quinta-feira, março 31

sim ao simples
















Do ponto de vista cultural, tristeza não é desejável. Mas do ponto de vista de Satsang, você não mais entra na negação de absolutamente nada. Em Satsang, você simplesmente observa. Ao dizer que tristeza não é desejável, a tendência é que você tente afastá-la. Ao afastar-se você cria um fenômeno que Freud chamou de “inconsciência” - você inconscientiza aquela sensação, até que um dia tudo começa a sair pelos ouvidos, pelo sorriso, pelos seus poros... Observe! Veja as pessoas dentro de um ônibus ou num shopping, tem algo muito mal com elas. É algo muito forte, incontrolável e que está completamente inconsciente.

Em Satsang, você olha para tudo que está acontecendo e não existe julgamento. Vem a tristeza e você observa que a tristeza não é você. E você não pode sê-la pelo simples fato de estar observando-a. Partindo desse ponto de vista, por que aquele que observa a tristeza teria algum investimento em não observar a tristeza? O único impedimento é identificar-se com a ideia de si mesmo como sendo uma pessoa feliz e alegre ou de que alegria e felicidade sejam valores desejáveis e tristeza não.

Em Satsang você olha para tudo aquilo que está acontecendo e se entrega. Isso é o que já chamei de coito ininterrupto com o Mestre. Porque agora você entendeu que confiança, entrega, é absolutamente a única arma que lhe resta. Agora, você sente tristeza e não vai fazer nenhuma sessão de terapia, por exemplo, para remover a tristeza. Afinal, você estaria removendo a tristeza de onde? Em Satsang você vê que a tristeza não é você, tanto quanto a alegria não é você, tanto quanto o tesão não é você, tanto quanto a falta de tesão não é você...

Comece a observar todo o fenômeno acontecendo e veja que existe um profundo “sim” religioso. Agora você não é absolutamente nada a desejar, você é aquilo que está acontecendo no instante. Você é um - não tem dois -, não tem mais aquilo que está acontecendo e a ideia que você tem de que aquilo não deveria estar acontecendo. Se isso ainda está acontecendo na sua mente, é porque você não entendeu Satsang. Você ainda não viu o simples.

Não prorrogue! Não há nada mais importante do que casar com você mesmo. Pegue isso e traga para perto do seu coração. Todos os conceitos que o elegem como sendo você devem ser questionados. Chega um ponto em que “entrega” se resume a fazer tudo que lhe é pedido que seja feito, naturalmente.

quarta-feira, março 30

sem motivo, a entrega

















Conta-se que uma princesa vivia num palácio cercada de rosas, cães, pavões... tudo do bom e do melhor. Mas, de alguma forma, ela não estava feliz. Tudo o que tinha, não lhe dava o que queria, e ela não estava feliz. Então, um dia, ela encontrou um guru. O problema é que na Índia antiga, assim como na Índia moderna, as mulheres não deviam andar atrás de gurus. Isso é coisa para os homens. Mas mesmo assim ela foi. À noite, fugia de casa, pulava a janela e se encontrava com seu guru, às escondidas. Até que descobriram. Um amigo da família contou para seu irmão, tê-la visto na fugir à noite e insinuou que ela estava indo encontrar-se com um amante. O irmão, um guerreiro bem treinado, pegou seu arco e flecha, e seguiu a princesa naquela noite. Chegando na alcova, onde estavam o guru e sua irmã, levantou o arco e apontou a flecha na direção o guru, quando ouviu o sábio falar para a princesa: “O que vou dizer, irá te libertar”. Naquele momento, o irmão ouvindo aquelas palavras, se iluminou.

Você pode parecer estar aqui pelo motivo errado, mas a qualquer momento, algo acontece e você desperta. E aí, ao contrário do que dizem, é melhor a emenda do que o soneto. O motivo não importa, o que o traz aqui não importa... Pode que tenha gostado de uma foto ou o que quer que seja. Mas de repente você entende o que está sendo proposto e acorda.

