uma conquista intelectual. A Verdade é revelada ao dar-se conta de que não existe imagem, conceito ou pensamento que exprima você. A mente insiste em conceitualizar, em tentar tornar palpável ou transcrever em um pensamento. A mente vê o Dalai Lama como um ser espiritual e aniquila a possibilidade de que você venha a realizar a sua iluminação.

Portanto, para ver quem você é, nenhuma crença pode ser mantida. Todos os ritos e livros devem ser postos na fogueira. Você não pode ser contido por sequer uma palavra ou memória. Você é o original, o mais puro, aquilo jamais imaginado. Realize isso e a verdadeira espiritualidade será a sua poesia.

segunda-feira, agosto 27

nuvem passageira


Aquilo que divide – o que quer que seja – é a mente. A faculdade da  mente é dividir. Quando se diz "corpo-mente" se estabelece um preâmbulo para um entendimento, mas você deve ir mais fundo e ver que nenhuma das duas coisas são você. No fundo, só tem Você enquanto Consciência observativa.

Só a mente divide, é ela que torna uma coisa diferente da outra, uma coisa oposta a outra. E saiba que, necessariamente, quando algo nasce, o nascimento de sua contrapartida está implícito. Sempre que houver o "outro" é porque tem "você". E se tem você tem o outro.

No amor, naquilo que É, não tem o outro e não tem você, tudo desaparece. E isso gera uma alegria sem razão. Estou usando essa palavra só para propor um entendimento, porque, de verdade, há de ser perdida até a noção de alegria consumida correntemente. No amor há uma alegria cool, uma alegria serena. E, de dentro dessa serenidade, tudo pode ser – os eventos perdem a conotação grave e assumem a leveza de uma nuvem passageira. 

sexta-feira, agosto 24

cara a cara com o agora


Diante da realização da Consciência como sendo você, uma paz sincera começa a ser vivida. Agora, você vê e compreende a natureza das árvores no outono, a natureza das flores na primavera, a natureza do frio no inverno...

Quando olhamos para dentro e vemos quem somos, o mundo é percebido e experienciado de uma maneira completamente distinta. Se isso não apaziguar o seu mover-se no mundo, ou é porque você ainda não viu quem você é, ou está fazendo vista-grossa. O convite é eterno e renovado a cada instante. Não basta ter visto ontem, a visão deve estar sempre presente – a visão só ocorre no momento presente.

É um projeto malicioso e preguiçoso da mente, a ideia de que uma vez visto, pudesse ser apreendido como um objeto, estocado numa prateleira. A mente, disfarçadamente, encara a busca pela Verdade com o intuito de "conquistar" a revelação da sua natureza e em seguida retornar aos seus afazeres. A mente tem muitos projetos para o futuro, não pode perder tempo no presente. Mas este é o maior dos enganos.

Quando a visão ocorre, a mente não está. A Consciência não pode ser concebida pela mente. Arrisque! Experimente a realidade fora da mente e você estará diante de um novo mundo, de um novo Você. Encare-se, agora.

quinta-feira, agosto 23

retorne e veja


Sempre que perde alguma coisa, você questiona essa perda concebendo a si mesmo como uma entidade que habita um corpo ou como a Consciência que simplesmente observa todos os acontecimentos? Se você se afasta da ideia de ser uma entidade separada, todos os movimentos passam a ser percebidos do ponto de vista da Consciência.

Você e a Consciência não são duas coisas, Consciência é tudo o que existe. Desse modo, como a Consciência poderia perder algo? Para onde iria aquilo que fosse perdido, se não há nada fora dela?

É um eterno retorno, você deve retornar sempre para quem você é. Este é o único aprendizado necessário, porque – apesar disso ser você – você não nasce sabendo. Na verdade, quando nasce, você sabe sem saber; no meio do caminho, você se afasta – sem se afastar – e, quando empreende o retorno a Si mesmo, você passa a Saber, com maiúsculas.

