sexta-feira, julho 29

a inutilidade do batman



























Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.
                                                                            Fernando Pessoa

pequeno eu, às avessas, põe toda sua energia em coisas grandes. As pequenas coisas, como lavar os pés e os pratos, ele faz porcamente. Inclusive, tende a excluir o que não gosta e exagerar naquilo que considera bacana.

Toda essa tendência deve ser observada. Quanto mais você entrar no agora, quanto mais relaxar em ser você, menor será a necessidade de ter o cinto de utilidades do Batman. Torne-se completamente vulnerável ao agora e esqueça os super poderes. Você pode, inclusive, entrar numa fria, pois não há precaução ou preocupação. Para seu consolo, usam dizer que os bêbados e as crianças são protegidos, que podem cair de uma carroça e não se quebrar. A criança nem sabe que caiu e o bêbado cai, vira pro lado e dorme. Isso só é possível porque eles estão relaxados. Agora, imagine-se caindo com toda essa tensão acumulada.

O convite de Satsang é que você se volte para dentro do agora e deixe de ser quem você pensa que é. E, saiba, isso não passa por um processo. Imediatamente, se entra no agora, não tem você. Em contrapartida, um pequeno passo para dentro do tempo e você “se perde”... No tempo você se estabelece precisamente enquanto “alguém”. No agora, não há nenhum traço de um você.

revolução do agora é tanta que, se você penetrá-lo passa a ocorrer uma modificação visível. Os seus melhores amigos poderão não mais reconhecê-lo facilmente, porque, de repente, é como se você tivesse aceitado o convite do agora e deixasse de se confundir com aquilo que vinha sendo imaginado como “você”.

Estamos falando de liberdade. Acordando para quem você é, dificilmente irá encontrar o outro em algum lugar. O outro é uma criação do pequeno eu, que, aliás, inventa não só o outro como “os outros”. E quanto mais os outros existem, mais ele existe; e mais os seus argumentos permanecem em pauta. Isso o ajuda, consideravelmente, a prorrogar o encontro com o agora. Envolvido nos argumentos, ele se mantém. No agora, ele sabe que não tem o que fazer.

Se você deseja, isso é absolutamente palpável, olhe para o agora e veja qual a necessidade de haver o pequeno eu. Ele está sempre envolvido em lembrar coisas que aconteceram e se preparar para as que virão – baseado nas que aconteceram, é claro! Ou seja, está sempre imaginando coisas, está sempre no tempo. Aquele que você é, está eternamente aqui e agora – um desconhece o outro. E é por isso que insisto em desconstruir a ideia de que você precisa de algum tempo para entrar no agora, para ver quem você é.

Você precisa de zero-tempo para entrar e se manter no agora. A exatidão dessa experiência é direta e está disponível nesse mínimo instante: entre no agora e note sua forma expansiva. Ou melhor, aquilo que você tomava como forma, como identidade, se deforma e expansão se apresenta. Corra o risco de Ver!

quinta-feira, julho 28

um lapso límpido do instante



























A Observação é eterna, o agora é eterno. Do ponto de vista da mente, nós chamaríamos isso de permanente. Mas o eterno não é permanente, porque o eterno não faz parte do tempo. Essa sentença não é crível pela mente, ela não consegue colocar esse ambiente em perspectiva, trata-se de uma grande novidade. Proponho que insista até que a realização seja límpida.
A mente pensa que existe um você. De nenhuma maneira sugiro que pare de pensar, apenas veja que é a mente que pensa que existe um você, e estaremos conversados. Você não precisa fazer nada com a sua mente, não se engane, ela não é sua. Deixe-a fazer o que quiser e não se envolva. Não há a menor exigência do Ser em alinhar a mente. Essa exigência vem da própria mente e é absolutamente falaciosa.

Tudo o que tentar fazer com a sua mente, estará sendo feito do ponto de vista da própria mente, não da Observação. Até porque, do ponto de vista da Observação – que é um ponto de vista sem ponto – não tem mente. No agora não tem mente. Olhe com acuidade e veja que isso não é discutível. De onde você está olhando, sei que não é possível ver que não há mente. Mas, de fato, não há. E, se quer provar, olhe para o agora.

