sexta-feira, setembro 30

o fim do andarilho: alegria inerente












A mente está em constante engano. Na verdade, se trata de um auto-engano. Mas, a quem ela está enganando? Apenas mente para si mesma.

Buda propôs, sem nenhum esclarecimento intelectual, que observássemos a respiração e, lentamente, alguns começaram a se dar conta que, se observamos o objeto-corpo sentindo, pensando, fazendo isso ou aquilo parece apropriado conceber que não somos o objeto e, sim, aquilo que observa.

Decorre da observação, uma alegria inerente, uma alegria indistinta, que não tem fundo. Ela não está relacionada com algo em particular, externo a você. Ela não depende de você ter conseguido o que queria ou do fato de ter perdido qualquer coisa. Ela independe dos acontecimentos externos e está diretamente ligada à realização de quem você é. Essa alegria surge quando você está "sentindo" a textura da observação.

O que eu gostaria de compartilhar é exatamente a possibilidade de viver o observador, que é a sua verdadeira natureza e de onde nasce a alegria inerente. Essa alegria não tem a ver com nenhuma razão externa e não é o fim de nada. É agora, neste instante, que o andarilho volta para casa e Kabir nos diz: “Fique onde você está e todas as coisas virão a você na hora certa”.

O andarilho quer, obcecadamente, ter tudo na hora errada. E a tendência é que quanto mais ele tem, maior a chance de frustração – o que aumenta, inconscientemente, o seu ímpeto em jogar mais e mais em busca de novas coisas. E, nesse aspecto, ele se encontra diante de um mar de possibilidades.

Portanto, proponho: volte-se para dentro! Ao dar-se conta da sua natureza Real, não se ocupe com o que é mentira. Note que você é aquele que observa e não aquilo que está sendo observado. O trajeto é muito simples!

quinta-feira, setembro 29

em casa, embebido no agora








O que a mente quer, incessantemente? Digamos que o que o traz aqui, seja a busca pela iluminação. Então, podemos dizer que o que move sua mente, este incansável andarilho, é – em tese – algo que usam chamar de “iluminação”. Porém, lamento frustrá-lo, mas eu prometo não dar iluminação para você. Antes mesmo que esse processo se complete, trago uma pergunta : verifique internamente o que iluminação significa. O que a sua mente diz?
Se examinar com carinho o conceito em si, há de voltar pra casa muito rapidamente. Pare e note o que é que o afasta do agora. Perceba, o mais claro que puder, quem é que fica vagando, vagando, vagando... Se afastando de casa, com desejos intermitentes, recorrentes.
Essa tentação até parece uma herança genética, não é mesmo? A grande massa recebe e reproduz esse “andarilhar” da mente, sem o mínimo questionamento. É muito raro que alguém pare, espere um pouco, e tente compreender de uma maneira diferente o que lhe está sendo transmitido.
É exatamente nesse momento que Kabir diz: “Fique onde está e todas as coisas virão a você na hora certa”. Não posso discordar... Portanto, o convite implícito em nosso encontro é aquietar-se. Afinal, é primavera! E, como exalta o Zen: “Sentado em silêncio, vem a primavera e a grama cresce por si mesma”.
O que o impede de penetrar nisso é a covardia em convidar o andarilho a voltar para casa. Experimente ir além! Convide sua mente a verificar se as metas, se os desejos que ela impõe sobre você, tão forçosamente, têm alguma relevância no agora. O que você necessita agora?
Já estamos num ponto de maior intimidade a respeito do que seja o agora. Ou, melhor dizendo, confio que você já esteja – depois de tanta proximidade – embebendo-se do agora. Então, agora, é mais simples de entender esse apontamento.
Comecei e encerro com perguntas, a fim de fazê-lo realizar as “respostas” por si mesmo. Pondere: o que você precisa para ser feliz? O que você, realmente, precisa para ser você? Contemple isso. E logo estaremos nos entendendo silenciosamente.

quarta-feira, setembro 28

o andarilho e o retorno


Um poema de Kabir...
 
A união verdadeira está no lar, no lar está alegria da vida.
Por que eu deveria desistir do meu lar e vagar na floresta?
Se Brahma me ajuda a compreender a Verdade,
verdadeiramente irei descobrir a limitação e a libertação no lar.
Realmente é querido para mim quem tem o poder de mergulhar profundamente em Deus,
cuja a mente se perde com facilidade na sua contemplação.
É querido para mim quem conhece Deus e pode habitar na sua suprema Verdade,
em meditação.
E quem pode tocar a melodia do infinito unificando o amor e renúncia na vida.
O lar é o lugar permanente, no lar está a realidade.
O lar o ajuda a atingir aquele que é real,
então fique onde você está e todas as coisas virão a você na hora certa.
 
 
   
Para compreender este poema, é fundamental saber onde fica o lar. Qual é o seu verdadeiro endereço? Este é o trecho mais significativo: “O lar é o lugar permanente, no lar está a realidade. O lar o ajuda a atingir aquele que é real, então fique onde você está e todas as coisas virão a você na hora certa”. O intuito de estarmos aqui é exatamente descobrir onde fica este lar ao qual o poema se refere.
 
Segundo recomendação do poeta Kabir, abstenha-se de “caminhações” escusas. Na linguagem que temos experimentado, é o mesmo que voltar-se para dentro e descobrir quem é você. Ao confundir-se com aquilo que é visto, você vai atrás de incontáveis objetos e realizações e inumeráveis são as coisas a serem feitas, modificadas, alcançadas, constituídas, elaboradas, resolvidas etc. Porém, ao dar-se conta que o verdadeiro lar “é o lugar permanente onde está a realidade”, você atinge Aquele que é real. Então, não se mova! Fique exatamente onde você está e todas as coisas virão a você na hora certa – como disse Kabir.
 
Esta possibilidade confunde brutalmente a sua mente, porque o mundo inteiro se move e nos informa que devemos nos mover, fazer alguma coisa, que não podemos ficar parados...  Então voltemos ao princípio: é amável aquele que pode chamar o andarilho de volta pra casa. Saiba: o andarilho é a mente que, incansavelmente, corre atrás de suas metas. Ela cria as metas e vai embora de casa, em busca de satisfação. Portanto, o nosso diálogo tem apenas essa função: chamar a mente de volta pra casa, invocando Aquele que pode chamar o andarilho de volta ao lar.

terça-feira, setembro 27

a gargalhada no zazen















Pergunto: onde você se perdeu? Quem está pensando não é você! Você tende a ouvir do jeito que quer e essa é a maneira errada. Não esqueça: chame-se pelo seu verdadeiro nome. Acorde para o fato de que você não é quem está pensando!

