Quando é pedido que descreva a si mesmo, note qual é a tendência. O que você descreve como sendo você? Veja que há completa identificação com o objeto observado e é a ele que você se refere como sendo você. Por agora, apenas contemple isso, note, e aos poucos é possível que canse de descrever aquilo que é observado e volte para aquilo que observa.
Neste momento, você começa a notar que aquilo que está sendo buscando já está encontrado. Isso me lembra um poema que escrevi um dia, que dizia: “No seio da tua própria fantasia, já está encontrado”. Note que até mesmo a fantasia vem do nada. E isso é o cerne do nosso encontro. Viemos do nada. O nada é tudo. O nada é exatamente o que você é, e isso é indescritível.
O ambiente do Zen transita justamente no indescritível. Este é o papel de um koan, descrever o indescritível. Diga-me: qual é o som de uma só mão batendo palma? E neste ambiente você corre um sério risco de, por incapacidade de descrever o indescritível, considerar que o golpe do mestre é que seja o problema. A mente se desespera diante de tal incapacidade.
A perda da estrutura por estar face à face com o vazio é tamanha. Chega um ponto em que já não há mais pé nem cabeça naquilo que antes parecia tão real. Não volte atrás. Uma vez visto, vamos, calmamente, questionar a veracidade do objeto observado como sendo você.
Olhe com atenção: se você fosse o objeto observado, quem o estaria observando? Acorde! Não mais se confunda com o que é visto, sentido, tocado, imaginado, pensado, cheirado, ouvido... Você é aquilo que, simplesmente, observa todos os fenômenos em ocorrência. Você não pode ser um fenômeno, porque os fenômenos têm inicio, meio e fim. Assim, como você poderia ser algo que passou? Tudo, absolutamente tudo, passa e quem você é, de verdade, permanece intacto, aqui e agora – onde tudo passa e nada acontece.
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