quarta-feira, agosto 31

no bolso vazio, a chave


O Silêncio é o único refúgio: voltar-se para dentro, para “isso” que não é possível entender logicamente, mas que está aqui e agora, presente.
 
O alimento dessa Presença é notá-la. Aproxime-se disso e veja como a sua mente se comporta, veja que a mente fica mais silenciosa. A Consciência está presente, está nutrida e vai com você aonde quer que você vá. Ainda que você mantenha a tendência de voltar-se para o conteúdo, por várias razões, o convite proposto em Satsang é que você se renda.
 
Isso que não sabemos o que é – que estamos chamando de “Consciência” – estará presente com você a todo instante. Você está livre e não precisa nem tentar ser feliz. Veja que felicidade!
 
A verdadeira felicidade vem quando você para de tentar ser feliz – isso é completude. Não há nenhuma ligação com o ontem ou o amanhã. Você pode ficar feliz com o que quer que seja; até com a tristeza – cada um com seus brinquedos. Tem um ditado em inglês que diz: “The diferece between men and boys is the price of the toys”. “A diferença entre homens e garotos é o preço dos brinquedos”.
 
Mas, no nosso caso, não é nem o preço dos brinquedos. O que nos traz aqui é a profundidade dos brinquedos. Este jogo que estamos jogando é para muito poucos. Aqui, você está arriscando a sua vida. Portanto, examine todos os bolsos, não evite nenhum. Se há algum bolso pendente, intocado, tenha coragem! Mesmo que trêmulo, ajude a mão esquerda com a sua mão direita e investigue. Não preserve nada! Seus bolsos devem estar vazios...

terça-feira, agosto 30

agora, a presença silenciosa


Há uma espécie de mágica provocada em Satsang e eu não sei qual é, nem quem a está fazendo. Apenas não canso de repetir: “Desaloje-se! E vá para o centro.” Sem definir a si mesmo segundo a opinião dos outros ou a sua própria, o que é você?
 
Observe o que vem a ser gerado através dessa investigação. Todo apontamento, aqui, sempre será coerente com uma única coisa: não tem ninguém no timão e não tem o lugar certo para ir. A partir disso, o convite se restabelece a respeito de aquietar-se, aqui e agora, olhando para dentro. E através desse movimento, nesse aquietar-se, você pode afirmar que você é aquilo que está no coração de todas as experiências.
 
Desaloje-se e veja! Aproxime-se... Permita que eu seja tão ordinário quanto você. Chega de se confundir! Os mitos invocam distância – e isso é literal, não é metáfora! Eu faço e gosto de coisas tanto quanto você. Portanto, estou aqui como um amigo. Devemos nos aproximar daquilo que inclui absolutamente tudo, sem que nada seja devassado ou excluído pelo que quer que seja – não importa o que seja.
 
O mundo está cheio de moralistas, mas eles não têm peso – embora sejam muito pesados. Aliás, a gravidade deles está exatamente no fato de insistirem nos véus. Portanto, a brincadeira divina é nada mais, nada menos que relaxar e ver que está tudo perfeito. Não se preocupe! Apenas olhe para dentro e reconheça essa visão, a partir de dentro, como sendo você.
 
Você não é a sua história. Você não é aquilo que você está vendo. Aproxime-se e podemos elaborar isso tanto quanto você quiser; podemos conversar, pacientemente e diretamente sobre o que importa. Não perca a chance de olhar para dentro, sem história nenhuma. Qualquer comentário ínfimo a respeito de nada, não te diz respeito.
 
Instale-se no agora. Instale-se no aqui. E, só para facilitar: saiba que não existe instalação possível no aqui e no agora feita por alguém. Não tem como ter alguém no aqui e agora.  No aqui e agora tudo some, só fica a presença silenciosa que você é, sempre foi e sempre será.

segunda-feira, agosto 29

aquilo, onde tudo ocorre


O Silêncio é onde milhões de possibilidades podem ocorrer. Então, veja se me entende, o que quer que seja que você esteja pensando, é apenas uma possibilidade, no meio de tantas outras. E nossa conversa não implica em escolher uma possibilidade. Proponho que veja que você é aquilo onde todas as possibilidades estão em permanente ocorrência.
 
