quinta-feira, fevereiro 28

no florescer a mente esperneia em decomposiçāo


A mente se move o tempo todo, exigindo de você um certo esforço em acompanhar o que ela propõe. De repente, se você para um pouco e cessa esse fluxo, há uma perda de adjetivos, pronomes, qualidades, pendências, conexões, relações.

Nisargadatta diz de uma maneira interessante: "Entidade pessoal, noção de si e iluminação não andam juntos". Então, necessariamente se você caminha para a luz essa noção de si tem que ser perdida. E aqui cabe um alerta: prepare-se para, mais cedo ou mais tarde, ver a mente esperneando. A noção de si – gerada, mantida e reinventada pela mente – começa a se decompor e, naturalmente, há uma série de sensações ligadas a isso. 

E agora? O que será de você sem a sua arbitrária mente? Experimente! Entre no agora e veja como você se sente. Esqueça o passado, esqueça o futuro e veja como você se sente. Não tem como se sentir mal no Agora. O Agora é pura bem-aventurança. Jamais, em toda a história, alguém se sentiu mal entrando no Agora.  

Ser "alguém", sim, dá trabalho. Ser alguém é muito difícil. Quantas necessidades e exigências! 

Somente o essencial, aquilo que está mais profundo em você, é que gera o florescimento. E esse florescimento promove uma releitura da maneira como você vê o mundo, da maneira que você pensava a respeito disso ou daquilo, da maneira como você se relaciona com os objetos e as pessoas... De repente, você não reconhece aquele par de sapatos no seu armário ou até mesmo o seu companheiro – "Afinal, quem me casou com esse cara?"

Mas não se assuste, não é nada atormentador – muito pelo contrário. Agora sua vida passa a ser uma grande aventura.  E uma vez que você se dê conta, é uma aventura constante. A vida não para nem um minuto.

a mente, o trono e o caribe. #ficaadica


Enquanto o corpo se move, enquanto o coração se comove, enquanto a mente se move, apesar de todo e qualquer acontecimento, há uma silenciosidade que permanece inerente. E na medida em que essa silenciosidade entra na sua vida, você nota que a mente não tem mais tanto espaço – o espaço deixa de ser só dela.

É verdade que às vezes a mente quer entrar e bagunçar tudo. E muitas vezes você sofre porque ela consegue isso. Mas a mente é infinitamente menor que você, você pode olhar para ela destacadamente, com certa distância. Olhe. Ela não sobrevive ao seu olhar. Observação é tudo o que é necessário. 

Sem observação a mente parece estar no trono – digo "parece" porque é impossível ela estar no trono de fato. Ela nunca esteve nem estará, porque o Ser é soberano. Mas, sob a ótica do equívoco a respeito de quem você é, a mente parece ditar o mundo. Simplesmente observe: aproxime-se do trono lentamente e note que ela se prostra.  

A posição do trono é artificial para a mente. Em realidade, ela mesma está ansiosa por tirar férias. O problema é que ela tem ideias esdrúxulas em relação ao que as férias seriam. Ela não conhece o que seria a paz. Por isso recomendo que você introduza o Silêncio como presença mais que importante na sua vida e ofereça, carinhosamente, um descanso para a sua mente. De repente, despache-a com bilhete só de ida, na primeira classe, para o Caribe – e, "fica a dica", o aqui e agora é o Caribe que a sua mente está precisando. 

terça-feira, fevereiro 26

você é aquilo, que vê


Todo o meu intuito tem sido em apresentar a Observação como plano de fundo de toda a existência e, principalmente, como sendo você. Quero que note que aquilo que vê não pode ser visto. Não há nada fora da Observação, Ela não pode ser vista – nem no espelho, nem no espelho da mente, nem no espelho das emoções, nem no espelho das sensações, nem no espelho da mente dos outros, nem nos olhos dos outros... Simplesmente não tem como a Observação ser vista.

Sabemos que essa percepção não é confortável para a mente – pois fomos acostumados a crer que ela, a mente, é quem bate o martelo. Aprendemos a experienciar a existência através do ponto de vista da mente. Porém, apesar da Observação, dAquilo que Vê, não poder ser visto, tocado, ouvido ou experienciado de nenhuma maneira através dos sentidos, aproximar-se dessa realidade, ter a Consciência Testemunha como realidade, nos faz lidar com o mundo, com o corpo, com a mente, com as emoções de maneira distinta, ampliada, com uma infinita distância entre sujeito e objeto.

