sexta-feira, novembro 29

o erro de descartes, o galanteio da água e a morte

















O corpo é uma experiência, é um estado. Do ponto de vista medieval, é um estado sólido de ser. Já do ponto de vista da física moderna, é um estado atômico, energético. Uma versão mais fluída, digamos, e que já decompõe a ideia da morte, por exemplo.

Há certo anacronismo intelectual no mundo, as pessoas estão no século vinte e um, mas pensam como se pensava no século dezessete. Apesar de muito já ter sido desvendado, a morte continua tão amedrontadora quanto naquela época.

Mas o que é a morte? Quem é que morre? O que é que morre?

Outro dia li uma piada que vem a calhar nesse momento. O menino chegou para uma bela garota no bar e perguntou: "Você gosta de água?" Ao que ela respondeu "Sim, gosto". E o menino continuou: "Então já estamos meio caminho andado, porque você gosta de 70% de mim."

O que isso quer dizer? Esse corpo, que você defende como sendo "você", é composto por 70% de água. Não tem "você". O "você" que existe, é um "você psicológico" – e é esse que teme a morte.

Isso acontece porque, sendo este um "você" imaginado, ele precisa ser pensado. Sem pensá-lo, ele morre. "Penso, logo existo" – afirmou Descartes. O que nos sugere, em nosso contexto, que "sem pensar, você não existe". Já pensou sobre isso?

quinta-feira, novembro 28

ser: isso!


Um dia, perguntaram a Ramana Maharshi: "Que livro posso ler para encontrar a mim mesmo?" Ramana, prontamente, respondeu: "Nenhum. A única coisa que você pode fazer é entrar para dentro de si e ler, completamente, a si mesmo. Depois que você encontrar a si em si mesmo, pode ler o que quiser."

Não sei quanto a vocês, mas é disso que compartilho. Leia a si mesmo de todas as maneiras possíveis. Custe o que custar. Fique cara a cara com aquilo que foi imposto sobre você como verdade.

Você é jovem? Você é velho? Homem? Mulher? Stop! Por que você está sempre sendo alguma coisa? Estamos detidos no 'ser alguma coisa' sem nos darmos conta do que há anteriormente a qualquer coisa.

Remova os 'issos' e os 'aquilos' e veja a consistência do eu, veja que peso tem esse pronome antes do verbo. Por fim, remova o "eu" e fique com o SER. 

quarta-feira, novembro 27

o livro da história da mentira e sua sutil continuidade

A maioria das pessoas não vive em conexão com o que é, eles simplesmente depositam toda a sua energia vital no que pensam que as coisas são. Tudo parte de uma programação.

Investigue: quando você diz algo, há sempre a possibilidade de ver se existe fundamento na sua fala, no seu pensamento. Ao afirmar que você seja um ser humano, uma mulher ou um homem... de onde você tira essa informação? Do agora? Ou do livro de histórias da sua vida?

Investigar quer dizer: oferecer à Consciência, neste instante, o que quer que seja que você esteja dizendo ou pensando. Experimente isso! Veja se o que você prega como verdade tem fundamento, de fato, ou se é apenas uma mera formalidade que você vem seguindo simplesmente porque todos seguem.

Romper com a formalidade, com séculos de tradição, é um grande empreendimento. Não é banal! Não dá pra trocar o "crer que você é um ser humano" pelo "crer que você é Consciência". Não funciona assim.

Você acha que essa troca vai deixar tudo bem na sua vida... mas isso não vai acontecer, porque você estaria trocando alhos por bugalhos. No fundo, não houve a ruptura fundamental. Desformalize-se.

terça-feira, novembro 26

a floresta do pensar
















Olhar para o lugar certo, ou seja, olhar para dentro, desconstrói a formalidade, a identificação com a forma. Você se confunde com o que pensa, com o que vê, com o que sente... ao ponto de confundir a si mesmo com o pensado. No entanto, já foi dito antes: você não é o que você pensa que você é! E, pode ter certeza, isso é muito mais profundo e perigoso do que você pensa!

Se você não for o que pensa ser, o que é você? É abismal. Esse aforisma desconstrói completamente tudo – é uma pedra de toque. Descubra o que você é, se você não for o que pensa que é.

Todos pensam que pensam, inclusive. E, nesse caso, o chamado “eu”, a ideia de si, é um pensamento. O que não deixa de ser um pensamento pensando sobre si. O nosso trabalho aqui é tocar a fonte: se o “eu” é um pensamento, quem é você de verdade?


