quinta-feira, maio 31

céu e silencio


"Noite passada fiz outra vez a promessa:
Jurei por tua vida, jamais desviar os olhos
Se golpeares com a espada não me esquivarei
Não buscarei cura em mais ninguém
Pois a causa da minha dor é ver-me longe de ti"

Este é um poema do Rumi, poeta sufi que tem todo meu apreço, por isso compartilho incansavelmente. Esta é uma canção para si mesmo, é um poema para si mesmo. Ele também diz:

"Joga-me ao fogo.
Se deixares escapar um único suspiro
Não serei homem de verdade"

É verdade que, a princípio, Satsang provoca desconforto na maioria das pessoas. E isso acontece porque tudo o que você acreditava, começa à queimar. É um fogo! A Verdade é um fogo que queima tudo o que é mentira.

O que quer que você saiba, é emprestado de terceiros. Você não sabe e não precisa saber absolutamente nada. E Satsang propõe que você repouse nessa suspensão do não-saber.

A infantilidade do ignorante é achar que ele sabe alguma coisa. O convite em Satsang é ficar suspenso no não-saber. Porque tudo o que você tinha como conceito palpável, fica no mínimo desestabilizado.

O papel do diabo é organizar. O papel do antidiabo é desorganizar. Esclarecer não é colocar o pingo nos "is", é tirar os "is" dos pingos. Só fica o céu estrelado e um monte de pinguinhos sem "is", sem nada, sem letrinhas.

quarta-feira, maio 30

silêncio no ruído


















Creio que não vem a ser necessário dizer que toda a invocação do nosso encontro seja o Silêncio. Desse modo, gostaria de elucidar hoje a seguinte questão: o mundo é ruído, você já notou? E não apenas é ruído como é ruidoso. No entanto, ao contrário do que parece ser a proposta do senso comum, o que Satsang propõe não é que você se afaste desse ruído, mas que – de dentro do ruído –, encontre o Silêncio.


A proposta de afastar-se do ruído já foi apresentada inúmeras vezes e faliu. Então, agora, descubra o Silêncio no centro do ruído – até porque não tem para onde ir. Isso exigirá um pouco de disponibilidade e inteligência da sua parte. Veja se há em você o interesse em examinar certos conceitos que são guardados como imperativas e vamos em frente.


Caiu em minhas mãos uma breve citação de Osho, muito interessante, que diz o seguinte: “Meditação acontece quando não existe um mediador entre você e a realidade”. E ele carimba afirmando que “o mediador entre você e a realidade é a mente”. 


Então, para ouvir e ressoar na mesma frequência do Silêncio esteja em harmonia com o silêncio. O problema é que foram criados vários métodos para que as pessoas fiquem em silêncio e os métodos são tão delicados, tão prazerosos, que a maioria se vicia nos métodos e esquece o propósito principal.


Estamos aqui para relembrar o propósito. E o único “método” – se é que posso chamar assim – que irei propor é que “você” se ausente. Proponho que oblitere a sua minúscula e fantasmagórica existência e observe o que é que fica. Isso que fica é você.

segunda-feira, maio 28

"ninguém" observa "nada". quem é você?



Temos falado em "olhar para dentro" e você me pergunta como fazer isso. Porém, o que venho compartilhar é que não se trata de um fazer, porque "fazer" está relacionado aos objetos, significa que você está observando os objetos.

Não-fazer, portanto, é não observar os objetos. Você olha para o mundo através de uma aparente dificuldade, porque relaciona o mundo aos objetos, sem verificar que isso não passa de uma criação mental herdada e mal compreendida, não investigada.

Nosso trabalho é essa investigação. Quem disse que o mundo está repleto de objetos e que isso torna impossível não observá-los? Essa aparente dificuldade pode ser facilmente removida. Você pensa que são os seus olhos que vêem o mundo cheio de objetos, mas este é um engano fundamental. Os seus olhos vêem. Ponto final. A mente é a responsável pela criação e manutenção deste "indivíduo" que você chama de "eu" e que nomeia tudo o que vê, ininterruptamente. Em eterna co-dependência.