Nisso, existe uma textura, um sabor... Mas para chegar a isso, é necessária uma abertura. Eu estou usando o termo abertura para a verificação de que tudo aquilo que você acredita como sendo apenas crenças, não são a Verdade, não são a Realidade. Crenças são altamente discutíveis.
 
Aceitando o Silêncio como possibilidade, ele se revela não como um objeto no espaço e no tempo, mas sim como algo além, transcendental. Ele se revela como algo incorruptível e totalmente disponível a quem quer que seja que ouse averiguar, de uma forma mais clássica, de onde viemos, para onde vamos e o quê estamos fazendo aqui.

sábado, agosto 27

observação imparcial






A Observação é totalmente imparcial - 
nem aceita, nem rejeita.

(...)
 
No momento em que eu aceito: eu elevo.
No momento em que eu rejeito: eu rebaixo.

(...)

Observe: O que está acontecendo agora que não deveria?

sexta-feira, agosto 26

perfeito no imperfeito





Lanço um desafio: abandone toda a sua história, largue mão daquilo que considera imperfeito, e me prove que você não é perfeito. Prove que você não é aquilo que está no fundo do coração de todas as experiências, absolutamente independente do que esteja acontecendo do lado de fora.

Mas você não consegue viver sem uma história. Aliás, vou até refrasear: não existe “você” sem história! E é aí que começa o chamado de Satsang. A proposta é que você se dê conta que, sem história, não tem “você” em lugar nenhum.


Portanto, se você quer permanecer “alguém”, continue com a história. Mas, definitivamente, Satsang não pode te servir. Do contrário, se há algum anseio em parar com as histórias, fique aqui e olhe para o lugar certo. E, como parte do desafio, cabe negar, tanto quanto você puder, o imperfeito; e permanecer olhando para o perfeito, esquecendo a história.

Ram Tzu disse: “Você falha em ver a Verdade, porque ela é muito plana de se ver, e você acredita em todo o tipo de merda!” Não é mesmo? Não é verdade que existem pilhas e mais pilhas de problemas a serem resolvidos, antes de olhar para o lugar certo? Não! Não é verdade! Investigue e veja que essa é mais uma história na sua mente.

A proposta de Satsang não é aceitável para a maioria da humanidade, e é por isso que somos poucos aqui. Conta-se que Ramesh Balsekar esteve nos EUA por dois meses falando, dando Satsang, todos os dias. E, das pessoas que iam vê-lo, 95% não voltavam.

Assim, se você permanece aqui, atenda ao chamado: engate a primeira marcha e olhe para o perfeito. Este é o único lugar que te acomoda de verdade. Não é nas histórias que você vai encontrar paz. Não está do lado de fora! Tome muito cuidado! Por mais perfeito que pareça o lugar que você está pisando, não é do lado de fora que está a paz que te acomoda. Estamos aqui, exatamente, para ver o que está no coração de todas as experiências. Vá fundo, até o fim.



quinta-feira, agosto 25

vinte e um segundos

















Você realmente acredita nesse material gerado pela mente? O quê você está seguindo, exatamente? Não proponho que pare de seguir a mente e siga uma outra coisa, estou apontando a possibilidade de que você, simplesmente, pare de seguir. Pare de seguir e veja a resposta que vem de dentro, gerada por você e para você – até porque não existe nada além de você.

Renda-se! Experimente! Pare de ouvir a sua mente. Primeiro comprometa-se com apenas vinte e um dias. Esse é um tempo suficiente para ocorrerem, inclusive, algumas mudanças celulares... Por vinte e um dias, não ouça a sua mente. E, ao final, se gostou da experiência, a repita por mais vinte e um dias. Até que, quando menos esperar, por que não viver dessa maneira para o resto da sua vida?