Hoje, recebi um e-mail de alguém que está fazendo um trabalho no norte do Brasil. Ele estava convidando pessoas para meditar e usou um texto de Osho, que dizia: “Não importa se você tem uma mente quieta, uma mente inquieta, uma mente capitalista, uma mente apaixonada, ou uma mente espiritual. Nós temos que ir além da mente”. Embaixo disso, o autor do e-mail exclama: “Venha clarear sua mente!”

Porém, uma mente clara também não é o propósito. Uma mente escura, clara, turva – o que seja –, não é o ponto. O ponto é, exatamente, descobrir o que proporciona a existência da mente clara ou escura. O que proporciona? O que manifesta você sentado nessa cadeira? 

Que gargalhada!
Esse ator, agora, servindo chá na sala de Zazen,
pensa que ele sou eu.

Mas este aqui sentado não sou eu. Nesse momento, a mente é usada para reverter o que ela mesma propõe como realidade, que não tem nada de real. No momento em que se dá conta de que a proposta de realidade posta pela mente não é real, você encontra a verdadeira realidade. Esse processo de reversão é exato, não dá para ir por outro caminho.

Você sempre pensa que é esse que está sentado. Digo: sempre! Você está meditando, está melhor, está quieto, está em paz, está tranquilo, está tendo sucesso... mas nada disso é você. Todos os acontecimentos são periféricos a você. Eles acontecem em você, são manifestações de quem você é, mas não são você.

segunda-feira, setembro 26

aqui e agora



Proponho uma investigação direta a respeito de quem somos e, para começar, gostaria de definir “aqui” e “agora”, esses dois conceitos. Isso porque disseram que você tinha que ficar aqui e agora e você tem sido jogado, às cegas, nessa direção. Mas você sabe o que isso significa? Já parou para investigar isso? O que é “aqui” e o que é “agora”?

Participante – Acho que “aqui” é o espaço físico onde estou e “agora” é esse momento em que estou falando.

Então você está dizendo que aqui é espaço e agora é tempo. Isso é bom, mas vamos além. Porque, se levarmos em consideração a definição de espaço e tempo, chegaremos à conclusão de que aqui não é espaço e agora não é tempo, pois espaço e tempo, por definição, podem ser medidos.

Vejamos!

Há um espaço entre eu e você, há o espaço entre São Francisco de Paula e Porto Alegre – e todo espaço é delimitado, pode ser medido. Isso define “espaço”. Mas onde começa e termina o aqui? Você consegue medí-lo? Ou, melhor ainda, onde começa o aqui? Para qualquer medida, é necessário partir de algum ponto. Eu insisto: qual o tamanho do aqui? Logo é possível ver que o aqui é imensurável, que não tem medida. Portanto, a definição de aqui é, na verdade, “não-espaço”. Essa é a definição científica do aqui. Sei que é novidade para você, mas não tenha pressa.

Quanto ao tempo, este também pode ser medido, precisa de um início e um fim. Mas dá para medir o agora? O agora não pode ser medido, portanto, agora é a ausência de tempo, não-tempo.

Dessa forma, aqui é ausência de espaço e agora é ausência de tempo. E quem você realmente é, está eternamente aqui e agora, não é limitado por nenhum volume, nem por superfície alguma. Você é muito mais do que tudo isso. Todos os espaços estão dentro de Você. Todos os tempos estão em Você. O passado, o presente e o futuro acontecem agora.

Há uma série de mal-entendidos a respeito do aqui e agora e se conseguir elaborar apenas isso, a Verdade estará diante de você. Da maneira como se concebe, você vive no tempo e não no aqui e agora. Sim, o “você” concebido pela mente vive no tempo, e quem você realmente é, não vive no tempo nem por um momento. Note que existe uma distinção entre aqui/agora e espaço/tempo.

Sua mente, através de vários mensageiros, intermediários, diz: “Você tem que ficar aqui e agora”. Mas estamos aqui para facilitar uma série de coisas... É importante que você as investigue e veja o que faz sentido. A Verdade pura e simples é o pleno Silêncio. Não tem uma palavra que possa falar a Verdade, mas, inadequadamente, você não está preparado para isso. Então, vamos nos preparar e você vai entrar e desaparecer no Silêncio naturalmente, sem fazer nada, apenas investigando e compreendendo.

sexta-feira, setembro 23

o um no dois



Participante – Satyaprem, uma vez te perguntei se somos os fazedores ou os “fazidos”, e você disse que éramos metade cada um...

Sim, você é uma parte o fazedor e outra o “fazido”. De um certo ponto de vista, parece que você está fazendo e de outro que está sendo feito. O que acontece é que você está sendo feito e, ao mesmo tempo, não está separado daquele – ou “daquilo” – que está fazendo. Então você é o fazedor, o Grande Fazedor, aquele de onde todas as coisas nascem.

Pondere: ou você é a unidade ou é alguma outra coisa, algo que se pensa separado da unidade. E somente quando você é alguma coisa, entra em pauta o que você está fazendo ou não. Nesse caso, quando você é aquele que faz você é aquele que é, pois não há dúvida que tudo o que acontece é “feito” por Você. E, da mesma maneira, aquilo que está sendo feito também é você.

Você é as duas coisas, ou melhor dizendo: você é tudo. O que na verdade, põe em pauta a seguinte realidade: uma coisa anula a outra e, sendo assim, você não é nem o fazedor nem o “fazido”. Podemos ilustrar observando que um avião depende das duas asas para voar. Sem uma delas, ele não funciona. Assim, do ponto de vista da mente você é o fazedor e do ponto de vista da iluminação, da Verdade, você é o “fazido”. Aqui, é interessante deixarmos o mais clara possível a questão da dualidade. Se respondo que somos metade uma coisa e metade a outra, o que acontece, na verdade?

Participante – Some a dualidade.

É isso! Identificado com o corpo, o corpo é você e parece que ele é o fazedor. Mas, ao dar-se conta que isso não é você, um deslocamento ocorre e o corpo passa a ser visto e reconhecido como “fazido”.

