quinta-feira, outubro 31

uma forte tempestade e o verão vivo


Quando um anseio surge, verifique: isso me pertence? Isso sou eu? Ou se trata de uma condição prévia? Quando ocorre um sentimento, pare e veja: esse sentimento é seu mesmo? Quando consegue observar as condições, você relaxa. Porque as condições são temporárias, são estações climáticas.

Ao mínimo instante, você se percebe num inverno emocional. Uma forte tempestade emocional toma conta do seu momento. Wait. O que vem depois da tempestade? Então, espere um pouco, não se mova e veja que logo aquilo passa.

Depois do inverno, vem a primavera. E, logo, o verão. Não para. Se você percebe que as coisas não param é porque você está parado, observando. Pois enquanto você se move e as coisas se movem também, é como se tudo estivesse parado, estagnado. Você entende? Vê?

Você só pode ver o movimento dos objetos – acontecimentos, pensamentos, sensações, emoções… – se estiver quieto. Tudo se move e você está parado, assistindo ao movimento. O corpo inspira e expira, inexoravelmente. Algo vem… Algo vai… Sono ocorre, e você observa. Insônia ocorre, e você observa, da mesma maneira. Tristeza, alegria… Tudo vem e vai e você simplesmente observa.

As mudanças ocorrem, e não param, na superfície. E quanto mais para dentro você se move, mais pode perceber as mudanças a partir de um certo distanciamento. Essa nova percepção há de causar estranhamento – a você e aos seus próximos. Mas não faça nada com isso. Surpreenda-se! "Eu não me reconheço mais" – Yes! Isso é muito bom. É muito bom não se reconhecer. Reconhecer-se todos os dias é prejudicial à saúde, significa que você está morto. O Silêncio é sempre novo, fresco. Vivo!

terça-feira, outubro 29

de olhos bem abertos

O ser humano recebeu um papel dramático, bem teatral. É como se ele fizesse parte de uma tragédia grega. Proponho que você abra os seus olhos. Ao abri-los, naturalmente, a tragédia vira comédia. Nada precisa ser feito com a tragédia.

O problema é que, de maneira equivocada, parece natural permanecer de olhos fechados e artificial viver de olhos abertos. Com os olhos fechados, existe uma espécie de comunicação entre as partes. Quando você abre os olhos, é notável que não há comunicação nenhuma. Na verdade, a humanidade vive, sofre de uma entropia generalizada, cada um fala uma coisa, nas suas bolhas particulares.

Não faça nada para sair da tragédia, basta ver com os olhos abertos que você não faz parte dela – é apenas uma projeção. Experimente!

Existem muitos mal entendidos, pois tudo o que é dito pode ser interpretado. Não interprete, veja! Se você realmente quer se libertar do engano, a única coisa que lhe resta é abrir os olhos. De olhos fechados, você é um personagem com um destino obscuro no sonho em que vive. Regulado por perdas e ganhos, o que está em pauta é se dar bem ou mal, se vai dar certo ou errado. Esse é o drama do personagem – estar de olhos fechados.

Dentro ou fora do drama, pergunte-se: Quem sou eu? Seja honesto e sincero consigo mesmo. Questione-se. Se olhar para o lugar certo, é bem possível que essa visão, de olhos abertos, não encaixe em drama nenhum.

segunda-feira, outubro 28

o jardim das delícias: simplicidade, o espinho e a lâmpada.














Perca as esperanças e descomprometa-se com a mentira. É legítimo não estar comprometido com o que não existe. Loucura é ter compromisso com o temporário, com o que não tem permanência. Observe e veja como é fácil equacionar isso. Não existe nada errado em desrespeitar o irreal e buscar a realidade com coerência e respeito total.

O que é realidade? O que está no fundo de todas as coisas? O que anima tudo? Os seus pensamentos, emoções, a comida que você come? Não. O que corresponde totalmente às suas expectativas? O que está sempre presente e nunca te abandona? Quem é você por trás de todas as camadas?

Você deve acabar com a complexidade. Fique com o simples. Falo da simplicidade anterior à decisão de você ser isso ou aquilo. Assista comigo esse espetáculo: vejamos juntos aquilo que está antes de qualquer definição.

No “Jardim das Delícias”, a obviedade deve ser considerada. Por exemplo, a rosa tem espinhos e a brincadeira propõe que você saiba colher a rosa. Não adianta modificá-la geneticamente para remover os espinhos. Isso é tolice! Vai criar algum desacerto, pois sempre há um processo de equilíbrio. O negativo e o positivo coexistem. A lâmpada está acesa porque existe um conflito entre duas energias do mesmo tamanho. Se uma ficar maior que a outra, a lâmpada some.


