sexta-feira, fevereiro 17

Tire os sapatos


O convite de Satsang é que você se desmanche completamente no aqui e agora, que você seja exatamente aquilo que você não tem como saber, conter. A "vontade de saber" deve ser colocada de lado, junto com os sapatos que você tira. É como simplesmente sentar-se sem entender nada e sem nenhum interesse em entender. Ouça o que está sendo dito, como sons de uma língua distante, e logo perceba essas palavras como um plano de fundo. Apenas uma coisa fica em primeiro plano: aquilo que observa.


Observe qualquer pensamento que possa estar ocorrendo e comece a perceber um processo de integração entre aquilo que você pensa que é e Aquilo que você é. Há um "ponto" único e objetivo ao qual cada um de nós deve chegar.


Se a espiritualidade não for o seu objetivo, ela se apresenta como superstição e isso subentende um ego, uma divergência, uma diferença. A espiritualidade madura e verdadeira remove completamente a diferença. 


Aquele que você pensa que é, some, e fica "aquilo que você é". Existe a necessidade de que você confirme "aquilo que você é". Comece investigando cada noção que você traz consigo a respeito de quem você é, mesmo que seja ela a mais sublime. De outro modo, cultuando o que você pensa como sendo verdade, a Verdade não tem como penetrar em você. E na verdade manifesta não tem você.

quarta-feira, fevereiro 15

a razão desconhecida e o livre arbítrio


Participante — Satya, e o livre arbítrio?
Sabe qual é o único livre arbítrio que você tem? Você tem livre arbítrio de pensar que tem livre arbítrio, este é o único livre arbítrio que conheço.
Participante — Mas nós temos escolhas, não é? Caminhos?
Temos ou parecemos ter?
Participante — Depende do nível. No dia a dia, por exemplo.
Quero ir até o fundo disso, é importante que você entenda, é importante que todos entendam. Vá fundo. Você tem escolhas?
Participante —  Eu diria que sim. Digamos que, dentro daquilo que fazemos todos os dias, podemos escolher fazer uma coisa ou outra.
Você pode? Se pensar dessa forma – que você sempre escolhe aquilo que tem de ser feito – por que, às vezes, você faz umas coisas que não escolheu fazer?
Participante — É verdade.
Você não tinha livre arbítrio para fazer diferente?
Participante — Vamos dizer assim: as minhas decisões na vida talvez poderiam ser diferentes.
Poderiam? E por que não foram?
Participante — Porque foram opções... ou talvez fui levado por alguma razão que não conhecemos.
Ah! Essa "razão que desconhecemos" é o mais interessante. É exatamente isso: você sempre faz o que essa razão que você desconhece quer que seja feito. Às vezes, coincide com o que você estava pensando, às vezes, não. Mas não foi você quem escolheu, foi aquela razão desconhecida – ela que escolhe fazer isso ou aquilo através desse corpo-mente. O que acontece é que, nas vezes em que não coincide, você diz que não foi você que fez, e nas vezes que coincide, você diz que tem livre arbítrio e que decidiu fazer dessa forma.
Participante —  E nos culpamos, pensando que poderíamos ter tomado outro caminho...
Porque você acredita que tem livre arbítrio! Veja que você não tem livre arbítrio e que tudo acontece porque tem que acontecer. Você não tem culpa de nada, nesse sentido tudo é um acidente.
Participante — Até nas pequenas coisas?
Até nas minúsculas coisas. Por exemplo: você decide fazer alguma coisa, daí, você faz essa coisa, mas foi você quem decidiu fazer?
Participante —  Foi a mente e o corpo.
E a mente é expressão do quê?
Participante —  Da Consciência.
Só existe Consciência. Tudo o que existe é Consciência, é a Essência se manifestando – ela se manifesta através de você. Às vezes, você pensa que era você fazendo alguma coisa, mas será que não é "essa coisa" que você desconhece que está se manifestando, coincidindo com a sua vontade?
Participante —  E quando não aceitamos certas coisas?
Continua sendo manifesto, não continua?
Participante — O fato de não aceitar também é uma decisão da Existência.
Tudo o que acontece é manifestação, não importa o que aconteça. Se você não concorda, a Essência quer que você não concorde. É você não concordando? Não. Quem é que não está concordando? A Essência. Esse é o jogo, leela, uma brincadeira. A noção de livre arbítrio engendra a noção de uma entidade que escolhe, por isso a pergunta: "Quem é você?" Quem é essa entidade que tem livre arbítrio? Não tem livre arbítrio. Não pense e realize isso por si mesmo.

terça-feira, fevereiro 14

a indescritivelmente longa busca do indescritível

A busca pela Verdade é perturbadora para o estabelecido, para a grande maioria. Então, uma vez visto “quem você é”, fique onde você está, quieto, onde quer que você esteja. Assuma quietude como sua natureza e logo verá que você é aquilo que você esteve buscando por milhões de anos.

