Participante – Satya, pelo que tenho acessado através dos nossos encontros, compreendo, então, que a proposta é, cada vez mais, se manter tranquilo como o espelho diante daquilo que está passando.
Não, a proposta é que, cada vez mais, você note que o espelho está tranquilo em frente àquilo que está passando. Não se mantenha focado no objeto, porque é exatamente a percepção de que o espelho está tranquilo, que “des-mantém” você. Compreende?
Participante – Sim, compreendo. É que, o que acontece normalmente, é: quando algo perturbador está sendo refletido, nós ficamos perturbados com o que está sendo refletido...
Observa o seguinte: algo está sendo refletido e você fica perturbado com o que está sendo refletido. Note se a perturbação não é mais uma reflexão. Porque, percebendo isso, você há de chegar ao espelho, que não está perturbado. O único problema é identificar-se com os reflexos.
Observe atentamente... Algo está acontecendo, e o perturbou. Essa perturbação é mais uma reflexão ocorrendo diante do espelho ou é o espelho, de fato, perturbado? O que estou querendo dizer é que, se uma perturbação surge, veja que é o objeto observado – esse sistema corpo-mente que equivocadamente é chamado de “você” – que está perturbado, e ele não é você. Você está por trás, observando o objeto perturbado, a perturbação e aquilo que a causou... Você é pura observação, a atenção sem escolha.
Isso implica que você não precisa evitar a perturbação. Você não precisa “des-perturba-se”, porque aquele que está perturbado não é você. Quem está perturbado é o objeto observado, e ele pode estar perturbado – tanto que está. Porém, nem sequer um único adjetivo pode ser acrescentado à observação que você é.
O objeto está perturbado e você o observa. Estamos entendidos?
Participante – Nesse momento, percebo que eu não tinha entendido nada. Mas ao mesmo tempo é como se eu pudesse ver o que você estava apontando. Me ocorre que às vezes eu tenho dificuldade para acompanhar, porque ora a mente está mais calma e em outro instante não está. Mas você falou agora e tudo clareou de novo.
Esse é o verdadeiro propósito de estarmos aqui – não há nenhum outro. Se quer saber a minha proposta, proponho que você, simplesmente, investigue aquilo que está sendo levantado e permaneça quieto. Não se mova, tampouco se comova com os reflexos diante do espelho. O espelho permanece infinitamente vazio – e isso é o que você veio resgatar aqui.
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