segunda-feira, outubro 31

diante do nariz: nem ontem, nem amanhã


Identificando-se com a mente, você inicia um conflito, o conflito da gota contra o oceano. Ou, melhor dizendo, um conflito do tempo contra o agora, da mente contra o observador. Nisso, nasce um pensamento na mente, que diz que não devemos pensar no ontem e no amanhã. Essa proposta até parece interessante, não fosse um breve equívoco: a real revolução é ver que esse pensar no amanhã e no ontem não passa de um reflexo no espelho da Consciência, ocorrendo exatamente agora.

Diante disso, estabeleça a seguinte questão: o que você precisa fazer, quando começar a pensar no ontem e no amanhã? “Absolutamente nada” deve ser a resposta. E é neste ambiente que Satsang habita. Se chegou até aqui, você está prestes a se dar conta da possibilidade de trocar a sua identidade do objeto pensado para a observação.

Já que você insiste em ter uma identidade, identifique-se com aquilo que observa todos os fenômenos em acontecimento. No começo, aceite a proposta como um exercício, um desafio, até que mais tarde, esteja repousado, naturalmente, no observador. Porém, esteja pronto para a solução de todos os seus problemas. Pondere: é isso o que você quer?

Osho diz: "Eu jamais penso nos ‘ontens’, eu jamais penso nos ‘amanhãs’. Isso me deixa apenas um pequeno momento que é vasto – o momento presente –, que é solto, leve, limpo e livre.”

Sua mente oferece uma identidade pautada nas memórias, no passado, no tempo, no refletido. Todos os problemas, portanto, estão pautados no tempo. O momento presente oferece este “outro você”: solto, leve, limpo e livre.

O fenômeno da identificação ou da “má identificação” com o falso eu, implica numa humildade às avessas: a mente não consegue ver, tampouco assumir que você é a Consciência, porque, de alguma forma, sob o julgamento dela própria, você não merece isso. Daí, estabeleceu-se historicamente uma relação de mérito em relação à Verdade. O que joga a sua realização diretamente na linha do tempo, prorrogando o reconhecimento da sua natureza original para depois que uma lista imensa for atendida.

Mas estou aqui sinalizando o seguinte: não há a menor necessidade de correr atrás dos 20.000 preceitos, tudo o que você precisa é um pouco de sobriedade e uma certa acuidade para verificar que o discurso interno que exclama “Eu não sou a Consciência e devo alcança-la” não passa de uma neblina diante dos seus olhos. Acalme-se e espere passar. A Verdade está à sua espera, e você não somente merece vê-la, como este é um direito seu. Apenas retome este direito e tudo já está pronto, bem diante do seu nariz.

sexta-feira, outubro 28

ao findar vai dar em nada


Sendo o objeto um sonho, uma projeção da Consciência, a menos que a Consciência projete, sobre o objeto, possibilidades de mudança na direção em que o objeto projetado deseja, há alguma possibilidade de mudança?

Dizendo de outra maneira... O personagem de um filme, que está fadado a fazer aquilo que está no script, mesmo que ele tenha ideias de não fazer aquilo ou fazer diferente, se não estiver no script, ele tem chance de não fazê-las?

É hora de notar que isso que você tem identificado como sendo você, é um personagem dentro de um filme. Desse modo, se esse personagem tem a ideia de que ele não quer mais estar no filme, ele não conseguirá sair do filme, pois apenas a sua vontade não é o suficiente.

Essa noção de libertação nasce no objeto, no personagem. Mas o personagem não pode se libertar. O objeto personagem está fadado a ser personagem, quer esteja pensando que está preso ou que está livre. Mas ele continua sendo um personagem no filme pensando ou sentindo ou que quer que seja.

No entanto, o que deve ficar extremamente claro para você é que do ponto de vista absoluto, nem você é o personagem, nem existe libertação ou prisão. É notável historicamente que há tamanha confusão a respeito de libertar-se.

Voltando ao tema do “espelho vazio”, que elucida muito bem... Diante do espelho, o objeto deseja tornar-se o espelho. Mas isso não passa de uma ideia. O objeto se pensa sujeito e é aí que começa todo o enredo. Não há maneira do objeto tornar-se o espelho vazio.