Não se engane, separe o joio do trigo. O que você vê não é o que você pensa que está vendo. Pondere isso e perceba que existem duas possibilidades: observar os objetos ou observar aquilo que observa. Desmanche-se nisso.

Olhar para dentro é observar aquilo que observa – isso é meditação – e agora é o melhor momento para começar. E o fim.

quinta-feira, maio 24

aquilo que vê
















Aqui, portanto, proponho um olhar agudo numa única direção: olhe para dentro – ainda que você não saiba onde o dentro fica – e tente localizar a sua mente agora. Onde está a sua mente?

Participante – Ela está fora.

Isso é ficar com o simples. Seria discutível? Sim. Poderíamos discutir por horas. Mas, para poupar-nos este trabalho, quero que pondere o fato da mente estar fora por ela ser passível de observação. A mente é observável. É porque você a percebe, que pode afirmar que não consegue para-la. Então, se você pode acessá-la através de um dos sentidos, isso quer dizer que ela está fora.

Você acessa o por do sol através da visão, um sorvete com o paladar, o aroma de uma flor com o olfato, o calor da xícara de chá com o tato, o som da minha voz através da audição, e – como bem dito por Buda, o Gautama – você acessa a mente através do sexto sentido, a imaginação.

Experimente isso. Pense em algo ou alguém.

Participante – Pensei no meu namorado.

Veja que o mero fato de você dizer “pensei no meu namorado”, significa que houve uma relação de observação de um objeto chamado “pensamento”, e que de dentro deste objeto chamado “pensamento” é que vem a imagem do seu namorado ou do que quer que seja. Este processo é a comprovação de que Observação é a sua natureza.

Você não pode nem pensar nem sentir qualquer coisa, sem que haja Observação. O mundo nos hipnotiza com os objetos, estamos hipnotizados a observar os objetos. Toda a nossa atenção é consumida com os objetos. Toda! Olhar para dentro, portanto, é desencantar-se dos objetos. Conscientemente, você remove a sua atenção dos objetos para aquilo que observa os objetos.

Aqui, entenda como “objeto” tudo aquilo que pode ser acessado através dos sentidos. E, nesse caso, isso que você chama de você está incluído. Este você que é acessado pelos sentidos, não é você. Você é aquilo que vê e aquele que vê encontra-se dentro.

quarta-feira, maio 23

na resposta desaparece a pergunta


Faça um breve balanço da sua vida e pondere: quem guia você? Quem está te guiando no seu dia a dia? Arrisco dizer que existe uma possibilidade muito forte que você seja um agente fornecedor de dificuldades. Já pensou sobre isso?

A vida está pulsando em simplicidade e facilidade, disponíveis ao alcance das suas mãos, mas você, a mente, projeta sua realização em tudo que está fora do seu alcance, por mera ignorância – e a dificuldade passa a reger a sua vida.

Não é a sua verdadeira natureza que tem guiado você. Sua natureza é Paz, Silêncio, Quietude. Guiado por ela, não poderiam haver tantos conflitos. Portanto, esteja atento e veja que há algo inestimável, ao alcance de suas mãos. Na verdade, muito mais perto: dentro de você.

Basta voltar-se para dentro. Todo o seu trabalho está em descobrir onde o "dentro" fica e mudar-se para este "não-lugar". Reconecte-se com isso que tem todas as respostas ou, ainda, isso que aniquila todas as perguntas e nos deixa sem necessidade de respostas.

Essa percepção revela que viver não é um problema e sim um grande mistério, extremamente intenso e cheio de vitalidade. Fique com o simples: olhe para dentro!

sexta-feira, maio 18

pé-no-saco-zen


Trago um trecho que considero particularmente importante, a respeito da compreensão de quem você é. Ao se dar conta que tudo é Consciência, que você é Consciência, tome isso com muito carinho. De maneira nenhuma essa percepção pode se passar por uma permissão para que você seja isento de qualquer responsabilidade pela qual, obviamente, você venha a ser responsável.