Pondere: você quer viver o resto da vida na sua mente? Se, de alguma maneira, se aproximou de Satsang, existe uma grande possibilidade de que você já tenha antevisto a tragédia que é viver dessa maneira. Dessa forma, vamos combinar: por vinte e um dias, não ouça a sua mente. Ok, posso estar sendo muito exigente. Então, comece com vinte e um minutos. Experimente! Não ouça a sua mente por vinte e um minutos. Quem sabe por vinte e um segundos...

Olhar para dentro é disciplinar-se, a ponto de não se envolver com os acontecimentos. Isso não implica em não ver, não ouvir, não sentir. Sinta! Até porque não tem como ser de outra forma. Mas mantenha a clareza de que eles não têm significância nenhuma.

Deixe que tudo passe sob total consciência, sem repressão nem negação. Seja apenas a presença consciente, vendo que aquilo que vem, também vai. Não julgue nada! Mesmo diante dos acontecimentos mais terríveis, não se envolva. Permaneça incólume, exerça a sua natureza. Você não é quem você pensa que é. A sua natureza é observação! Observe.

quarta-feira, agosto 24

observação: tudo passa
















A mente vai e vem, e isso é inevitável. O meu ponto é onde você coloca sua atenção. O que você alimenta? Você ainda fica no pensamento, colocando gasolina nesse fogo, ou o apaga?

Na verdade, proponho que nem apague nem acenda, simplesmente não faça nada. Isso é o não-fazer, simplesmente não se envolva. Se está diante de um inferno, deixe-o, aceite-o do jeito que está. Quando você não se envolve e não se apega às coisas, elas não são um problema, são apenas algo acontecendo e que passará. E nada precisa ser feito, porque tudo passa. Sabendo que tudo passa, que necessidade tem de fazer alguma mudança ou interferência? É nesse ponto que existe descanso, relaxamento, paz.

Participante  E se pisam no meu pé e vem a raiva, também não devo impedir isso, certo? Acontece uma série de coisas e você só observa aquilo acontecendo.

Não é nem você que observa. A Observação observa. Pisaram no seu pé e você ficou com raiva? Fique com raiva, qual é o problema? Tudo é perfeito do jeito que está, você não precisa fazer nada. Existe somente a necessidade de ver Aquilo que você é, e descansar nisso. A raiva desaparece.

A mente tenta fazer uma construção coerente do tipo “como é que eu vou agir a partir de agora”. A minha única resposta para isso é: você não pode se preparar para a vida – você está despreparado para a vida, essa é a realidade. Viva momento a momento. O que acontece, acontece. Deixe tudo como está, isto é perfeito. É claro que seria ótimo, termos um livro com a construção completa do que precisa ser feito para ficarmos sempre no ponto de equilíbrio, mas isso não existe! Não tem como. Aliás, em 1982, fiz uma única pergunta ao Osho: “Como?” E ele me respondeu: “Querido Satyaprem, quando houver um ‘como’, eu vou destruí-lo, não se preocupe.”

Tudo tem que ser incluído em você, nada pode ser deixado de fora. Se você se der conta que está deixando alguma coisa de fora, está indo contra a corrente. Por isso, deixe vir todos os maus pensamentos, tudo aquilo de que você tentou se livrar. Veja que nada o molesta, nada toca Aquilo que você é.

terça-feira, agosto 23

o sujeito pensado é apenas objeto



















Dando-se conta de que aquilo que você verdadeiramente é, não tem limites, o que pode aterrorizá-lo? Não tem nada fora de você! O medo, a angústia, a ansiedade... todos esses sentimentos são periféricos, acontecem na ideia de separação. No momento em que você olha e vê que não está separado, tudo isso se torna irrelevante, sem sentido.