Um dia, nas minhas mais selvagens fantasias eu imaginava que, em dado momento, deixaria de sentir certas coisas. Eu imaginava que havia um estado de ser onde determinadas sensações e pensamentos não mais estariam presentes. Mas agora vejo, e os convido a ver, que esse estado não existe. E é aí que a porca começa a torcer o rabo. Porque você começa a compreender, como diz a música do Gil, "esse caminho que ao findar vai dar em nada do que se pensava encontrar".

A partir daí, nasce a compreensão de que, sem caminho, não há onde chegar e, principalmente, não há quem chegue. Essa é toda a compreensão necessária. Pare de imaginar o que quer que seja e entregue-se exatamente, aqui e agora, ao que está posto.

O personagem permanece enquanto personagem, tente compreender isso e trate de cuidar com carinho do papel que lhe couber. Sabendo que você não é o personagem, é possível voltar-se para o espelho e estará diante de uma percepção absolutamente nova a respeito de si mesmo e do mundo.

quinta-feira, outubro 27

vazio infinitamente espelho


Participante – Satya, pelo que tenho acessado através dos nossos encontros, compreendo, então, que a proposta é, cada vez mais, se manter tranquilo como o espelho diante daquilo que está passando.

Não, a proposta é que, cada vez mais, você note que o espelho está tranquilo em frente àquilo que está passando. Não se mantenha focado no objeto, porque é exatamente a percepção de que o espelho está tranquilo, que “des-mantém” você. Compreende?

Participante – Sim, compreendo. É que, o que acontece normalmente, é: quando algo perturbador está sendo refletido, nós ficamos perturbados com o que está sendo refletido...

Observa o seguinte: algo está sendo refletido e você fica perturbado com o que está sendo refletido. Note se a perturbação não é mais uma reflexão. Porque, percebendo isso, você há de chegar ao espelho, que não está perturbado. O único problema é identificar-se com os reflexos.

Observe atentamente... Algo está acontecendo, e o perturbou. Essa perturbação é mais uma reflexão ocorrendo diante do espelho ou é o espelho, de fato, perturbado? O que estou querendo dizer é que, se uma perturbação surge, veja que é o objeto observado – esse sistema corpo-mente que equivocadamente é chamado de “você” – que está perturbado, e ele não é você. Você está por trás, observando o objeto perturbado, a perturbação e aquilo que a causou... Você é pura observação, a atenção sem escolha.

Isso implica que você não precisa evitar a perturbação. Você não precisa “des-perturba-se”, porque aquele que está perturbado não é você. Quem está perturbado é o objeto observado, e ele pode estar perturbado – tanto que está. Porém, nem sequer um único adjetivo pode ser acrescentado à observação que você é.

O objeto está perturbado e você o observa. Estamos entendidos?

Participante – Nesse momento, percebo que eu não tinha entendido nada. Mas ao mesmo tempo é como se eu pudesse ver o que você estava apontando. Me ocorre que às vezes eu tenho dificuldade para acompanhar, porque ora a mente está mais calma e em outro instante não está. Mas você falou agora e tudo clareou de novo.

Esse é o verdadeiro propósito de estarmos aqui – não há nenhum outro. Se quer saber a minha proposta, proponho que você, simplesmente, investigue aquilo que está sendo levantado e permaneça quieto. Não se mova, tampouco se comova com os reflexos diante do espelho. O espelho permanece infinitamente vazio – e isso é o que você veio resgatar aqui.

quarta-feira, outubro 26

objeto disfarçado de sujeito


Meu apelo hoje é para que você pare de observar. Por favor, faça isso agora e comente a sua experiência. Tente! Veja se consegue. No entanto, esteja muito atento ao que você observa como sendo parar de observar, enquanto parar de observar, ok?

Diga-se de passagem: “desatenção” parece ser um forte atributo do ser humano. Portanto, esteja muito atento. Veja bem o que você ouve e reproduz como proposta de realização da sua natureza original.