O único paradoxo que exigirá um pouco mais é que o corpo é feito para “fazer”. Então, ao mesmo tempo que ele faz, ele é "feito". Nada pode ou deve ser excluído. Estamos aqui para chegarmos a esse ponto onde não existe exclusão de nada e nada está acontecendo. Este deve ser o único intento de estarmos aqui, dia após dia.

quinta-feira, setembro 22

Quem é você?



Você se aproxima e se dá conta da Verdade, porém, ao sair de perto – ou, às vezes, mesmo estando perto – tem a nítida impressão de perdê-la. Isso acontece porque você insiste em acreditar que esteja vindo de algum lugar, indo para algum outro lugar e que, o tempo todo, algo está acontecendo.

Pergunto: O que você está esperando? Apenas uma coisa importa, esta é a única jóia, a única pérola, a verdadeira pedra preciosa, o único segredo – e ele está escondido atrás de uma pergunta básica que se refere ao que você pensa que você é. Colocando essa pergunta para si mesmo, é possível ver algo e, a partir daí, crescer para dentro disso.

Não significa que o corpo não vá sentir e a mente não vá pensar todo o tipo de coisas. Ambos continuarão com seus movimentos comuns e implícitos aos seus limites. Pode que algo mude quanto à forma de pensar e sentir, por saber que não há a menor chance de gerenciar os acontecimentos. Mas saiba, categoricamente, que de nada dependem de você, os acontecimentos externos.

Aliás, nada depende de "você" pelo simples fato de não existir "você". Diante da visão, inteligência é chamada e surge a proposta de viver de acordo com tal revelação. Comece a discernir e veja a jóia, a pérola que te está sendo revelada.

A menos que isso seja tornado realidade dentro do seu contexto, a pergunta "Quem é você?" deve ser feita e refeita, de novo e de novo. Pois a pergunta é a única possibilidade de cortar a mentira pela raiz; ela dá acesso ao real, aqui e agora.

Ou você fica suspenso nos seus desejos, medos e culpas – em outras palavras: na mente – ou cessa todos os movimentos, recebe este presente que te é oferecido e habita a sua verdadeira morada, de uma vez por todas.

quarta-feira, setembro 21

aqui, no não-lugar, ninguém...



Hoje trago uma pergunta: Como é que você discorda de alguém? Que instrumento usa? Do quê está discordando exatamente?

Você está discordando daquilo que acredita ser o que o outro pensa. E, na verdade, o que está implícito é que você concorda piamente com o que você acredita. Partindo desse patamar, você compara, mas tudo isso é mente. De verdade, tanto o que você acredita quanto o que o outro defende é totalmente insignificante e, melhor dizendo, inexistente.

Em ignorância, as pessoas que estão dormindo a respeito da Realidade, crêem que muito importa aquilo que acreditam. Eis a diferença sutil e avassaladora entre estar dormindo e acordar para quem você é – aquele que desperta sabe que de nada importa aquilo que acredita. Aliás, antes mesmo de saber isso, despertar engendra justamente em realizar que não tem “alguém” que acredite ou discorde do que quer que seja.

Isso é “iluminação”, um "iluminado" habita um “lugar” onde “você” não pode ir, porque esse lugar não existe e “ninguém” pode habitá-lo. Portanto, todo o seu empreendimento deve estar em não existir. Não há onde chegar, nem quem o faça. Este “lugar” não está lá, ele está acessível precisamente, incontestavelmente e incondicionalmente aqui.

Onde quer que seja que você almeja chegar, está localizado em algum outro lugar que não é aqui. Dê-se conta que você já está aqui – por que quer chegar lá? Pensando em “como deveria ser” a sua realização, você a perde. Abandone todos os conceitos a respeito da busca e veja que você se encontra exatamente aqui, agora – onde todo o acúmulo de conhecimento fica completamente sem aplicação.

terça-feira, setembro 20

o ver vendo o ver



Existe uma possibilidade de engano nesse “processo” de auto-indagação. Ao fazer a pergunta “Quem sou eu?” para si mesmo, você tenta ver algo, você tem ideia de que vai conseguir uma resposta palpável, um objeto. Mas não é possível que você veja a resposta, porque a resposta é aquilo que está vendo. Apenas veja que você é aquilo que Vê. E não se engane, pois isso não pode ser visto, mas a Consciência está consciente de si.

Nenhum objeto intermediário é necessário, por isso chamo de uma visão “não reflexiva” – ela tem existência em si e não precisa de reflexo para saber-se. Até porque, se precisasse, dois observadores seriam necessários: o observador que vê e o que é visto – que, no caso, deixa de ser observador e passa a ser o que é observado.

Portanto, estamos aqui, dia após dia, para realizar o fato de que o mundo dos sentidos só acontece no periférico, na diferença, na dualidade. Em Essência, aquilo que você é não tem diferença nenhuma, é singular. Por isso chamamos de “unidade”, é o não-dual, a não-dualidade. Aqui, não me refiro à unidade como a “mãe” ou o "cosmo", porque no momento em que criarmos uma unidade, estaremos criando dualidade. Para deixar mais claro, prefiro aplicar o negativo, o que não é. É a não-dualidade, que, na Índia, chamam de “advaita”. Advaita significa “não-dois”.

A mente tenta conter a experiência, ela quer viver em contato, ter controle, com a realização do Ser, com a Consciência que você é. Mas esta não é uma função da mente. Sua função é apenas fazer algumas coisas funcionarem. No momento em que ela se esclarece a respeito disso, tudo se acalma.

segunda-feira, setembro 19

o prenúncio da não-experiência


Se a sua mente está buzinando com um “quero mais” e isso o deprime, significa que você ainda está seguindo o velho mundo, você ainda segue o velho paradigma. Acorde! Todos que te cercam, de alguma maneira, ainda que inconscientemente, funcionam dentro dessa hipnose, todos querem mais – e isso abrange querer mais deles mesmos e de todos que estão por perto. O que mais podemos esperar de tal movimento, senão insatisfação?

Estou aqui para lembrá-lo que existem coisas a fazer e quanto a isso não há nenhum problema, este não é um caso espiritual. Se você precisa ir ao médico, vá! Se precisa tomar um banho, tome! Apenas o que deve ser notado é que a mente precisa de tempo para existir. Sem tempo, sem mente.

Se a mente se aproxima da visão proposta em Satsang, ela começa a compreender  que o que está sendo oferecido é o seu sumidouro – e é por isso que ela esperneia. Mas existe uma grande possibilidade de você provar – it’s a taste – esse “espaço”, esse “ambiente”, onde a mente não está, que não quer absolutamente nada. Ainda que seja uma experiência, este é o prenúncio da não-experiência.