A busca é errônea. Não existe busca – porque buscar é somente para aquele que está perdido. Mas quando nada está perdido, não existe significado nenhum em buscar. Assim, o nosso encontro consiste em perceber que qualquer coisa que você esteja buscando não existe, não passam de ideias terceirizadas.

Portanto, aquiete-se e acomode-se nisso. Não se mova “disso” para nada. Realize que nada está perdido. Tudo está perfeito neste exato instante. Somente quando a mente surge, é que surge imperfeição, inadequação e ansiedade. No mais, tudo está perfeito. A mente propõe o enredo, contando histórias. Não se importe! Este é o passatempo dela. E a ideia de que não deveria ser assim é mais uma história.

Simplesmente, permaneça quieto. Não mova sequer um pensamento na sua mente – e, então, você sabe quem você realmente é. Este saber, é indescritível. No momento que você tenta descrever, este é mais um movimento da mente. Pois “quem você é” não cabe numa descrição. Aproxime-se disso com carinho e os seus olhos falarão por si.

segunda-feira, fevereiro 13

zendo assim


Participante – Satyaprem, se estou no controle das emoções, como faço para observar essas emoções?

Não há controle das emoções, mas uma desidentificação com elas. Você precisa ficar muito atento, porque não há nenhum propósito em controlar as emoções. As emoções nascem de um agente provocador. O que estou esclarecendo aqui é que as emoções não têm nada a ver com quem você realmente é. Então, observe!

Participante – E o que seria observar?

Nesse contexto, estamos falando de observar sem que tenha alguém observando.

Participante – Do contrário, é a mente.

Sim – e a mente não observa, ela julga. Raiva surge em seu campo sensorial e a mente diz: "Eu não deveria estar com  raiva". Isso não é observação. A observação possibilita a investigação de quem está com raiva e a visão de que, diante da revelação de sua origem, a raiva e o que decorre dela somem.

Na observação não há qualquer preocupação com a raiva – há um movimento muito mais alongado em que tudo é aceito incondicionalmente.

Comece a observar e veja que não tem ninguém observando, nem nada para ser observado. Só há observação, em si. Ninguém sabe o que está acontecendo. 

sexta-feira, fevereiro 10

o essencial


Aquilo que você é, não é tocado por absolutamente nada. "Silêncio" é um nome que indica sem definir. A Verdade, ela mesma, não pode ser definida. Quando dizemos "silêncio", entenda, este é um indicativo. Mas, em realidade, nem mesmo o barulho interfere.

Em Satsang, estamos diante daquilo que não pode ser definido. A mente define, põe um fim. Aquilo que você é, é infinito. Gostaria de deixar isso o mais claro possível, compreenda: note que tem um "você" que é definido e um VOCÊ que é indefinível.

Osho chegou a dizer: "Existem dois homens comigo, o homem aprendido e o homem essencial; aquele que eu sou antes de qualquer coisa e aquele que eu sou depois das coisas". O essencial é aquilo que observa, que está no centro de todas as coisas. Aquele que você é depois de tudo está na periferia - são os comportamentos, o corpo, a mente. Conviver com ambos, em harmonia, é o segredo.

Se você chegou até aqui com aquele da periferia é por que ele fez um bom trabalho. Agora olhe para o essencial, olhe para o centro e descubra que entre o centro e o periférico existe uma distância infinita. Aquilo que acontece com um, não acontece para o outro. Na verdade, os acontecimentos sempre ocorrem no periférico. No centro só há Observação, nada acontece - realize isso!

quinta-feira, fevereiro 9

dentro, não pensa


Foi perguntado ao Osho: "Querido mestre, você sempre fala em olhar para dentro. Mas, onde é que dentro fica? Porque eu tenho olhado, olhado, olhado, olhado... e não tenho a menor ideia. Estou tendo a nítida impressão de que o meu olhar sempre repousa do lado de fora. Eu olho, olho e torno a olhar... e para onde quer que eu olhe é o lado de fora. Mas você fala em olhar para dentro... Quer dizer que não estou te entendendo?"

Para que possa olhar para dentro, sem sombra de dúvidas, é fundamental que você se dê conta de onde é que o dentro fica. Caso contrário, você estará brincando de cabra-cega. Às escuras, você fica perdido. Ora mexe aqui, outrora mexe ali ou mexe acolá... e nada te dá aquilo que você está buscando.