Mergulhe no menos de um segundo e lá estará o Silêncio que você é. Para a mente seria fantástico organizar essas visões de uma maneira racional, para que pudesse controlar tudo o que passa. No entanto, esses lapsos, essas visões, são rompimentos dessa sequência, desse fluxo mental que organiza as coisas. Portanto não há nenhuma necessidade em organizar, a mente não tem nenhuma propriedade sobre isso. É justamente desorganizando a fluência da mente que um vislumbre acontece. Esse lapso de instante fora do tempo, onde você vê o agora, é sempre surpreendente. Não tente organizar. Quando você tenta organizar, ele some.
 
E, saiba, você não precisa falar sobre isso. O que você está vendo é visto nos seus olhos. Não perca tempo com explicações. A Verdade é Verdade até embaixo d’água – não tem o que fazer com isso. Não tem o que discutir ou melhorar. Repouse no agora e se renda à simplicidade de ser você, livre de explicações, ordem ou metas.

quarta-feira, julho 27

a anti-prece e o mistério do ser


















pequeno eu adora a diferença, apesar de saber que todos são iguais – com as mesmas dores e limitações. Esse senso de igualdade corrompe a ordem daquilo que você pensa que é. Definitivamente, seria o fim do pequeno eu aceitar a igualdade, a unicidade.

A mente prega a diferença entre todos – raça, idade, nacionalidade, religião, classe social – mas proponho que experimentem uma conversa aberta com os aparentemente diferentes e descubra que esta é uma noção mal investigada. Aproxime-se e veja que todos têm as mesmas dores e os mesmos prazeres, não tem diferença nenhuma; muda o idioma mas a mente continua a mesma. Aliás, a mente é universal. É por isso que estamos nos dedicando a olhar para dentro, porque voltar-se para dentro aniquila todas as idéias, ficando simplesmente você. Mas você se perde querendo ser reconhecido como alguém que fez algo grandioso, enquanto só consegue fazer as mesmas pequenas coisas, passageiras e insatisfatórias, absolutamente igual a todos.

Note que é a mente que projeta os grandes acontecimentos, é o pequeno eu que quer mais e mais, e é exatamente isso que te impossibilita de realizar aquilo que realmente importa. Esteja alerta e veja que, pousado no agora, não é possível encontrar opequeno eu. Mas fique atento, vigilância é necessária, porque ele fica à espreita de um mínimo movimento seu em direção ao lado de fora, para tomar seu lugar no palco.

Vivendo com os pés plantados no agora, chegará o momento em que todas as suas tristezas e infelicidade serão vistas como uma ingratidão abismal. Em algum momento você terá que se dar conta de que nada lhe falta. Esse é o incansável convite do agora: olhe para dentro e veja o que é que está lhe faltando. Qualquer coisa que apareça como um desejo para este momento retrata uma briga com o agora. Aceite tudo aquilo que você tem e veja o mistério que você é.

Se existe em algum lugar a ideia de que o acúmulo o fará feliz, temo dizer que você não é capaz de ser feliz consigo mesmo. Reconheça a mágica de ver, ouvir e sentir e acesse essa possibilidade como uma graça, como uma dádiva. Definitivamente não há uma prece para isso. Ser você é muito mais simples do que você pensa.

terça-feira, julho 26

descartesiando o mapa: o labirinto virtual.



















Você está totalmente equivocado quanto ao mapeamento das coisas. E, confirmando este mapa, legitimando este mapa, tem se perdido. Em tese, para sair do mapa, é preciso enfrentar um labirinto; mas, se aceita o convite de Satsang, e olha para dentro, imediatamente rompe com essa ordem. Pode não parecer, mas essa ordem é de imensa simplicidade: tem algo que é pensado e algo não pensado. Você é isso que não tem como ser pensado. O acesso a você é direto, imediato.