A mente não tem como entender a possibilidade da não-experiência, porque, para ela, tudo o que acontece, acontece para “alguém”. Porém, o que está sendo apontado não acontece e, tampouco, acontece com “alguém”.

Neste momento, verifique se tudo o que você leu e absorveu antes, como sendo a realidade do seu Ser, permanece intacto ou entra em choque. Sei que, logicamente, é muito mais aceitável para a mente que o ego seja coroado, do que a possibilidade de que ele seja acabado com a iluminação. É muito mais plausível antever que o ego está enlouquecido para dizer: “Eu iluminei”. Ao invés de concluir: “Eu não existo, não tem nem eu e nada está acontecendo a ninguém”. Qual o apelo comercial no que está sendo dito?

O Zen conta que quando a mente entra no caminho da meditação, se prepara para confrontar a luta final – the final match – com um leão. Porém, quando é chegado o momento final, ela não encontra um leão, encontra um pequeno ratinho. Um ratinho minúsculo. E percebe que a Verdade não é nada daquilo que ela estava pensando.

Então, de certa maneira, já disse isso e repito: aqui, o trabalho é negativo. “Desimagine!”. Encontre este pequeno infinito ponto onde nada é quisto. Se a sua mente se deprime, deixe-a! Você não tem nada a ver com isso! O Silêncio está presente exatamente aqui, exatamente agora. Você só pode notá-lo agora, porque somente agora ele é você.

sexta-feira, setembro 16

de carona na bicicleta de vento



É o corpo que sente medo. Não há medo no Ser, na Consciência que você é. O que a Consciência temeria, se tudo é uma coisa só? Medo existe na periferia, na separação, na ideia de dois. Existem resquícios no corpo e na mente em relação a toda a história do passado, não importa o quão realizado você esteja no “processo” de despertar para quem você é. Saiba, desde já, que existem coisas que permanecerão em ocorrência. No entanto, a sua realização está em não se confundir com o ocorrido.

Metaforicamente, poderíamos dizer que você tem vivido uma vida inteira em cima de uma bicicleta, pedalando violentamente, com toda a sua energia. Até que, de repente, algo ou alguém no seu caminho sugere que você pare de pedalar, porque você já se encontra onde deseja chegar. Quando o convite é aceito, então, você para de pedalar, mas a descida é eminente, a bicicleta segue por um tempo em pinha livre. Você tira os pés do pedal, mas a roda continua rodando e a bicicleta continua no mesmo percurso, até que pare.

Não há mais nenhum impulso, mas a roda continua no seu momentum, no movimento inercial. Não sabemos quanto tempo isso pode durar, são os resíduos do envolvimento e do engajamento exercido enquanto parte, enquanto personificação. Mas agora você está curtindo o vento e fluindo como um “carona”... apenas observando.

O que o confunde é pensar que a mente é quem observa. Então, aquela que pedalava é a mesma que deseja observar. Mas não é a mente que observa. Você é Aquilo que observa e não há a menor escolha quanto a isso. Observação está ocorrendo constantemente, inevitavelmente, inexoravelmente, e você é essa Consciência que não tem como ser perdida. E nem como ser encontrada...

quinta-feira, setembro 15

a liberdade nāo tem nome



Dê boas-vindas a todos os pensamentos, sentimentos, a todos os seus processos. Pare de julgar tudo como inadequado, não há inadequação. As coisas estão acontecendo porque estão acontecendo, você não precisa fazer nada. Todas as ideias que colocaram dentro de você, de que algo precisa ser feito, é perda de tempo. Você é perfeito do jeito que é e isso tem que ser absorvido por você.

Veja claramente, sem nenhuma dúvida. Não estamos aqui para acreditar em nada, não acredite no que estou falando. Olhe, verifique, observe e veja se tem sentido, se é tangível para você. Se for, é seu, e ninguém pode lhe roubar – porque não foi dado por ninguém –, você está vendo com seus próprios olhos.

Lembre-se: a essência da mente é pensar, então, ela pensa. Não se confunda! Deixe-a pensar! Até agora, você tem brigado com isso, não tem aceitado. Mas você só encontra inadequação na realidade porque leu em algum lugar que era preciso parar de pensar. Então, um mínimo entendimento é necessário. Investigue e veja quem é que pensa. Você pensa ou você observa os pensamentos tanto quanto qualquer outra ocorrência no espaço-tempo? O Ser não pensa.

Você, portanto, não precisa parar de pensar, apenas dê-se conta de que quem você verdadeiramente é não pensa. O equívoco fundamental é confundir-se com a sua mente. Se preciso, escreva no espelho do seu banheiro: “Eu não sou a mente!” O único próposito disso é que você dê as boas-vindas a tudo, porque, desse modo, a mente se aquieta e não tem o que fazer. Dê à sua mente um palco, onde ela goste e possa atuar à vontade, e fique sentado na platéia, aplaudindo, se for o caso. Permita que ela faça o que quiser e seja apenas um observador. Pois você é o observador, quer queira ou não, saiba ou não, goste ou não – você não tem escolha. E sabe o nome disso? Isso é liberdade!

Apenas faça a sua parte, olhe e veja! Veja se o que está sendo dito faz sentido, se o liberta, se o livra de culpas, se o acalma ou se te dá mais coisas para pensar e fazer. Veja o que é que o relaxa e o mantém tranquilo.

Isso com que você se identifica como sendo você, não tem o menor apito na realidade. Dê-se conta! Veja as árvores lá fora, olhe pela janela e veja a magnitude de tudo. Olhe para o céu, veja a grandiosidade em sua volta, e reconheça a sua pequenez. Seu corpo e sua mente são ondas no oceano. Você é o oceano, deixe que ele tome conta disso.

quarta-feira, setembro 14

sem imaginar, veja!





















Olhe para dentro do agora e veja quem você é. Para isso, suspenda a história, suspenda o passado, suspenda todo o conteúdo de memória e encontre a Verdade por trás de tudo.

A mente não é um fenômeno particular, é universal. Ela está o tempo todo em conflito com o que é, e é isso que o deprime. Você imagina e deseja aquilo que não está presente agora, e a imaginação é um fenômeno muito forte. O mundo todo está imaginando, este é o “modus operandi”. Todos passam seus dias imaginando coisas a respeito da realidade, o mundo é construído e mantido em cima disso.