Você pode fazer o que quiser, e não muda absolutamente nada. Tudo é uma grande brincadeira.

Participante — A nossa mente lógica diz: “Você está fazendo isso, você fez aquilo...” Mas, se estou entendendo o que você está querendo nos passar, vejo que não estamos fazendo nada, apenas somos uma manifestação da Consciência.

Sim. E não se trata da Consciência estar em você – só existe a Consciência! Você é a Consciência. Afinal, a onda deixa de ser o oceano quando ela se manifesta?

Participante  E quando fazemos algo, que parece que não estamos fazendo, é a Consciência fluindo?

É ela que está fazendo. Sempre! Mas, geralmente, você não percebe.

Participante  O corpo está presente apenas como um mero objeto.

Você é um mero objeto para a subjetividade pura que a Consciência é. E neste momento você assume uma infinita liberdade, fazendo aquilo que está nas suas mãos e largando de mão todo o resto. Apenas celebre! O que quer que seja que tenha que se manifestar através de você, não pegue como pessoal. Você não é uma pessoa!

Tudo é manifestação da Consciência, não tem nada fora dela. É por isso que, do ponto de vista que Satsang nos convida a ver, aquela velha noção de céu e inferno desaparece. Onde tem céu? Onde tem inferno? Só na sua imaginação. Essa história tem apenas um papel de controle social e nenhum outro.

Você não vai a lugar nenhum – nunca foi e nem irá. Você sempre esteve, está e estará aqui e agora. Seja com uma noção equivocada de si como pessoa, com uma identidade, ou não.

segunda-feira, agosto 22

zen do céu de copacabana e o bom cavalo

















Conta-se que um filósofo chegou a Buda, para ter com ele uma conversa. Ele disse:
         Por favor, mostre-me o verdadeiro caminho.
Buda, sentado, permaneceu em silêncio. Até que, após alguns minutos, o filósofo se prostrou diante de Buda e afirmou:
         Sim. 
Ananda, um discípulo próximo que estava ao lado de Buda, disse:
         Como pode?  Nada foi falado e aquele homem saiu daqui cheio de compreensão...
Buda fez apenas o seguinte comentário:
         Um bom cavalo se move com a sombra do chicote.


Todas as experiências que você teve até hoje, apenas servem para mostrar que nenhuma experiência pode revelar quem você é. Na verdade, são as experiências que o mantém preso naquilo que você não é.

A mente está sempre em busca de novas experiências, e somente quando você cansa de ter experiências e decide não mais buscar por elas, se abre a possibilidade da não-experiência. Buda chamou de “shunyata”, a experiência zero, a experiência da não-experiência – que ocorre aleatoriamente, em profundo mistério.

Note que algumas vezes, sem nenhuma sequência lógica, você acaba ouvindo certas coisas de maneira diferente. Por isso, não se leve tão a sério. Levar-se a sério pode o confundir e talvez seja essa a maior de todas as drogas.

Há uma ordem oculta e aleatória. Não tem caminho correto, e isso é o que deve ter ficado claro para Ananda, no momento em que questionou a maneira que aquele filósofo se deu conta daquilo que Buda estava transmitindo.

Isso me lembra o modo como uma amiga se tornou sannyasin. Ela estava caminhando numa rua em Copacabana e, de repente, um livro caiu na sua cabeça. Ela pegou o livro e lá estava Osho na capa. Mesmo ouvindo uma certa gritaria vindo do alto do edifício, ela foi embora com aquele livro, e mais tarde o leu. Foi assim que Osho apareceu em sua vida.

