sexta-feira, abril 20

consciência consciente de si

Tem uma história muito interessante.
Um dia, um homem chega em sua casa e vê que ela está em chamas.
Ele, claro, fica desesperado. Ele trabalhou ano após ano para ter aquela casa.
Tamanha era a sua identificação. A casa era tudo para ele.
E agora ela estava em chamas!
Mas, de repente, um de seus filhos veio a ele e disse:
"Papai, não se preocupe, nós vendemos a casa. Essa casa não é mais sua, então, o problema não é nosso".
Nossa! O homem relaxou totalmente.
Porém, minutos depois, seu outro filho veio e disse:
"Não, pai! Isso não é verdade. Nós quase fechamos o negócio, mas os papéis ainda não foram assinados. Portanto, a casa ainda é sua".
O homem retomou o choro, imediatamente.
O problema voltara a ser seu.

Para a mente, importam os objetos.
O foco da mente está no problema.
Em Consciência, onde não é necessária, a mente desaparece.
Em Consciência, sua identidade é com o Silêncio.
Ou seja, Consciência consciente de si mesma é o desperto.
Consciência inconsciente de si, é a mente.
Aliás, melhor dizendo, Consciência é consciência, em si. Ponto!
E estamos aqui para ver isso.

quinta-feira, abril 19

a insustentável leveza da entrega


Esteja aberto, permita tudo, não evite nada. Essa "permissão" é o que você precisa para reconciliar-se com a paz que está dentro de você. De outro modo, você estará o tempo todo tentando manipular aquilo que está do lado de fora – vislumbrando que manipulando o lado de fora ao ponto da "perfeição", poderá encontrar a paz. Wake up! Isto é "Hitleriano". Querer que as coisas sejam do jeito que você deseja, é Nazismo na sua mais pura manifestação.

 

Vislumbre essa tentativa de manter o controle sobre as coisas, as pessoas e os acontecimentos ao seu redor e, em seguida, vislumbre o total desprendimento e soltura perante os acontecimentos. O que ocorre sob tensão? Em contra-partida, o que ocorre em profundo relaxamento e entrega? Leveza. Seu Ser é leve. Ele é tão leve que chega a ser invisível aos nossos olhos. É muito sutil. É preciso estar muito quieto e desprendido para "vê-Lo".

 

Hoje é um bom dia para se entregar. E quando digo "se entregar", estou me referindo a entregar aquele que pensa que é você, aquele que deseja incansavelmente e nunca está satisfeito. Jogue fora este que deseja com a água do banho e a banheira, tudo junto!

 

Permita-se por um instante perceber "quem é você" livre dos desejos. Este é o mais profundo ato de amor. É nisso que se revela a sua natureza original. Quando quer que seja que você tente manipular as coisas para que tudo seja do jeito que você quer, você perde – porque isso reforça a entidade, o falso "eu". Você ganha sempre que se abre para aquilo que está acontecendo, independentemente do que quer que seja que a sua mente esteja dizendo. Na entrega, não tem você nem o outro. Tudo um.

quarta-feira, abril 18

o hábito e o habito


Se você é plena Consciência, aqui e agora, o que lhe falta? O que você ainda precisa fazer para tornar-se "você"? Nada. De novo, questione-se: Quem é você? Pare de pensar a respeito do passado e do futuro. Não se preocupe com eles, viva o presente. Isso é o que "meditação" significa: viver o presente.

 

Qualquer lógica, qualquer racionalização que venha, baseada numa "pre-ocupação", significa que você não está confiando naquilo que É. E "aquilo que É" habita o Agora.

 

O Agora é abundante e generoso, nada está faltando no Agora. A mente propõe as perdas, a falta e, por conseguinte, as metas. Pare por um instante. Desligue-se das propostas que ela apresenta e veja, de verdade: o que está faltando? O que precisa acontecer?