Osho dizia: "Responsabilidade é a habilidade de responder". É isso! Seja responsável, nesse sentido. Seja hábil em responder às situações. Conta-se que quando Sócrates foi acusado e envenenado, alguém o disse: "Você vai morrer!" Ao que ele respondeu: "Vocês todos também". Ele não estava brigando com a situação, ele respondeu à situação. Porém, diante da visão da Consciência que ele é, a resposta surgiu clara e tranquila.

O que aprendemos comumente é a negar aquilo ao qual somos responsabilizados. Quase que automaticamente, você reage: "Não fui eu!". E aqui entra a parte curiosa, algumas pessoas têm acesso à Satsang e se dão conta do abismo que há entre elas e o ego. Porém, a mente entra pela porta de trás e aparece com os velhos hábitos. É aí que você deve estar atento. Porque de repente você está tendo acesso a um novo discurso, mas não seja um papagaio. Ouço algumas pessoas dizerem: "Não fui eu que fiz isso, foi meu ego". Ora! O nome disso é "pé-no-saco-zen". Se não foi você, de verdade, e isso está realmente cristalino, não tem como nem sequer essa afirmação aparecer.

O que foi feito, responsabilidade. Se você estiver realmente disposto a assumir que você não é o seu ego, eu topo. Mas que isso não seja apenas um discurso, uma repetição de algo que você ouviu. E se isso for realmente verdade, nasce sinceridade e humildade. Seja carinhoso e elegante com aquilo que está sendo revelado à você. Viver o que Satsang propõe é de uma beleza absurda, não pode gerar feiúra.

Uma coisa é certa: enquanto houverem objetos, tem sujeito. E enquanto houver sujeito, tem objetos. Uma coisa não vem sem a outra. Veja quem você é e desaparece o sujeito e os objetos. 

quinta-feira, maio 17

o fim do andarilho paranóide

















Por natureza, não tem como você se tornar o observador, pelo fato de você já sê-lo. Desse modo, não tem nada que possa ser feito, apenas esclareça a sua mente. Comece a discernir que existe uma diferença gritante, entre ser e existir, entre ser e sentir, entre ser e pensar.  Quando estabelecido este critério, sua mente não sai mais a “andarilhar”, porque agora você sabe muito bem o que ela pretende.

A mente está sempre propondo ocorrências, e que você se prepare para se defender do que virá a acontecer. Nisso você deposita imensa energia e perde "o presente". Isso me remete ao comentário feito por uma psicanalista que complementou este procedimento da mente como um comportamento paranóide por excelência. Segundo a Psicanálise, é classificado como "paranóide" uma pessoa que fica premeditando o futuro e tentando se preparar para o que vai ocorrer.

Não existe propriedade nenhuma em preparar-se para o que virá a acontecer, este comportamento tem sentido somente dentro da mente. Eu gostei dessa deixa psicanalítica que batiza essa tendência compulsiva da mente como um comportamento paranóide - pois é justamente isso o que ela faz -, a mente está sempre premeditando, negativamente, o que vai acontecer amanhã.

Estamos aqui, portanto, para convidar este “andarilho paranóide” a voltar-se para o Agora. Este, na verdade, é um grande ato de amor. Submetendo-se a isso, você recolhe toda a frustação e toda essa tendência negativa, e fica no Agora.  

quarta-feira, maio 16

Entrevista: natureza do ser - jornal O Tempo - BH



Satyaprem estimula a busca da verdadeira natureza do ser
Pensador provoca nas pessoas o questionamento sobre quem elas são
Publicado no Jornal OTEMPO em 15/05/2012
ANA ELIZABETH DINIZ
Especial para O TEMPO


Começo a entrevista com Satyaprem perguntando sua idade. O mítico, cujo nome significa "amor pela verdade" em sânscrito, questiona qual é a relevância dessa informação e me responde: "Aquilo que sou não tem idade, nunca nasceu, nunca morreu. Mora em todos os lugares e em nenhum lugar ao mesmo tempo. No entanto, torna-se inacessível ao senso comum. Seguir a ordem da pergunta sem questionamento mata a originalidade do tema a se abordar, insere o assunto num campo sem vida, comum à mente comum".