O meu único propósito é que você acorde, é que você se dê conta da Verdade a respeito de quem verdadeiramente é.

Se me ouve e se expõe, acordar pode ser considerado destrutivo, um certo sentido. Porque existem milhares de coisas sonhadas que não podem permanecer intactas, diante da Verdade. Mas se você permanece se protegendo, ouvindo apenas o que quer e interpretando, isso não vai dar certo. Por isso, vamos com calma. Permaneça atento e quando menos esperar, já era!

Se eu fosse uma pessoa mais séria, estaria falando de entrega, de rendição. Mas é isso mesmo. Estamos falando da mesma coisa. Abra os braços e deixe o Silêncio penetrar em você. O que o estou convidando a pegar, já é seu. Dê-se conta disso e estamos conversados.



terça-feira, março 29

fora do sonho, comunhão




















Vejam essas palavras do Osho: “Não há nenhum caminho, nenhum lugar para ir... Parece difícil, parece áspero, mas eu estou fazendo isso porque eu amo vocês e as pessoas que não fizeram isso não amaram vocês de jeito nenhum, eles amaram a eles mesmos e amaram ter uma grande multidão ao redor deles. E quanto maior a multidão, mais eles se sentiam nutridos em seus egos. Eis porque chamei mesmo a iluminação de ‘último jogo’. Quanto mais cedo você abandoná-lo melhor. Por que não apenas simplesmente ser, por que desnecessariamente correr aqui e ali? Você é o que a Existência quer que você seja, então relaxe”.

Traga para dentro do seu dia a dia a quietude, o Silêncio daquilo que você é. A Consciência que você é, pode, e deve, conviver com você. O Silêncio é palpável e tem que ser trazido para dentro do seu dia a dia.

A Verdade é algo de muito mais valor a ser compartilhado com o outro do que qualquer coisa que você imagine. É certo que existem pessoas que vêm aqui porque gostariam de aprender como “dar Satsang”. Mas, se querem o meu ponto de vista, eu vou compartilhar com vocês. Se está entendendo o que estou dizendo, se isso está lhe trazendo aquilo que você vinha buscando, se as minhas palavras se tornam suas: isso é Satsang. E você não precisa reproduzir isso de nenhuma maneira. Aliás, apenas assuma a sua natureza e nada mais precisa ser feito. Se você quer que Satsang seja disponibilizado, junte-se e faça com que isso seja mais e mais poderoso. Na Índia, quando alguém reconhece “quem é” e aquilo está claro, quando a transmissão foi feita, a partir dali, há uma devoção ao trabalho daquele que revelou, do que eles chamam de Mestre. Há uma comunhão.

Por que tanta pressa? Veja quanta celebração, quanto entendimento nesse momento. Se você tem pressa, então não está sendo honesto e está querendo alguma outra coisa. Muita calma - é apenas um brotinho -, seja cuidadoso com o que está sendo visto.

Aquele que o acorda, o protege. O poder de acordar é o poder de proteger. É naquela sombra que você descansa até que a sua força e a força dele sejam a mesma coisa. Se você está dividindo, é porque não viu que ele é você e você é ele. Essa diferença não existe, não passa de um sonho.

segunda-feira, março 28

nem contra, nem a favor. observação.




Se você aprender a ouvir a si mesmo - e eu vou explicar melhor o que quero dizer com “ouvir a si mesmo” -, você conseguiu o que veio buscar em Satsang.

Eu não quero que você me ouça, quero que ouça a si mesmo. Ouvir-se será o suficiente para resolver todos os seus problemas. Por isso começamos com você me ouvindo, até que consiga ouvir a si mesmo. Me ouvindo, lentamente, ou talvez nem tão lentamente assim, você começa a perceber que está ouvindo a si mesmo. Isso é tudo o que precisa acontecer.