Tentando elucidar, eu pergunto: se você se deu conta que parou de observar, como é que você parou de observar, se está vendo isso acontecer? Está implícito que a observação nunca deixa de acontecer, ela é a última “coisa”, por trás de tudo, absolutamente tudo, o que acontece.

O que normalmente é descrito como “parar de observar” é a sensação nítida de que, por algum instante, aquele indivíduo não está pensando nem imaginando nada. E quanto a isso não há nenhum mistério... Isso é possível: parar de pensar, parar de imaginar... Tudo o que acontece pode cessar. Mas a observação jamais deixa de estar presente.

A observação, a Consciência que você é, não pode ser interrompida, porque não há nada fora dela – quem, onde ou o quê a interromperia, então? Ainda que pudesse ser interrompida, de nenhuma maneira seria o corpo, esse objeto observado, que a reteria ou a traria de volta.

Preste muita atenção porque este é um ponto muitas vezes difícil da mente entender. Porque é absurdo o número de criaturas – em corpos físicos e etéreos, diga-se de passagem – ficando mais consciente, tentando ficar consciente, querendo crescer em consciência, não querendo ser inconsciente.... a confusão é imensa! O equívoco é tão grande que quando chegamos ao ponto de conversar direta e claramente sobre o assunto, é quase que impossível.

Veja! Não estamos aqui para reproduzir absolutamente nada. Estamos aqui, simplesmente, para parar de reproduzir tudo o que foi imposto sobre nós e ficar com aquilo que não tem reprodução em lugar nenhum. Tradicionalmente, chamam isso de “acordar” e, não menos tradicionalmente, há grande parcimônia à respeito desta palavra – o que chega a ser uma espécie de pecado às avessas.

Então, investigue aquilo que Satsang levanta como possibilidade a respeito da realidade do Ser e veja de que forma se encaixa na sua própria experiência.

Dedique toda a sua atenção a perceber se você é o espelho ou o objeto refletido. E não se engane quanto aos objetos que aparecem diante do espelho travestidos de “você”... E, de novo, esteja atento! Os objetos são materiais e imateriais. Pode que você se confunda tanto com o objeto corpo, quanto com o objeto sentimento, o objeto pensamento, o objeto sensação, o objeto intuição. Pode até mesmo que apareça um objeto disfarçado de sujeito, como aquilo que chamamos de “ego”, e isso o torne mais confuso que nunca.

Porém, a verdade é uma só: diante do espelho, o espelho jamais se confunde quanto a ser o ego, mas o ego tem “absoluta certeza” de que ele é o espelho. Quem é você?

terça-feira, outubro 25

a prática do inviável e o óbvio


O que está em pauta nesse encontro que chamamos de “Satsang”, que significa “comunhão com a verdade”, é que você vem munido de uma carga mental de imaginação – imagens em ação – descritos como sendo você, e eu, como um espadachim, tento desviar (ou acertar) essas ideias pré concebidas.

Em outras palavras: você mente e eu questiono - até que um de nós canse. Espero que você canse primeiro, confesso. Então, vamos em frente! O seu papel é, justamente, ventilar com tranquilidade e sem pudor a possibilidade de questionar todos os conceitos que habitam a sua mente como reais. Ressalto que convém exagerar ao extremo a convicção de que você seja o objeto observado.

Só é possível ver, e realizar, quem você é, questionando aquilo que está posto como verdade sem o menor pudor. Você deve chegar ao ponto de total nudez. E quanto a isso, não se preocupe com “quem possa estar o vendo nu”, porque será apenas você vendo a si mesmo.

Assim, meu papel é meramente o de criar situações a fim de que você possa, aos poucos ou de uma vez por todas, notar aquilo que observa e, mais a frente, perceber a si mesmo como a observação e não como o objeto percebido.

A ideia de “eu” e “você”, e todas as ideias que decorrem dessa origem, existem apenas no mundo imaginário da mente. O mundo é o que pensamos dele. Sem pensar, o mundo não é. E isso é científico. Portanto, a nossa brincadeira é essa: você pratica o inviável e eu o chamo para o óbvio, que é misterioso. Aqui, o paradoxo da Verdade: o misterioso é óbvio e o óbvio é milagre, quer dizer: “fantasia”.