Dar-se conta de quem você é tem imenso valor, porque é nisso que repousa o seu refúgio, a paz que você procura – é o encontro com verdadeiro mestre, com o verdadeiro guru. Dado o empreendimento cultural ao qual fomos submetidos, imaginamos que aquilo que nos salvará está do lado de fora. Mas o que nos salvará não está do lado de fora. A relação mais próxima ao verdadeiro você que pode ser estabelecida partindo do lado de fora é com quem o convida a olhar para dentro.  Ao ver isso, verá que não existe nenhuma outra alternativa senão a entrega.

Pode que esse passo não corrobore com o seu histórico, com o seu empreendimento em ser alguém, pois a mente não gosta da ideia de que você não seja alguém. Para manter-se, ela investe em afastá-lo daquilo que o propõe que você seja ninguém e sabota o seu despertar. Por isso esteja atento, trata-se de uma eterna vigilância, permaneça sempre dentro do menos de um segundo, isto é eterno. E, ao contrário do que a mente possa compreender, entregar-se a essa visão não exige nenhum esforço. Estamos falando apenas de um rompimento, do rompimento com a manutenção de qualquer mapa.

Este é um movimento raro e radical, um campo aberto está sendo proposto. Mas não pense que não foi assim antes, sempre foi assim, apenas estava oculto. Agora existe a possibilidade de ver. E o que tem para ser visto não é algo ou alguém, não é nada que você possa conter através de uma experiência. Satsang aponta para o contrário de tudo isso, invocando a clareza de ser nada, absolutamente neste instante. 

segunda-feira, julho 25

o zero ou você: não-dois.





















Você acredita que há um propósito em estar no mundo e que irá descobri-lo indo a uma cartomante, psicólogo ou astrólogo . Há uma série de equívocos. Satsang, portanto, passa um apagador em tudo isso e o coloca no zero absoluto.

zero revela que você não vai dar certo, enquanto algo ou alguém. A vida é só uma passagem, uma brincadeira. Todas as tentativas, científicas ou não, são para evitar a morte. A medicina está bem evoluída, tem pessoas vivendo por muito tempo, ainda que através de máquinas que custam toda a fortuna que aquele indivíduo trabalhou para acumular. Mas podemos considerar sucesso, manter alguém, um corpo, vivo sob essas circunstâncias?

Note que de nada adianta acumular, preencher a vida com coisas vazias, sem saber quem você é. Na verdade, não sou contra o acúmulo, se te agrada, o faça. Até porque, de qualquer forma, mesmo manter-se totalmente inconsciente de quem você é, não passa de uma brincadeira da Consciência, que você é.

Agora, uma coisa é certa, se você está aqui, se está procurando a Verdade, é porque existe uma rebeldia contra a inconsciência, existe a tentativa da própria Consciência em tornar-se consciente de si mesma.

O acúmulo não o preenche. Já notou que você acumula algo e daqui a pouco perde o interesse? Não tem como ser diferente, a menos que você descubra que é o observador de tudo o que está acontecendo. Isso é fundamental para a sua liberdade.

pequeno eu não pode ver o que estou apontando, porque ele não tem olhos para ver. É quando você começa a vê-lo em ação que fica claro que você está vendo a partir da Observação. Isso é despertar para quem você verdadeiramente é. Quanto mais você se dá conta da existência do pequeno eu, mais você se afasta dele e se aproxima de quem você é; você se destaca do pequeno eu e se identifica com aquele que observa.

Isso é liberdade, quando você vê aquilo que você chamava de si mesmo sem mais chamá-lo de “eu”. Note que não é você que tem fome, sono, desejo, dor etc. Você é aquele que observa todos os acontecimentos. Essa percepção não provém do pequeno eu – desista! – o pequeno eu não nota, ele é totalmente cego e seus propósitos são totalmente obscuros.