A proposta da mente é remover um dos lados da equação, mas isso não funciona. Antes de qualquer coisa, Isso! Assuma essa clareza na sua vida com muita elegância.  

quinta-feira, outubro 24

subtraindo os nós


Uma história Zen…

Um homem ouviu dizer que se ele meditasse alcançaria à iluminação. Procurou, então, um mestre e lhe disse: "Estou aqui para iluminar". O mestre o recebeu dando-lhe as boas vindas: "Fique à vontade".

O homem ficou instalado no mosteiro, onde lavou banheiros, carregou lixo, fez comida… sem sequer um momento de técnicas de meditação, tampouco de iluminação. Ele passava dia e noite trabalhando. Até que foi até o mestre e perguntou quais eram, afinal, as dicas a respeito da iluminação: "Quando serei iniciado?" Recebendo, como resposta, uma pergunta: "Você tem pressa?" O homem disse: "Não, não tenho pressa, mas eu tinha reservado uns dois anos da minha vida para isso. Se me esforçar mais, então, levará menos tempo?" Ao que o mestre concluiu: "Nesse caso, levará uns vinte anos".

A maestria dessa história está em tirar-nos inclusive a ideia a respeito de iluminação. Remova todos os seus interesses, remova qualquer anseio em tornar-se algo ou alguém.  Num certo nível, querer iluminar-se não passa de um desejo como o de ser rico, feliz, esbelto ou o presidente da república.

Tornar-se é um projeto da mente, pois "quem você é" não pode vir a ser, já é. E este é um fenômeno anterior à mente, só precisa ser "des(en)coberto" – ou seja, o trabalho deve ser de subtração e não de aglutinação. Subtraia os adjetivos, os rótulos, os pensamentos, os conceitos, os gêneros, os "porquês", os saberes, os pronomes, os "nós" e veja o que fica.


quarta-feira, outubro 23

o des-pensar, o eterno e as bolhas de sabão


Quando você se dispensa, quando você "des-pensa" a si mesmo, fica muito mais fácil o encontro com a Verdade. Note!

Quantos anos você tem?

Participante – Tenho vinte e sete anos.

É nesse momento que chamo a sua atenção para o que seja "condicionamento". Condicionado, você é forçado a corresponder à realidade de uma maneira imposta e absoluta, sem nenhum questionamento. O condicionamento age arbitrariamente, é tirânico. E é por isso que revoltar-se contra ele é necessário para que você possa ver mais além.

Dizer que você tem vinte e sete anos é corresponder ao condicionamento que te faz crer que você é esse corpo que nasceu num determinado dia, mês e ano ditados também por um calendário condicionado.

Aqui, agora, nesse mínimo instante, você sente algo que defina a sua idade? Não. Não há. Alterar brevemente a sua visão da realidade permite uma abertura. O agora é extremamente bondoso e você insiste em depositar toda a sua energia com o tempo, com a mente.

Quanto tempo você perde pensando? Entre no agora e veja que ele dilacera toda e qualquer formulação que parecem arbitrárias, mas que, investigadas, revelam-se bolhas de sabão. 

segunda-feira, outubro 21

o falso é imaginado


Rádio Universitária – Esse encontro [Experiência Zero] acontece numa conversa? É através do quê? Como se dá o encontro?

Satyaprem – Se dá como estamos fazendo agora. Conversando.

Rádio Universitária –  Dessa forma?

Satyaprem – Exatamente. Nós vamos conversando, você se abre e fica claro para você que estamos indo de encontro às suas crenças. Tudo aquilo que você imaginava pode ser só imaginação. E, em verdade, é tudo imaginação. E o seu Ser não é imaginado, não pode ser imaginado, nem tem como imaginar. Ou você O vê como Ele é, ou você fica imaginando coisas que não têm nada a ver.

Rádio Universitária – Se nós vivemos nesse mundo da imaginação, e milhões de nós, no mundo inteiro...

Satyaprem – Estão imaginando...

Rádio Universitária – Isso. E aí, como é que fica para viver?

Satyaprem – Eu que pergunto a você: como é que você pode fazer essa pergunta se você está vendo o mundo do jeito que está? O conflito existe porque nós imaginamos uma série de diferenças. Por exemplo, por que Israel está brigando com a Palestina? Porque eles imaginam-se diferentes uns dos outros. Essa imaginação cria conflito. Então, a sua pergunta deveria ser o reverso. Você deve se perguntar o seguinte: como você pode querer continuar vivendo imaginando coisas, se essa imaginação só nos leva à destruição, à discórdia, ao conflito? Reverta a sua pergunta e faça ela para você mesma. E você me responde...

