quarta-feira, dezembro 29

na órbita do silencio



























Para a Consciência, o errado também é certo. Existimos apenas no tempo. Somente antes e depois há um "eu" - nunca no agora. No depois, apenas dizemos o que fizemos, mas enquanto estava acontecendo não havia você fazendo, porque você não existe fora do tempo. Enquanto entidades, só existimos na mente, no tempo. No momento presente, enquanto as coisas estão acontecendo, você não está presente.

Não é você quem está respirando. Você só nota que está respirando, depois que a respiração aconteceu. E, num nível mais profundo, isso é verdade. O seu cérebro nunca sabe o que está acontecendo em tempo presente, porque ele nunca está em tempo presente. Ele precisa de tempo, ainda que minúsculo. Se vê isso, uma grande carga de culpa e uma grande carga de orgulho caem por terra. Porque você se dá conta de que não está fazendo absolutamente nada.

Você pode até torturar a si mesmo, tentando administrar o seu conteúdo inconsciente, mas saiba que é um esporte. Uns jogam Tênis, outros chafurdam no conteúdo inconsciente. Sinto muito em dizer assim, porque a mente coloca grande ênfase em remover o conteúdo inconsciente. Isso acontece, porque nos foi dito que se removermos o conteúdo inconsciente, nos tornaremos mais conscientes. Mas, se olhar de perto, você vai ver que é o ego que está metido profundamente nessa cilada. Somente em termos comparativos, existe você e o outro. Em realidade, não há mais ou menos Consciência. Olhando através de Satsang, como você pode ter menos Consciência que eu, quando não existe nem eu nem você e só existe Consciência?


Se você se ausenta enquanto ego, como uma espécie de administrador dos seus atos através de uma vontade, você simplesmente funciona como deve ser. E, com o ímã do Silêncio, você tende a orbitar ao redor dele. Essa órbita é perfeita em si. Querer que se estabeleça imediatamente, vem do impaciente você. Quanto mais se dedica à viver a Verdade proposta pelo Silêncio, você vê que o Silêncio, ele próprio, não tem a mínima pressa em virar Silêncio, simplesmente porque ele já é.

terça-feira, dezembro 28

dentro, o foco






















Você não tem nome, não tem forma, não tem tamanho. Não há sensação que possa descrever você. Todas as sensações ocorrem dentro de você. Não importa o que faça, você está observando. Não importa a imagem que venha, o pensamento que venha, a emoção que venha... pois, quem é que sabe disso tudo? Esse é quem você é. O foco é nisso que você é e não nos objetos de observação. Objetos vêm e vão.

Não importa o que faça, você está sempre ciente de alguma coisa. A Consciência permanece como cortina de fundo para o que quer que seja que aconteça na periferia – isso é imutável e não depende de fazer coisa alguma. Essa Consciência é independente e ela não pode ser experenciada por você porque ela é você.

Quando digo que a Consciência é você, você pensa em “você” como uma entidade, mas não estou me referindo a você como uma entidade, estou me referindo como uma não entidade.

De onde você foca? O que você foca? Para onde tem direcionado toda a sua energia até este momento? Você tem estado ancorado na periferia, tentando fazer com que os outros lhe entendam e tentando entender os outros. Mas, o que resta é falência, fracasso – porque não existe ninguém. Enquanto você foca na periferia, não sabe que não existe ninguém, então, pensa que existe alguém e assim tudo se complica.

Como é que você vai “ver” e ficar em paz com esse Silêncio que é inerente a você? Experimente! Se alguém não lhe dá aquilo que quer, você simplesmente observa e aceita, porque não tem nenhuma outra coisa a fazer. Seu foco deve mudar da periferia – satisfações, sentidos – para Aquilo que você verdadeiramente é.

quarta-feira, dezembro 22

os lírios do campo






















Nós somos bombardeados com desejos - basta ligar a televisão para ver. Vejam as propagandas e você estará sendo bombardeado. Estou aqui para apresentar uma nova proposta. Pois, que bom seria se você pudesse existir em um plano onde não houvesse necessidade de absolutamente nada, nem ninguém que o entenda, não é mesmo? Que bom seria não ter a necessidade de que alguém goste de você ou o aceite, sim? Venho falar, então, de um "lugar" onde não existe ninguém, - nem você, porque para existir alguém que o aceite, precisa existir um "você" querendo ser aceito. Vá a essa dimensão onde não tem esse você para ser aceito, amado, entendido ou que deva chegar a algum lugar, por não ter lugar nenhum para chegar. Aliás, por que você não se desilude de uma vez por todas e nota que só tem um lugar onde chegamos, ao final desse jogo de xadrez que chamamos de vida? Dia após dia, movem-se as peças - o bispo, a rainha, o cavalo... - e no final: o inevitável xeque-mate.

Se você se desilude, não existe mais nenhum lugar para ir, porque não existe nenhum lugar para chegar. Fica absolutamente claro que uma grande quantidade de prioridades que você tem são ilusórias. Mover-se a partir de Satsang, é resgatar a clareza de que não existe nenhum lugar para ir. E, a partir disso, é provável que você faça coisas menos negativas, destrutivas, do que quando existem metas a serem alcançadas.

Olhe os passarinhos! Todos os passarinhos que habitam o planeta, vivem sem metas. Ou, como aquele dizer mítico: “Olhai os lírios do campo”. Aqui e agora, sem pensar, você existe na mesma dimensão que os lírios do campo. Se você entra no tempo e constrói mentalmente quem você pensa que é, você se vê acima dos lírios do campo. O que faz com que você pratique, na verdade,  uma existência abaixo dos lírios, porque subentender-se superior àquilo que é natural no mundo, é nefasto.

Satsang propõe o acesso, inteligentemente, a uma espiritualidade verdadeira, não supersticiosa. Não existe ninguém que possa salvá-lo. Mas você tem que desmascarar para você mesmo a ideia de que você seja alguém - quem quer que esse alguém seja. Não abandone nenhum prazer que o mundo lhe propõe, mas os tenha em segundo plano, eles não são prioridade.

terça-feira, dezembro 21

a inteligência do silêncio

















Primeiro, vamos falar um pouco a respeito de inteligência. Ao contrário do que se pensa, inteligência não tem nada a ver com conhecimento ou memória. Inteligência demanda honestidade, sinceridade e, de uma certa forma, dúvida. Tudo o que é revelado em Satsang deve ser acessado inteligentemente. Enquanto palavras, o que está sendo dito, não importa de maneira nenhuma. Não memorize nem tente relembrar o que estou dizendo. De preferência, esqueça.  O que está sendo dito, só tem uma função: possibilitar que, através da inteligência, você investigue o que está sendo apontado.

No nosso condicionamento, não é pedido inteligência. Nos é pedido, consistentemente, que sejamos obedientes. Inteligência, no entanto, é uma outra forma de ver. Inteligência faz com que você olhe para o que está sendo revelado, e esse olhar possibilita o ver.  Tudo o que está sendo dito aqui, tem que ser olhado e investigado por você.  Esse é o seu trabalho. E, claro, muito passará pelo filtro da interpretação. talvez, inclusive, você ouça a sua mente dizer: "Isso eu já sei!" Mas, não esqueça, não é a mente quem tem que saber. Estamos aqui para irmos mais fundo. Tente de novo e de novo...

Todos nós temos a capacidade de ver. Nos foi dado o instrumento que possibilita essa visão. Apenas use a inteligência - que é um atributo da Consciência, não da mente. A mente é instrumental, mas o que importa para compreender Satsang, é a Consciência.  Aliás, em Satsang, é a Consciência que fala e é a Consciência que escuta.  A mente apenas organiza de modo que possa ser transmitido. A transmissão, em si, não é final. A transmissão é para dar partida a algo. A compreensão é fundamental. E uma vez visto, você realiza a Verdade e vive a partir dela, sob uma nova ótica.