Entenda “ouvir-se” por “observar-se”. Aproxime-se disso! Veja o que é Observar e que a Observação não ocorre na mente. Aliás, não apenas não ocorre na mente, como é completamente desconhecido para ela. Ouça bem: eu disse “completamente desconhecido”.

A sua mente não entenderá o nosso diálogo, até que canse e se renda. Este é o mistério que estamos compartilhando. Você irá se surpreender ao olhar objetivamente para o lugar certo e ver que existe o Observar e o pensar que está observando. Mais fundo, você pode realizar que a mente não tem como saber o que é Observação. No entanto, a Observação sabe de si e sabe a respeito do pensar-se observação.

A mente é um dos seus maiores instrumentos. Todo o seu mundo só faz sentido ou não faz sentido por causa da mente. Eu não tenho absolutamente nada contra a mente - não tenho nada a favor da mente, tampouco. Se veio aqui achando que tenho algo contra a mente, se enganou. E, da mesma forma, se veio pensando que tenho alguma coisa a favor da mente, você também está enganado. Nem contra, nem a favor. Porém, saiba, de uma forma ou de outra, enquanto você estiver identificado com a mente, não há a mínima chance da Observação ser realizada.

sexta-feira, março 25

pare de imaginar e... enjoy the ride!















Eu pergunto: quem é que está sentindo e não sentindo, todo o tempo? Ou melhor, quem pensa que sente ou não sente, isso ou aquilo?

PARTICIPANTE – A mente. Mas até que “eu” sinta... até que eu mergulhe na consciência do Ser...

Então, quer dizer que tem “você” e a Consciência? Duas coisas? Veja que isso é improvável. Você está imaginando.

PARTICIPANTE – Até que eu me dissolva na Consciência do Ser.

Quem se dissolveria na Consciência do Ser?

PARTICIPANTE – A ilusão se dissolve, a ilusão desaparece.

Ok, considerando que a ilusão desaparece, o que você precisa fazer para a ilusão desaparecer?

PARTICIPANTE – Ser.

O que é ilusão, por definição?

PARTICIPANTE – São todos os produtos da mente. O que não é. O que não tem existência.

E o que você precisa fazer para que aquilo que não existe, desapareça? Apenas veja que é ilusão. O que você precisa fazer para ver que certas coisas não passam de ilusão?

Confronte essa questão. É isso o que estamos fazendo aqui. Não sei se você se dá conta, mas você pode ficar completamente embebido desse processo que está acontecendo. Estou trazendo você de volta, todo o tempo, para o mesmo lugar. E isso é intencional – eu não posso fazer outra coisa comigo mesmo. Não vejo as coisas de nenhuma outra maneira. Você senta aqui e tenta continuar pensando do seu jeito. E eu me dedico a trazê-lo de volta. Tudo o que você tem que fazer, a princípio, é ouvir atentamente e olhar para onde está sendo apontado. Porque já está pronto. Nada precisa ser feito.

Você vê este elefante na almofada? Tem uma almofada com um elefante na sua frente. Veja esse elefante na almofada!

PARTICIPANTE – Não. Não tem um elefante na almofada.

Agora, dá para imaginar que tem um elefante na almofada?

PARTICIPANTE – Sim. Imaginar, sim!

E o que você precisa fazer para que esse imaginado elefante na almofada desapareça?

PARTICIPANTE – Deixar de imaginar.

Apenas se dê conta de que é imaginado e mais nada. Aliás, mesmo imaginando não tem elefante na almofada! Você não precisa fazer nada. Você acorda e se dá conta!

PARTICIPANTE – Então, Satya, na verdade, nós estamos – ou somos – todos acordados, e fazemos de conta que não estamos!

É isso. A Consciência fazendo de conta que ela não é Consciência. Por isso não é um grande problema. Porque a Consciência não deixa de ser Consciência. De uma certa maneira, quer você desperte ou não, você não deixa de ser quem você é. O único fato é que você fica vivendo como se você não fosse. O que, cá entre nós, é patético. Porque você é!