 

Afastado do Agora, você mendiga por aquilo que habita no tempo e, assim, perpetua a busca pela satisfação dos desejos. Esta é a causa de todo o sofrimento. Satsang nos recolhe ao "ponto" exato onde nada nos falta. Aqui e agora você é exatamente aquilo onde todas as coisas acontecem. Isso é liberdade. Habitar isso é a Paz que você procura.

segunda-feira, abril 16

satisfação presente e o meio do caminho


Lendo um trecho de um livro do Osho, me deparei com um diálogo entre ele e um discípulo muito antigo. O discípulo diz: "Se você não começar a dizer 'sim' para mim, eu vou te matar". Osho diz: "Isso acontece sempre. Eu não me importo que você me mate. Mas antes que você me mate, deixe que eu lhe mate primeiro".

 

Ele é o obstáculo que você precisa para ver que todos os seus desejos estão lhe levando ao lugar errado. Entender essas coisas é muito difícil para a mente, porque a mente não concebe como é que ela não pode satisfazer seus próprios desejos. Qualquer um que atravesse o caminho de sua mente é seu inimigo. Eventualmente, ele precisa ser aniquilado, porque você tem que ter sucesso, porque você tem que chegar a sua meta.

 

Osho diz: "Mestre é exatamente aquele que interfere nisto". E, neste ponto, é óbvio que ele está pronto para morrer, mas com uma condição: você tem que morrer primeiro. É um diálogo muito sutil, é um diálogo muito delicado, é um diálogo que pede uma dose de amor muito grande, porque sacrifícios terão que ser feitos. Eventualmente, você tem que sacrificar toda noção que você tem de você mesmo. Até que não haja nem ir, nem vir.

 

Todos têm objetivos. Só há um lugar em você onde não existe nenhum objetivo. Os seus objetivos estão sempre em função de uma satisfação, nunca no tempo presente. Se a sua meta de satisfação estivesse no tempo presente, você estaria satisfeito, porque você já está no tempo presente.

quarta-feira, abril 11

onde tudo acontece, não acontece

Buda tinha uma ideia interessante a respeito da tecnologia da iluminação, e essa ideia nasceu muito apropriadamente, pautada numa clara visão. Ele notou que as pessoas se confundiam com aquilo que elas viam, então propôs um método inovador para a época. Ele disse: "Observe os seus movimentos, observe como você respira, observe o que você sente, observe o que você pensa". E as pessoas aceitaram este convite.

 

O que aconteceu com a proposta de Buda é que, quem olhou para onde estava sendo apontado, começou a notar muito lentamente – talvez lentamente demais – que se eles estavam observando o que quer que seja que estivesse ocorrendo (a respiração, os pensamentos, as sensações...), ficava óbvio que eles não eram aquilo que estava acontecendo. Pois, quem estaria observando?   

 

Este, portanto, é justamente o ponto de onde inicio a minha conversa com você: quanto tempo você precisa observar para se dar conta de que você não é aquilo que está sendo observado?

 

Buda propôs como uma técnica: observe cada movimento, palavra, respiração, sensação... E a maioria daqueles que receberam e recebem ainda hoje essa instrução, perdem-se na tentativa de "controlar" esses acontecimentos. Ele disse: "Observe". E as pessoas perdem seu tempo tentando controlar o que pensam, o que sentem, o jeito que se movem. É a mente mal-interpretando e se apropriando da proposta.

 

Buda não estava propondo o controle, estava propondo a elucidação. Todo o intuito dessa proposta é que você veja que você é aquele que "vê" e aquilo que é observado por você não é você.

 

Existem dois processos em ocorrência: a percepção e o fato em si. Inicio propondo que você não é o seu corpo nem a sua mente e chamo a sua atenção para quem você é, apesar dos sentidos.

 

Eis que, diante de tal proposta, o que resta como sendo "você" é nada. E esse "nada" tende a ser interpretado como niilista para a mente – o que aciona um sério risco de que você desista no meio do caminho. Mas a boa nova que me acompanha é que esse "nada" é Aquilo onde todas as coisas ocorrem. Portanto, fique exatamente onde você está e veja o que Observar significa. 

segunda-feira, abril 9

verdadeiro lar


Um poema de Kabir...

 

A união verdadeira está no lar, no lar está a alegria da vida.

Por que eu deveria desistir do meu lar e vagar na floresta?

Se Brahma me ajuda a compreender a verdade,

verdadeiramente irei descobrir a limitação e a libertação no lar.