Só então, prosseguimos com a conversa. Satyaprem inicia sua fala dizendo que começou sua busca espiritual aos 23 anos, quando estudava jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Na ocasião, ele foi "fisgado" filosoficamente pelo pensamento de Carlos Castaneda e do líder espiritual Osho e foi viver em Oregon, nos Estados Unidos, na década de 1980, em uma comunidade conhecida como Rajeeshpuram - uma espécie de "oásis no deserto", para onde se dirigiam todos aqueles que queriam experimentar uma vida livre, desapegada das amarras de uma sociedade escravizada pela ganância financeira.

Lá, Satyaprem, que não considera importante revelar o seu nome de batismo, se tornou um "sannyasin", que significa, basicamente, ser um "renunciante".

Praticou durante anos a meditação ativa e conheceu uma vida de libertação dos sentidos. Aos 53 anos - ele acabou dizendo a própria idade, afinal -, esse gaúcho de Bagé que viveu por muitos anos nos Estados Unidos, na Índia, na Holanda, na Alemanha, na Noruega e na Suécia, trabalhou em comunidades como terapeuta e já publicou seis livros, entre eles "Fragmentos de Transparência", "Quem É você?", "Você É o Buda" e "Além do Colapso das Possibilidades".

Satsang. Satyaprem chega a Belo Horizonte nesa semana para coordenar "satsangs", palavra em sânscrito que significa "encontro com a verdade". "A ideia é provocar o jeito de pensar robotizado das pessoas, convidando-as para um olhar aberto para o que realmente importa na vida: quem é você?", avisa.

Ou seja, não busque respostas clássicas ou definitivas com Satyaprem. O que ele propõe é radical: "O ser humano não tem meta. Não estamos aqui para fazer nada, não temos a menor função".

Pergunto se ele tem uma rotina "normal" ou se medita a maior parte do tempo. "Não há rotina. Todo dia é um dia novo. Não trabalho como 'um ser normal'. Toda a minha energia vital está direcionada à meditação, para que possa ser inteligível. Minha sugestão é que as pessoas deixem de ser 'normais', busquem sua originalidade e a expressem com total confiança e alegria. Assim, verão que trabalho é uma coisa que se faz sem amor, sem gosto. Já aquilo que você faz com amor nunca pode ser chamado de trabalho. É pura brincadeira".

Interpretações. Para Satyaprem, o mundo está perfeito do jeito que é. "Mas não pense que você saiba o que é o mundo. O mundo pensado e publicado pela forja da mídia precisa ser mudado. Desliguem a mídia mundial, e os passarinhos, as flores, as nuvens e o céu azul cantarão sua silenciosa canção, disponível àqueles que não se pensam", explica.

Para ele, a sensação que persegue a humanidade, que se sente massacrada em relação à sua sobrevivência, pode ser mudada. "Pergunte-se diante de tudo que te massacra: quem me força a essa situação? Se você está sendo forçado por alguém, está na hora de se afastar. Se suas crenças o forçam, está na hora de questioná-las. Você tem o direito de viver uma vida leve e feliz", diz..

Satyaprem ensina que todas as sensações ocorrem dentro de cada indivíduo. "Você não tem nome, não tem forma, não tem tamanho. Não há sensação que possa descrever você. Não importa o que faça você está observando. Não importa a imagem, o pensamento, a emoção que venha, pois quem é que sabe disso tudo? Esse é quem você é. O foco é nisso que você é, e não nos objetos de observação. Objetos vêm e vão".