O que é que estou o convidando a parar de imaginar? Pare de imaginar que você é uma pessoa, uma mulher, no tempo e no espaço. Você é Consciência dessa mulher no tempo e no espaço. E agora que já sabe disso, não faça vista grossa.

PARTICIPANTE – E essa Consciência não é uma ilusão?

A Consciência não é uma ilusão. Somente ela é real. E ela é real porque não acontece no tempo. Essa é a definição de Maya, de ilusão. Maya é tudo aquilo que perece. Real é tudo aquilo que não perece. Tudo aquilo que existe no tempo e no espaço perece, portanto, é uma ilusão. E aquilo que é real não aparece nem no tempo nem no espaço.

Você é aquilo que é real! Se fica preso nas ilusões, você luta com as coisas que parecem ser você, mas que na verdade não são. Volte para casa e assuma ser o real. A partir daí, o que acontece com isso que parece ser você, não depende de você. Em outras palavras, este corpo-mente é parte de um fluxo, é uma cadeia. Você se vê como separado, mas você não é separado. Se você está indo para algum lugar, é porque tem algo o empurrando. Você não vê quem está empurrando, você simplesmente está indo. Você acha que está indo porque quer, mas não está indo porque quer. Você está indo porque não tem para onde ir, a não ser esse lugar para onde já está indo. É um fluxo. Solte o freio, ponha-se em ponto morto. Enjoy the ride!

quinta-feira, março 24

nobody, abra os olhos e veja!

















As técnicas de meditação propõem fecharmos os olhos para que vejamos algo. O que é esse “algo” que a meditação quer que você veja? Por que você geralmente fecha os olhos? Você só fecha os olhos para não ver. Eu quero que você veja, então, dentro desse novo contexto, não feche os olhos! Fique de olhos abertos. Veja uma coisa que você pode ver e não importa se seus olhos estão fechados ou abertos.

Participante — Quando fecho os olhos, parada, sozinha, vem uma paz muito grande! É uma paz que vem.

Ela vem ou já estava aí?

Participante — Ela já estava.

Isso acontece porque você sai da periferia. Você senta, fecha os olhos, e o que vê? Vê que aquela paz está presente. Mas você pode estar de olhos abertos também, veja! Essa paz não está presente agora? Ela está, mas você está tão apegada às coisas que estão acontecendo na periferia, que não nota que a paz está acontecendo. Aliás, não tem nada acontecendo. A paz é paz porque nada acontece. É perfeito! É puro Silêncio. Essa é a Essência do Ser.

O Ser é Silêncio, Paz e Consciência. Os indianos têm uma palavra, Satchitananda, que quer dizer “Verdade, Consciência e Paz”. Você pode observar agora que isso é tudo o que existe, todo o resto é pensamento. O pensamento se processa no tempo. Sem tempo para pensar, você não tem a menor ideia de quem você é. O que estou dizendo apenas aponta para algo. Quero que você olhe estes conceitos e veja o que acontece com você.

Não há quem esteja fazendo, você é um ninguém. Em inglês se diz “nobody”, que podemos traduzir como “no-body”, sem corpo. Você é um “não-corpo”.

quarta-feira, março 23

silêncio não mente - além do negativo e do positivo



Mais uma vez, eu insisto: veja que o visto não é você. O descrito não é você. Todas as descrições são insubstanciais. O espelho não se importa, se quer, se é negatividade ou positividade aparecendo à sua frente. Para ele, não há distinção. Apenas coisas aparecem e desaparecem.

Por isso o meu convite: ao invés de adotar, inclusive, a máxima de aceitar a si mesmo com defeitos e qualidades, veja se o espelho tem algum problema em refletir o negativo ou o positivo.

No contexto de Satsang, o dito “negativo”, se revela levemente como uma mentira. Da mesma forma que o positivo também se torna falso. Nenhum desses dois pólos descrevem quem você verdadeiramente é. São apenas aparências em quem você é. Por isso aqui é fácil ver que o negativo é positivo também. Não existe uma coisa ou a outra. Ambos aparecem em você. E podem aparecer com tal clareza, que revelam que você está num ponto alhures, num outro lugar, muito além das duas coisas.

