Sendo o objeto um sonho, uma projeção da Consciência, a menos que a Consciência projete, sobre o objeto, possibilidades de mudança na direção em que o objeto projetado deseja, há alguma possibilidade de mudança?
Dizendo de outra maneira... O personagem de um filme, que está fadado a fazer aquilo que está no script, mesmo que ele tenha ideias de não fazer aquilo ou fazer diferente, se não estiver no script, ele tem chance de não fazê-las?
É hora de notar que isso que você tem identificado como sendo você, é um personagem dentro de um filme. Desse modo, se esse personagem tem a ideia de que ele não quer mais estar no filme, ele não conseguirá sair do filme, pois apenas a sua vontade não é o suficiente.
Essa noção de libertação nasce no objeto, no personagem. Mas o personagem não pode se libertar. O objeto personagem está fadado a ser personagem, quer esteja pensando que está preso ou que está livre. Mas ele continua sendo um personagem no filme pensando ou sentindo ou que quer que seja.
No entanto, o que deve ficar extremamente claro para você é que do ponto de vista absoluto, nem você é o personagem, nem existe libertação ou prisão. É notável historicamente que há tamanha confusão a respeito de libertar-se.
Voltando ao tema do “espelho vazio”, que elucida muito bem... Diante do espelho, o objeto deseja tornar-se o espelho. Mas isso não passa de uma ideia. O objeto se pensa sujeito e é aí que começa todo o enredo. Não há maneira do objeto tornar-se o espelho vazio.
Um dia, nas minhas mais selvagens fantasias eu imaginava que, em dado momento, deixaria de sentir certas coisas. Eu imaginava que havia um estado de ser onde determinadas sensações e pensamentos não mais estariam presentes. Mas agora vejo, e os convido a ver, que esse estado não existe. E é aí que a porca começa a torcer o rabo. Porque você começa a compreender, como diz a música do Gil, "esse caminho que ao findar vai dar em nada do que se pensava encontrar".
A partir daí, nasce a compreensão de que, sem caminho, não há onde chegar e, principalmente, não há quem chegue. Essa é toda a compreensão necessária. Pare de imaginar o que quer que seja e entregue-se exatamente, aqui e agora, ao que está posto.
O personagem permanece enquanto personagem, tente compreender isso e trate de cuidar com carinho do papel que lhe couber. Sabendo que você não é o personagem, é possível voltar-se para o espelho e estará diante de uma percepção absolutamente nova a respeito de si mesmo e do mundo.
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