Retornar à origem exige uma certa dose de atenção e inteligência. Não se trata de um aprendizado intelectual, você tem que Ver. Veja quem é você por trás de todos os conceitos convencionados, veja onde você mora, de verdade, encontre a essência de todas as coisas e, a partir disso, independente de qualquer que seja o acontecimento, você sabe que não há acontecimento que toque Aquilo que você é.

quarta-feira, agosto 22

o mundo é você

Conhecer a si mesmo é apenas uma questão de foco – tudo depende de onde os seus olhos estão repousados. Se você se compreende como um corpo e o seu olhar está voltado para fora – dadas as oscilações do mundo (você é o mundo), dos objetos, das formas –, você precisa mover o seu corpo daqui para ali, porque aquilo que você busca, se não está aqui, pode estar "lá".

O convite em Satsang, portanto, é averiguar sincera e honestamente o que você concebe como sendo você. Você se conhece enquanto uma identidade contida em uma forma corporal? Este é um paradigma antigo, essa é "a teoria da nossa avó". Nossas avós nos disseram que, ao nascermos, algo – a alma – entrou no nosso corpo, não é mesmo? No entanto, diante de uma breve investigação, essa teoria se revela falaciosa.

Então, como encontrar aquilo que você está buscando, partindo de um pressuposto falacioso? 

Isso nos põe num novo paradigma, existe a necessidade de uma investigação precisa, muito mais objetiva que qualquer outro momento já tenha proposto. Tudo aquilo que você pensa a respeito de si mesmo deve ser verticalmente investigado. E quando você notar a si mesmo como Consciência, uma pequena chama terá se acendido e esta deverá tornar-se a base de qualquer reflexão, de qualquer relacionamento entre você e todos os objetos do mundo, em uníssono. Não há mundo sem você. Quem é mesmo você?

terça-feira, agosto 21

por que não?


Participante – Satya, ouvi você falar que "se a mente vê uma imperfeição, devemos tentar mudar". É isso? Você pode falar mais sobre isso?

Se eu te der um prego e um martelo para você bater numa madeira que necessita de um prego, com qual parte do martelo você vai bater no prego? Qual parte do prego deve receber a martelada?

Participante – A cabeça do prego vai receber a martelada.

Isso é perfeição. Se bater com o martelo na ponta do prego, seu movimento será imperfeito. Daí, como torná-lo perfeito? Simplesmente, virando o prego. Bater o prego com o cabo do martelo, irá funcionar? Não. Ajuste o martelo e bata do lado certo e seu movimento estará perfeito. Você verá o prego entrando na madeira, seu trabalho estará feito da melhor maneira e você estará livre para ir tomar um café...

Se você vê a mente gerando uma imperfeição – aqui não considere a perfeição exigida pelo contexto social –, se seus sentidos apontam que tem algo errado, você pode alinhar e lavar as suas mãos.

Participante – Na simplicidade.

Onde mais seria, não é mesmo?

É por isso que os carros têm as rodas embaixo, rentes ao chão, e não no teto. É por  isso, inclusive, que são rodas e não dados, quadrados. Ninguém tentou inventar uma outra forma para isso, nesse aspecto já houve descanso. Tem coisas que chegam à perfeição, e além dali não têm mais para onde ir. Claro que pode ser aprimorado, mas poder-se-ia dizer que a roda atingiu um estado de perfeição.

Portanto, no contexto da mente, perfeição é remover o subjetivo e ficar com o lado objetivo. Mas você insiste na subjetividade, na abstração da mente e esquece da sua funcionalidade. Você diz: "Minha mulher não me ama". Oras! Por que ela deveria te amar? Qual é o problema? Se você questiona a subjetividade dos pensamentos propostos pela mente, compreendendo e aceitando qualquer que seja a realidade do momento, isso quer dizer que sua mente está alinhada objetivamente.

O aspecto subjetivo só existe na mente hipnotizada, inconsciente, que está sempre preso às referências externas – que oscilam no tempo. Acorde e veja. Quando a mente propõe que aquilo que está ocorrendo não deveria ocorrer, traga sempre a seguinte questão: "Por que não?" O "porque" é sempre o problema. Na simplicidade da mente funcional você dissolve qualquer drama com a chave do "por que não?" e torna-se livre, para ver o que deve ser  feito no momento presente. Perfeição nasce dessa Presença.

segunda-feira, agosto 20

sem você, o fútil


Trago uma fala do Osho que acho particularmente magnânima, ele diz: "Enquanto você não souber quem você é, tudo o que você faz na vida é fútil". Isso acontece porque você parte de uma premissa ilusória, baseado numa estrutura já existente.