Consciência é essencialmente tudo o que existe. É impossível não ter acesso à Consciência que já é você. Talvez isso surja como uma grande novidade ou algo muito difícil de ser compreendido, mas proponho que você fique quieto e veja que tudo o que você nota é notado pela Consciência.  E, por favor, entenda "notar" aqui não como ter palavras para um determinado objeto. Você pode não saber o nome daquilo que está notando, mas você está notando.  O notar vem antes. O nome vem depois.

Nesse instante você está nascendo e morrendo. Você está notando, dando um nome e descartando. E o meu convite é que você esqueça o nome e fique simplesmente com o que nota. Veja! Não estou me referindo ao que você nota. Quero que fique com aquilo que nota. Há um notar. E é isso que deve ser percebido como sendo você.

Todos põem nomes nos objetos e os chamam de "eu" ou "meu". Nisso, esquecem que a vida não depende do objeto e sim o objeto que depende da vida. Consciência é vida em si, é o que anima o objeto. E o que anima o objeto não é um objeto - não pode ser tocado, visto, cheirado... Aceite o convite de ver algo que não pode ser visto e entre no mistério que é você.

Descarte inteligentemente tudo que lhe disseram e ouça essas palavras como se fosse a primeira vez.  Está disponível aqui e agora. Consciência não pode ser vista através dos sentidos, no entanto é tudo o que existe. E se há quietude decorrente à audição, nesse instante, esse é o quadro que denota que você passou do entendimento à realização. Ouça o que está sendo dito, olhe para onde está sendo apontado e aquiete-se. Note que a sua atenção é silenciosa e sem conteúdo. Veja que, agora, a mente não está dizendo nada. E esse notar não implica em dizer algo - é um simples notar.  Se a mente está melhorando o que está sendo dito, você ainda está dividindo as coisas.  Aquiete-se mais um pouco, ouça o que está sendo dito e veja onde isso o leva.

segunda-feira, dezembro 20

Tanto faz
















Havia numa aldeia, uma velha conhecida por todos como a mulher chorosa. Esse apelido lhe foi dado, pois todos os dias - com chuva ou com sol - ela estava sempre chorando.  A mulher chorosa costumava vender bolinhos de arroz na rua.  Por ali, todos os dias passava um monge, a caminho da aldeia onde ia pedir esmolas.  Um certo dia ele resolveu parar para conversar com ela: "Senhora, todos os dias, faça sol ou faça chuva, eu a vejo chorando. Por quê?" - perguntou o monge.  Então ela explicou que tinha dois filhos artesãos, um confeccionava delicadas sandálias de couro e o outro guarda-chuvas.  "Quando faz sol eu me sinto tão aflita porque ninguém vai comprar os guarda-chuvas do meu filho e a sua família e ele podem passar necessidades. Então eu choro.  E quando chove, choro porque penso no meu filho que faz sandálias e tenho pena,  porque ninguém vai comprá-las e ele também poderá ter dificuldade para sustentar a sua família" - explicou a mulher chorosa. O monge ficou pensando na história da mulher chorosa, enquanto comia um bolinho de arroz, de repente ele achou graça e riu. A velha perguntou o motivo do riso, e ele disse: "Mas a senhora deveria ver as coisas de outra forma! Quando o sol brilha, o seu filho que vende sandálias pode vender muitas sandálias e isso é muito bom!  Ele poderá guardar dinheiro para os dias de chuva.  E quando chove, o seu filho que faz guarda-chuva venderá muitos guarda-chuvas e poderá também guardar dinheiro para os dias de sol, isso também é muito bom" - disse o monge. A velha olhou para o monge com um sorriso nos lábios e desde esse dia passou a sorrir todos os dias de sua vida, chovendo ou fazendo sol.  Ao passar do tempo, ninguém mais a chamava de a mulher chorosa, mas de a mulher sorridente.

Todos nós imaginamos que o entendimento é algo muito árduo, muito difícil. Mas, na verdade, é muito simples. Talvez uma breve investigação e se faz possível saber por que você sofre.  Um diálogo mínimo pode colocá-lo numa outra dimensão de entendimento. Tudo o que você acredita, é o que está em pauta. O que acentua o seu aparente problema, é que você convive com pessoas que também acxreditam nas mesmas coisas. Mas o diálogo que pode libertá-lo está sempre à espreita, a investigação está sempre em potencial, escondida dentro do instante.

Chorando, sorrindo, chovendo ou "solando"... mantenha o foco em quem você é. Transgrida o condicionamento que diz que quando está bom, você é feliz e quando está ruim, você é triste. Algumas raras pessoas começam a desconfiar desse programa e arriscam experimentar o "tanto faz". Porque não depende de estar bom ou ruim para ser você.

O entendimento nos move para longe do condicionamento. Na quietude, não buscamos nem evitamos uma coisa ou outra. Na quietude, eu me dou conta de que o que está acontecendo, está acontecendo por fatores infinitamente maiores que eu, e eu não tenho o mínimo controle sobre eles.  Somente na quietude, é possível saber que todos os acontecimentos são temporários. Portanto, quando está bom, eu não solto foguetes e quando está ruim, também não.  Nem uma coisa nem outra.

sexta-feira, dezembro 17

você, espiritualidade, amor...




















Veja que você observa o desconforto, assim como qualquer pensamento que possa estar ocorrendo, nesse momento. Identifique-se como aquele que observa e acione um processo de integração - desidentificado dos objetos observados -, reconhecendo e sendo aquilo que você É.

Qualquer um de nós pode chegar, objetivamente, ao mesmo ponto. Se a espiritualidade não for o seu objetivo, ela apresenta-se apenas como superstição e isso subentende um ego, uma divergência, uma diferença. A espiritualidade madura e verdadeira remove completamente a diferença. Aquele que você pensa que é, some. E fica “aquilo que você é”. Estamos aqui para confirmar "quem é você". Como fazer isso? Simplesmente teste cada noção que traz consigo, a repeito de quem você é, mesmo que seja a mais sublime de todas.

Se está atrás de conforto ou companhia, saiba que existe ainda uma ideia de que você seja um "alguém". Quando se move diretamente para sua natureza original, a ideia de conforto e de companhia não são mais primordiais, são secundárias - pode acontecer e pode não acontecer - e isso não modifica “quem você é”. Não é necessário que se separe, no caso de estar com alguém. Você pode estar com alguém, mas é preciso olhar para as condições que o levaram a estar com esse alguém, e como você mantém o estar com esse alguém. Se você está com alguém e está com você mesmo, irá descobrir que não está com alguém. Nesse caso, você está consigo mesmo. Se esse alguém não está com você, mas está com ele mesmo, vocês irão se encontrar na objetividade da Verdade, naquilo que é exatamente presente e idêntico em cada um dos dois. E isso é Amor.

Furte-se de qualquer pensamento nesse instante e perceba a presença que você é - indescritível, “in-encontrável”, sem forma. Note que, nesse instante, começa a emanar uma intimidade que está além das palavras e que transcende a forma. É uma intimidade que tem uma carga amorosa e que - se tiver coragem de absorvê-la - faz com que o "Encontro com a Verdade", Satsang, se torne cada vez mais palpável, mais poderoso. Você começa a ver como é bom ser “o que você é” - muito embora a mente não saiba o que isso seja.

quinta-feira, dezembro 16

no silêncio, a montanha vem a você.
















Tem uma história muito interessante.
Um dia, um homem chega em sua casa e vê que ela está em chamas.
Ele, claro, fica desesperado. Ele trabalhou ano após ano para ter aquela casa.
Tamanha era a sua identificação. A casa era tudo para ele.
E agora ela estava em chamas!
Mas, de repente, um de seus filhos veio a ele e disse:
“Papai, não se preocupe, nós vendemos a casa. Essa casa não é mais sua, então, o problema não é nosso”.
Nossa! O homem relaxou totalmente.
Porém, minutos depois, seu outro filho veio e disse:
“Não, pai! Isso não é verdade. Nós quase fechamos o negócio, mas os papéis ainda não foram assinados. Portanto, a casa ainda é sua”.
O homem retomou o choro, imediatamente.
O problema voltara a ser seu.