É por isso que quando alguém é convidado a parar de imaginar, a sua intenção deve estar clara a esse respeito. Porque a potência da imaginação é infinitamente maior do que a possibilidade de suspender a imaginação, ainda que temporariamente, só por um mínimo vislumbre.

O que o deixa triste, portanto, é olhar para um copo, afirmar que ele está meio vazio  e decidir que quer enchê-lo. O que o deixa triste é a sua insistência em permanecer namorando com as coisas que você não tem, ao invés de gozar daquilo que você já tem.

Namorar com o que você já tem, faz do contentamento uma realidade inevitável. Da mesma forma, se você namora com o que você não tem, é inevitável o descontentamento. Então observe seu comportamento, perceba como a sua mente funciona. Veja o quanto mais você deseja poder e possuir.

Mas não se iluda a respeito daquilo que precisa e pode ser feito para facilitar a convivência no mundo. Se você deseja cavalgar, convém aprender a encilhar e colocar o freio num cavalo. O mesmo acontece a respeito do seu carro: procure balancear os pneus e checar os freios. Estes são movimentos que possibilitam uma prática saudável e, convenhamos, são tão simples que não podem, de maneira nenhuma, impedir o seu funcionamento sem a exaltação da mente. São movimentos que não podem tirar o seu sono ou a sua percepção do agora.

Então, essas “conquistas” são desejáveis. Num certo sentido, a sua competência naquilo que está sendo feito deve ser impecável. Dado o contexto, não tem como tirar uma música com o instrumento completamente desafinado. E, ainda, se havendo grandes impossibilidades, isto também é passível de aceitação. Aceite e mova-se em outra direção, sem grandes dramas. Apenas esteja atento de que a mente sempre quer mais, e ela só o perturba porque vive em conflito com o que está posto.

terça-feira, setembro 13

no silencio não há você, sorria!



Suponho que você esteja querendo saber quem você é. Eu já disse várias vezes e repetirei quantas forem necessárias: você já é aquilo que você está querendo encontrar. Você já é você! Entenda o quanto puder. No entanto, precisam ser encontrados esses dois pontinhos. A sua existência separada precisa reconhecer de onde ela vem, quem é ela em si.

Se ocorre o reconhecimento, fica nítido, mais cedo ou mais tarde, que é possível olhar para o mundo e para todas as coisas que estão acontecendo, sem perguntas. De repente, é como se houvesse um “desmanchar-se” naquilo que é, naquilo que está posto.

Essa aceitação, essa inclusão de tudo aquilo que acontece, só pode ocorrer quando você vê o que está sendo apontado em Satsang. Nem mesmo através dos processos mais incríveis, ou das técnicas mais interessantes que você já possa ter experimentado, é possível obter essa realização. Porque, naquele momento de imenso silêncio experimentado durante ou após uma meditação, por exemplo, é muito comum que haja a seguinte conclusão: “agora estou em silêncio”. Mas, desmembrando essa afirmação, chegamos a um “alguém” que está em silêncio. Enquanto que o Silêncio está, quando “você” não está.

O silêncio experimentado por “alguém” é um estado, condicional e temporário. Se daqui a dois dias você não estiver em silêncio, tudo aquilo que você estava registrando como sendo você, não é mais.

Recordo um diálogo que tive outro dia com alguém, pela internet. Uma pessoa me perguntou:
– Eu sou feliz, e você?
Ao que respondi:
– Feliz é dualidade.
Ela, insistindo na conversa, tornou a escrever:
– Sou feliz até quando estou triste.
Eu, insistindo na clareza:
– Quando triste, triste. Quando feliz, feliz.
E ela, finalizando, disse:
– Perfeito. Quando triste, triste. Quando feliz, feliz.
Seguido de um emoticon sorriso.

Dê-se conta do temporário e absolva-se da maldição de ser “alguém”. Você não é alegre nem triste. Descubra o que é que está por trás de todas as coisas e simplesmente seja Aquilo que É.

segunda-feira, setembro 12

o rugido silencioso da ovelha inexistente



















Em Satsang, não nos encontramos por um motivo vão. Estamos aqui em nome de um reconhecimento. Ramana Maharshi dizia que precisávamos questionar quem somos, e que pelo simples fato de questionar-se – como uma técnica, como um método de esclarecimento –, todas as ideias que nos impedem de ver quem realmente somos, vão sendo removidas.

Olhando para o lugar certo, a pele de ovelha que você carrega sobre os ombros se torna pesada e desnecessária. Dê-se conta: você é essa pele que lhe cobre os ombros? Deixe que essa pergunta penetre todos os níveis, todas as camadas da sua existência. As camadas são frutos do esquecimento. Você começou a esquecer sua verdadeira natureza, desde o dia em que as ovelhas te encontraram e começaram a dizer que você é uma ovelha como elas e, ainda, que não existe um bom pastor em algum lugar distante, num lugar improvável, como salvador.

Segundo Ramana, isso é algo que você deve questionar constantemente, porém sem a menor esperança de encontrar uma resposta. Apenas a sua intenção, a sua determinação é tudo o que importa. Até que um dia, o leão irá rugir. Já Papaji, que foi seu discípulo, nos trouxe outra perspectiva, um pouco distinta. Ele disse: “Se você questionar uma única vez e ver aquilo que você é, isso é tudo o que importa”.

Concordo que uma única vez seja o bastante. Mas se você olhou e ainda não viu, só tem uma coisa que pode ser dita em relação a isso: aquilo que você viu não é Aquilo. Portanto, nesse momento, retomamos ao Ramana e continuamos questionando – Quem sou eu? –, sabendo que qualquer passo conclusivo, qualquer coisa que seja dita, tende a gerar uma interpretação, que ocorre na mente e que não é você, de maneira nenhuma.

Portanto, questione-se até dar-se conta de que não tem ninguém para perguntar. Isso significa o rugido do leão, isso é o Silêncio. Para isso, é necessário que você veja ou que pelo menos olhe. Na verdade, para começo de conversa, ter uma leve dúvida já é instrumental: será que você é essa ovelha que tem sido até hoje?