Para o místico, "não importa o que faça, a pessoa está sempre ciente de alguma coisa". "A consciência permanece como cortina de fundo para o que quer que seja que aconteça na periferia. Isso é imutável e não depende de fazer coisa alguma. Essa consciência é independente e não pode ser experimentada porque ela é a própria pessoa", ensina.

terça-feira, maio 15

isso não cabe em pensamento


O que quer que seja que seja manifestado, que esteja manifesto, não é o Ser. É por isso que estou aqui elaborando questões que você não tem como responder, se permanece bitolado aos conceitos da sua mente.

Há um ponto de clareza que deve ser alcançado. Se o que você quer é ver a si mesmo, de verdade, a visão necessária é: você não é o seu corpo, porque você pode observá-lo. Você, portanto, é aquele que observa. Você não é o seu nome, porque o seu nome é o nome dado a este corpo. Este é o segredo da observação, na prática. Dê-se conta que o que quer que seja que aconteça com este corpo que é chamado "disso" ou "daquilo", não tem nada a ver com quem você verdadeiramente é.

Um outro detalhe que deve ser carinhosamente inserido em seu campo de percepção é que a observação não passa pela mente. A sua mente está em constante movimento, "pensamental" ou sentimental, e a observação não sincroniza com nada disso. Por isso você se confunde, porque, diante da proposta da "Meditação", nasce em sua mente o desejo em permanecer observando. 

Mas observação não passa pela mente. A mente pensa, ora uma coisa, ora outra. Você é aquilo que observa todos os pensamentos. E as vezes você pensa que está observando, mas isso não é observar. Isso é pensar. Observação não cabe num pensamento.

Você pode, por muitos anos, pensar que está observando – até que um dia se dá conta de que a "observação" proposta pela mente não é a Observação da Consciência que você é. Este é o nosso único objetivo: reconhecer aquilo que observa e desidentificar-se do observado.

segunda-feira, maio 14

suprema liberdade


Para a Verdade, um passo é fundamental. Você precisa se dar conta de que o mundo que você acredita como real, não passa de uma construção nervosa. E você, quem você realmente é, já existia anteriormente a essa construção. Aqui nasce um novo conceito que provoca uma abertura à verdadeira percepção a respeito do mundo e, claro, a respeito de si mesmo – falemos de "Meditação".

 

Meditação é aquele momento em que você para de colocar atenção naquilo que seu cérebro registra, e permanece reto com o Silêncio. Alguns métodos surgiram como aliados para isso. Sim, porque sugerir que você simplesmente acomode-se confortavelmente e olhe para dentro, na grande maioria das vezes, não é suficiente. Você precisa "ocupar-se com algo".

 

Então, te é dito para sentar com a perna esquerda embaixo da direita e respirar de maneira adequada, por exemplo. Mas é aqui que você precisa tomar cuidado. Muita atenção, pois é fácil se prender aos métodos. Agora, a sua preocupação estará mais voltada à dor nas suas pernas, provocada pela posição com a qual você não está acostumado; ou ao "barato" provocado pela respiração intensa... E assim você perde o objetivo principal, prorrogando o encontro.

 

No entanto, métodos foram criados porque você precisa de um certo tempo para aclimatar-se com a ideia de que nada do que seja feito ou sentido pode levá-lo à realização de quem você é. Pondere: o que você acha de ser "nada", de não haver um "você"? Essa é a Verdade: rápido e claro como um raio, num mínimo estalo, está a visão daquilo que você está buscando.

 

Mas enquanto se acomoda essa "nova realidade", enquanto o seu sistema neurológico se prepara para esta visão, nos encontramos neste formato ora investigativo, ora comungativo, a fim de cristalizar uma única verdade: você não é quem você pensa que é e essa é a suprema liberdade. 

sexta-feira, maio 11

dentro, um.

O caminho da relembrança não passa pelo outro,
passa diretamente pelo encontro consigo mesmo.
Esse é o caminho do esquecimento.
Coragem é fundamental -
a maioria não topa e fica no meio do caminho.
Mas eu tenho uma humilde esperança de que pelo menos um de vocês chegue ao fim.
Se um chegar, estou feliz. Se meio chegar, já darei pulos de alegria...