Para a mente, importam os objetos.
O foco da mente está no problema.
Em Consciência, onde não é necessária, a mente desaparece.
Em Consciência, sua identidade é com o Silêncio.
Ou seja, Consciência consciente de si mesma é o desperto.
Consciência inconsciente de si, é a mente.
Aliás, melhor dizendo, Consciência é consciência, em si. Ponto!
E estamos aqui para metabolizar isso.

À priori, é a estrutura que está em pauta. Os objetos são uma parte irrelevante.
A estrutura é que determina as ações. E elas estão em funcionamento, independente do conteúdo.
A estrutura funciona através de você. O mundo está imerso nisso.
Sob uma ótica mais ampla, o mundo está imerso na Consciência.
Mirando aquém, o mundo está imerso na mente.
E nesse paralelo, a mente rege o mundo.

Já viu um livro de História?
Herdamos uma História de sanidade, compartilhamento, compreensão, perdão ou o quê?

Participante – Uma história de guerra.

É uma loucura! Os objetos de identificação, de identidade, são trocados, mas a estrutura continua a mesma. E essa estrutura está em funcionamento, inclusive através de ti, todo o tempo.
Por isso estamos aqui. Para acessar a possibilidade de alterar essa estrutura,
através da permanência naquilo que somos de verdade, no Silêncio.

Absorva a revelação que Satsang nos traz e viva de dentro disso.
O Silêncio caminha. O Silêncio fala. O Silêncio se relaciona. O Silêncio vai ao shopping.
O Silêncio pode fazer tudo que o mundo oferece. Aliás, o mundo está disponível ao Silêncio.
Você não precisa subir uma montanha ou ir para a floresta.
Do que adianta levar a velha estrutura para a floresta?
A estrutura destrói, o que quer que seja, onde quer que esteja.

Dê-se conta do que você fala, de como você se move e note no momento presente a estrutura agindo através de você. Esse é o primeiro ponto a ser avaliado. Isso é trazer Satsang para a sua vida.
Permita que o Silêncio que você é, o acompanhe além dessa sala.
Senão, você estará vivendo uma espécie de esquizofrenia, você ainda está dividido internamente.

quarta-feira, dezembro 15

você não existe, você é.




















O infinito é o que você é.
Isso que existe na ausência de tempo e na ausência de espaço, é você.


Como nada pode existir na ausência de tempo e de espaço, você, em si, não existe.
Essa é exatamente a sua realidade.
Você é algo que não pode ser tocado, que não é tangível, que não pode ser medido.
A transcendência do Ser ocorre na ausência de tempo e na ausência de espaço.

Você tem construído uma entidade imaginária, que é mensurável, e tem se identificado com ela.
Mas, por que se identificar com algo que não é você?
Por isso sofre, tentando manter todas as ideias juntas, conectadas, com uma certa coerência.
Freud chama de “ego”, e antigamente os budistas chamavam de pequeno “eu”.
Estamos falando daquela noção de que há um “eu”, um alguém com identidade própria, com um limite.
Porém, o que é necessário para qualquer limite?

(Participante) — Tempo e espaço.

Vejamos se você me acompanha neste raciocínio que está sendo delineado.
A identidade, a entidade, precisa de tempo e espaço. Para pensar a si mesmo, é necessário tempo – não existe pensamento sem tempo.
Perceba! Da forma como você se compreende, você pode existir sem o tempo?
É possível pensar sem tempo? Experimente!
Pense a si mesmo sem ter tempo para pensar – isso não faz o menor sentido.
A verdade é que, se não for dado algum tempo, você não tem a menor ideia de quem você é.

Agora chegamos a um ponto. 
Para a sua mente existir, para o ego existir, para pensar a si mesmo, você precisa de tempo.
Para o seu corpo existir, ele precisa de espaço. Eis que surge, então, aquela pergunta fundamental:
“Quem é você?”
Acredito que já tenha feito essa pergunta, mas certamente não a fez com energia suficiente para obter a resposta.
Você pergunta: “Quem sou eu?” – e logo lembra que leu num livro que somos etéreos, que somos energia...
Mas isso é o que você leu num livro, não serve. Isso não é você!
Aqui, proponho que veja. Experimente por si mesmo, e saiba. Você pode saber.

Por fim, uma deixa: o que pode existir na ausência de tempo e de espaço?

terça-feira, dezembro 14

a lagartixa e a felicidade


















Havia uma fábrica de tintas que precisava produzir uma tinta que grudasse nos cascos dos navios, sem descolar. Já haviam feito inúmeros testes e, em todos os experimentos, a cola descolava.
Os clientes não estavam felizes com a durabilidade daquela tinta e eles precisavam mudar isso urgentemente. Colocaram todos os seus engenheiros a pesquisar um jeito de fazer uma nova cola, uma nova tinta, mas não tiveram muito sucesso... tudo oscilava em torno da mesma variação. E os testes eram em vão. Até que o dono da empresa decidiu fazer um experimento com os engenheiros, para ver se eles saiam da mesmice. Ele ouviu dizer que algumas grandes ideias haviam surgido a partir de um estado de transe. Então, todos os engenheiros foram submetidos a um momento de transe, de hipnose.
De dentro desse espaço, um dos caras já em transe, viu uma lagartixa caminhando no teto.
Foi aí que ele "voltou" com uma grande ideia!
A resposta para o nosso problema é uma lagartixa! - disse o homem.
Mas, como? - todos questionaram. E o homem continuou...
É simples! Você sabe por que as lagartixas caminham no teto, de cabeça para baixo e não caem?
Elas têm ventosas nos dedos. Portanto, a base da nossa tinta tem que ser de micro ventosas.

Isso é o que eu chamo de "soltar o freio".
A Paz que você está buscando, não é feita de merengue batido. Não é uma paz de "faz de conta".
É uma Paz de verdade. Você tem que transcender todas as ideias, para acessá-la.
É preciso tornar-se um amante inveterado, um bêbado totalmente entregue à Existência.

Claro que é árduo enfrentar a sua imaginação, mas você tem que se dar conta:
o buda está aqui e agora, ele apenas não tem a cara que você imagina que deveria ter.
Você tem feito comparações e se guiado por elas. Mas aquilo que você é, de verdade,
é incomparável.

Eu ligo a televisão e me espanta ver a opinião dos nossos "formadores de opinião".
As opíniões deles são completamente absurdas... Tudo o que vemos não passam de
clichês, de repetições... Eles promovem que você sonhe para ser feliz.
Por isso todos estão dormindo...
Nessa teoria está implícito que se você parar de sonhar, será triste.

O meu convite, portanto, é simples: se você percebe algo que lhe traz a Paz
que você tem buscado desde sempre, vá ao encontro disso à jato. Não prorrogue!
Não perca tempo! Para quê esperar o final do ano? Qual a diferença?
Faça agora! Ouse! Arrisque!

Eu proponho: Acorde e descubra o que é Felicidade!

sexta-feira, dezembro 10

indescrevendo o indescrítivel

















A mente tem as suas afirmações e argumentos.
Aqui, proponho que, ao invés de negá-los, investiguemos.
Ao invés de fugir deles, vamos encará-los.
Este é o único meio de afirmar, negar ou verificar se as razões oferecidas pela mente têm pertinência.

Ontem vi um filme que terminava mais ou menos com esse discurso:
"A maioria se esconde, muito poucos ficam face à face e encaram a verdade".
E em Satsang, o impacto não é que tenha que encarar algo fora de você,
você tem que encarar a si mesmo, a sua própria integridade.
Ao invés de promover o que nos foi tradicionalmente ensinado,
vejamos se um espaço se abre e você vê aquilo que não tem nenhuma relação com a tradição.

De antemão, já afirmo uma coisa: eu não sou Mahatma Gandhi e nem pretendo ser.
Portanto, se existe alguma sombra que esteja fantasiando a possibilidade de se tornar algo similar, você definitivamente se enganou de sala. De repente, experimente ir na sala ao lado.
Porque essa sala aqui, está dedicada objetivamente a romper com todo imaginado.
Ou olha para o lugar certo, ou continua empreendendo a busca de ser 'um humano perfeito'.