Como chegar à realização daquilo que É, partindo de algo ilusório? Veja bem: para chegar em Porto Alegre, você deve primeiro saber onde você se encontra e em seguida saber que direção tomar. E se você já está em Porto Alegre, o que precisa fazer para chegar em Porto Alegre? A distância, o caminho é uma ilusão.

Na realidade do Ser, você não está em ponto algum e não precisa chegar a nenhum ponto. O ponto de chegada é aqui e agora. Você é aquilo que você busca. E, nesse sentido, o que quer que seja traçado, delineado para você como busca é errôneo, vai levá-lo para algum outro lugar.

Por isso que buscar de si mesmo, quando não bem orientado, pode findar num engano. Na busca de si, você se divide em dois. Quem está buscando a si? Em Essência, se você já é aquilo que você está buscando, o que buscar?

O que acontece é que, equivocadamente, você busca por uma ideia de si. Na verdade, você não quer encontrar a Si mesmo, você quer encontrar aquilo que os outros descrevem como seu verdadeiro eu. Logo é traçado um ideal, uma meta. Você pensa: "Quando eu estiver andando como Osho... ou quando eu não suar como Mahavira... aí sim estarei realizado".

Compreenda o mínimo a respeito da Consciência que você é, e verá que você também não sua. Seu corpo sua, Aquilo que você é não sua. Os mitos se tornam ideais não investigados e acabam assumindo o papel de setas contrárias ao objetivo de encontrar a Si. Portanto, cesse todo esse fluxo de informações vindas do passado e realize agora quem você é. Antes disso, toda a sua vida será fútil.

sexta-feira, agosto 17

singular silencio


Participante – Como que eu vou ficar totalmente em silêncio, se a minha mente...

Você não vai ficar totalmente em silêncio. Você só pensa isso porque não sabe quem você é. A primeira coisa básica é saber quem somos. Quando você souber quem você é, muitas das perguntas que você está fazendo serão irrelevantes, não farão o menor sentido.

Não existe separação entre você e o Silêncio. Você é o Silêncio e o Silêncio é singular  não existem dois "silêncios". O Silêncio não tem como ser medido, ele não pode ser medido, ele é imensurável. Silêncio é tudo o que existe.

Os ruídos definitivamente são plurais, mas o Silêncio não. Você concebe "silêncios distintos"? Não. Remover o mal-entendido nos leva diretamente para o Silêncio. No momento em que você começa a compreender, as fichas começam a cair, e você vai direto para o Silêncio.

O Silêncio é inerente e está esperando apenas que você atente para ele. Veja com acuidade se você é tudo o que você pensa que é. Veja se você é esse corpo, veja se você é a sua mente. Investigue isso e observe o que fica apesar de todas as respostas, por trás de todas as respostas. Esqueça a mente, ela está na superfície, como um ruído. Vá mais fundo e acesse a suprema resposta e a suprema resposta é o mais puro Silêncio.

quinta-feira, agosto 16

nudez e atraçāo


Nos foi sugerido que "para ficarmos aqui e agora deveríamos controlar os pensamentos". Desse modo, a grande maioria dos "buscadores" carimbou seu passaporte na busca do controle dos pensamentos e o encontro se tornou impossível. Basta que um mínimo pensamento ocorra e você já se considera fora do aqui e agora. Sem a menor investigação a esse respeito, você se "con-funde" com algo que não é você.

O encontro com a Verdade, a comunhão com a Verdade, necessita de uma coragem muito amorosa. É preciso carinho e, de fato, um grande interesse pela Verdade para expor tudo o que você pensa. Para encontrar a Verdade, você terá que perder tudo aquilo que você pensa, tudo aquilo que até hoje tem acumulado como  valioso. Para comungar com a Verdade você deverá estar só e nu, sem absolutamente nada, sem nenhuma ideia ou sentimento a respeito do que quer que seja.