Eu reitero: não se leve a sério, não tem caminho correto. Na verdade, não tem caminho. Portanto, não condene nem gere expectativas, permaneça presente à observação.  

jornal da cidade - bauru/sp - caderno SER

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sexta-feira, agosto 19

o colapso das possibilidades ou pensando morreu um burro



















Não proponho um caminho. Proponho que você reconheça por si mesmo o que é a boa companhia,  o que é a Verdade. Veja! Só existe um obstáculo. E para ver quem é a boa companhia, para ver o que é a Verdade, é preciso estar desperto para o fato de que você é o único obstáculo. Você quem? Esse você que se pensa.

Dê-se conta que esse você é apenas uma construção mental, uma entidade dentro de infinitas possibilidades. E, sejamos francos, você escolhe possibilidades um tanto quanto defeituosas, enquanto existem milhares de outras possibilidades dentro deste momento. Porém, ainda assim, no contexto de Satsang, não está em pauta escolher nenhuma possibilidade. Está em pauta permanecer exatamente avesso a todas elas; permanecer, silencioso para ver que nenhuma possibilidade é a Verdade, que nenhuma possibilidade é a boa companhia.

boa companhia é exatamente onde as possibilidades ocorrem. Este corpo-mente sentado aí e este corpo-mente sentado aqui são possibilidades ocorrendo dentro da boa companhia.

Ao desprender-se da ideia de que “o experienciado” seja você, é revelada a verdadeira boa companhia – e, nesta revelação, existe a dissolução do percebido. De um ponto de vista quântico, o percebido se torna relativo – ele não é tão importante assim. Por isso eu insisto: quando “o percebido” não for mais tão importante, outras possibilidades penetrarão no seu campo de percepção. E, neste sentido, você não mais estará sendo guiado pelo colapso da possibilidade engendrado pela sua mãe, mas, sim, por uma nova nascença.

Você é o seu criador exatamente neste instante. E, entenda, estou me referindo a este Você onde as possibilidades ocorrem. Este é o convite para que você se abra e abandone qualquer ideia a respeito de si mesmo. Não tendo ideia nenhuma a respeito de si nem a respeito de coisa alguma, evidencia-se a presença disso que eu chamo de um não-lugar onde um campo infinito de possibilidades está prestes a ocorrer.

quinta-feira, agosto 18

uma flor não é uma flor



















Dê-se conta que qualquer que seja a sua decisão a respeito do que tem a ser feito e de como e onde deva ser feito, não passam de imaginação. Saiba que, se for anseio da Existência, com você ou sem você, há de acontecer aquilo que tiver que acontecer. Aquilo que te cabe fazer, você saberá muito bem fazê-lo, dia após dia. Este é o significado de “entrega”, trata-se de um “des-freamento”. Chega um ponto em que você se rende e deixa acontecer.

Aceitação não é um fazer, não é um ato, você não tem como cometer aceitação. Aceitação é a mera observação de que você não pode fazer nada em relação a coisa alguma, de verdade. Cabe apenas a percepção da fome, do cansaço, do amor... ou do que quer que seja que esteja acontecendo. Nada mais que isso!

A mente insiste em se antepor e decidir, enquanto as coisas aparecem e se resolvem por si. A mente dá sentido aos objetos e acontecimentos, mas isso não quer dizer que os objetos nem os acontecimentos sejam aquilo que a mente determina. Dentro da mente há divisão e separação, ou seja: limitação. No entanto, o convido a ver aquilo que é imortal – tem algo que não morre. Dar nome a um objeto é matá-lo. Definitivamente, uma flor não é uma flor.

Entregue-se, se puder, ou afaste-se. O nosso encontro é regido por uma única condição: o amor por algo que, de verdade, não sabemos o que é. Não sabemos por que estamos aqui, nem por que estamos questionando isso. Eu insisto, o convite é apenas: “Be here”.