Dê-se conta do que a sua mente descreve como sendo você.
A descrição altera o sistema que está descrevendo.
O sistema que descreve é modificado pela descrição.
Em realidade, o sistema que descreve, se auto descreve.
Isso é rompido com a observação de que a descrição se refere, sempre, ao percebido -
e nunca àquele que percebe.

Esse encontro propõe ver de que forma podemos pautar toda dedicação à possibilidade de descrever o indescritível. Do descritível, estamos cansados de saber - não tenho o menor interesse nele.
Portanto, voltemo-nos ao indescritível.

À priori, eu conto com a sua falência em tentar descrever o indescritível.
Mas não importa o quanto seja impossível descrever quem é você,
a tentativa há de ser feita com 100% da sua disponibilidade, inteligência e energia.
O mínimo desvio da descrição do objeto percebido para aquele que percebe,
e estaremos diante de uma modificação sistêmica.

Entenda essa proposta com todas as letras.
Aqui, o nosso único exercício é perceber essas duas situações...
O que acontece, quando descrevemos o objeto percebido?
E o que acontece, quando descrevemos aquele que percebe?

Na verdade, o indescritível é indescritível.
Mas, voltar-se para ele, proporciona uma revelação, uma "não-experiência".
Desse modo, afie a navalha da sua inteligência, ponha toda a sua atenção
e entenda - sem entender - o que estou dizendo.
Trabalhe exatamente em cima da tentativa de descrever o indescritível.
Note! O sistema se auto descreve. Isso é potencial e faz parte de uma tradição.
Descrever o indescritível nos rouba toda a razão e nos põe, no mínimo, no âmbito poético.

Para reforçar o que estou dizendo, recordo da notícia final que o Osho nos deu:
"Você não é a mente. Você não é o corpo. Você é aquele que observa. Você é o Buda!"

Observe que você observa. Observe que você não é aquele que está sentindo.
Observe que você observa aquele sentindo.
Dedique-se a essa verificação e nada mais é necessário.

quinta-feira, dezembro 9

a mente não tem resposta


Você percebe quão limitada é a sua mente?
Ela propõe que é ilimitada, porque não conseguimos ver com os sentidos,
onde ela começa e termina. Mas, na medida em que investigamos com precisão,
é possível ver a sua limitação.

Eu gosto muito dessa piada, ela é iluminante...
Chega um vendedor de enciclopédias na casa de um homem
que tem um filho de cinco anos. O vendedor, tentando vender suas enciclopédias,
diz: "Para qualquer pergunta do seu filho, essa enciclopédia tem a resposta!"
Virando-se para o menino, ele propõe: "Faça uma pergunta!"
O menininho olha para aquele homem e lança a seguinte questão:
"Qual é o carro que Deus dirige?"

A mente é limitada. Ela não é ilimitada.
Veja, por exemplo, para quê o corpo foi desenhado?

Participante - Para manisfestar a existência!

Calma... Menos... Somos amigos, aqui.
Vamos falar uma linguagem passível de entendimento.
Eu estou fazendo um grande esforço para falar uma língua compreensível.
Faça o mesmo.

Participante - Para satisfazer as necessidades da mente, então.

Veja... Essa é mais uma pergunta para a qual a sua mente não tem resposta.
E é uma questão básica. Deveríamos ter acesso à resposta no jardim de infância.
O corpo foi desenhado para sentir, e não importa o que a sua mente proponha.
Não interessa nenhuma filosofia ou espécie de controle mental... o corpo sente.
Essa é a limitação dele. E se você permanecer consciente desse fato,
a sua vida se amplia em termos de experiências sensoriais positivas,
há muito mais deleite através das sensações.

A tese da mente é que o corpo foi desenhado para satisfazer as suas necessidades.
E é justamente por isso, que existe tanto sofrimento.
O corpo não foi desenhado para satisfazer as necessidades da mente.
É impossível satisfazer as necessidades da mente.
Nesse sentido, somente os desejos são ilimitados - e essa é a limitação da mente.

quarta-feira, dezembro 8

o caminho da relembrança passa pelo esquecimento
















O caminho da relembrança não passa pelo outro,
passa diretamente pelo encontro consigo mesmo.
Esse é o caminho do esquecimento.
Coragem é fundamental -
a maioria não topa e fica no meio do caminho.
Mas eu tenho uma humilde esperança de que pelo menos um de vocês chegue ao fim.
Se um chegar, estou feliz. Se meio chegar, já darei pulos de alegria...

Para começar, você nota que todos vivem com a vida pautada nas imagens?
Sem inquirição alguma, o mundo vive uma realidade pensada, imaginada.
Acordar, portanto, é um "evento" que rompe completamente com tudo.
Você não mais telefona para o lado de fora,
porque todos os espelhos foram quebrados.
O interesse na imagem se resume a zero.

Satsang é a redescoberta de que aquilo que você pensa não tem o menor valor,
até porque não é você quem pensa.
E essa é uma das investigações fundamentais no projeto de encontrar a si mesmo.
Caso se dê conta de que não é você que está pensando, estamos a meio caminho andado.
Nenhum desses pensamentos que você tem, dia após dia, são seus.
E o meu único desejo é que você se dê conta disso e note, com grande alívio,
a Verdade a respeito de quem é você.

Há um "espaço interno" ignorado e estamos aqui para relembrá-lo:
vá para dentro!
Você consegue comprender essas simples palavras?
Ir para dentro tornou-se muito difícil, porque você só aprendeu como ir para fora.
Segue batendo na porta dos outros. E sempre que é dito para você voltar para casa,
não sabe onde ir, porque só conhece a casa dos outros.
Você não conhece seu próprio lar.
E, a grande brincadeira é que você está carregando este lar dentro de si.

Estamos aqui, justamente, para aprender de novo onde o "dentro" fica.
Soren Kierkegaard disse: "Religião significa ir para dentro. Ir para sua própria interioridade".
Mas o simples comando “vá para dentro” tornou-se extremamente difícil de entender,
porque tudo o que conhecemos está fora.
A mente conhece apenas como ir para fora e nela não há marcha ré.
Estamos aqui, portanto, provocando uma marcha ré, que, na verdade,
já está embutida em você. Você apenas esqueceu como usá-la.

Uma maneira bem simples de notar o que ir para dentro significa,
é seguir o seguinte parâmetro: pensar é ir para fora e não-pensar é ir para dentro.
Quanto tempo você precisa para ir para dentro, depois de ouvir isso?
Pense e você já começou a se mover para fora.
Sem pensamento, você não pode ir para fora. Sem desejo você não pode ir para fora.
Você precisa do combustível do desejo e do veículo do pensamento para ir para fora.
Sentando-se silenciosamente, nada fazendo, nem mesmo pensando, nem mesmo desejando e onde você se encontra?
De repente, você está dentro.

O nosso único propósito aqui, é encontrarmo-nos com Isso que está dentro.
Ir para dentro não é ir para algum outro lugar, é simplesmente parar de ir para fora.
A menos que você compreenda isso, ficaremos do lado de fora, lidando com conceitos.
E nos conceitos não nos encontramos - cada um tem os seus.
Apenas no momento em que estamos "dentro", não existem conceitos.
Tampouco dualidade. Dentro, somos um.

terça-feira, dezembro 7

antes de pensar, qual a sua face?















Quem acredita que já ouviu o suficiente, está ouvindo a sua mente.
Porque, em Satsang, não tem suficiência.
Imagine um rio que decide não correr mais seu fluxo,
porque já fez o bastante...
Só existe fluir. A qualidade do fluir, não pode mudar.

Veja com clareza que aquilo que você é, não pode ser perdido
e nem adquirido. A sua natureza não tem nada a ver com os seus pensamentos,
sentimentos ou qualquer outra coisa que possa ser feita por você.
A sua natureza independe de qualquer fazer.

Olha o que o Osho diz:
"Eu não estou aqui para ajudar os seus preconceitos,
eu não estou aqui para ajudar as suas tradições, os seus condicionamentos.
Meu trabalho consiste em demolir você completamente,
porque somente quando você é totalmente demolido nasce um novo”.