O negativo e o positivo descrevem apenas experiências. Existem experiências de medo, de raiva, de tristeza... assim como experiências de bondade, de alegria, de êxtase, de paz... Quem você é, não pode ser descrito de maneira alguma.

Participante – Mas, Satya, existem experiências que a mente me coloca enquanto qualidades negativas, que realmente me impedem de ficar em silêncio. E isso é uma coisa que me perturba.

Perturba a quem? O cuidado que você tem que ter aqui, não é em permanecer analisando. Por isso eu proponho que você use a sua mente e descreva o que está vendo, para que fique nítido que você é aquele que vê. A mente está construindo momento a momento, através de relembranças, coisas que nesse instante não têm nenhuma consistência.

Participante – É. Mas quando está mais calmo, com experiências conhecidas como positivas, fica mais fácil permanecer no silêncio.

O Silêncio precisa permanecer no Silêncio? Esforce-se mais um pouco. Senão você permanece tentando fazer o que a mente propõe. Você não precisa permanecer no silêncio. A menos que você esteja fora do silêncio. A mente é como uma camada que ofusca a sua visão, e você fica se debatendo, indo e voltando. Mas a verdade é que o Silêncio está além do negativo e do positivo.

sexta-feira, março 18

observação não é alguém
















O aquietamento dos sentidos, a observação, mostra o que você é. E Satsang, ressalta esse apontamento. Cada vez que esquece disso, você se emaranha num mar de imaginação. E sempre que se lembra, você vê que tudo o que estava imaginando não tem serviço nenhum. Inclusive nada daquilo que você estava pensando a um minuto atrás, aconteceu, de fato. Está tudo em Paz.

     Nem por um segundo, esqueça de observar que você está escutando o que está sendo dito e, mais adiante, veja que dentro dessa observação, está a Paz que você procura. Note como o próprio ato de observar que você está ouvindo, é pacificador. Note quão relaxante é remeter-se à observação. É pura expansão...

     Em observação, você deixa de ser aquilo que pensa que é, deixa de ter o limite que parece ter. Aquilo que você é, não tem limite. Que tamanho tem Aquele que observa? Preste muita atenção! Não estou o convidando a é pensar a respeito disso, o convido a observar diretamente.

     Olhe! O corpo está ouvindo, o corpo está sentindo... e você é o observador de tudo isso. Aonde, esse que você é, se encontra? Ou, ainda, veja se esse que observa é “alguém”. Busque insistentemente: quem é esse que observa? Onde ele se encontra? Seus olhos vêem, seus ouvidos ouvem, seu coração bate e a observação disso é serena, distanciada, tranquila e totalmente livre.

     Note que a observação é constante, não é fragmentada. Mesmo enquanto os pensamentos ocorrem, você está notando o que está pensando. O Osho nos disse: “Aprenda a testemunhar”. Isso porque, não nos ensinaram a testemunhar. Nem mesmo a noção de que isso era possível, nos foi passada.

     É por isso que, quando você se dá conta de quem você realmente é, não tem mais pergunta. Pois quem você é, não precisa saber nada. Repousar nisso é o deleite proposto por Satsang.

quinta-feira, março 17

desconstruindo a desconstrução...
















Participante – Satyaprem, esse processo de ir além da mente, é exatamente esse, o processo de desconstrução?

Satyaprem – Se você examinar, a sua pergunta já tem uma resposta nela mesma.

Participante – É realmente isso, então? Uma desconstrução?

Satyaprem – Como é o seu nome?

Participante – Ramiro

Satyaprem – Ok, Ramiro. Quando você nasceu, você saiu da barriga da sua mãe e disse para ela: “Mamãe, meu nome é Ramiro”. Foi isso o que aconteceu?

Participante – Não. Não foi.