Mas você não quer entregar-se, a mente não quer ser discípula, ela quer ser o Buda. Não se engane! Tudo não passa de palavras, conceitos. A razão de estarmos aqui está em simplesmente ser. Compreenda, não disse “ser alguma coisa”, estou dizendo: Simplesmente seja! E o nosso encontro é necessário apenas para lembrá-lo disso; para que você reserve, no seu dia a dia, a condição de simplesmente ser, cada vez mais e mais.

quarta-feira, agosto 17

o rito do templo do gato amordaçado

















Um mestre estava meditando com seus discípulos, enquanto um gato no cio, numa noite de lua cheia, começou a grunhir desesperadamente. O mestre, que seguia uma postura muito rígida, e por que não dizer “antiquada”, mandou amordaçar o gato. Os monges rapidamente correram e realizaram o pedido do mestre; e conseguiram finalmente meditar em silêncio. No dia seguinte, aconteceu a mesma coisa. Pegaram e amordaçaram o gato, e em seguida meditaram. No terceiro dia, o mesmo ocorreu. E isso começou a virar um hábito. Antes de sentarem, antes mesmo do gato gritar, os monges amordaçavam o gato. Um dia o mestre morreu e, ainda assim, eles continuaram essa prática: primeiro amordaçavam o gato e em seguida sentavam em silêncio. Até que o gato morreu. Mas nem isso os fez parar. Eles imediatamente saíram a procura de um outro gato. O que virou um ritual totalmente desconectado.

O que aconteceu? Eles perderam o ponto ou o quê? De que maneira isso tem a ver com você, com o encontro consigo mesmo? Todos os rituais podem ajudar a prorrogar e provocar um afastamento daquilo que é urgente! Investigue diretamente e veja quanto tempo você precisa para descobrir quem você é.

Aqui recorro a uma certa veia anarquista provinda de uma herança cultural, que diz o seguinte: não ajude quem está sofrendo, deixe-o a sofrer um pouco mais, até cansar, com a esperança que, de dentro desse desespero, ele desperte para aquilo que não sofre. E somente despertando para isso, é possível ver que o sofrimento era gerenciado absolutamente pela mente.

Portanto, o antídoto, às vezes, é não recorrer a nenhum paliativo. Esqueça o floral de Bach por um tempo! Perceba que aquilo que serviu a outrem ou mesmo a você num outro momento, não precisa ser trazido para o momento presente. Sofra até a exaustão do sofrimento.

A mente não aceita o simples, porque o simples destrói a possibilidade de sua existência. No simples, qual a necessidade de uma mente? Ela está sempre envolvida com o complexo. O seu gato sabe disso, o seu cachorro sabe disso, uma flor sabe disso... Namore-os um pouco e preste atenção. Veja como eles ficam todas as horas na maior absorção do ser, simplesmente sendo! Eles não estão nem um pouco preocupados se você vai mudar de casa ou de emprego, se você vai morrer, ou o que quer que seja. Estão imersos na presença.

Isso não quer dizer que não devamos exercer o dom que está implícito à condição do objeto corpo-mente, do sistema chamado “humano”. Mas afaste-se e veja que é apenas uma brincadeira. Ele tem uma função, use-a corretamente. Ele não tem como encontrar a resposta para a pergunta “Quem é você?”. Essa questão só pode ser respondida pelo Silêncio. Aliás, não se trata de uma resposta. Não tem resposta.

O impacto do nosso encontro passa por uma visão clara e direta. Nem mesmo podemos chamar de “caminho”, porque não nos leva de um ponto a outro. Você não precisa de ajuda e todo seu sofrimento se mantém apenas por ignorar essa realidade. Aproxime-se e ventile a possibilidade de não pensar mais tantas bobagens. Mantenha-se comprometido com a Verdade e, ainda que se apresente de maneira fragmentada, haverá a possibilidade de desmanchar-se em quem você verdadeiramente é.

terça-feira, agosto 16

a não-iluminação do objeto iluminado


























Descubra quem é que não está iluminado. Investigue: se você se vê como uma pessoa no espaço-tempo, limitado pela sua história, realmente, você não está iluminado. Disto não tenho dúvida e concordo com você. Mas o equívoco é que esse objeto no espaço-tempo não é você – este é o meu ponto. Enquanto você continuar afirmando que é esse objeto, esse sistema pré-programado no espaço-tempo, não há chance de iluminação.