Diante dessa infindável busca, uns amadurecem mais rápido e se dão conta de que a luz deve ser acesa e não é possível encontrá-la seguindo uma estrutura cega. Outros ignoram o foco do "encontro" e permanecem perdidos, maravilhados com os sentidos.

Mais uma vez eu repito, a Verdade é como um ímã. Aproxime-se e você é atraído, ela puxa você. Ofereça-se a Ela e deixe-se ser levado. Diante da Verdade, você deixa de ser você e nasce um "novo você" – livre de ideias. Aliás, não poderia ser mais apropriado sublinhar que você não é o que você pensa que é. Desista de ser esse "você-pensado' e assuma a sua verdadeira identidade. Para isso, sua busca deve ter apenas uma direção: para dentro!

quarta-feira, fevereiro 8

tempestade de silêncio


Hoje gostaria de começar com um agradecimento: obrigado por trazerem a sua atenção a este lugar, pois só o fato da sua atenção estar intencionalmente voltada para a Verdade, para o Silêncio, já é uma grande virtude. Aliás, é sobre isso que quero falar: Para onde a sua atenção está voltada?

Tem um ditado popular que diz: "Quem planta vento colhe tempestade". Já se deu conta disso? Você planta um sopro, um vento bem pequeno e isso se torna uma tempestade. E, em contrapartida, se você planta um minuto de silêncio, a intenção em olhar na direção de quem você é, possivelmente vem a colher o fruto desse silêncio.

Na verdade, a Atenção nos é oferecida selvagemente e, da mesma maneira, você a utiliza. Nosso trabalho aqui é recompor um pouco esse quadro para que talvez você possa antever a direção que a sua atenção está tomando e, se a sua intenção for colher Paz, você não saia por ai colhendo tempestades.

Colocar atenção no lugar certo é fundamental. Nós estamos perdidos, sempre estivemos perdidos e continuaremos perdidos se não olharmos para o lugar certo. Certo aqui em nosso contexto não quer dizer aquilo que segue os preceitos morais. Certo é o lugar exato: para colher tempestade, plante vento. Para colher Paz, plante a semente da sua atenção no Silêncio. 

nada. agora.


Na nossa linguagem, "nada" significa ausência de coisas, coisa nenhuma. Mas, no contexto de Satsang, entenda "nada" como positivo e não como a negação de algo. Perceba: quando todas as coisas se ausentam, algo se torna presente, e essa presença é meditação.


Normalmente, nos é dado "n" métodos para que, através de uma manipulação sensorial, cheguemos ao estado de nada fazer, e que, talvez pelas frestas desse nada fazer, percebamos o "nada" e meditação aconteça. Mas, usualmente, ao perceber o "nada", esse "nada" se apresenta como um objeto sendo percebido. E isso não é meditação, isso ainda é contemplar um objeto.


Costuma-se olhar para meditação como uma conquista, mas tudo o que pode ser conquistado está no mundo objetivo – pode ser medido, pode ser pesado, pode ser mensurado. O "nada" não pode ser medido e não é objetivo. Aquilo para o que meditação aponta está além do objetivo e do subjetivo.


Surge uma pergunta: Como trazer para nossa realidade uma coisa que é o avesso de tudo o que aprendemos, de tudo a que fomos condicionados?


O que quer que você faça, pergunte ou proponha, está deitado no tempo. Ou seja, você olha deste momento para algo que vai ser encontrado em um outro momento, que você não sabe qual, mas para o qual você está se preparando. Porém, você só vai poder entender com totalidade o que Satsang propõe – entenda "totalidade" aqui, como o que vai além do intelectual – quando você não prorrogar mais, porque o que estou apontando está acessível a você exatamente agora. Aquilo para o que meditação aponta está somente aqui e agora.

sexta-feira, fevereiro 3

além das concepções




















Há uma abertura nos dias de hoje que oferece uma nova modalidade de conhecimento. Esta nova modalidade de conhecimento vem reestruturar o modo como vivemos. De onde viemos, existe uma estrutura que nos dita como a vida é. Hoje, portanto, esta nova abertura subverte completamente esse “como a vida é”.

Em realidade, no fundo, no fundo, nada precisa acontecer. Na superfície, uma série de coisas acontecem. A proposta não é “refazer” nada, é apenas reconhecer aquilo que têm estado encoberto.

O seu comportamento está embasado de acordo com a maneira como você se concebe. Investigando essa concepção, podemos ver aquilo que tem se mantido obscurecido pelas lentes da mente e o impedem de ver e viver a realidade tal qual ela é.