Ainda que faça uma grande catarse ou medite por dez dias observando o seu umbigo, é muito comum que, se alguém pisa no seu calo, você perca todo o “estado” de leveza adquirido. Portanto, o nosso grande projeto é investigar o cerne de tudo isso. Pois existe uma confusão inglória entre o que é e o que você pensa que as coisas sejam. Saia disso!

segunda-feira, novembro 25

satsang, a irmandade amorosa e a transmissão do nada


Fragmento da entrevista para EL PAÍS - Colombia, agosto 2013

Qual foi o ensinamento mais importante para sua vida que você recebeu do mestre Osho?

Um verdadeiro mestre não ensina, não possui ensinamento da forma como compreendemos. Estar com um mestre não é uma busca de mais conhecimentos para si mesmo, na verdade é desprender-se do que foi aprendido para viver de forma leve. Então, neste sentido, o que aprendi com Osho foi a ser eu mesmo, vazio de conteúdo, silencioso. E que finalmente aquilo que eu pensava ser, não é o que eu sou. O ser é impensável.

Por que você decidiu chamar-se de "amor pela Verdade" [significado de Satyaprem]?

Acho engraçada a pergunta. Como falamos antes, quando você está com um mestre, entrega suas decisões e isso não é muito fácil de compreender. Por isso não julgue antecipadamente. Chamar-se "amor pela verdade", portanto, foi um presente do mistério da existência através do mestre, sem seriedade, para reconhecer-se além do corpo e da mente.

Qual é a sua definição particular a respeito da Verdade?

A Verdade é indefinível. Por isso, é universal. Todos que chegam até ela, silenciam-se em irmandade amorosa. A Verdade é amor.

Você diz que a Verdade está dentro de cada um, porém, como é perceptível? Como pode-se reconhecer  alguém que está em contato com a Verdade?

A Verdade está com todos, dentro de todos, em tudo. É difícil compreendê-la, porque a menos que alguém a reconheça em si mesmo não pode vê-la em nenhum outro lugar. Porém, algumas flechas podem atingir o alvo, e as mais simples são quando você está ao lado de alguém que incorpora a Verdade – você se sente aceito, relaxado e em paz. A partir daí, passa a ver aquilo que está além das formas. Pode-se dizer que a Verdade aparece em tudo o que você olha, sente ou pensa.


fragmento da entrevista para EL PAÍS - Colombia, agosto 2013

quinta-feira, novembro 21

o vazio cheio


A morte é o momento no qual você para de existir para si mesmo. Em meditação, no ambiente de Satsang, você pode assistir à sua própria morte. Dessa forma, vê que o mito da morte como algo terrível a ser evitado é basicamente infantil.

Dê-se conta disso e todos os seus problemas serão resolvidos. As pessoas adoram os seus problemas e a morte seria a solução de todos eles. Se conseguir se afastar e assistir com distanciamento ao espetáculo criado pela confusão mental em que o mundo se encontra, verá que tudo não passa de uma comédia.

A vida é a única coisa que temos. Mesmo assim, o que a maioria das pessoas faz com isso? É crítico! O drama não tem fim. Abra os olhos! Como você responde a isso? Ninguém te leva a sério – por que você se leva tão a sério?

Voltar-se para dentro é fundamental. Quem é você? Faça a pergunta e registre que nada pode ser dito a esse respeito. Veja se você aceita ficar vazio e assumir a quietude do Ser de tal maneira que não haja nenhum preenchimento. A mente preenche a sua vida com desejos. No entanto, se você observa, vê que o mais profundo do Ser está preenchido de vazio. 

terça-feira, novembro 19

o outro, a compaixão e um caminhar tranquilo


Hoje é um bom dia para falar disso: há um tempo atrás, assisti uma entrevista do Jô Soares com o Danny Glover. Ele, o Danny, muito energético, dizia basicamente o seguinte: Existe muita desigualdade, não dá mais! Precisamos nos juntar e discutir como redistribuir essa riqueza que está em abundância. Riqueza de conhecimento, riqueza material… tudo! Porque, de verdade, a sua segurança depende da segurança do outro.

É perfeito! Se todos vivem uma satisfatória condição, uma condição razoável – até porque não dá pra viverem todos em condições totalmente iguais, sempre vai haver alguma diferença, por diversas razões –, se houver um mínimo equilíbrio de forças, todos estarão seguros. Aí, então, você anda pela rua e pode desejar bom dia a qualquer um que passe, pode caminhar tranquilamente à noite e coisas do gênero.