Esse convite é científico, ele é baseado na seguinte equação: o que for Verdade fica – a Verdade é aquilo que fica –, o que não é verdade, o falso, some. Confronte a verdade e vá direto ao ponto. Se há disposição, você está no lugar certo e fico muito feliz que você esteja aqui. Ter coragem de olhar para cada tijolo que constrói a sua noção a respeito de si e do mundo é primordial. Não guarde nada, arrisque tudo! Se chegou até aqui é porque a Verdade já está acesa dentro de você – Ela quer ser vista por você, te está chamando. Confie.

quarta-feira, agosto 15

cantores decadentes, bêbados incríveis


Do ponto de vista ao qual estamos acostumados a viver até hoje, há um julgamento – muitas vezes severo – a respeito de determinados comportamentos. Julga-se que aquele que bebe não deveria beber ou aquele que rouba não deveria roubar. Porém na grande maioria das vezes esse julgamento não vai à raiz da questão e o grande engano está nesse conflito que se instala entre o objeto programado e o programador, que ninguém sabe quem é.
 
A sua experiência, em meio à inúmeras tentativas de mudança em si mesmo e naqueles que estão ao seu redor, já deve ter se resumido ao fracasso. Não importa o que seja feito, os objetos programados continuam funcionando de acordo com o programa.
 
Você não gosta de ver a si mesmo como um objeto programado, mas é isso o que acontece. Sofremos – aqui me refiro ao sistema corpo-mente – uma programação transportada genética e socialmente. Há quem tenha uma voz maravilhosa, há quem desenhe belamente, há quem seja um bêbado extremamente competente em sua função de beberrão.
 
A diferença está na superfície. E é óbvio que aqueles que vieram com vozes deliciosas de ouvir, e fluem com isso, tornam o mundo mais bonito cada vez que abrem a boca. E o bêbado tende a incomodar, ao invés de embelezar. Mas antes de criticar aquilo que nos incomoda seria mais pacífico que pudéssemos olhar para essa programação. E aqui alerto para o seguinte: tem a programação herdada e adquirida junto ao meio em que você vive e tem aquilo que poderíamos chamar de "destino". Deus quer cantores incríveis e bêbados decadentes. O que fazer? O mais importante é que a briga cesse internamente e, consequentemente, externamente. Quem é você? 

terça-feira, agosto 14

nāo aparece, nāo desaparece


A sua única questão deve ser "quem sou eu?" – se seu interesse é pela Paz, é preciso averiguar isso. Averiguando com precisão, uma série de pensamentos serão desmascarados. E, ao contrário do que se pensa, isso não é tão difícil – desde que você tenha disposição e carinho para com a Verdade.

É certo que você continua sendo a Consciência, quer você saiba disso ou não. Mas no momento em que a Consciência é desperta no seu coração, nasce a sede de encontrá-la – e, permanecendo agudo, não tem chance de não encontrar, pois a possibilidade do encontro está muito perto de você.

Algumas pessoas declaram terem encontrado a si mesmas e serem a Consciência, daí, dois dias depois, algo considerado negativo ocorre, pensamentos considerados negativos surgem e logo se desconfia que a Consciência sumiu e deve ser procurada novamente. Calma! Preste atenção: os pensamentos não têm a menor relevância para a Consciência que você é – e você só não aceita isso porque foge da suprema liberdade que essa realização traz consigo.

Habitualmente, você tem dado mais importância aos pensamentos do que a qualquer outra coisa. Um pensamento passa e você corre atrás dele. Imagine se o céu fosse atrás de todas as nuvens que passam... que loucura seria! Pensamentos são apenas pensamentos: aparece um dia,  some no outro dia. Aliás, aparece em um milésimo de segundo e some. Por que dar tanta credibilidade a algo tão fugaz? A todo aparecimento está implícito o desaparecimento.

Por isso o nosso encontro consiste em encontrar e repousar naquilo que não desaparece. A Consciência que você é não pode ser vista, por isso não pode ser perdida. Se ela aparecesse você já teria a encontrado, mas também já a teria perdido. Por isso não foque nos sentidos nem nas experiências, foque na não-experiência e no desaparecimento de todas as ideias e conceitos e descubra sua natureza límpida, virgem e original. 

segunda-feira, agosto 13

um caso de amor

















É muito comum que você pense que está olhando para dentro, ainda que esteja olhando para fora. Isso acontece porque a mente tem uma série de camadas e, é claro, porque ela pensa o que quiser. Satsang promove um corte no sistema, de modo que ele pare de promover respostas pré-fabricadas a respeito do seu encontro consigo mesmo.