Não prorrogue! O único portal de acesso à realização da Consciência que você é, está aqui e agora. Portanto, pare um pouco, desacelere e veja onde você se encontra. Aos poucos, desnude-se e observe o que é que fica. Completamente nu, não há nada nem ninguém para ser qualquer outra coisa que não a imaculada Observação.

sexta-feira, outubro 21

o zen transita no indescritível


Quando é pedido que descreva a si mesmo, note qual é a tendência. O que você descreve como sendo você? Veja que há completa identificação com o objeto observado e é a ele que você se refere como sendo você. Por agora, apenas contemple isso, note, e aos poucos é possível que canse de descrever aquilo que é observado e volte para aquilo que observa.

Neste momento, você começa a notar que aquilo que está sendo buscando já está encontrado. Isso me lembra um poema que escrevi um dia, que dizia: “No seio da tua própria fantasia, já está encontrado”. Note que até mesmo a fantasia vem do nada. E isso é o cerne do nosso encontro. Viemos do nada. O nada é tudo. O nada é exatamente o que você é, e isso é indescritível.

O ambiente do Zen transita justamente no indescritível. Este é o papel de um koan, descrever o indescritível. Diga-me: qual é o som de uma só mão batendo palma? E neste ambiente você corre um sério risco de, por incapacidade de descrever o indescritível, considerar que o golpe do mestre é que seja o problema. A mente se desespera diante de tal incapacidade.

A perda da estrutura por estar face à face com o vazio é tamanha. Chega um ponto em que já não há mais pé nem cabeça naquilo que antes parecia tão real. Não volte atrás. Uma vez visto, vamos, calmamente, questionar a veracidade do objeto observado como sendo você.

Olhe com atenção: se você fosse o objeto observado, quem o estaria observando? Acorde! Não mais se confunda com o que é visto, sentido, tocado, imaginado, pensado, cheirado, ouvido... Você é aquilo que, simplesmente, observa todos os fenômenos em ocorrência. Você não pode ser um fenômeno, porque os fenômenos têm inicio, meio e fim. Assim, como você poderia ser algo que passou? Tudo, absolutamente tudo, passa e quem você é, de verdade, permanece intacto, aqui e agora – onde tudo passa e nada acontece.

quinta-feira, outubro 20

uma xícara, uma pessoa, um rato, uma flor, uma porta, uma vaca ou o sonho do sonho

Depois que perceber quem você é, ou você mente ou está com a Verdade. Eu pergunto: Como seria se você não acreditasse absolutamente nas histórias que parecem ser suas? Quem seria você sem as histórias recontadas? Como seria se houvesse a possibilidade de não se identificar com as histórias como sendo você?

Participante – Nossa! Seria o céu na terra.

Isso é possível somente aqui e agora! E a responsabilidade é toda sua, porque você é o descritor.

Participante – Percebo que em uma fração de segundo dá para ver que não sou o que está aparecendo, e na outra fração de segundo tem a história me pegando de novo. É como se eu tivesse vendo e sendo visto também.

É como eu já falei: no começo é como um vai e vem. Porque aquele que descreve o tempo todo, de uma certa forma, descreve a si mesmo também. Permaneça batendo na tecla do “Eu não sou isso” e, principalmente, não se importe com isso. Identificar-se e descrever é o “trabalho” da mente. Agora descubra qual é o seu.

Há algo que tem sido longamente ignorado e incompreendido. Aquilo que você é, não precisa ser salvo, nada precisa acontecer. O único problema é o que chamei de “engano universal”, o pecado universal do ser humano: ele pensa que é o sujeito. É como se, ideologicamente, fosse inaceitável descrever a si como um objeto. Mas a verdade, nua, é que somos objetos tanto quanto todos os outros objetos, dentro da Consciência.

O câmbio que precisa ser feito está no fato de você se identificar com o objeto que aparece – assim como todos os outros objetos – ou mudar-se para a morada daquele, ou daquilo, que Observa.