Aquele que comeu e que tem a segurança de que amanhã terá comida para ele e os seus, que tem uma casa decente e dorme tranquilo, ele não tem porque confrontar o que está posto. Essa é uma maneira de olhar socialmente para o outro. E em nosso contexto, em Satsang, somos convidados a ir ainda mais longe: quem é o outro?

Sabendo que o outro sou eu, o que posso promover? Compaixão nasce nesse exato momento. Se eu sei que o outro sou eu, quem inventaria as armas? Comece a se dar conta disso e traga para a sua vida, para o seu dia a dia. Saiba quem é você e, naturalmente, saberá quem é o outro. O outro é você! 

sexta-feira, novembro 15

de cabeça para baixo, de cabeça para cima


Vejamos se você me acompanha: a identidade, a entidade, precisa de tempo e espaço para existir. Para pensar a si mesmo, é necessário tempo – não existe pensamento sem tempo. Verifique: da forma como você se compreende, você pode existir sem o tempo? Você pode pensar a si mesmo sem o tempo?

Experimente! Pense a si mesmo sem ter tempo para pensar – isso não faz o menor sentido. A verdade é que, se não te derem tempo, você não tem a menor ideia de quem você é.
Você me segue? Compreende que na ausência de espaço e tempo não tem como existir nada? Para a mente existir, para o ego existir, para pensar a si mesmo, você precisa de tempo. 

Quem é você, sem tempo para pensar? Pode que você já tenha feito essa pergunta, mas ainda não a fez com energia suficiente para que seja respondida. Você pergunta e logo preenche como resposta aquilo que leu num livro, ontem. Isso não serve! Veja por si mesmo.

Como consequência da elucidação do que estamos explorando aqui, da nossa não-existência fora do tempo, é possível entender por que buda chamava o “Ser” de "não-ser". Ou seja, para descrever quem você verdadeiramente é, ao invés de dizer “eu sou”, você diz “eu não sou”. E esse será um belo começo…

Não tem você, só tem consciência.

segunda-feira, novembro 11

outros quinhentos: no silencio não tem objeto


Esse momento histórico é brilhante! Estamos sendo levados à necessidade de nos tornarmos absolutamente livres de qualquer condição e assumirmos a nossa inteligência intrínseca.

As circunstâncias estão nos forçando a conferir e realizarmos aquilo que é inerentemente nosso. Nesse sentido, podemos dizer que acordar esteja mais disponível. No entanto, manter-se desperto são outros quinhentos, exige uma espécie de fidelidade à Verdade. Ao Ser. Ao silencio.

O primeiro passo é olhar para dentro e olhar para dentro implica reconsiderar a ideia de que a mente saiba tudo a respeito de todas as coisas. Ela não sabe, só repete. Por isso você deve estar muito atento. Manter-se desperto implica um constante duvidar da mente.

Ao invés de (tentar) saber tudo, veja que você não sabe. A inteligência não sabe, ela é, ela vê. Tudo aquilo que você pensa que sabe, na verdade, não te pertence, é emprestado. Foi apreendido, fruto de outrem. Somente aquilo que você não pode perder, é verdadeiramente seu. Descubra isso!

sexta-feira, novembro 8

a quietude do silêncio e a inexistência do futuro
















Quem sabe do amanhã? O amanhã é totalmente aberto. Ele só é sequencial porque você se aprisiona numa rotina de pensar e agir. Quando há uma suspensão no agora, o amanhã não entra mais em pauta – você vive com os olhos maravilhados de uma criança, surpreendendo-se e curtindo o que estiver acontecendo.

O tédio só existe em nossa mente porque ela tende a “pré-ver” o que vai acontecer. Quantas vezes você sofre ao pensar no que acontecerá no futuro?

Resguarde-se o máximo que puder, não se ofereça aos seus pensamentos e rebele-se contra o que a sua mente diz. Há um lugar em você que olha para tudo com os olhos totalmente vazios de conteúdo. Em questão de segundos a mente põe rótulos em tudo o que você está vendo e sentindo, ela pensa que sabe tudo e que saber é poder.

Diante das propostas da mente, questione quem é o autor dessas propostas. Sem saber o que as coisas são, sem dar nomes, você retorna à fonte silenciosa.


Descubra que existe uma fonte intacta, pura e que não pensa. Isso é o agora. E, uma vez visto, mude-se para  imediatamente!

quinta-feira, novembro 7

bom dia e durma nunca mais


















Participante – Hoje não vou conseguir dormir... minha mente está de pernas pro ar!