A proposta de Satsang é que você separe uma coisa da outra. A observação provém da Consciência, tudo o mais são frutos do pequeno eu. O pequeno eu depende do tempo para existir, quem você é encontra-se no zero absoluto; e o caminho mais curto é entrar no agora. Se quer descobrir quem você é, desmanche-se no agora e veja!

sexta-feira, julho 22

camarote vip: não há dois!
















Gostaria de explorar ainda mais essa noção do pequeno eu. O pequeno eu está na presidência da república, no papado, no lamado... Aonde tem posição de poder, ele está inserido, porque ele adora poder.

É hilário! Registro ocorrências muito lúdicas de performances do pequeno eu. Houve o caso de alguém que, durante um Satsang, levantou-se e me deu seu nome e sobrenome para me situar a respeito de quem ele era. O pequeno eu é realmente descarado e acredita piamente que as formas, os pensamentos e os nomes que ele segura são ele. Mas não passam de posições, é tudo estratégia política, não tem nada a ver com despojamento.

Todo esse poderio, toda essa tensão só gera infelicidade – ao que o pequeno eu lê como virtude, traduzido de uma maneira cristã. Nos foi ensinado que, para chegar em algum lugar, devemos carregar nossa cruz. E, claro, a mente acredita que para chegar ao aqui e agora o mesmo deve ser feito.

Você não se aproxima do real porque está soterrado em pensamentos mal investigados. Você é regido por conceitos obscurecidos, sustentados por uma penumbra. Se acendermos a luz, eles se ocultam como ratazanas..

Participante – Satya, se eu relaxo nisso vou contra todas as minha programações e me parece muito louco, porque dá vontade de abrir mão de tudo.

pequeno eu surge e vive disso, sem programações você não sobrevive. Desse jeito, você segura numa mão as propostas de Satsang e na outra guarda todas as suas estratégias e fica blefando.

Note que há uma ideologia de controlar a sua vida, com a perspectiva de viver da melhor maneira possível. Mas o que você faz para respirar; para digerir a comida que você come; para se apaixonar; para desapaixonar; para dormir; para acordar etc? Nada. Tudo acontece sem a sua participação. Descubra isso!

Você tem uma noção totalmente equivocada. A vida não é sua, ela é você, não tem duas coisas. Você não sabe o que fazer com a sua vida porque não tem como saber, é pura abstração. Você não precisa fazer nada com a vida, é a vida que está fazendo algo com você. É ela que oferece a fome, o sono e as suas relações. Estamos aqui para perceber que esse processo é um teatro. Você está num camarote vip e, identificado com a noção de controle e poder, crê que tem que participar ao invés de apenas observar.

quinta-feira, julho 21

não penso, logo não existo!


















Satsang não legitima a entidade que sobrevive no tempo, Satsang é o rompimento radical com o que quer que seja que você pense. Não tenho a menor ideia a respeito de quem você é, e o convido a considerar o mesmo. Não pense a respeito de si mesmo. No começo pode parecer esdrúxulo, porque – não sei se já se deu conta – somos herdeiros de Descartes, que nos deixou a máxima “Penso, logo existo”. Ou seja: você existe pensando e pensa que existe.

Satsang propõe o rompimento com essa lógica e apresenta um outro substrato. Não tem nada a ver com ter um corpo relaxado, ser saudável ou algo do gênero. O que estou fazendo é uma proposta radical em direção à morte. Não prorrogue sua morte para o fim da sua vida, acelere esse projeto, permita que morra essa entidade imaginária que se pensa como sendo você.

Osho conta uma história que acho deliciosa. Seu pai era um desportista da vanguarda dos corredores, corria todo dia. E em algum momento eles conversaram sobre isso:

        Meu filho, por que você não vem correr também?
        Para quê? – questinou Osho.
        Para ficar mais saudável – segue o diálogo.
        Mas para quê tornar-se mais saudável?
        Para viver mais.
        E por que eu deveria viver mais?
        Para correr mais.

Isso faz sentido? Você precisa se dar conta de que, mesmo saudável, um dia vai dar um curto e será o fim da linha. Claro que é bom haver um equilíbrio a respeito da noção de saúde, mas o convite do agora é abster-se de qualquer noção, é celebrar esse instante em totalidade.