Para começar, você nota que todos vivem com a vida pautada nas imagens?
Sem inquirição alguma, o mundo vive uma realidade pensada, imaginada.
Acordar, portanto, é um "evento" que rompe completamente com tudo.
Você não mais telefona para o lado de fora,
porque todos os espelhos foram quebrados.
O interesse na imagem se resume a zero.

Satsang é a redescoberta de que aquilo que você pensa não tem o menor valor,
até porque não é você quem pensa.
E essa é uma das investigações fundamentais no projeto de encontrar a si mesmo.
Caso se dê conta de que não é você que está pensando, estamos a meio caminho andado.
Nenhum desses pensamentos que você tem, dia após dia, são seus.
E o meu único desejo é que você se dê conta disso e note, com grande alívio,
a Verdade a respeito de quem é você.

Há um "espaço interno" ignorado e estamos aqui para relembrá-lo:
vá para dentro!
Você consegue comprender essas simples palavras?
Ir para dentro tornou-se muito difícil, porque você só aprendeu como ir para fora.
Segue batendo na porta dos outros. E sempre que é dito para você voltar para casa,
não sabe onde ir, porque só conhece a casa dos outros.
Você não conhece seu próprio lar.
E, a grande brincadeira é que você está carregando este lar dentro de si.

Estamos aqui, justamente, para aprender de novo onde o "dentro" fica.
Soren Kierkegaard disse: "Religião significa ir para dentro. Ir para sua própria interioridade".
Mas o simples comando "vá para dentro" tornou-se extremamente difícil de entender,
porque tudo o que conhecemos está fora.
A mente conhece apenas como ir para fora e nela não há marcha ré.
Estamos aqui, portanto, provocando uma marcha ré, que, na verdade,
já está embutida em você. Você apenas esqueceu como usá-la.

Uma maneira bem simples de notar o que ir para dentro significa,
é seguir o seguinte parâmetro: pensar é ir para fora e não-pensar é ir para dentro.
Quanto tempo você precisa para ir para dentro, depois de ouvir isso?
Pense e você já começou a se mover para fora.
Sem pensamento, você não pode ir para fora. Sem desejo você não pode ir para fora.
Você precisa do combustível do desejo e do veículo do pensamento para ir para fora.
Sentando-se silenciosamente, nada fazendo, nem mesmo pensando, nem mesmo desejando e onde você se encontra?
De repente, você está dentro.

O nosso único propósito aqui, é encontrarmo-nos com Isso que está dentro.
Ir para dentro não é ir para algum outro lugar, é simplesmente parar de ir para fora.
A menos que você compreenda isso, ficaremos do lado de fora, lidando com conceitos.
E nos conceitos não nos encontramos - cada um tem os seus.
Apenas no momento em que estamos "dentro", não existem conceitos.
Tampouco dualidade. Dentro, somos um.

quarta-feira, maio 9

o azul que inclui tudo


Satsang é o confronto entre você e os conceitos que habitam a mente. E o conceito primordial que deve ser posto em xeque é o do "eu". Antes de você estar com sede, antes de estar com fome, antes de estar iluminado, obscuro ou iludido, há um "eu". Não existe fome sem "eu", não existe sede sem "eu", não existe sequer "iluminado" sem "eu". 

Você diz: "Eu estou com fome". E pergunto: quem é este "eu" que está com fome? O trajeto é tão retilíneo, tão direto, tão pré-programado, que qualquer um responderia prontamente: "Quem está com fome sou eu". Seguindo, proponho uma breve investigação e questiono: você morreria por esta afirmação?  Muitos morrem. E ao morrerem por esta afirmação, morrem para a realização de quem verdadeiramente são.

Veja com exatidão: a fome está acontecendo para um corpo/objeto e "algo" a está percebendo. Você não pode ser o corpo/fome porque você é aquele que está vendo a fome em ocorrência. Contemple isso...