Esteja atento e note as respostas e opiniões que sua mente tece a respeito de quem você é, de quem o outro é, a respeito do mundo, da vida, de Deus... Você vive as opiniões, sem uma mínima investigação ou preocupação quanto à veracidade dos fatos. Ideias que vieram do passado são projetadas no futuro sem que você as experimente no momento presente.

Exclusivamente por este motivo, Satsang traz, a princípio, um ar de provocação. Os conceitos pré-fabricados, quando expostos, tornam-se vulneráveis e tendem a desaparecer. O desaparecimento é a meta. Mas, nesse momento, diante da possibilidade de perder as referências passadas, externas a você, a mente se apóia onde e como puder na tentativa de manter-se no trono.

O Silêncio surge quando você não vê mais diferenças entre eu e você. Nesse momento, o verdadeiro Rei – o Silêncio – repousa no trono e a mente assume seu lugar de servente.

Por isso insista, não se satisfaça com as respostas da mente a respeito de quem você é. Essas respostas vieram de outros. Vá para dentro e encontre a sua, originalmente e plenamente. Se você quer saber onde o dentro fica, você foi “contaminado” pelo vírus da Consciência e está iniciado o nosso caso de amor. 

sexta-feira, agosto 10

o diamante, o fogo e a perda implicada


Gostaria de traçar um paralelo entre o corpo e a mente e a linguagem da computação, na tentativa de ilustrar melhor o que Satsang propõe. O hardware é o corpo, o software é a mente. Aquilo que você é, transcende a mente e transcende o corpo. Quer dizer: você é maior que ambos. Por esse motivo, não tem a menor chance de você estar contido nem em um nem no outro. Porém, ambos estão contidos nisso que você é.

Seria obviamente estúpido, portanto, tentar encontrar a si mesmo na mente ou no corpo – tendo em vista que é você que os anima e não o contrário. Nossa questão derradeira, então, é: quem é você? O que é isso que contém todas as coisas e não é contido por nada?

Até hoje, o software diz que você é a mente e que você é o corpo. Trago a notícia de que você não é o corpo nem a mente. Eis a nossa discussão posta. Agora, no contexto de Satsang, toda tese que você traga, a priori, deve ser discutida. Calmamente, uma discussão cool, sem necessidade de ganhos. Aliás, com extrema necessidade de perdas. Aqui discutimos a fim de perder os conceitos e não prová-los como verdade.

Coloquemos todas as cartas na mesa, acendamos o fogo e vejamos o que fica. O fogo queima aquilo que é falso, a mentira. Aquilo que é Verdade se equipara ao fogo e, como um diamante, permanece intacto.

quinta-feira, agosto 9

simplesmente ser
















Proponho que você pare de tentar capturar “quem você é” como se “isso” fosse um objeto perceptível no tempo e no espaço. “Agora” é ausência de tempo e é exatamente “agora” onde você mora. Você nunca esteve e jamais estará fora do agora. É apenas a mente que pensa isso. Verifique.

Se alguém está propondo que você deva ficar no agora, está propondo erroneamente. Se você segue essa proposta, o que vai acontecer é que você vai tecer uma filosofia que, por mais bonita que seja, não é verdadeira. Você não precisa capturar “quem você é”, simplesmente porque você já é você.

Para a mente isso não faz o menor sentido. E é aí, exatamente, que se encontra a necessidade de nos encontrarmos e investigarmos todos os enganos. Lembre-se: você está aqui para ser quem você é, e não para aprender uma nova filosofia. Se você está aprendendo alguma coisa, está aprendendo com sua mente. E em Satsang a mente não entra, ela não está habilitada para compreender Satsang.

Ser não depende de nenhum fazer. Quem você pensa que você é, é fruto de um fazer. Isso que você pensa que você é, é tão pequeno que seria incapaz de compreender, de conter o “Ser”. Então, estar em Satsang significa “Ser”. Estar em Satsang é colocar de lado todas as ideias que você tenha a respeito do mundo e de si mesmo e simplesmente Ser. O que quer que seja que você descreva como sendo você, é posterior ao “Ser”.

quarta-feira, agosto 8

o anarquista de bagé ou quem sou eu?

