A mente exita, porque percebe que existe um perigo em questionar a realidade das coisas. Pois, se você se dá conta de que você não é uma ovelha, todo seu ambiente foge de você. E quando você se dá conta que você não é aquilo que pensava ser, passa a representar um perigo para os outros, que querem continuar na ilusão. No entanto, algo incrível acontece, o ambiente cria uma estratégia fantástica. O senso comum simplesmente não reconhece aquilo que você está apresentando como nova possibilidade, como nova realidade. O mundo duvida da sua não-existência consensual. A mente só existe no consenso.

Você pode viver a sua realização sem interferências, pois só diz respeito a você. Não há a menor necessidade de consenso. Quando você percebe-se como sendo Silêncio, não há dúvidas a respeito de quem é você e não há nenhuma necessidade de ser entendido. Você é liberdade e está absolutamente em paz sob quaisquer circunstâncias.

sexta-feira, setembro 9

além dos sinais de fumaça



















Note, nesse instante: o quê, entre as coisas que você conhece, é imutável? O seu humor muda ou não muda? Os pensamentos são voláteis ou não? E quanto aos sentimentos e às sensações, qual a sua percepção? Tudo permanece o mesmo, desde sempre, ou está em constante transição? Investigue isso e note que você tem se aprisionado à imagem dessa volatilidade como sendo você.

Chamamos de “experiência mística” o dar-se conta de que nada do que está passando em frente aos seus olhos – sentidos, mente, imaginação – vale um tostão furado. As pessoas se alienam baseadas em ideias e imagens, como fizeram aqueles que vieram antes. Sempre foi assim e você apenas repete até que, por obra do destino, perceba que está tentando descrever os sinais de fumaça deixados pelos primeiros nativos do planeta e se estabeleça o fim da ignorância.

A brincadeira proposta em Satsang é mover-se da descrição para Aquilo que observa tanto os fenômenos descritos quanto aquele que os descreve. O observador precisa de um objeto observado. O objeto observado não pode existir sem o observador. Onde você se encontra?

O ser humano tem pecado em um único lugar, ele pensa que é o observador. Não lhe ocorre que ele seja um objeto observado. Mas assim é. Você, enquanto estrutura corpo-mente, é um objeto no espaço-tempo tão observável quanto qualquer outro objeto. Note que você, assim como se concebe, é um objeto passível de descrição, inclusive.

Estamos aqui, portanto, para que se estabeleça um mínimo vislumbre de que você é Observação, você é aquele que observa. E, de nenhuma maneira, é possível descrever o observador. Aliás, nem mesmo é possível conhecê-lo, pois a observação não pode ser vista, ela apenas observa.

Descarte todas as suas armas, ponha todas as ideias de lado e entregue-se. Você se engana em tentar ter uma experiência do observador. Desista! Renda-se à realização de que esse corpo e essa mente sejam observáveis e volte-se para a Observação. Isso é tudo!

quinta-feira, setembro 8

céu: o limite do ilimitado



Como é possível julgar que exista pecado na ilusão? Ilusão é ilusão – tanto faz se você vai para a esquerda ou para a direita. Não faça vista-grossa! Não tem ninguém indo a lugar nenhum. Porém, atenção! Ao mesmo tempo – ou, ainda, no tempo – a ilusão está se movendo. No tempo está a morte, o sofrimento e a ilusão a respeito de todas as coisas.

Proponho, portanto, um experimento: ouse deixar de ser quem você pensa que é, e veja o que você perde. Do meu ponto de vista, deixando de ser algo ou alguém – restrito, condicionado – você ganha um espaço absoluto, ilimitado. Deixando de ser “alguém”, você ganha a vastidão do céu. Abra mão dos seus castelos de areia e absorva a realidade de que o céu é o limite. Você não tem nada a perder. Não há nenhuma garantia de conforto dentro do limitado, por mais confortavelmente que você viva. Eventualmente, você se depara com uma limitação do corpo e da mente – e não há nada a fazer quanto a isso. No entanto, se você vê o céu como limite, uma miríade de possibilidades se abre e prender-se ao limitado deixa de estar em pauta.

Note que neste instante, neste mínimo instante, não tem nada acontecendo. Não tem ninguém morrendo, tampouco vivendo. O pássaro canta porque está feliz. Mas, em realidade, ele nem sabe que está cantando, nem que está feliz. Ele não sabe que é um pássaro e não tem o menor senso de existência. Ele está ali, absorvido na humilde condição de ser uma mera manifestação da Consciência – e não há nada, nenhuma ideia, que o separe disso – logo, nenhum sofrimento.

Aqui, ressalto que o seu único exercício, constante, é estar atento e não fazer vista-grossa para a sua natureza original. Quando você ignora sua realidade-buda, tem sempre que arrumar, programar, fazer uma série de coisas. Você se dedica, incansavelmente, a arrumar e decorar os quartos dos seus castelos de areia. Mas, que ordem pode ter um castelo que não existe?

Sua mente precisa ser convidada a ver isso! Se ela puder ter o vislumbre de que os castelos são de areia, isso é o suficiente para que você descanse, se acalme, relaxe, celebre e curta todos os momentos. E, saiba, isso não exclui absolutamente nada. Se dói no seu estômago a comida que você comeu, chore! O corpo irá lidar com seu karma, no momento presente. Não deixe que nada interfira na integridade do momento presente. Não se confunda! Promova esse compromisso com o Presente que te é dado a todo instante.

Os indianos chamam de “Satchitananda”, aquele transbordamento que acontece quando você olha e vê que você não cabe dentro de si mesmo. O corpo transborda através dos olhos, lágrimas correm, há um transbordamento – afinal, não tem como conter Aquilo que você verdadeiramente é, dentro desse corpo mínimo. Estamos falando de “reconhecimento”. Quando você não faz vista-grossa, pode notar o seu corpo andando, falando, sentindo, comendo... Você simplesmente nota, observa, tudo isso acontecendo.

Você é aquele que vê, você não é aquele que come, que anda, que chora... A partir desse reconhecimento, você anda sem andar, senta sem sentar, come sem comer... Seu nome é Observação e seu sobrenome é Paz. E aquele que Observa não se importa nem se desimporta com o que está sendo observado, ele apenas observa, sem a menor interferência no destino do corpo ou da mente.

quarta-feira, setembro 7

o silencio dança no coração de tudo



Se você pensa que vai morrer, e isso o incomoda, encontre “quem” pode ser morto e mate-o agora! Lucidez é necessária, investigue! Peço que me mostre seu ego, e eu acabarei com ele. Você se preocupa com um monte de pensamentos que não têm substância em si, que, na verdade, não estão vivos – portanto, como matar algo que não esteja vivo?