Quem é esse você que precisa ser demolido?
É esse que você pensa que é, mas que você não é em verdade.

Você pensa que  é alguma coisa.
Mas, antes desse pensar, antes de qualquer pensamento, antes de tudo que pode ser visto,
antes do seu nascimento... qual era a sua face?

Dê-se conta de quem é você e viva essa realização.
E isso não tem nada a ver com a interpretação que a sua mente faz,
daquilo que está nos livros antigos. Não siga um modelo. Chega de mitos!
A Verdade não remove a sua responsabilidade de estar no mundo.
“Estar no mundo” é, inclusive, uma ideia sua.
Você vai ter que lidar com os “ups” e os “downs” que a vida oferece.

O encontro com a Verdade não é fugir da vida,
é uma forma de enfrentar a vida, de entrar na vida e ver o que precisa ser feito.
Seja qual for o papel que lhe caiba, entregue-se!

segunda-feira, dezembro 6

zero e inimaginável














O ponto zero é a sua natureza intrínseca.
E, sendo assim, buscá-la é evitá-la.
De maneira nenhuma você pode buscar o que já tem.
Porém, ao mesmo tempo, sem buscar, não é possível saber que tem.
Este é o paradoxo do encontro: buscamos o que já temos.

É preciso muita inteligência e acuidade para começar a notar
que aquilo que você está pensando em buscar, se revela naquele que busca.
Em Satsang, a brincadeira é entrar num espaço de quietude,
receptividade e observação, para que seja possível notar aquilo que já é seu.

Nós não estamos aqui para transformá-lo numa outra coisa.
Estamos aqui para dizer que você não é o que pensa que é.
Você é uma outra coisa e, eventualmente, uma não-coisa.
Mas deixe isso pra mais tarde.
Primeiro note que você é, absolutamente, uma outra coisa.

Você é algo inimaginável.
E eu espero, do fundo do meu coração, que você esteja em condições
de receber a visita do desconhecido.

Osho diz: "Deus não pode ser conquistado.
Você só pode permitir que ele o conquiste".
Permita que Deus lhe conquiste.
E isso só acontece, quando você sai do caminho.

Somente diante do colapso dos seus pensamentos e crenças -
quase como uma colisão do complexo sistema chamado 'você' -,
que Deus pode aparecer.
Em nosso contexto, Deus é esse algo mais, essa não-coisa,
que sempre esteve presente, porém, escondido embaixo das nuvens de pensamentos
que você insiste em alimentar.

Não esqueça: "Você só pode permitir que Deus o conquiste".

domingo, dezembro 5

a onda descansa nos braços do oceano















10 PÉROLAS RARAS, CLARAS E PRECIOSAS

1- Só tem um lugar pra olhar, e ele começa com a pergunta: Quem é você? E acredite: você não é nada que você pense que você seja. Não importa o quão maravilhosa seja a idéia que você tenha de si mesmo, ou horrenda, ou terrível, ou medíocre. Não é questão do adjetivo, a questão é do substantivo. Você não pode ser uma idéia, porque uma idéia pode ser repetida e você é irrepetível. Você não é algo que possa ser apalpado, que possa ser tocado... Qualquer idéia que eu te der, qualquer idéia que você receba, não é o que você é. Porque você é indefinível.

2- Você pensa que você pensa, porque você pensa que você é aquele que pensa. Mas VOCÊ não pensa! Então, convide os pensamentos a ficarem. Por que você tem brigado com os pensamentos? Eles não são seus... Eles são apenas pensamentos... Como os sons dos carros que passam, os sons das vozes... E isso tudo é periférico a VOCÊ.

3- Você não pode encontrar a si mesmo, porque você é o que você está buscando. Com a idéia que lhe foi dada, subtende-se que há alguém que busca, e que tem algo a ser encontrado. Tem um sujeito e tem um objeto. Você pode escolher quem você é: o sujeito ou o objeto. E ainda assim, qualquer escolha que você faça, não é você.

4- Especular antes de se jogar no abismo é vão! O meu convite é: antes de pensar, te joga! Pensa depois! Esse abismo que eu estou falando é o abismo que você é. Confronte algo, que de alguma forma lhe foi dito que é inacessível e amedrontador - e não esqueça que isso é uma idéia emprestada de alguém.

5- Imagina se para você encontrar a paz, você precisasse que todos os carros parassem, e que todas as vozes se calassem, e que todas as chuvas não chovessem, e todos os dias quentes não fossem dias quentes, e todos os dias frios não fossem dias frios, e todas as dores de barriga não fossem dores de barriga... Assim, você teria uma possibilidade ínfima de realizar a sua paz interior. Pensando assim, você está no caminho errado. Você ainda está olhando para fora.

6- Se for dito que depois que você encontrar a Verdade você realizará milagres e poderá passear no cosmos... é dado valor, caso contrário, não. Mas observa! Tem algo a acontecer? Disseram a você que algo aconteceria, e você vive à espera de que algo aconteça. E eu estou mais uma vez repetindo: Esse algo é uma idéia. Você não vai ver luzes e nem sentir uma explosão de êxtase. E você tem buscado quem você é, esperando por isso. Mas não se engane! Não há nenhuma idéia que se assemelhe Àquilo o que você é.
7- De repente você se depara com o vazio, com o indefinível, com o sem-forma, com o sem nome... com o infinito. Que não pode ser medido, sentido ou compreendido. E aí, você fica de cara com Aquilo, e diz: "Não! Não pode ser isso. Isso é um desastre!" Será que é mesmo um desastre? A mente concebe a idéia de algo vazio como vazio; mas será que o vazio é vazio, mesmo? E se o vazio for cheio, e o cheio que a mente concebe for vazio?

8- O desejo enche de vazio a sua vida. Quem sabe então, só o vazio enche realmente a sua vida? Questione-se! E não esqueça que o primeiro passo para esse vazio é saber quem é você.

9- Existe uma tendência em procurar no lugar errado. Você tem que perceber algo que não pode ser percebido, por você ser aquele que percebe. Não tem saída! Por isso: pare de buscar! Pare! Stop! Zera tudo! E não esqueça: não é um zerar, pois não há alguém que zere. Não há nada fora do Todo, fora do Divino, da Essência, da Consciência...

10- Nem mesmo somos separados de Deus, senão uma emanação daquilo que está em descanso... Que emana-se, manifesta-se, e que quando termina o processo de manifestação, retorna. Assim como uma onda no corpo do oceano, que sobe e desce... E tudo o que existe é o oceano. Não existe onda! Foi dado um nome a algo que é o próprio oceano. E quando foi dado um nome para aquilo, foi feita uma separação entre a onda e o oceano. E isso explica, talvez, você estar identificado com o seu nome e sua forma.

Fonte: A onda descansa nos braços do Oceano, Satsang em Salvador/julho 2000
www.satyaprem.com

sexta-feira, dezembro 3

Já comeu o seu arroz?
















Estamos chegando num ponto em que a compreensão científica está beirando o “nada”.
Estão concluindo que não existe nada, nem ninguém.

Uma história conta...
Um discípulo está com seu mestre na sala de refeições e pergunta:
“Mestre, como atinjo a iluminação?”
O mestre diz: “Já comeu o seu arroz?” – e o discípulo ilumina.
O que esse mestre quer dizer? Ao ler essa história, você se pergunta como alguém pode iluminar comendo arroz, não é mesmo? Você insiste em manter a crença de que Iluminação é algo muito difícil e que não é para todos... E, de uma certa forma, é verdade. Iluminação é somente para quem "come o seu arroz".

A mente pinta a iluminação como uma coisa inalcançável, com auréolas e cheia de luz azul. Mas, em realidade, nada muda - nem antes, nem depois. Não tem antes e não tem depois.