– Quem é você?
Quem sou eu? Quem sou eu?, repito nas profundezas da mente para, depois, responder:
– Não sei.
Quem é você? – torna a dizer o guru, incisivo, enquanto justifico que nenhuma definição de mim mesmo poderia retratar a essência do meu ser.
Leve sorriso... sinto que eu e o mestre sintonizamos, mas a harmonia é fugaz. Uma saraivada de perguntas que abalroam conceitos basilares como individualidade, livre arbítrio e evolução nos põe no centro do ringue, menos por minhas discordância ou concordância a priori com suas idéias do que pela insistência para que eu abjure minhas concepções e me transforme ali mesmo. Experiência zero, este é o alvo: atingir o ponto onde você está em lugar nenhum, onde é ninguém, sem nome, identidade ou forma. Samadhi, a suprema percepção, a iluminação além da mente!
Mais perguntas. Uma crescente pressão por respostas. O guru, finalmente, encerra:
– Não há busca, não há caminho, não há método. A iluminação é aqui e agora. Nada é tudo o que você tem a fazer. Renda-se!
Surpreso e curioso, caro leitor? Isto é um Satsang com Satyaprem.


Trecho da entrevista: O Anarquista de Bagé
Por Jomar Morais, Revista Vida Simples – Super interessante.

terça-feira, agosto 7

amor que sabe sem saber


Quando a questão "quem é você?" é apresentada e você olha para o lugar certo a fim de respondê-la, você compreende algo em totalidade. Não se trata de uma sequência lógica, se trata de uma compreensão.

Para o cérebro esquerdo, que é totalmente mental, intelectual, tal pergunta deve ser respondida através da lógica, ele traça um sistema cartesiano, de causa e efeito. Já o cérebro direito não lê retilineamente, para ele não tem lógica ou explicação alguma. Durante um certo período, estudei o cérebro como parte do trabalho que eu realizava e, claro, procurei referência no Osho sobre o assunto. Havia muito pouco sendo explorado por ele sobre isso, mas em algum momento ele disse: "Meditação acontece quando você acessa o mundo com o cérebro direito". Ou seja: não tem uma ordem. Na verdade, é mais como um "corte", uma ruptura com a lógica e o saber nasce.

Trago este aspecto hoje porque quero provocar em você uma "desordem", não quero que você organize o que está sendo partilhado através de Satsang e crie um sistema fechado a fim de ser reproduzido posteriormente. Não faça isso!

Perca totalmente as referências externas, alojadas no tempo, e fique Aqui. Em tempo, compreenda que o aspecto cerebral foi trazido somente para dizer que você não irá encontrar quem você é no seu cérebro – isso os cientistas também já tentaram e não foram bem sucedidos. No fim, nem o esquerdo nem o direito. Mas, para meios de entendimento, esqueça completamente o cérebro esquerdo, a lógica, e dê uma chance para o cérebro direito, que sabe sem saber.

O nosso encontro consiste em simplesmente invocar o Silêncio que você é. Por isso, às vezes parece não ter nenhum sentido – e não tem mesmo. A mente cartesiana não fica à vontade. Mas precisamos chegar no ponto onde você compreende mas não sabe exatamente o quê está sendo compreendido – foge à razão. Aliás, é um caso de amor. Você não sabe "porquê" mas você ama. E é nessa entrega que se cristaliza o Silêncio, a Consciência que você é. 

segunda-feira, agosto 6

historia inexistente e o personagem infinito


Uma curiosidade relevante: os neurologistas descobriram que, para os neurônios, não existe diferença entre algo vivido e algo imaginado. E antes que essa afirmação pareça muito distante, note que tanto um filme na TV quanto a lembrança de algo triste ou prazeroso provocam em você, respectivamente, as sensações de tristeza e de prazer. Você não está vivenciando aquela cena pessoalmente, fisicamente, no momento presente – ela não tem nada a ver com você – mas os seus neurônios não sabem disso e acionam as sensações correspondentes à imagem.