As pessoas estão lutando para serem diferentes de uma xícara, enquanto não são. Não há diferença entre uma xícara, uma pessoa, um rato, uma flor, uma porta, uma vaca... Tudo é divino! Partindo desse “ambiente” que estamos falando, não tem diferença entre este objeto e aquele objeto.

Por favor, afine o seu sistema, note que todas essas ideias são extremamente antigas, mofadas... cheias de fungos. As diferenças são relativas e não é disso que estou falando. Estamos aqui para encontrar e habitar – por direito – o ambiente onde não existem diferenças.

Aproxime-se, acomode-se e veja que o objeto observado nunca vai acordar. O objeto observado não somente é um sonho como é a pura incapacidade de acordar. Ele é um sonho que se sonha. Descubra o que é que anima o objeto observado. Descubra, em outras palavras: quem é você?

terça-feira, outubro 18

o pavão e o espelho vazio


Você é um espelho vazio. A Consciência, aquilo que você é, de verdade, é um espelho. Por toda uma vida, em equívoco, esse espelho tem colecionado poeira, tem colecionado camadas e camadas de coisas. Há uma tese, portanto, de que este espelho esteja totalmente nublado pelo passado, e esta é uma tese vastamente aceita.

A partir disso, imprimiram sobre você a ideia de que métodos e instrumentos são necessários para que este espelho seja limpo. No entanto, estamos aqui para ressaltar, de maneira simplificada, a natureza original do espelho. Sem nenhuma necessidade de método, é possível realizar que a natureza do espelho é incorruptível. O espelho, portanto, permanece incólume, sem nenhuma identificação em relação à poeira ou qualquer objeto diante dele.

É apenas uma tese que assume que o espelho se suja, e você aceita em ignorância. Na verdade, não é isso o que acontece.

Um pavão para diante de um espelho e o espelho pacificamente reflete aquele objeto. Repito: apenas reflete. O pavão tende a pensar que ele é o espelho, mas o espelho jamais se confunde quanto a isso, ele não pensa ser o pavão. E, uma vez que o pavão se vá, o espelho permanece sendo ele mesmo, mantendo intacta a sua natureza.

Um burro para na frente do espelho e por dez anos ele é refletido. Durante todo o tempo, ele pensa ser o espelho. Porém, o espelho nem sonha ser o burro. O espelho sabe que aquilo é apenas uma fumaça, de passagem, de visita. E, principalmente, sabe que deve ser tratado como tal.

Jamais há a necessidade de expulsar qualquer objeto à sua frente, porque nenhum objeto é capaz de afetar a natureza do espelho. O espelho sabe disso, o burro, não. O burro se vai, no entanto, e o espelho permanece intacto, sem nenhuma marca ou memória.

Estamos aqui, na tentativa de promover o vislumbre de que tudo o que está acontecendo são reflexões no espelho da consciência que você é. Dependendo do contexto em que se encontre, pode parecer árduo e esta é a razão de nos encontrarmos onde é promovido o contexto aproximado à possibilidade dessa visão.

Coloque, então, toda a sua energia na clareza, no silêncio, na observação. Verifique a temporariedade de todos os objetos observados e, ao mesmo tempo, note a eternidade daquilo que observa.

segunda-feira, outubro 17

ilha-da-mente e a ver-dade



A mente pensa que é o observador e tenta descrevê-lo; porque, no sistema em que se encontra, ela só sobrevive na contenção dos conceitos. Por isso, quando é proposta a soltura do não-saber, ela não consegue. A proposta, em Satsang, é que você verifique exatamente isso.

Os parâmetros desse trânsito que proponho, repousa no dualismo entre a Verdade e a mentira como sendo opostos. Tem a ilha da mente e tem a capacidade do ver. Traduzindo: tem a mentira e a Verdade. Observe com qual das duas possibilidades você estabelece uma relação mais amorosa, mais silenciosa, mais tranquila e mais pacífica.

A mentira se apega à descrição dos objetos observados. A Verdade é a capacidade de ver e a realização de que aquele que vê nunca é transformado num objeto, portanto, não pode ser visto. Aqui, você permanece como pura subjetividade e suspende toda a sua existência na capacidade de ver, sabendo que esse ver não é interrompido jamais.