Satyaprem – Não foi, definitivamente. Como você definiria a si mesmo?

Participante – Hoje?

Satyaprem – Sim, hoje. De preferência, agora.

Participante – Se é agora. Me defino como um ser humano... Acho que é isso!

Satyaprem – Um ser humano?

Participante – É. Um ser humano tentando entender...

Satyaprem – Pronto! Veja bem: a respeito dessa ideia de que você é um ser humano, quando você nasceu, por acaso, você virou-se para a sua mãe e disse: “Mamãe eu sou o Ramiro, um ser humano”. Foi isso o que aconteceu?

Participante – Não!

Satyaprem – Seria demais eu dizer que isso foi construído com o tempo?

Participante – Não.

Satyaprem – Então, qual era a sua pergunta mesmo?

Participante – Se o processo para a libertação da mente, era um processo de desconstrução.

Satyaprem – Te respondi?

Participante – Sim, respondeu. Obrigado, Satya!

Satyaprem – Bem vindo. E lembre-se, além da construção e desconstrução, aquilo que é: você!

sexta-feira, março 4

atenção silenciosa

















De onde você foca? O que você foca? Para onde tem direcionado toda a sua energia até este momento? Você tem estado ancorado na periferia, tentando fazer com que os outros lhe entendam e tentando entender os outros. Mas, o que resta é falência, fracasso – porque não existe ninguém. Enquanto você foca na periferia, não sabe que não existe ninguém, então, pensa que existe alguém e assim tudo se complica.

Como é que você vai “ver” e ficar em paz com esse Silêncio que é inerente? Experimente! Se alguém não lhe dá aquilo que quer, você simplesmente observa e aceita, porque não tem nenhuma outra coisa a fazer. Seu foco deve mudar da periferia – satisfações, sentidos – para Aquilo que você verdadeiramente é.

É óbvio que você vai continuar usando o seu nome. É óbvio que vai se mexer normalmente no mundo – e quanto mais, melhor. Essa é a ordinariedade que o Osho pediu e da qual ele tanto falava. Seja ordinário! Os outros “iluminados” que a gente vê por aí são todos “extra-ordinários”. Mas nós ouvimos: “Se você não foi ao Himalaia, como é que você vai iluminar?”, “Algum astrólogo fez a sua carta natal quando você era pequeno?”, “Você deu três passos logo ao nascer?” , “Alguém leu seu futuro numa folha de bananeira e viu que você iria iluminar aos 33 anos?” Vejam! Essa é a imaturidade do tempo que precisava daquelas histórias, hoje você não precisa disso! Fique quieto e saiba. Essa é sua natureza!

A mentira é que você não é o Buda. A verdade é que não há o que dizer e quando não há o que dizer, ficamos quietos. A natureza do Ser que você é, é Silêncio. Note! Você é uma atenção silenciosa.

quinta-feira, março 3

zen koan: de onde você vem?



















Permita-se compreender esta linguagem que tem sido completamente oculta. Todas as histórias do Zen, que você lê e não entende, deverão ser entendidas. Há milênios o homem tem descoberto isso e passado para aqueles que querem saber. Me parece que estamos num momento em que é necessário que muitos saibam. Seja um deles. Saiba quem você é! Chega de se confundir com os sentimentos, com o corpo e com a mente.

Estou aqui falando para Aquilo e Aquilo está ouvindo o que estou dizendo. Aquilo está falando e Aquilo está ouvindo. Sua mente não é necessária, ela é inexistente, não tem consistência. Numa certa medida, o que está sendo apresentado é impossível porque vai contra um trilhão de coisas que vocês têm vivido como realidade. Em Satsang, então, você tem que ser um tanto arguto e corajoso para ver o que está sendo apontado.

A propósito, tem uma história Zen que acho magnífica:

Um monge bateu à porta de um mosteiro. Outro monge abriu a porta e perguntou para aquele que estava chegando: “De onde você vem?” O monge que chegava, respondeu: “Para onde você vai?” São duas perguntas: “De onde você vem?” e “Para onde você vai?” Então, eles sorriram, fizeram Namastê um para o outro e a porta foi aberta.