Sua cabeça está na boca do leão. Há um momento em que, simplesmente, você tem que parar de duvidar. Se ainda não viu, é apenas uma questão de tempo. Você verá. E se já viu, por que negar? Tentando negar, você vai fazer como o Papa, que ordenou que Galileu tirasse do seu livro a afirmação de que a Terra era redonda; alegando que aquilo era profano, que era contra a Bíblia, onde a Terra aparecia sob a forma achatada. Galileu, prontamente, afirmou: “Eu tiro, mas a Terra vai continuar sendo redonda”.

A partir de hoje, você pode fazer a manutenção da mentira, ou assumir a Verdade. A Verdade é inerente, não é preciso esforço algum para ficar com ela.

Observe e seja sincero com a resposta: “Quem é você?”
Não tem ninguém em lugar nenhum. Não tem forma. Não tem nada.
Você observa o corpo parado, a mente em movimento... tudo é observável
e você é aquilo que observa. Você é a Observação.
Não costumo usar a expressão “observador”,
porque sugere que há alguém contendo a experiência,
e essa experiência não pode ser contida.
Apenas a Observação existe e ela não vem de lugar nenhum.
A Essência do Ser é Observação, Consciência, Silêncio, Paz.
Isso é você!

quinta-feira, dezembro 2

pensamentos vêm e vão. quem é você?

















(Participante) – Satyaprem, só existe aqui e agora?

A menos que você consiga provar o contrário. E, por favor, eu gostaria muito que tentasse isso.

(Participante) – Mas a questão é: nós não conseguimos estar nessa atenção consciente do aqui e agora, e é isso que gostaríamos de aprender ou treinar, porque eu posso estar aqui, mas o meu pensamento está sempre no passado ou no futuro.

Mas a ideia de que você precisa aprender alguma coisa é apenas uma ideia, não é mesmo?

(Participante) – É. Mas estamos aqui e agora contigo, justamente, querendo aprender isso.

Não, vocês não estão aprendendo. Vocês já reconhecem a possibilidade. Estou aqui dizendo justamente que você não precisa fazer absolutamente nada para estar aqui e agora, porque você já está aqui e agora. E o que você faz com isso?

(Participante) – No momento em que temos atenção consciente, eu acho que é possível que tudo se transforme.

Você disse “eu acho”.

(Participante) – Eu tenho certeza que tudo se transforma.

Você tem certeza?

(Participante) - Sim, porque fica.

Será mesmo? Eu confio mais, intuitivamente, no seu “eu acho” do que no “eu tenho certeza”.

(Participante) – Eu acho que a sensação, a emoção, tudo se torna bem mais forte.

É uma bela e romântica ideia. Mas se você, por acaso, encontrar o aqui e agora e não ficar bem mais forte ou não ficar assim como você diz, o que você faz com isso?

(Participante) – Nos poucos momentos em que estive presente -
e são poucas vezes -, todo o meu corpo, tudo o que eu era, estava realmente naquele momento.

Você está sempre em busca dessa experiência novamente. Mas qual é a chance de que essa experiência seja repetida, da forma que você a experimentou no passado? Matematicamente, qual é a possibilidade? Talvez uma em um milhão.

(Participante) – Mas eu sei que já tive momentos presentes e outros não.

Você sentiu coisas que chamou de "presente". Mas o que estou dizendo não é isso.

(Participante) – Para mim é quando você está ouvindo a música e, de repente, vê que a música já passou sem que esu estivesse atenta, porque os pensamentos estavam num outro lugar, entende?

Sim. Você está me dizendo que estar presente é quando a mente está focada em alguma coisa, e você está consciente de onde a mente está focada.

(Participante) - É, gostei disso! Isso é interessante.

Também acho muito interessante. Acontece que não tem nada a ver com o que estou apontando. É urgente a necessidade de esclarecimento. Porque a ideia que você tem de estar no momento, de estar presente, não é exatamente a mesma coisa que Satsang promove a respeito de estar presente.

Nos foi dito que quando pensamos não estamos aqui e agora. Mas eu os convido, nesse momento, a pensar que estamos caminhando na 5ª Avenida, tomando um sorvete...

(Participante) - Ok. Já me vejo desfilando lá, tomando o meu sorvete.

E isso significa que você está lá?

(Participante) – Não!

Onde você está?

(Participante) – Aqui. O meu corpo está aqui, mas a minha mente pode ir até lá e voltar.

A sua mente foi a algum lugar?

(Participante) – O pensamento, sim.

Onde você pensou o que pensou?

(Participante) – Na imaginação.

Eu sei que você tem essa ideia, mas pensar que está fora do aqui e agora é estar fora do aqui e agora? Estou expondo essa investigação ao extremos porque conheço bem esse filme. Eu mesmo já fiz o que você está fazendo. Não pense que eu não fiz. E, claro, eu recriminava a mim mesmo, que quando eu pensava não estava aqui e agora, como se eu fosse aquele que pensa, como se eu fosse o pensamento.

Existe a ideia de que você deva controlar os seus pensamentos. Mas quem estaria controlando os pensamentos? Quando você nota o pensamento, note que existem duas coisas acontecendo, que existe uma divisão. Existe o pensamento e aquele que observa o pensamento. Mesmo que haja o pensamento que diz que você não deveria estar pensando isso ou aquilo, onde ocorre esse pensamento? Ou melhor, esse pensamento também é observável. A minha pergunta é: quem é você? Você é o pensamento?

(Participante) – Não. Os pensamentos não duram sempre, de repente eles vêm e vão em seguida.

Os pensamentos vêm e vão. Deixe-os fazer o que quiserem. Assim como é a natureza das nuvens aparecerem, flutuarem e desaparecerem no céu, é da natureza dos pensamentos ir e vir.

quarta-feira, dezembro 1

os altos e o baixos e o pássaro
















A menos que veja que tudo é imaginação, você não vai se tornar um pássaro.
Observe a simplicidade de um pássaro, ele não tem nada para fazer,
não quer melhorar o mundo e tão pouco se preocupa em piorá-lo. E, de fato, não piora.
De tão minúsculo que é, por mais que cague no mundo, nunca irá piorá-lo por isso.
Assim como, em realidade, você também.

Participante – Eu acho que a questão da polaridade é a minha maior dificuldade em relaxar.

Eu penso que tenho que estar bem. Quer dizer, mesmo que esteja bem, tem momentos em que eu não estou. Assim é a vida. Seria absurdo pensar na beatitude em cem por cento. Há altos e baixos.
Dê-se conta de que um dia chove e no outro faz sol, as coisas oscilam independentemente do que você faz ou deixa de fazer. Se aceita que as coisas são como são, o que encontra?

Participante – Paz.

Exatamente! Paz. 
Eu não tenho dúvidas de que o nosso treinamento foi pautado em brigarmos o tempo todo com tudo.
A própria ideia de que as coisas têm de ser diferentes, é o axioma básico onde essa estrutura se apóia.
Este é o paradigma em que vivemos: “Você tem que lutar para tornar a sua vida melhor”.
Então, está sempre olhando para tudo aquilo que não está como você gostaria que estivesse e tenta melhorar.

Constantemente você tenta tornar as pessoas e as situações em como você gostaria que elas fossem.
Na verdade, todos nós temos essa experiência e sabemos que o sucesso é raro.
Não somente raro, como parco.

Se você tem filhos, gostaria que fossem “assim” ou “assado”.
Imagine se o seu filho fizesse tudo o que você quer, do jeito que você quer... seria melhor?
Claro que não. Existe essa ideia. Mas do que adianta agir de acordo com os anseios do outro?
Isso o deixaria feliz ou deixaria o outro feliz?

Você deve se dar conta de que as coisas oscilam e que o seu bem-estar também.
É por isso que estou apontando para o que está muito além do bem-estar.
Porque eu sei que o bem-estar é dual, acontece na oscilação.
Há bem-estar num momento e mal-estar em outros momentos.
Perceba que 'quem você é', não tem nada a ver com isso.

terça-feira, novembro 30

desvista o visto


















As pessoas querem ser felizes.
Mas - aqui no meu pequeno mundo - eu faço um apelo:
ao invés de ser feliz, seja silencioso.
Seja o Silêncio!
E lembre-se: não existe nenhum produto externo a você
que possa ser vendido, para que você seja o Silêncio.