Dê-se conta disso. E esse dar-se conta implica no próprio ver vendo a si mesmo. Estamos diante de algo místico, portanto – místico porque rompe a razão. Em níveis objetivos aquele que vê não pode ser visto. No entanto a experiência mística pressupõe ver aquele que vê – transcende a lógica.

Enquanto você permanece com todo o seu olhar para fora, descrevendo os objetos observados, diante da proposta aberta em Satsang, se abre a possibilidade de ver aquele que vê. Quando isso acontece, rompe-se algo no seu sistema. Diga-se de passagem, pode ser que essa ruptura já tenha ocorrido algumas tantas vezes, mas o sistema não se permite permanecer rompido, ele se reconstitui muito rapidamente – em tese. Até que, insistentemente, afastando-se da identificação com o objeto observado e aproximando-se mais e mais da observação como sendo você, esse ambiente da ruptura toma proporções muito maiores e se torna a sua morada.

sábado, outubro 15

a consciencia do pó


















Satsang propõe, através de uma aparente conversa, que você se abra e vá de encontro às suas crenças, dando-se conta que tudo o que você imagina pode ser apenas imaginação.

O mundo, tal qual é percebido, não passa de imaginação. Porém, a Consciência que você é, não é imaginada. A Consciência não pode ser imaginada, não tem como imaginá-la – ou você a vê ou fica imaginando coisas que não têm nada a ver com o que ela é, de fato.

Conflito existe porque imaginamos uma série de diferenças. Israel briga com a Palestina porque se imaginam (com interesses) diferentes uns dos outros. A imaginação gera o conflito. Portanto, como continuar imaginando coisas, se essa imaginação só nos leva à destruição, à discórdia e ao conflito?

Está na hora de pararmos de imaginar e começarmos a Ser. Somente nesse "Ser" é criado um ambiente completamente seu. Ser é paz. Ego é discórdia, conflito. E ainda há toda uma ideologia por trás disso. A ideologia diz que você não pode concordar com todo mundo. O que está implícito, inconscientemente, nisso? Que você tem que discordar de todos, necessariamente, para ser você.

Porém, em Satsang, ser “você” implica exatamente em “concordar” com todo mundo, com o que está posto, porque tudo é você – você é idêntico a todos, somos o mesmo do mesmo.

Você vive no mundo das crenças e quer construir sua nova morada começando pelo telhado. Pare um pouco e veja que, desse jeito, não vai dar certo. Você não pode começar pelo telhado, deve começar pela fundação. Se a fundação não está boa, a casa não vai ficar boa, ela vai cair. E é exatamente assim que o mundo se encontra: as casas estão caindo.

Atente para o fato de que as diferenças repousam no conteúdo da sua mente, no conteúdo das suas experiências. E essa diferença é falsa, é imaginada. É tudo falso! A verdade é que tudo é a mesma coisa. Não importa se você é rico, pobre, inteligente ou não… Viemos do pó e retornaremos ao pó. Então, ficar vazio, sem nada nas mãos, é o nosso único propósito aqui. Isso é Satsang, de verdade.

quarta-feira, outubro 5

o cheio do vazio e o vazio do cheio


















Encontrar a si mesmo, pode parecer complicado, mas é muito mais simples do que você imagina – pelo irrevogável fato de você já ser você e não haver a menor chance de não ser. É por isso que você não encontra a si mesmo, porque você é aquilo que você está buscando.

Com a ideia que te foi dada, você subentende que há alguém que busca e algo a ser encontrado – um sujeito e um objeto – e que você pode escolher quem você é: o sujeito ou o objeto. Mas estou aqui para tentar fazê-lo compreender que qualquer escolha que você faça, não é você!

A proposta é ficar de cara com o vazio, o indefinível, o sem-forma, o sem-nome, o infinito... Aquilo que não pode ser medido ou percebido pelos sentidos. Mas, quando encontra este vazio, você teme que não seja bem isso, porque não foi exatamente o que você leu – e interpretou – nos livros.