Os hindus, simplificando a questão, cunharam tudo aquilo que é percebido pelos sentidos como "maya". E essa é uma boa chave, pois, diante de uma situação que possa levá-lo ao sofrimento, por exemplo, esteja atento ao fato que entre você e a sensação há um abismo infinito. A sensação é perfeitamente percebível e você é aquele que está percebendo.

Desse modo, se uma pessoa sofre quando está diante de uma história que ela considera absolutamente real, se você quiser mesmo ajudá-la, faça um único movimento: mostre que ela está contando uma história. Convide-a a colocar a história de lado, ainda que temporariamente, e veja o que acontece. o Silêncio resolve todos os problemas. Se você tem a necessidade de contar uma história, conte para ele a sua história e espere a resposta que ele tem para te dar. 

Mas, não se engane, somente quando você puder colocar a sua história de lado poderá ajudar alguém a pôr a dele também. Do contrário, você tende a reforçá-la. No entanto, seja criterioso, não escolha uma história ou outra. Estou me referindo a todas as histórias.

Qualquer enfoque que se remeta a um personagem no tempo, aos acontecimentos, não vale a pena ser apreendido. Aliás, não apreenda nada. Fique vazio, esvazie-se mais e mais, dia após dia... Perca as histórias ao invés de recontá-las. "Quem é você?" Se quer se dedicar a alguma "história", dedique-se a esta – a história que não tem começo nem fim, tampouco um personagem chamado "eu".

sexta-feira, agosto 3

o reflexo e o essencial


Satsang propõe que você olhe para dentro e se dê conta de que o seu sistema corpo-mente, seu hardware e o seu software estão profundamente empenhados em fazer a manutenção dos reflexos, do lado de fora.

Dia após dia, minuto a minuto, segundo a segundo você lembra e relembra o que já passou a fim de não perder. Você faz isso porque tem medo que o software perca a memória, perca todos os seus dados e, com isso, desapareça ou, anteriormente, não se estabeleça a sua noção de si.

O seu sistema está sempre salvando e relembrando. Ele fica num loop, rodando no mesmo lugar. Quando você era pequenininho a sua mãe começou a dizer: "Você é a Fernanda. Fer-nan-da. Fernanda. Fernanda. Fernanda..." Você não entendia nada daquilo, no começo. Mas, aos poucos, foi assimilando, porque ela te dava comidinha, docinho, beijinho, abracinho... e assim você foi treinado para crer naquilo que ela queria que você acreditasse – com prêmios ou castigos. Na verdade, nem era muito uma questão dela querer, ela simplesmente não tinha como fazer diferente porque ela também recebeu esse "treinamento" e só poderia reproduzi-lo.

Estamos aqui, portanto, para questionar a ideia que você tem de si mesmo como sendo fruto de uma impressão externa, de um reflexo exterior. Mas o interesse só pode ser seu – se você se satisfaz com o sonho, não tenho o menor problema com isso. Mas se você não está satisfeito e quer acordar, estou aqui para mostrar que a sua programação, os seus condicionamentos são externos e você, não trazem a essência de quem você é. Em nome do essencial, todo o nosso estímulo aqui está voltado para proporcionar uma experiência direta, livre dos condicionamentos. 

quinta-feira, agosto 2

o koan e a não-resposta


"Quem é você?" é muito mais que uma pergunta, é um koan existencial, uma porta de acesso imediato ao Ser. Portanto, não encare esta questão como algo que possa ser respondido através dos reflexos acumulados. Neste ambiente, todos os reflexos devem ser descartados.

Fique com a pergunta mas não aceite nenhuma resposta, não acumule nenhuma resposta. A questão só estará sendo relevada da maneira correta se, ao levantá-la, você se der conta de que não tem a menor ideia de qual seja a resposta. Na verdade, não há uma resposta porque – de novo – não se trata de uma pergunta. O koan é uma chave e a resposta é uma revelação, uma realização, é aquilo que chamamos de "experiência direta".

O ponto de "chegada" – se é que você me entende – é a compreensão de que todas as ideias que nos foram dadas não servem para colocá-lo face a face com quem você verdadeiramente é. As respostas às quais você tem acesso através da sua mente são superficiais, logo, não satisfazem o propósito da sua busca. O fim da busca é acontece quando, além das ideias, você sabe que não há resposta nem aquele que responderia.