E, quando você começar a levantar uma possibilidade de dúvida a respeito de ser este que sente a fome, podemos dizer que você começou a trilhar o caminho do auto-conhecimento. Diga-se de passagem, há grande confusão a respeito deste "caminho". As pessoas estão investindo horrores no conhecimento do corpo e da mente como sendo o conhecimento de si mesmo. Não. Você não é o corpo. Você não é a mente. Pare de tentar tornar ambos perfeitos. Eles já são perfeitamente imperfeitos.

Aquiete-se e acomode-se na plenitude daquilo que está por trás de tudo, vendo tudo – a isto chamamos de "Observação". Isto não pode ser visto porque isto é aquilo que vê. A descrição, a sensação... o que quer que seja, vem depois. Primeiro: Isto! Isto é você e inclui tudo.

Assim como o céu que parece azul e não é azul e inclui tudo.

terça-feira, maio 8

além dos sentidos


A proposta de Satsang é levar-nos além do conhecido. Primeiro eu gostaria de questionar, basicamente, a sua identidade enquanto ser humano. Pergunto: você é um ser humano? É comum que a primeira resposta que surja seja: "Sim, sou um ser humano". E se você tiver alguma dúvida quanto a isso, socialmente, este é um sinal de que você precisa ir ao analista, não é mesmo?

 

Porém, é aí que começa um grande enredo, bem mais complicado para mim, que estou sentado aqui, do que para você que está sentado aí. O grande enredo começa porque eu vou ter de revelar para você que tudo que você pensa que é, você não é.

 

Veja bem: tudo que você pensa que você é decorre de uma experiência que já passou. Portando, você está sempre acessando um gravador, o qual chamamos de mente, para remeter-se a este "eu pensado", dadas experiências passadas. Mas quando eu sento aqui e o convido a estar em Satsang, a proposta é deixar de lado tudo o que passou e entrar em contato com aquilo que está presente, exatamente aqui e agora.

 

O que isso significa? A priori, considere que qualquer ideia que você possa acessar a respeito do "aqui e agora", não é o "aqui e agora", necessariamente. Assim como todas as idéias, a ideia a respeito do aqui e agora não passa de mais uma ideia na sua mente. Diga-se de passagem, ideias provenientes do passado não nos servem, porque vem a ser, nada mais, nada menos, do que uma tradução, uma interpretação daquilo que Satsang, de fato, seja.

 

Não se contente com ideias e pouco menos com interpretações a respeito de quem você é. A resposta para todas as suas perguntas, para tudo aquilo que você tem buscado está dentro e "dentro" significa nenhum lugar que possa ser acessado pelos seus sentidos. Entre!

segunda-feira, maio 7

o silencio do sim do silencio

















Neste exato momento, você tem a oportunidade de cessar o insaciável fluxo dos desejos e abrir os olhos para a sutil realidade de que há uma alegria inerente, que independe absolutamente dos acontecimentos externos. Existe um ponto de maturidade em que deve ficar claro para você que a sua alegria não tem nada a ver com o lado de fora.

Do lado de fora, tudo o que te é dado, pode ser tirado. Então, de verdade, não há nada que possa ser “seu” – nem mesmo este “você” que você pensa ser. Milhares de coisas acontecem com o seu corpo e atravessam a sua mente à revelia de qualquer decisão sua.

Essa percepção traz quietude e alegria à sua vida. Por mais conquistas que você obtenha, sem essa percepção ainda haverá frustração. No entanto, diante da percepção da Consciência que você é, os desejos surgem e não mais ditam uma direção a seguir. Tudo pode vir e ir, na mesma intensidade e aceitação.

Aquiete-se e diga-me: o que está faltando à você neste mínimo instante? Organize o simples fato de que os desejos sejam frutos da mente e deixe que isso aconteça sem envolvimento ou interferência. Desprenda-se do fluxo imposto pelo mundo e entregue-se ao “sim” do Silêncio.