Qual é o sentido que isso tem para você? Qual é o sentido que isso tem para o senso comum? Dentro do contexto histórico de um mosteiro Zen, eu não venho de lugar nenhum e você sabe que eu venho daquele lugar de onde você também vem. Ou seja, ninguém vem, ninguém vai. Aquilo que você verdadeiramente é, não vem, nem vai para lugar algum. Aquilo está sempre no mesmo lugar e, por incrível que pareça, não é um lugar, é a ausência de lugar.

quarta-feira, março 2

a imaginação é memória e memória, imaginação.



















No aqui e agora existe algo que não é “algo” e que não existe. Neste ponto, a linguagem termina, não tem como tocar nisso, essa é a nossa impossibilidade. O Ser que você é, que transcende o seu corpo, a sua mente e, inclusive, a sua energia, está no aqui e agora eternamente. Quem você é não pode ir a lugar nenhum – até porque, não existe lugar para ir a não ser o aqui e agora.



Tudo o que está no futuro ou no passado é imaginação. Toda memória é uma imaginação. A memória é uma função da imaginação baseada no que aconteceu. Por outro lado, também é possível verificar que a imaginação do futuro é uma memória do passado projetada num outro tempo mais adiante. “Quem você é” é inimaginável, não acontece.

Se o aqui e o agora são imensuráveis, como é o Ser que habita o aqui e agora? Veja se existem limites.

A Física se refere ao Todo como uma esfera de raio infinito. Trazendo para o nosso contexto, podemos verificar que uma esfera com raio infinito não é uma esfera, pois, para ser uma esfera, o raio tem que ser finito para que possamos medi-lo. Então, uma esfera com raio infinito não é uma esfera, e isso nos remete à “Experiência Zero”. A Experiência Zero é uma esfera com raio infinito, ou seja, não é uma experiência.

Você não veio aqui para experienciar absolutamente nada. Aquilo que você é, não é experienciável.

terça-feira, março 1

no indefinível, imensurável humildade.

























Participante — Em função do “eu” fragmentado que normalmente somos, costumava pensar nessa questão do aqui e agora como sendo esse “eu”, 100% total, no aqui e agora.

Sim, mas não passa pelos sentidos. É fragmentação, você não consegue perceber com os sentidos a completude de nada. Com os sentidos, só percebe os fragmentos. Você está olhando para mim agora e isso faz com que você perca o fundo da sala, assim como, ao olhar para você, também perco o fundo da sala. Não percebo as minhas costas com os meus olhos, por exemplo, e existem sons que não são audíveis.

Aqui e agora só existe o Ser. E o Ser não é seu, não é propriedade sua. Seu Ser é o meu Ser. Seu Ser é o Ser de todo mundo. Ele não pode ser seu – e é por ele não ser de propriedade sua, nem de ninguém, que ele mora no aqui e agora. Nada tem definição no aqui e agora. O Ser é indefinível.

É por isso que os Budas dizem que, quando o Ser é realizado, uma profunda e imensurável humildade é realizada, porque é percebido o quão pequeno é este “eu”. A arrogância é apenas baseada na ignorância e na ideia de separação. Você pensa que eu sou separado de você, ou que você é separado de um outro alguém, ou que você sabe mais do que esse outro alguém, ou que eu sei mais do que você. Mas essa é uma ideia aprendida, condicionada. Você cresceu ouvindo que o seu corpo era você. Este limite lhe foi imposto quando disseram que você era alguém. Vem daí toda essa dificuldade em transpor, em transgredir esse limite. Transgredir é pecado.

Estes conceitos são limites, ou seja, estão definindo você, estão criando uma identidade, tentando fazer de você algo palpável. Só uma coisa não é palpável e não tem limite. Em ignorância, você tem medo disso. Mas isso é você!