Medo surge quando você se ilude com os castelos de areia. Você acredita que tudo o que você é, é esse corpo sentado aí. Mas, e se não for assim? Veja se é possível matar a Consciência. Pode não parecer, mas é muito simples olhar para isso: você não pode matar algo que não sabemos onde se encontra nem o que é.

Olhe para o âmago do seu ser, para o seu coração desnudo, vazio de concepções... o que você vê? Nada pode ser visto. Não é possível encontrar nenhum traço de trauma, dor, rancor ou mesmo de memória, na Consciência que você é. Porque para a Consciência, é tudo sempre novo. É Sempre agora!

Celebre o que te é oferecido agora e não se confunda, não se apegue, pois tudo o que te é dado, pode ser tirado. É por isso que insisto: celebre o que te é oferecido neste exato momento! Claro que você também pode não celebrar, mas proponho – assim como Osho com “Zorba, o Buda” – que você encontre um ponto de encontro entre a celebração, mundana, do Zorba e a relação com aquilo que é silencioso, do Buda. Reforçando, e até ilustrando isso, Osho fez um pedido: “Veja quem você é, desça da montanha com uma taça de vinho e cante com as crianças no mercado público”.

Viva sem ignorância ou qualquer ilusão, acordado, a respeito de si mesmo e do mundo. Dessa forma, nada precisa ser negado ou cobiçado. Você pode passar a noite inteira dançando, sabendo e atuando naquilo como um sonho, como um filme. Você participa, desenvolve o seu papel, faz algumas escolhas simples – relativas ao corpo e à mente desenvolvidos no seu sistema – e nada mais que isso. Não há nenhum mérito ou demérito. Para uns, é extremamente cansativo ir ao mercado público, para outros não. Você não precisa seguir, como lei, nenhuma coisa nem a outra. Respeite e celebre o momento. Há quem se divirta no mercado público e à quem se divirta na beira da praia, apreciando o pôr do sol. A celebração toma forma nos nossos sistemas de maneiras diferentes.

Encontre o seu ponto de celebração, com suavidade e elegância, sem peso – não existe nada errado. O único pecado é você ignorar quem você é, ignorar a sua essência. O resto é celebração.

terça-feira, setembro 6

o mundo não é ideia minha


Osho dizia:  “Você está aqui comigo e sente que está iluminado. Quando sai de perto de mim, vê que não está iluminado. Você está iluminado porque está contaminado com a minha Iluminação”.

A proposta de Satsang é exatamente essa: estamos aqui para que a transmissão se torne totalmente sua, totalmente realizada. Deixe-me colocar de outra forma... Você já aproximou do fogo uma vela quase apagada? Ela não precisa entrar no fogo, a mínima proximidade a incandesce. Experimente isso: pegue um fósforo e o aproxime de uma chama, ele não precisa nem tocar a chama, ele se auto-inflama.  Se a sua chama está, digamos assim, apagada ou muito fraca e você vê que aqui tem uma chama, seja muito bem vindo! Porque estar em Satsang é, nada mais, nada menos, do que se aproximar da chama, para que você se auto-incendeie – para que você acorde.

Estou aqui para questioná-lo e provocar alguns movimentos que não são indesejáveis, do ponto de vista do ego. Mas este é o meu papel. Definitivamente, não estou aqui sentado para consolá-lo, nem confortá-lo, porque eu não acredito que você precise de conforto ou consolo – você não é uma vítima! Acorde! Assumir que você é vítima de algo ou alguém revela que você está sonhando, você não está em Satsang.

Por isso todo o meu investimento em mostrar que você está perfeito exatamente do jeito que você está. Não se preocupe com o pensamento a respeito daqueles que estão se matando no mundo, em guerra. Morte, do jeito que você concebe, é apenas uma ideia na sua cabeça. Entre no abismo da Consciência, do Silêncio que você é e note que o conceito a respeito da “morte” se transforma.

Fernando Pessoa disse:  “O mundo não é ideia minha. A minha ideia de mundo é que é ideia minha.“ E estamos aqui justamente para notar que tudo que concebemos como realidade não passa de ideias que temos a respeito das coisas. No entanto, as coisas não são as ideias que temos a respeito das coisas.

Assim, Satsang nos convida a encontrar todas as coisas em sua pureza, sem a interferência das ideias. E, nesse encontro, é possível notar que não existe nem você, nem as coisas. Ou, melhor dizendo, você e as coisas são o mesmo, um. Portanto, tenha coragem de remover a tela que o separa de tudo e faz com que você sofra. Veja que você não sofre porque o mundo quer que você sofra, mas porque você tem uma ideia sofrível a respeito do mundo.

Não proponho um câmbio na ideia que você tem a respeito do mundo. Proponho que não tenhamos nenhuma ideia de como o mundo deva ser. Viva o mundo do jeito que ele é, assim como os lírios, que não têm ideia nenhuma do mundo. Os lírios não tentam tornar-se presidente ou pregar a paz mundial. Torne-se um lírio e veja que o mundo não existe assim como você concebe, porque o mundo é exatamente a ilusão em acontecimento.

segunda-feira, setembro 5

toda diferença é igual


Já parou para investigar quem é que precisa de tantas referências externas para estar bem ou mal? Mergulhe no agora e veja que você é beatitude, bem-aventurança. Essa totalidade é insuportável para o pequeno eu. É por isso que ele coloca o dedinho do pé dentro dessa realização e diz: “Queimei! Não quero mais...”
 
Por esse motivo a Verdade não te é dada de sopetão. Porém, a proposta trazida aqui é que você releia uma série de ideias que estão totalmente de cabeça para baixo. Por exemplo: “Penso, logo existo!” O que você tira dessa afirmação? Não nos foi ensinado a considerar que, sendo assim, sem pensar, não existimos.
 
Ocorre  dessa maneira porque seria o fim do pequeno eu praticar o não-existir, o não-pensante. A sua existência exige uma sequência temporal. Constantemente, são relembrados e mantidos certos padrões que, por sua vez, formam o seu caráter. Diga-se de passagem, rigidez decorre desse movimento aparentemente natural. Mas, se você prestar bem atenção, tem certas pessoas que não conseguem se abrir à mínima mudança de estrutura. Se você vai na casa de uma dessas pessoas e tira algo do lugar, você irá proporcionar uma experiência de intenso nervosismo para aquela pessoa. Para ela, é como corromper a sua integridade – a integridade do seu caráter –, mudar  a sua cama de lugar. O caráter depende absolutamente das referências.
 