Para ser feliz, existe um Toyota, uma casa na praia,
uma mulher daquelas que eles mostram na televisão...
Mas ser silencioso não demanda nenhum produto externo a você.
É necessária apenas uma compreensão, um ver.

Em suma, ser silencioso depende apenas de você e de ninguém mais, de nada mais.
É por isso que é banalizado, que não serve para ser comercializado.
Talvez seja também por isso que não haja nenhum apelo na televisão que diga:
“Seja silencioso! Desligue a televisão, desligue o sistema de som, desligue o carro e olhe para o céu estrelado”.
Já imaginou? Vai que a multidão obedeça e se dê conta... o que aconteceria?

Então,  aqui, seja silencioso.
Ou melhor, seja Você mesmo.  Não se confunda com o visto. Desvista-se da confusão.
Desvista-se do confundido. Desvista-se do visto.
E note que neste momento de ser quem você É - silencioso -
todas as tensões desaparecem em relação ao futuro;
todas as tensões desaparecem em relação ao passado.

Note que tem algo essencial em você que está totalmente tranqüilo com o que vai acontecer,
porque existe uma sapiência, uma sabedoria totalmente evidente e intuitiva.
No Agora nada acontece. Agora só tem Silêncio. Veja!
Nesse momento, é como se o Silêncio falasse para ele mesmo.
Se você está olhando para dentro - e esse é o meu apelo - note como é tranqüilo
simplesmente ser Você.

O que você precisa Agora? O que lhe pode ser tirado, Agora? Você vê?
Se isso foi compreendido, a semente está posta. 
Há algo mais do que a sua mente conhece. Isso é suficiente. E, então, a semente está plantada.

segunda-feira, novembro 29

receba o presente




















Eu não tenho nada para lhe dar,
só preciso lhe tirar um monte de coisas, um monte de ideias.
Essa é a minha determinação.
Eu sei que têm muitos que irão espernear.
Ok, esperneie, não há problema.
Mas, para encontrar a Verdade, é preciso que lhe seja tirada toda a mentira.
Inclusive, é apenas temporário esse espernear.
Você acha que, sem as suas ideias, não será mais você.
Mas isso é mais uma mentira que lhe contaram e você acreditou.
São as suas ideias que o afastam de Você.
Perdendo as ideias a respeito de si, você, sim, deixa de ser o falso eu
e assume a sua verdadeira natureza como realidade.

Muitos confrontam a Verdade, mas ao perceber que Ela não é nada do que se imaginavam,
jogam fora a água e a sede. Sem se dar conta de que a coisa mais preciosa já encontrada,
acabou de ser jogada fora. Quando você olha dentro da sua mente e vê que a Verdade não é exatamente o que pensava, escolhe ficar com o que era pensado e joga fora a experiência real.

O meu convite é: jogue suas ideias fora e fique com o presente. Ideias não existem no presente.
Ou você consegue pensar no presente? Os pensamentos estão no passado e no futuro.
Eu sei que isso que estou perguntando pode parecer inacessível nesse momento.
E, digamos que eu concorde com você,  que precisamos aprender algumas coisas...
Mas aprender, no contexto de Satsang, tem mais um aspecto de “des-aprender” do que de aprender.
Saber quem você é, não depende de um acúmulo, depende de um descarrego.
Você deve descarregar. Você deve “des-aprender”.
Satsang não é ganhar algo, é perder tudo que se pensa, tudo que se sente, tudo que se vê, tudo que se descreve...

Aquilo que você é, já é você. O que o afasta disso é tudo o que você "tem".
Se perde o que tem, fica aquilo que é.
O único engano é pensar que o Ser é alguma outra coisa que não você.
Você, inclusive pensa que reconhecer o Ser promove um grande evento, uma forte sensação...
mas se "a sensação" disso for bem fraquinha, bem tênue?

A questão é: “quem é você?"
É preciso averiguar. Investigue verticalmente!
Se averigua com precisão, você começa a desmascarar uma série de pensamentos.
Desde que você tenha disposição, sede, isso não é algo difícil.
Um punhado de carinho e comprometimento para com a Verdade é o suficiente.
Você é Consciência, sabendo ou não, querendo ou não.
Mas, no momento em que isso nasce no seu coração, você não vai parar até que encontre.
E, de verdade, não tem chance de não encontrar. A possibilidade de encontrar a si mesmo está muito perto de você.

sexta-feira, novembro 26

des-ilusão: portal para satsang



















Estar em Satsang é estar no vazio da ausência das crenças.
É estar no ponto onde não há necessidade de crer no que quer que seja,
pela mera investigaçao de cada crença, dando-se conta de que toda crença é condicionada.
Toda crença tem uma condição pela qual ela exista, tem uma função.
Surge para manter um estado de realidade das coisas, que não é o seu estado natural.
Se você entender a diferença entre natural e artificial, vai entender que o estado natural das coisas
é absolutamente anterior a sua existência, é anterior a qualquer condição que seja posta.

Investigando os conceitos na sua mente, é possível que entre em contato com um oceano tão vasto
de crenças não investigadas, que lhe façam pensar: “Como parar de acreditar nas coisas que eu acredito?”
Para talvez tornar mais palpável o que estou dizendo... hoje mesmo, abri uma revista
e numa das matérias alguém estava falando do “Encontro das mulheres desiludidas”.
Mas ninguém se deu conta de que as mulheres e os homens, em geral, estão iludidos.
Quando você perde algo ou alguém, você entra num grande processo de desilusão.
Na nossa cultura olhamos para isso e dizemos: “A coitada, está desiludida com o marido. A coitada, está desiludida com os relacionamentos”.
Ora! Vejamos de uma forma positiva: “des-iludir-se” é entrar em contato com a realidade.
Mas dentro da lógica à qual todos estão condicionados, entrar em contato com a realidade é algo absolutamente não-desejável.

Cada desilusão na sua vida é um portal para o Satsang acontecer.
Revela que você estava projetando algo em alguém ou num dado fenômeno, numa determinada condição...
e o que esperava não veio a acontecer. A tendência da mente é trocar de pessoa, de objeto, mas continuar com a ilusão.
Veja como você faz... Troca de carro, troca de namorado, troca de terapeuta, troca de emprego...  está sempre projetando a sua realização nas mãos de algo ou alguém.

Se você olhar para Satsang, de verdade, vai ver que a sua realização não está nas mãos de ninguém,
que, inclusive, não pode ser projetada no futuro.
Você só pode ser quem você é, aqui e agora.
E uma vez que isso seja realizado há a tendência de que você sofra uma série de “des-ilusões”.

Se você olhar do ponto de vista cultural condicionado, ao conversar com sua mãe sobre a não existência do Papai Noel,
ela, certamente, sentirá muita pena de você. Mas se compartilha com alguém que já realizou o mesmo, ele dirá:
"Que bom! Finalmente você está acordando para aquilo que é”.

quinta-feira, novembro 25

o azul, o amarelo e a compaixão
















Chegamos ao ponto de reconhecer que tanto a dor quanto a alegria,
tanto o choro quanto a risada, tanto o criminoso quanto a vítima... são a mesma coisa.
Essa é a minha chamada de hoje.
Nós estarmos aqui para ver, com toda a clareza, que aquilo que somos compreende tanto uma coisa, quanto a outra.

Este pequeno poema do Thích Nhất Hạnh, um monge vietnamita,
nos convida exatamente a essa visão:
Por favor, me chame pelo meu verdadeiro nome,
para que possa acordar
e a porta do meu coração seja aberta,
a porta da compaixão.

Qual é o seu verdadeiro nome?
O nosso encontro tem só essa função: chamá-lo pelo seu verdadeiro nome.
E não somente chamá-lo pelo verdadeiro nome, como chamá-lo de volta para o verdadeiro você.

Onde repousa todo o sofrimento?
O sofrimento não está naquilo que você é.
Está naquilo que, insistentemente, repetidamente, ideologicamente,
você repete como sendo você.