Realmente é querido para mim quem tem o poder de mergulhar profundamente em Deus,

cuja a mente se perde com facilidade na sua contemplação.

É querido para mim quem conhece Deus

e pode habitar na sua suprema verdade em meditação.

E quem pode tocar a melodia do infinito, unificando o amor e renuncia na vida.

 

Kabir diz: "O lar é o lugar permanente, no lar está a realidade. O lar ajuda a atingir aquele que é real, então fica onde você está e todas as coisas virão a você na hora certa".

 

O fundamental para entender esse pequeno poema é saber onde fica o "lar". Qual é o seu verdadeiro endereço? A última estrofe é a mais significativa: "O lar é o lugar permanente. No lar está a realidade. O lar ajuda a atingir aquele que é real, então fica onde você está e todas as coisas virão a você na hora certa".

  

O nosso propósito em Satsang é verificar onde fica o lar e abster-se de caminhadas escusas. Na linguagem que você tem experimentado comigo, isto é o mesmo que responder à questão primordial: quem é você?

 

Se você se confunde com aquilo que é visto, você caminha em busca de objetos e realizações – há muito a ser feito. Agora, dando-se conta de que o lar é o lugar permanente onde está a realidade, você atinge Aquilo que é real. Então, fique onde você está e todas as coisas virão a você na hora certa.

quinta-feira, abril 5

acordar acontece para ninguém



Acordar não é algo que acontece para alguém. Acordar é a revelação de que não tem ninguém. Desse modo, não há nada para acontecer nem alguém com quem aconteça. Acordar acontece para ninguém. E, na verdade, não acontece.

 

As pessoas e talvez você também esteja procurando por um acontecimento. Este é um velho hábito. Estamos muito acostumados aos acontecimentos. O homem precisa de registros. Você tem o registro do seu nascimento, o registro da Primeira Comunhão, o registro da escola, o registro do noivado, o registro do casamento, o registro do divórcio... para tudo o que acontece, você tem um registro. Até porque, se não houver nenhum registro, o que acontece com essa falsa entidade entitulada "eu"? Sem registros fica óbvio que a entidade não existe. Ela só existe porque existe registro dela, porque tem uma história para contar.

 

Já aquilo para onde Satsang aponta, para onde eu insisto em chamar a sua atenção, é algo que não precisa de registro, porque é nisso que as coisas acontecem. Tudo acontece e desacontece nisso. E isso não acontece nem desacontece.

 

Isso não é o seu corpo, porque o seu corpo está acontecendo nisso. Isso não é a sua mente, porque a sua mente está acontecendo nisso. Isso não são os seus sentimentos e sensações porque ambos estão acontecendo nisso.

 

Acordar proporciona uma mudança de ponto de vista, um entendimento. Você começa a ver que o corpo e a mente não são você e tampouco têm escolha. Tudo o que acontece, acontece nisso e isso é aquilo que vê tudo acontecer e desacontecer. 

terça-feira, abril 3

o rio oceano


Para você que costuma questionar a respeito de como as coisas são feitas ou como fazê-las, trago uma notícia: você não as faz, elas acontecem através de você. Você tem tentado tomar decisões que torturam você, porque nem sempre o que você quer é o que a vida quer pra você. Por isso, quanto mais você se solta, se entrega, as "decisões" deixam de ser suas.

 

Permita-se "des-decidir" e veja tudo acontecer por si, fluir. Estamos aqui justamente para ver que não é possível viver de acordo com as ideias que temos a respeito do mundo. Se isso ainda não está claro para você, permaneça investigando, até que seja possível ver que tudo acontece do jeito que tem que acontecer.

 

Aqui nasce um segredo que compartilho: quanto menos ambicioso você for a respeito das coisas serem como você quer, mais rio você se torna. E, como um rio, a vida flui incessantemente rumo ao oceano.

 

Perceba que o medo é o que impede que você seja feliz, que você esteja em paz. Você teme o desconhecido – o rio não conhece o seu percurso, é sempre novo, a cada momento. Mas você só teme o desconhecido porque a mente imagina o pior. Abra os olhos e veja que não faz sentido temer algo que você não conhece. Não tema, confie, o oceano é o que está a sua espera.