A verdade é que não tem como saber, a menos que você confronte e veja por si mesmo. Especular antes de se jogar no abismo é vão! O convite é antes de pensar, você se jogue. Deixe para pensar depois.

O abismo do qual estou falando é você. Confronte o que, de alguma forma, as pessoas têm dito que é inacessível e amedrontador. Não esqueça que isso é apenas uma ideia emprestada de alguém. A mente concebe o Vazio como vazio, mas será que é mesmo? E se o vazio for cheio e o cheio que a mente concebe for vazio? Pare e observe carinhosamente aquilo que a mente chama de “cheio” e veja que tudo é tão vazio...

Você comprou o carro do ano e se sente cheio. Mas o ano passa e logo esse cheio se torna vazio, e você precisa de outro carro. Assim, o desejo enche de vazio a sua vida. Satsang, portanto, aponta para a satisfação do Vazio que contém tudo e todas as coisas. Questione-se! E não esqueça que o primeiro passo em direção a este vazio, é saber quem é você.

segunda-feira, outubro 3

paz e pensar



Você tem ideia de quantos métodos já foram propostos, para que parássemos de pensar? E a oferta é proporcional ao interesse em que isso aconteça. Porém, trago algumas novidades a respeito dos pensamentos. Nenhum outro método será proposto, pois, a novidade que trago é que você não precisa parar os pensamentos. A partir de hoje, convide-os a ficar. Deixe que eles fiquem. Dê-lhes as boas vindas!
Esta é minha fatídica proposta, simplesmente, porque você não é os pensamentos. E você, quem você é em originalidade, radicalmente, não pensa.Você pensa que pensa, porque você
Se confunde, se identifica, com aquele que pensa. Mas VOCÊ não pensa! Então, convide os pensamentos a ficarem. Por que brigar com eles? Eles não são seus, são apenas pensamentos, ruídos assim como os sons dos carros que passam. E tudo isso é periférico a você.
Já imaginou se, para encontrar a paz, você precisasse que todos os carros parassem; e que todas as vozes se calassem; e que todas as chuvas não chovessem; e que todos os dias quentes não fossem dias quentes; e que todos os dias frios não fossem frios; e que todas as dores de barriga, não fossem dores de barriga? Assim, você teria uma possibilidade ínfima Se pensar assim, você está no caminho errado, está olhando para fora.
Provavelmente, você já tentou parar os pensamentos, parar os carros... Assim como já cogitou viver numa casa na colina, para que a paz desejada, fosse alcançada. No entanto, após algum tempo diante desse cenário, não havia paz, tampouco – a paz ali encontrada era temporária. Então, inteligentemente, você pode relevar que haja algo errado nessa busca. Aliás, arrisco dizer que a própria busca esteja errada.
Alguém colocou na sua cabeça que você tem que buscar a paz, e você acreditou. Até porque, antes mesmo de dizerem isto, disseram que você não estava em paz e deveria começar a buscá-la. Acreditando naquilo que parece comum a todos que te cercam, sem questionar, essa busca se instala voltada extremamente para o lado de fora.
É dito que devemos comer apenas certos tipos de comidas, que devemos praticar alguns tipos de exercícios... E tudo isso, numa certa medida, o deixa “em paz”. Mas esta é uma paz relativa. Não se trata da Paz compartilhada pelos budas. Essa paz alcançada através de algo é temporária e desaparece assim que alguém pisa no seu pé ou derrama vinho na sua roupa. E a noção de perder a paz, traz um agravante ainda pior – que é a ideia de que você precisa se aperfeiçoar: meditar mais, por exemplo.
Seguindo a confusão coletiva, você olha para si mesmo como um ser imperfeito, em necessidade de perfeição, e tenta aperfeiçoar-se. Mas até quando? Até quando irá buscar a Paz dessa forma? Será que você vai conseguir? Descubra o que é que está faltando alguma nessa equação, pois a verdade é que você não precisa ir em busca da paz, porque ela nunca esteve separada de você. Apenas atente para isso e veja a paz que você é.