Tamanha é a insistência em ser aquilo que é visto e, nisso,
aquilo que você vê está separado daquilo que você pensa que é.
Você vive sob o império da separação.
Você vê o que pensa ou pensa o que vê?
Em realidade, todos pensam que vêem.
Esse pressuposto já está embutido e agora se articula apenas como oposição.
E oposição, conflito, gera sofrimento.

Portanto, chamá-lo de volta para quem você é, é urgente.
Onde está a dúvida? Por que você não volta?
Você se identifica com o que é visto e insiste em negar que é aquele que vê.
E, como descrito no poema, se você vê quem você é, a porta da compaixão se abre.
Permita o amadurecimento dessa visão.
Volte-se para dentro. Volte-se para aquilo que você é.
Exercite a possibilidade investigatória, que já está inserida em você,
para ver que você não é aquilo que a sua mente insiste em dizer que você é.

Encontrei também essa história de um outro vietnamita chamado Seung San, que fala o seguinte:
Você primeiro tem que tomar uma firme decisão para atingir a iluminação e ajudar os outros.
Você deve ter os cinco ou os dez preceitos. Saber quando mantê-los e quando quebrá-los.
Quando eles estão abertos e quando eles estão fechados.
Deixe ir o seu pequeno ser e torne-se o seu verdadeiro ser.

Você insiste em se relacionar com os seus pequenos seres e melhorar os seus pequenos seres.
Há, inclusive, a tese psicanalítica de que "quando você compreender toda a inconsciência do seu pequeno ser, se tornará consciente".
Mas essa é uma história para boi dormir... não é provável!
O foco precisa ser imediato. Acontece em menos de um segundo.
Se você decide firmemente ver quem você é, imediatamente uma coisa é trocada pela outra.
Imediatamente, você troca o pequeno ser, pelo verdadeiro ser.  

Na sua natureza original, não existe nem isso, nem aquilo.
Quando você se vê como aquilo que é, de verdade, não existe outro.
Não existe nem isso, nem aquilo.
Qualquer divisão é um retorno ao pequeno ser, um retorno à sua pequena tragédia -
a comédica humana.
Você estabelece o seu drama desenhando isso ou aquilo.
O eu e o outro. O preto e o branco. O azul e o amarelo.
O em cima e o embaixo. O esquerdo e o direito.

Retorne para aquele lugar onde não existe nem uma coisa e nem a outra.
Na sua natureza original, não existe nem isso nem aquilo.
O grande espelho circular não tem gostos e nem "des-gostos".
Por isso aquele monge disse que quando você reconhece quem é você, a porta da compaixão é aberta.

Apenas lembre-se que abrir a porta da compaixão não é um exercício do pequeno ser.
A porta da compaixão é a realidade do supremo ser.
Não façamos desse supremo ser, uma possibilidade remota e futura. Onde ele está agora?
O supremo ser se encontra exatamente aqui, exatamente agora.
Simplesmente não se confunda com o que é visto.

Pra concluir, um último pequeno poema:
“Que engraçado,
esse ator agora servindo chá na sala de zazen,
pensa que ele sou eu.”

quarta-feira, novembro 24

zazen ou já zen?




















Há muito tempo atrás, quando ainda não tinham inventado o telefone, um homem sem nenhum entendimento em direção à sua própria realização foi até um mestre e perguntou: “O que posso fazer para entender o Zen?” O mestre recomendou que ele sentasse em Zazen. Porém, o homem continuou: ”Não seria bom que eu estudasse os sutras dos magníficos iluminados que houveram? Não devo mergulhar em práticas devocionais a serviço dos outros?” Enfim, gerou uma série de propostas. Mas o mestre só reafirmou: “Se quer entender o Zen, sente em Zazen”. De nenhuma maneira aquele homem ficou feliz, e retrucou: “Como pode você - um assim chamado mestre -, pretensiosamente desmerecer a verdade que os sutras e as boas-ações carregam e me propor apenas sentar sem fazer nada, como a maior possibilidade de entendimento do Zen?” O mestre, pontualmente finalizou: “Como você pode chamar Zazen de sentar-sem-fazer-nada?”

Eu pergunto: o que a mente pode fazer para que você compreenda a si mesmo?
Como a mente pode ajudar na sua realização? Essa questão é a mais antiga e continua de uma modernidade intransponível. Por isso eu reforço: O que pode a mente fazer para a realização do Ser?

Não sei se a simples pergunta já permite ecoar aos seus ouvidos a resposta, que, diga-se de passagem, é de uma simplicidade estonteante. Veja! O que a mente pode fazer para o seu esclarecimento? Nada! A mente não tem acesso nenhum a isso. Portanto, permita o seu descanso.

Eu não me canso, nem me frustro em apontar para a seguinte localidade: o que quer que seja que a mente imagine, é absolutamente inalcançável. Por isso, a melhor prática em direção ao seu acordamento, que é o chamado direto de Satsang, é o silenciamento.

Pare! A mente não pode levá-lo onde você quer ir. Silencie!
Mas não como um método ou uma prática. Porque o Silêncio não está no amanhã.
Simplesmente veja que, se você põe de lado, por menos de um minuto que seja, todas as suas idéias, conclusões e pensamentos a respeito de si e do mundo, o que é que fica? Ou ainda, o que está lhe faltando para ser o que você já é?

Despertar é ver que você não decorre de um acúmulo de experiências. Recorra à visão de que nada precisa acontecer, porque não falta absolutamente nada para você ser você.

terça-feira, novembro 23

pensar não é ser


















Se você se apega aos sentidos, existe separação.
Se olha com a alma, não tem separação.
Separação é uma noção nascida da ignorância da realidade.

Karma é apenas uma limitação na forma, nada pode ser feito a respeito.
Não se trata de um castigo divino;
a noção de castigo decorre de uma leitura supersticiosa do assunto.
Karma é a limitação da forma no mundo - a limitação e a expressão -,
Gal Costa tem o karma de cantar, por exemplo.
E você diria que é um bom karma, mas não é mau nem bom.
Nesse campo, junto com uma coisa vêm outras.
Viver o seu karma é aceitar as coisas como são.

Você não pode ser o que você não é, você só pode ser o que você é.
Encontre o seu parto, você tem que nascer para a sua verdade,
e a sua verdade é simples: Quem é você?
Tem tamanho? Forma? Nome? Nasceu em algum lugar?
Isso tem que ser olhado com olhos nus, coração aberto, sagrando em vunerabilidade,
sem nenhuma pré-concepção. Nenhuma delas nos servem. Jogue todas as concepções de lado,
olhe de frente e veja! Você está fadado a ver aquilo que todos os budas viram:
não existe ninguém chamado "eu" em lugar nenhum.
Somente quando você se pensa, existe um "eu".
Mas pensar não é saber. Pensar não é ser. Pensar é, simplesmente, pensar.
O que existe na mente, não existe em lugar nenhum a não ser na mente.

A árvore existe somente na sua mente.
Aquilo que vemos não é uma árvore.
O mundo que você vive está sendo construído e desconstruído o tempo todo
pelas suas ideias a respeito de tudo.
Eu proponho: desconstrua a sua ideia de mundo e veja o paraíso em que se encontra.
Ao se deparar com um limite, uma limitação na forma,
no mundo de Samsara, veja que ele é vazio de substância e o abandone intencionalmente.
Abandone as ideias!
Você se "de-limita" e não vê que o que tem que acontecer está acontecendo,
inclusive, à revelia dos seus interesses pessoais. Pois não há quem escolha.
Tudo é fruto da Consciência.

O karma do corpo é sofrer disso ou daquilo, mas a mente procura saída para a morte.
No entanto, ao mesmo tempo em que construímos enormes hospitais,
com a última tecnologia, na tentativa de curar o coração dos homens,
mais doenças do coração aparecem. É um paradoxo.
Essa é a brincadeira divina.
Quando sabemos de uma coisa, ignoramos outra equivalente,
de modo a eliminar uma ou outra.
É tudo uma grande brincadeira. Mas você se leva a sério e quer brincar de Deus.
Mas o jogo é dele... Quem é você?