Nesse sentido, é compreensível a prática proposta nos antigos mosteiros: todos cortam os cabelos e se vestem da mesma forma. Isso já faz uma grande alteração naquilo que você considera como sendo “você”. Afinal, o pequeno eu adora a diferença. Mas atualmente já podemos absorver e integrar de uma maneira mais simples e direta. O que precisa ficar claro é que essa é a realidade do pequeno eu, isso não é você. Aliás, na superfície, apesar de levantarmos a bandeira da diferença, todos são iguais. As dores são as mesmas, as limitações são as mesmas.
 
Para começar, seria o fim do pequeno eu, aceitar a igualdade, a unicidade. Portanto, proponho que você converse com seus amigos e veja se há diferença em algum lugar. Ou, até mesmo, vá para um país bem distante, vá para a Escandinávia, e descubra se há diferença em algum lugar. Muda a língua e nada muda, pois a mente é universal. O pequeno eu é universal, e estamos aqui, conversando, porque voltar-se para dentro aniquila todas essas ideias e ressalta a sua natureza mais intrínseca, que é una para com tudo e todos.

sexta-feira, setembro 2

nuvens no céu


Identificado com o corpo e com a mente, você ignora a sua própria natureza. Nessa ignorância, está o sofrimento. Quando você não faz vista-grossa para a sua natureza, que é Observação, você não mais se identifica com a forma.
 
É uma questão de percepção. Ou você se identifica com a sua natureza ou com a forma, com o corpo e com a mente. Identificado com a forma, você se reconhece como sendo as nuvens que passam. No entanto, o céu não deixa de ser o céu, ainda que ele pense ser as nuvens que estão passando. Clareza acontece quando isso se resolve internamente.
 
Por que estou dizendo isso? Porque quando você se identifica com a forma, com a nuvem, você teme a morte. Aliás, você teme um monte de coisas. Você sofre de apegos e desapegos. Liberdade acontece quando você repousa na sua natureza, na Observação que você é.
 
Sofrimento é ignorância de si. Na verdade, não existe sofrimento. Quem sofre é o corpo e a mente. E estamos aqui para investigar o fato da mente e do corpo não existirem. E, se você entende, essa percepção aniquila toda e qualquer carga decorrida da forma. A verdade é que só existe Consciência! Observação é tudo o que existe.
 
Permita que isso seja acomodado em você: as nuvens vêm e vão sem causar o menor transtorno ao céu. O céu continua o mesmo, ileso.
 
Essa é a Natureza do teu ser. Isso é você! Você permanece ileso. Ainda que alguém o machuque, ainda que alguém o elogie – tudo isso está acontecendo na periferia –, você permanece, apesar de qualquer coisa, imparcial.

Há uma chance de esclarecer e realizar isso. É o que chamam de iluminação. De repente, torna-se transparente que ela não existe. E a única coisa que você pode fazer por essa realização é ouvir o que está sendo apontado em Satsang e elaborar internamente, ao ponto máximo de compreensão. Porque se houver uma mínima confusão, você não irá fazer investigação nenhuma.
 
Portanto, pondere: mente e corpo não existem. Tudo o que existe é Consciência.
 
Consciência ignorante de si mesma é mente. Consciência reconhecendo a si mesma é não-mente. E isso não é um acontecimento, é algo que está presente, aqui e agora.
 

quinta-feira, setembro 1

o imperdível, zendo


Se você vai contra algo, você está em guerra. Se vai a favor, também. Compreender o que está no fundo de tudo, é o convite. Estamos aqui para encontrar um “lugar” onde a guerra não esteja acontecendo.

Conhecendo este “lugar”, você se posiciona tanto a favor quanto contra, na mesma medida – além dos princípios e dos pontos de vista. Pousado neste “lugar”, é possível notar que tanto faz estar contra ou a favor da guerra. Se você conhece este “lugar”, estar contra ou a favor é apenas parte de um mecanismo chamado vida.

Identificar-se como um “ser vivo” é estar em estado de emergência, qualquer coisa se torna seu inimigo, no dia a dia. Tudo o que vemos na periferia, tudo aquilo que é visto do lado de fora, está em constante conflito, que é outro nome para “guerra”. Talvez você não goste de ver que, na verdade, estamos sempre em conflito – conflitos de ideias, conflito a respeito do frio que entra pela janela, conflito com a chuva... E há os que propagam essa noção mínima de conflito, levando-a aos termos mais bárbaros.

Tudo isso faz parte, e enquanto as pessoas não tiverem consciência a respeito daquilo que realmente somos, a guerra vai existir. Como não há nenhuma garantia de uma percepção coletiva voltada para o Silêncio, proponho que você faça a sua parte, por si.

O único problema é que você não está disposto a abrir mão dos seus pontos de vista, acreditando que eles tenham alguma importância. Mas, proponho que investigue algo. Veja!

[Satya entrega um livro para um dos participantes, e diz...]

Por favor, entregue este livro para a pessoa que está do seu lado.

[O livro é entregue... E Satyaprem pergunta...]

O que você sente? Sente que perdeu algo, entregando o livro para ela?

Participante – Não. Absolutamente, não.

Por que?

Participante – Porque eu não tinha nada.

Você vê? Não é possível perder aquilo que você não tem. Olhando a partir daí, você nota a origem dos conflitos. Se o livro é “seu”, você pensa duas vezes, antes de repassá-lo. Mas, não sendo um livro “seu”, você se desfaz dele sem sentir nada, sem a menor sensação de perda. E o que determina a sua relação de posse, sobre os objetos, é o eixo a respeito da sua identidade.

Por isso deve estar claro: quem é você? O que você tem, de verdade? A maneira como você se identifica é que é o problema. Enquanto não for feita uma profunda investigação a respeito de quem você é e isso se tornar a raiz dos seus movimentos no seu dia a dia, você estará, o tempo todo, tentando encontrar, através da mente, diretrizes a respeito de como se relacionar sem sofrer, por exemplo.

Apenas questionando quem é “esse” que se relaciona e, mais ainda, quem é que sofre, o relacionar-se deixa de ter o cunho que tem. Se isso é o que você quer – libertar-se do sofrimento –, é urgente que descubra quem é você. E, a partir disso, descubra se há o outro ou a possibilidade de conflito.