Essa é a minha proposta: que você não durma nunca mais! Estamos aqui para que você desperte! Aprecio que você tenha uma noite de questionamentos, pois tem dormido muito. Desperte questionando tudo o que levantamos aqui hoje.

Desperto, você vê que todo o conteúdo mental, sem discriminação, é matéria morta. A mente é necessária apenas para pedir um copo d'água, desejar "bom dia", atravessar a rua, chegar num determinado endereço... Todas essas teorias a respeito de para onde iremos e de onde viemos, o que é certo e o que é errado, são anuladas junto ao seu despertar.

Você está aqui para se tornar uma árvore, uma criança, um bebê – e isso é imediato. Não pode haver tempo, porque ele não é necessário para você entrar no agora. O agora está aqui agora. O indescritível isso é você!

quarta-feira, novembro 6

cagando nas estátuas os pombos estão


O fato é que nós herdamos uma coisa chamada "vida" e não sabemos como usá-la de uma maneira satisfatória. Noventa por cento da humanidade está profundamente insatisfeita, a níveis de suicídio. Temos visto que as pessoas, de maneira equivocada, querem destruir tudo.

É razoável, mas o cerne se mantém ignorado. Se você permite, posso ajudar a destruir tudo. Porém, teremos que começar pela sua mente. Vamos deixá-la em pedacinhos, esse é o meu papel. Você aceita? Já que estão falando tanto em vandalismo… saiba: sou um vândalo quanto à mente! Em nome da bondade, em nome até mesmo da justiça, a mente comete absurdos.

As estátuas – a história – estão ali representando algo. Representam o temporário, as vitórias e derrotas, a mentira, a mente. Mas para toda solene estátua, tem uma revoada de pombos. Eu adoro os pombos! Toda a existência está rindo dessa bobagem. Toda estátua está ou será cagada.

Agora torne essa visão ainda mais profunda. Depredar um patrimônio público não resolve. Quero ver você ir contra aquilo que você acredita e defende como verdade – ou seja, o patrimônio mental.

segunda-feira, novembro 4

quem é você, criança?


Diante da pergunta "Quem é você?", o que acontece? Você acessa e conta uma história ou responde, brevemente, como uma criança, que não tem a menor ideia? Perceba agora mesmo, sentado aí: quem é você? Para onde você olha em busca de uma resposta?

Suspenda temporariamente e veja o que acontece. Pouco a pouco essa suspensão se torna a sua realidade. Não tenha pressa. Mas, ao mesmo tempo, comece a mover-se nessa direção. Não tem um lugar para chegar, no entanto, você está diante de uma grande aventura. 

Saber quem você é te deixa dono desse "bicho enlouquecido" que quer te levar para todos os lugares no tempo e no espaço, menos te deixar ficar em paz, em quietude. A mente segue com suas propostas para isso e aquilo, mas você não mais a obedece. Ela não precisa deixar de existir – alias, isso não vai acontecer –, é você que precisa deixar de seguí-la nesse carrossel de tonturas.

sexta-feira, novembro 1

acordar não tem preço!


Participante – Satya, me parece que temos mais pessoas acordadas do que antes. É isso mesmo?

Sim, mas entre nisso com muita calma e observação, porque a mente é incrivelmente astuta, ela quer acordar também. Já que está todo mundo acordando, ela também quer acordar. E uma mente acordada não existe, quem acorda não é a mente.

Na verdade, quando existe acordamento, a mente morre, ela perde consistência. Onde há "eu" não há acordamentoAcordamento é a revelação de que não tem "você". Por conseguinte, não tem o outro – e é aí que nasce aquilo que chamam de "compaixão", algo que se alastra como fogo.

Sei que é muito agradável a ideia de que esteja tão barato acordar. Mas essa é uma nobre ilusão. Não é barato! E não estou me referindo, é claro, a um preço, não é uma questão de custo, é uma questão de valor.

Quanto vale todo o seu conhecimento? Quanto valem as suas propriedades? As externas e as (imaginárias) internas. É por isso que o convite é encontrar um ponto onde você não sabe nada. Um ponto silencioso.

acordamento, necessariamente, o leva a um silenciamento, ao silenciamento da mente, da mente que pensa ser você. É tão sutil que se você disser "Eu acordei", sofrerá de narcolepsia. A mente entra pela porta dos fundos, incansavelmente, e repete aquilo que foi gravado. Pare e veja: uma coisa é dizer e a outra coisa é SER. Não há modelo, há Presença.