O que você concebe como sendo você? Proponho que olhe para esta concepção e veja que ela está fadada ao fracasso, ela é errônea, não tem fundamento – apenas foi repassada através das gerações. Abra os olhos, tente remover as lentes da mente e note essa nova abertura.

Isso que estou chamando de "nova abertura" transcende concepções, onde você começa a pulsar na vida de uma forma diferente, independente do seu querer. Aproxime-se disso e veja um “novo mundo” ao seu redor. Na verdade, melhor dizendo, o “novo mundo” está dentro de você.

quinta-feira, fevereiro 2

o fim do mundo e a rosa

















Pela artificialidade, você não relaxa na sua natureza, você tem medo. No entanto, ninguém nasceu para ter medo. O ser humano, tal qual ele se encontra, vive sob a filosofia do medo. Isso tem deixado o mundo feio. As armas são feias, os limites entre os países são feios.

Tudo o que é criado com a filosofia do medo deve ser destruído. E, de alguma forma, note: ainda que inconscientemente, o próprio “ser humano” está destruindo a feiúra em que o mundo se encontra, construída por ele mesmo. Chegamos num ponto em que não dá mais pra ir em frente, e como – seguindo o medo, a mente – não é possível ver a alternativa do belo, o mundo está se auto-destruindo.

Qual a beleza em produzir mais um milhão de carros este ano e soltá-los nas ruas? O que será de São Paulo? A ideia é ter lucro simplesmente, como se a única alternativa de trabalho fosse construir carros. Entendeu por que estou chamando de “feio”?

O belo sempre sugere alternativas viáveis para todos. Essa é a brincadeira de estarmos aqui: dar boas-vindas a um mundo novo. Você teme o fim do mundo? Não tema! Bem vindo, fim do mundo! Esse é o despertar que a humanidade está prestes a vivenciar, estamos a caminho do fim do mundo da mente.

Se você quer ajudar o planeta, o melhor presente que pode ser dado à humanidade é ir em direção e reconhecer o Silêncio que você é. Existem pensamentos que intoxicam o ambiente. Não nutrir estes pensamentos deixa o ambiente mais límpido – logo, tudo em sua volta.

Como é o seu nome?

Participante – Rosa.

Era disso mesmo que eu estava falando... Você tem que deixar de ser humano e se tornar uma rosa. 

quarta-feira, fevereiro 1

flores e espinhos

Palavras do Osho: “Amor, eu sou um com todas as coisas. No momento que sei quem eu sou, no momento que vejo quem eu sou, no momento de sabedoria, eu sou um com todas as coisas, eu não consigo perceber nenhuma divisão. Em beleza, em feiúra, para o que quer que seja, aí estou, aí eu sou. Isto eu sou. Não somente em virtude, mas em pecado também. Eu sou um parceiro não somente no céu, mas também no inferno. O inferno também é meu.”
Estas palavras não poderiam ser mais minhas. Fomos condicionados a crer que o inferno é o outro, mas é justamente neste ponto que nasce a separação. É deste jeito, vivendo sob essa crença, que o inferno o persegue.

Se você ousar olhar com carinho para tudo que o cerca, somente uma visão é possível: não há nem certo nem errado, nem mocinho, nem vilão. Os acontecimentos seguem condições: algumas coisas acontecem para uns, outras para outros... Tudo acontece como tem que acontecer. Lembre-se: “Eu sou um parceiro não somente no céu, mas também no inferno”.

E Osho segue seu discurso... “Buda, Jesus, Lao Tzu... é muito fácil ser herdeiro deles. Mas Gengis Khan, Tamur, Hitler... eles também estão dentro de mim. Não há metade. Eu sou a humanidade em totalidade. O que quer que seja do homem é meu. Flores e espinhos. Tanto a escuridão quanto a luz. E se o néctar é meu e só meu, de quem é o veneno? Néctar e veneno, ambos são meus. E quem quer que seja que experiencie isto, eu chamo de religioso.”

A atitude da mente é separar o certo do errado, mas isto não é religioso, unificador. Quando você descobre quem você é, nota que tudo pode ser acomodado dentro de você – ou, melhor, não somente pode, como essa é a única verdade, embora seja negada o tempo todo. Tudo está dentro de quem você é.

Olhe a sua volta e veja tanto o néctar quanto o veneno – ambos ocorrem na superfície, não os julgue. Esteja atento ao “ambiente” em que eles ocorrem. Nem céu, nem inferno – quem você é, está além dos dois, e não há a menor possibilidade de ser compreendido pela mente. A mente separa, religioso é ser fiel ao Um, não-dois.