Para quê você quer ter uma vida longa? Para ver TV? Não vale a pena, as novelas da Globo só se repetem e os diálogos são nauseantes. Volte-se para o agora e estabeleça uma relação totalmente distinta com o mundo. Nesse instante, o mundo está conspirando para que você se volte para esta perspectiva. Aquilo que você é está totalmente disponível no aqui e agora.

Meu diálogo não é com esse que você pensa que é, esse que está se preparando, estudando, lendo livros, assistindo palestras, baseado na tese de que ainda falta entender mais algumas coisas para finalmente saber quem é você. Ele, na verdade, funciona como um intermediário. Por isso chamo insistentemente a sua atenção, para que você veja a atuação do pequeno eu no seu dia a dia.

Toda essa estrutura deve ser observada. É a sua própria observação que vai separar claramente o que parece ser você e o que você realmente é. A constituição do pequeno eu depende absolutamente de escolhas, daquilo que ele julga. No entanto, voltando-se para dentro você se dá conta, mais cedo ou mais tarde, de dar cada vez menos valor aos objetos percebidos. Aqui, está em pauta uma única coisa: aceitação total do que quer que seja.

quarta-feira, julho 20

o salto para dentro do nada























Que idade você tem?

Participante – Sessenta anos.

E esses “sessenta anos” vêm de dentro do agora ou de algum outro lugar?

Participante – Vem de fora.

Você vê? A compulsão pelo lado de fora é exata. Estamos totalmente hipnotizados por essa compulsão. Isso é uma doença, um câncer, essa é a insanidade em que o mundo está mergulhado. Toda a nossa referência provém do lado de fora. Por isso eu pergunto: que idade você tem agora? Mas você insiste em olhar para o pequeno eu antes de responder e conectar com uma velha história.

Um pouco mais de atenção é necessária. Atenção está disponível, ela é você. Perceba que não existe nenhuma sensação ou qualquer outro sinal que indique que você tenha sessenta anos senão o seu fichário. Você carrega nas costas um daqueles armários cinzas, de aço. Os ônibus estão cheios de armários. Existe muita tensão, e é desse formato que vem o seu estado de ser “quadrado”. Acessando o agora, note que não tem nenhuma sensação que diga a idade que você tem. No agora é impossível identificar-se quanto a ser homem ou mulher tampouco.Observe isso! Pare um pouco e tente encontrar de alguma maneira de onde vem a informação correspondente ao seu sexo ou idade.

Talvez o meu pai não gostasse de ouvir isso – e é possível que seja por esse motivo que você não se renda a essa investigação – mas, de verdade, sentado aqui, posso dizer sinceramente que não há a mínima sensação ou qualquer outra coisa que me diga que sou um homem e pouco menos alguma referência de idade. Apenas se me dou um tempo para pensar é que começam a surgir imagens e memórias que me dão um rótulo de idade e sexo. Mas todo o meu empenho é para que você note que não sabemos nada a respeito do mundo e de nós mesmos. E o grande salto embutido em Satsang é realizar que esse não-saber não se apresenta com angústia ou ansiedade, ele traz tranquilidade e relaxamento.

Este é o caminho reverso e, por isso, revolucionário; é a antítese de toda a proposta sócio-cultural conhecida, mas é o meu único convite. Veja esse continente onde você está totalmente em casa e relaxado por reconhecer que não sabe absolutamente nada.

terça-feira, julho 19

o pequeno eu e o dentro, agora



























A mente propõe a lógica de que precisamos de tempo para chegar onde idealizamos. Baseada na ideia de que as coisas acontecem através de um desenvolvimento no tempo, ela considera que se algo errado foi feito, o mesmo tempo levado para a realização será necessário para a correção do erro. Digamos que você tenha cometido um engano por vinte anos...  A lógica da mente é que você precisa de mais vinte anos para corrigí-lo. Mas isso é verdade?