Morte, fome, insegurança, carência, paixão, vontade... todas as informações ocorrem na periferia. Diante disso, veja se Aquilo que está vendo ultimamente a ocorrência desses objetos tem alguma relação com eles ou se simplesmente há a percepção, o testemunhar. Quando há identificação é porque a mente encontrou uma porta e entrou sem ser convidada. A Observação simplesmente observa. O corpo é quem sente. A mente é quem pensa, julga e gera todas as histórias... Você, a Consciência, por trás de tudo isso, simplesmente Observa.

É preciso separar o joio do trigo. O corpo sente carência, dor, alegria... A mente pensa mil coisas a respeito daquilo que o corpo sente ou a respeito daquilo que está ocorrendo – nem que seja na novela das oito. E a Observação não se envolve com nada disso. Aliás, quando você está mais e mais perto do Eu-Testemunha, da Consciência como sendo você, mais rapidamente os objetos passam, os acontecimentos se movem, sem que nada precise ser feito. 

sexta-feira, fevereiro 22

transparente e invisível

















Já parou para perceber que é a mente que determina que você seja uma estrutura, um sistema sólido? No entanto, para comprovar que você não tem nenhuma característica sólida, existe uma espécie de meditação que pode ser feita. Essa vai para os que pedem, volta e meia, uma “técnica” ou algo para fazer...

Sempre que algo rebate em você é porque ali há um estado de solidez muito grande. O ego é sólido. Imagine, então, como exercício, que você é completamente transparente. Acomode-se confortavelmente, feche os olhos e imagine-se transparente. Todos os pensamentos, emoções, pessoas e acontecimentos irão passar, irão atravessar você.

Se você está no estado “ego-sólido” de ser, as coisas batem e ficam, de maneira que causam quase que naturalmente uma reação. Você conhece isso? De repente você está rebatendo, reagindo aos acontecimentos automaticamente. Então: transparência – para começo de conversa.

Mas não esqueça que o caminho mais curto e de maior propriedade é investigar por si mesmo o que você é. Quem é você? Onde está você? Do que você é feito? Qual a sua forma real?

O corpo é observável. A mente é observável. Entre eles existe esse lugar chamado emoções – completamente observáveis. Eu pergunto: quem observa tudo isso? Agora vá em frente e perceba se é possível ver esse – ou isso – que observa. Não é possível.  Não há nada nem ninguém destacado disso, que possa observá-lo. Observação é a presença derradeira, por trás de tudo e todos.

Vasculhe isso intencionalmente e veja que essa Observação – que é você – é invisível, ela não pode ser vista assim como não há nada que possa grudar nela. Ela não pode ser vista, mas todo o seu intuito deve estar em vê-la. 

quinta-feira, fevereiro 21

vendo o ver vendo e o infinito entre o um e o dois

















Na escola aprendemos que depois do 1 vem o 2. Porém, com o passar do tempo, apareceu um cara que descobriu que entre o 1 e o 2 existiam infinitos números. É certo que mesmo depois de tal descoberta, não se usa explicar isso para uma criança, mas chega um momento em que você precisa admitir que entre o 1 e o 2 está o infinito. O 1 e o 2 são apenas símbolos. 

E o mesmo ocorre com a sua noção de “eu”, ela é simbólica, ela não é real. Quando você a toma por real, vive uma vida simbólica. Quando você a toma por simbólica, abre a porta da realidade. E a realidade contradiz de uma certa maneira todo esse panteão de símbolos que a sociedade impôs sobre você.

Essa é a derradeira proposta trazida por Satsang: colocar de lado todos os símbolos e ter uma experiência direta da realidade. Se isso parece impossível para você, existem outros lugares para ir, lugares onde são reforçadas as noções de “eu”, de vontade, de poder, de adição, de êxito... No entanto, se o que está sendo apontado aqui perturba a fragilidade do seu “eu-simbólico”, aproxime-se.

Ouça e veja. Um dedo está sendo apontado para um determinado lugar. O dedo não é importante —  não discuta com o dedo nem a respeito do dedo. Simplesmente olhe para o lugar que está sendo apontado. E se, de repente, você não estiver vendo nada, podemos dar um jeito nisso de uma maneira positiva. Pois é exatamente isso o que deve acontecer: veja que não tem nada para ver. Absolutamente, não importa o que é visto, você tem que ver o Ver.