[Risos]

Satyaprem – Responda-me agora: como é que podemos continuar imaginando? Está na hora de pararmos de imaginar e começarmos a Ser, de verdade. E nesse "Ser" cria-se um ambiente completamente seu. Ser é paz. Ego é discórdia, ego é conflito. E veja só: tem uma ideologia por trás disso. A ideologia psicológica ocidental diz que: "você não pode concordar com todo mundo". O que está implícito nisso inconscientemente? Que você tem que discordar de todo mundo, necessariamente, para ser você. Em Satsang, você ser você significa exatamente concordar com todo mundo, porque todo mundo é você, você é idêntico a todo mundo. Então, existe um reverso aqui. Assim, eu te faço uma pergunta: como você quer continuar vivendo num mundo imaginado que cria tanta destruição, tanta desigualdade?

Rádio Universitária – É mesmo, não é?! E eu vou saber te responder?

Satyaprem – Não sei. É exatamente assim que começa "A Experiência Zero". Nós temos crenças... E, veja só, para construir uma casa eu não posso começar pelo telhado, tenho que começar pela fundaçãose e, se a fundação não estiver correta, a casa não vai ficar boa nunca. Ela vai estar sempre caindo. É assim que estamos... As nossas casas estão sempre caindo.

O que eu fico refletindo é que ficamos imaginando que somos diferentes uns dos outros, mas, na verdade, isso não existe dessa forma. E há uma tendência hoje alardeada, por sinal, sobre as diferenças. Tem essa imaginação que é ruim, que leva à guerra, aos conflitos e isso tudo. E tem também o outro lado que é fazer uma propagação disso como uma coisa boa. Quer dizer: "Nós somos diferentes, portanto, isso é uma coisa muito boa". E onde repousa a sua diferença de mim? Repousa no conteúdo da sua mente, no conteúdo das suas experiências. E essa diferença é falsa, ela é imaginada.

sexta-feira, outubro 18

o melhor, por trás, nada: não piora, nem é melhor





















Esteja atento: em nenhum momento você vai ser o Nada, pois ele acontece fora do tempo. Quando entra no tempo, você é um objeto – e, nesse caso, o Nada representado na sua mente seria mais um objeto. Você tem uma ideia do que o Nada seja, mas ele está acontecendo agora e você nem mesmo pode percebê-lo. Somente os objetos podem ser percebidos.

Eventualmente, dê-se conta de que todas as percepções ocorrem no Nada. Sem o Nada, não há percepção nenhuma.

Se realmente há interesse em ver o que estou apontando, promova para si mesmo uma investigação primária. Veja se é isso o que você quer – e se não for, não tem problema. O meu ponto é discutir o que realmente importa. Estamos aqui para saber quem você é.

Não me interessa a sua história nem a sua percepção de si no tempo e no espaço. Estamos aqui invocando a revelação de quem você é. Isso pode causar desconforto no mundo pré-estabelecido e, por essa razão, mente tentará roubar de todas as maneiras a possibilidade de compreensão.

Você insiste em melhorar aquele que aparece no tempo e no espaço, por isso a pergunta "Quem sou eu?" deve ser reforçada. Note que você está interpretando o que digo de acordo com seus parâmetros. Mas a verdade é que não há melhora, o objeto terá sempre limitações. Um dia, quando você menos espera, você não mais interpreta e ouve pela primeira vez. É no silêncio que nos comunicamos. Ouça-o!

quinta-feira, outubro 17

consciência não é consciência




















A mente sofre de uma doença chamada “imitação”. Dar-se conta de quem você verdadeiramente é, transcende qualquer comportamento ou opinião pregressa. Enquanto a mente diz que, fora do conhecido, há estranhamento; digo que este deve ser um estado constante de ser. Arrisque-se! Experimente! Pois tudo, absolutamente tudo, é sempre novo.
 
A mente corresponde ao estabelecido como verdadeiro, isso é muito confortável para ela, é o que a mantém intacta. Porém, você é Consciência. Ainda que ela tente se apropriar dessa situação, tentando tornar-se ela mesma a Consciência, por imitação, isso jamais será possível. O máximo que ela consegue ser é uma “secretária electronica” que grava e repete, grava e repete, grava e repete… ad infinitum. Um papagaio.
 
Portanto, quando você disser “Sou Consciência” com muita veemência, coloque um pé atrás. Não que você não seja, você é Consciência, Consciência é tudo o que existe. Mas, calma. Não tenha pressa. Primeiro enamore-se disso, depois entregue-se, até que, por fim, não reste nenhum “eu” para ser Consciência ou qualquer outra coisa. Tudo que é, é consciência.

quarta-feira, outubro 16

as mãos cheias de currículos vazios ou os currículos cheios de mãos vazias


















A mente necessita de adições, armários, currículos, acúmulos. Ela tem que carregar coisas. Mas a Consciência que você é não precisa de nada, não carrega nada, não guarda... é a total abertura. 