Proponho que você seja absolvido desse processo. Note que está perdendo tempo e, principalmente, questione-se a respeito do que está tentando corrigir. Você ainda tem a ideia de que corrigindo seus erros se tornará puro e entrará finalmente no agora. Mas a noção de evolução espiritual é uma história contada pelo ego; é uma história contada pelo pequeno você – é ele quem inventa as histórias, as religiões, as seitas... e, claro, se reinventa freneticamente.

pequeno você não quer morrer de maneira nenhuma, mas estou aqui para propor que ele desapareça, apresentando uma única seta: olhe para dentro e veja se dentro você encontra algum “eu”.

Antes de tudo, saiba que dentro é sinônimo de agora. Por isso reforço que somente agora é possível olhar para dentro. Mas você prorroga, acreditando que depois que terminar de pagar a última parcela do seu apartamento estará pronto para olhar para dentro; sem se dar conta de que qualquer conteúdo encontrável o leva a um outro lugar que não aqui, que não agora.

Note que mesmo quando você tenta meditar, ao fechar os olhos, um vasto conteúdo não examinado salta em seu campo de percepção. A grande maioria das pessoas acredita e aplica que você deve examinar e eliminar esses conteúdos, enquanto Satsang nos diz que devemos apenas notar que todo o conteúdo provém do passado e que aqui e agora nem o passado e tampouco seu conteúdo têm a menor relevância.

segunda-feira, julho 18

de dentro para fora, coisa nenhuma





















O “agora” não é um objeto, o agora é você! Portanto, não pode haver, de maneira nenhuma, a proposta de que amanhã você chegará no agora, apesar de todo o seu substrato mental e intelectual estar baseado neste paradigma.

Você considera que depois que melhorar isso ou aquilo, depois que conseguir isso ou aquilo ou depois que fizer isso ou aquilo estará em paz – conta sempre com o depois, sem perceber que esse depois nunca chega. Proponho, então, que a porta do agora seja aberta e você dê uma olhada. Abrir a porta do agora facilita absolutamente o nascimento de quem você verdadeiramente é, e isso funciona como uma pira funerária para aquele que você pensa que é. Você está pronto? Podemos seguir em frente?

Pondere: você é amigo ou inimigo do agora? Com quem você se identifica nesse instante? Percebe que a ideia de que sua realização esteja num outro momento que não agora deixa subentendido que agora tem algo que não está bem, que alguma coisa está lhe faltando?

Você está sempre brigando com o agora e não se liberta disso, sem se dar conta de que brigar com o agora é o que dá substância para ser este que você se pensa. Você acredita estar muito tenso e que quando estiver relaxado poderá tomar as decisões que precisa. Ou seja, usa o agora como uma preparação para ficar no agora depois. Isso é absurdo!

Quando descobrimos que toda a especulação a respeito de uma possível melhora está baseada na não-aceitação do momento presente, desmascaramos este que se faz passar por você. Veja que absurdo! Uma entidade imaginária que se faz passar por você, que assina seus cheques, dorme na sua cama, transa com seu amado... mas não é você. Que tal processá-lo por falsa identidade?

Veja que não há nenhuma necessidade de fomentar o amanhã e pare de brigar com o agora. Afinal, de onde vem o amanhã? De onde vem essa prorrogação? Vem da não aceitação do que está posto agora. Você insiste em brigar com o agora e, com isso, o agora briga com você.

Veja que qualquer definição a que você se atenha são vindas do ontem. Você se autodefine através de memórias e histórias contadas. No entanto, esse que você é não depende, absolutamente, de nenhum apoio histórico. Na verdade ele é completamente ignorante a respeito da história.

Ou você é quietude agora, e essa quietude revela quem você é – de fora para dentro e de dentro para fora – ou você fica submerso nas noções históricas a respeito da sua concepção.

Qualquer noção que você tenha baseado numa história propõe chegarmos no agora depois de entendermos certas coisas. Mas o agora é ininteligível, não é possível entender o agora. E, ademais, você e o agora não são duas coisas distintas.