A sociedade nos embute a ideia de que precisamos ter, possuir, guardar, conter. Mas eu pergunto: para quê? Quando você morrer, o que vai fazer com tudo isso? Faz sentido? Sem perceber, é isso o que está posto: o acúmulo está relacionado à morte, não à vida. 

Isso me lembra uma bela história. Conta-se que Alexandre, "O Grande", pediu que, ao morrer, seu corpo desfilasse pelas ruas carregado pelos melhores médicos da época, com as suas mãos abertas para fora do caixão e que todo o seu tesouro fosse distribuído pelo caminho. Ele queria deixar a sua última mensagem: que todos vissem que não eram os seus médicos os responsáveis pela sua vida, havia limitação neles e, por último, nada do que ele havia acumulado estava sendo levado com ele. Ele estava de mãos vazias.

Portanto, reitero: o acúmulo é artifício da mente. Não me refiro apenas ao acúmulo material, em nosso contexto, o fundamental é estar atento ao acúmulo de informações, de saberes. Não acumule, não saiba: "Apenas os pobres entrarão no reino do céu". 

terça-feira, outubro 15

a primavera, o verão e o ver

Há uma pulsação no Silêncio que não o abandona e está sempre no mesmo nível vibratório. É profundamente pacificador. Fique de olhos abertos. Se está provando algo amargo, é porque você briga com a natureza das coisas e não está aceitando o que é natural.

Quando um relacionamento termina, você tende a pensar que ele não deveria acabar daquela maneira. Porém, se não fosse assim ele não terminaria. Você considera que aquele rompimento ocorreu de maneira muito dramática, mas o que o tornou dramático foi a sua incapacidade de aceitação, foi a sua resistência. No momento em que não tem resistência, o drama desaparece.

Observe uma árvore no seu quintal – vem o outono e as folhas se desprendem sem nenhum drama, não existe sofrimento. Por isso, com os olhos abertos, veja que o outono é lindo, tanto quanto a primavera, o inverno e o verão.

quinta-feira, outubro 3

o nós e os nós


















Quando te olho, não vejo um “você”, vejo um corpo. E mesmo essa visão é uma espécie de alucinação, porque ela só ocorre devido à presença de luz no filme dos sentidos. Sem luz, tem nada. A ideia de que deus seja luz é uma bela ideia, mas essa também já está corrompida. Os essênios não dizem que “deus é luz”, para eles deus é escuridão, é a ausência de tudo – o nirvana.

Nirvana significa, literalmente, “ausência de luz”. Quando não se pode discernir coisa alguma, quando tudo é uma e a mesma coisa. Isso é deus.

Por isso posso dizer que te olho e não vejo um “você”. O outro é uma ideia criada através dos sentidos, através da mente. No fundo não tem outro, não tem nada. E é nesse ponto que está o ‘agora’, na ausência de tempo, na ausência de qualquer possibilidade conceitual.

Experimente um pouco. Arrisque-se! Não pense e veja como é viver o agora. Solte o que passou a dez minutos atrás, solte inclusive a concepção que você tem a respeito de si. Desconceba-se! Comece por não saber quem você é. Porque todo saber, tal qual está posto até hoje, segue uma procedência da sua mente. Um livro só é um livro porque um dia alguém te disse. Mas, sem pensar, o que é aquilo?

A criança não diz ‘eu’ facilmente, ela demora, aos poucos ela constrói, e – diga-se de passage – só constrói porque exigimos essa construção. Há culturas que ao invés de reforçar a construção do “eu”, aplica o “nós”, por exemplo. Mas, aqui, nem mesmo no “nós” investiremos, pois onde houver “nós” há de haver nós. Então, renda-se ao agora como um solvente pacífico e entregue-se ao não saber, à ausência. 

quarta-feira, outubro 2

bondoso sem depois

Estou falando de forma simples e direta para que o acordar passe a ser uma possibilidade e não mais um mito. Esse que parece falar com vocês poderia aparecer com uma barba longa ou um cocar, mas isso tornaria a sua realização algo muito longínquo.

Estamos aqui para nos aproximarmos, radicalmente, da Verdade. Não há porque continuar o que está, tudo o que se pensa é porcaria. Stop! Não pense a respeito de Si, esqueça tudo o que te disseram, tudo o que você leu. Aprenda a entrar no vazio do silêncio.

Até a ideia de ser "bonzinho" deve ser posta de lado. Compreenda bem: para o "eu", ser bonzinho não passa de um negócio. No entanto, o agora é bondoso sem depois. Olhar para dentro é corresponder minimamente ao agora, é notar o hiato entre o que a mente diz e qualquer outra possibilidade. E no agora você mora.