Objetos não iluminam, objetos são iluminados. Portanto, você deve buscar a raiz da iluminação noutro lugar, não no objeto. O objeto é a manifestação de algo, é uma extensão de uma fonte. Onde ela se encontra? Vá direto ao ponto ao invés de se ocupar a respeito do objeto e seu comportamento. Veja quanto tempo você perde pensando a respeito de tomar ou não tomar coca-cola. Isso é masturbação mental!

Dê-se conta que é sempre a mesma coisa. Muda a situação, mas você cai no mesmo enredo. Por isso urge a necessidade de interpelá-lo a respeito de quem é você. E, a partir disso, invoco o segundo passo: renda-se! Renda-se ao que está aqui e agora! Renda-se ao silêncio presente. Esqueça toda essa história que a mente fica metabolizando, isso não passa de um vicio, de um mau hábito.

Daí a proposta do Zazen: apenas sente-se em silêncio e nada precisa acontecer. Não pense que você precisa de um incenso para olhar para dentro, não tem nada a ver com o ambiente. Nós já passamos do estágio hippie, aprecie um bom incenso sabendo que ele não tem nada a ver com o silêncio. Iluminação não depende de nada ao seu redor. Você pode estar em qualquer ambiente e todo e qualquer momento é propício.

Devo concordar que, para amaciar a carne, milhares de truques foram propostos. Mas chega um momento em que todos os truques devem ser removidos. Você tem que ficar nu, com uma única possibilidade: a possibilidade de confrontar a ideia que você tem de si mesmo. Veja se esta ideia subsiste no silêncio do agora. Este é o meu único convite e ele é muito mais simples do que você pensa.

segunda-feira, agosto 15

o copo d'água é uma flor no jardim do agora



















[Apontando para um “copo”, Satyaprem inicia sua fala, perguntando a um dos ouvintes presentes...]

– O que é isso?

Participante – Um copo d’água.

Você é descendente de japonês?

Participante – Sim, da 3ª geração.

Se você for ao Japão e pedir um “copo d’água”, eles te darão um copo d’água? Não. Eles não te atenderão, porque lá no Japão isso não é um copo d’água. A maioria das pessoas vive imersa nas convenções, como se fossem reais. Por isso, aqui, o meu apelo: é muito simples ver o que é convencional e perceber que ele é totalmente irreal. Acordar, portanto, é começar a se dar conta de que isso não é um copo d’água.

Questione-se a esse respeito e, eventualmente, com um pouco de sorte, poderá perceber a realidade dos objetos, assim como a sua. Comece vendo que, da mesma forma que isso não é um copo d’água no Japão, um japonês não pode chegar no Brasil e pedir um copo d’água do jeito que está acostumado a pedir no Japão, pois também não será atendido. Ou seja, a sua noção de realidade está totalmente comprometida.

É por isso que as pessoas gostam de viajar, porque, de repente, lhes é dado mais espaço. Num outro lugar, eles sentem que aqueles que eles são aqui, não precisam ser lá.  O que chega a ser crítico, em sua maioria, porque causa a necessidade de sair, de estar sempre indo a algum lugar para sentir-se livre. Conquanto “liberdade” não tem nada a ver com o lugar em que você se encontra.

Por isso o convido a fazer uma única viagem, só de ida, com acesso à Liberdade do seu ser. Note que, se isso não é um copo d’água – aqui vou dar um salto quântico –, você também não é isso aí sentado. Então, qualquer trabalho feito com esse objeto que você chama de “eu”, em nome de melhorar a si mesmo, é falacioso – e é por isso que não funciona.

Outro dia vi na TV, uma entrevista com um filósofo conhecido como o “filósofo anti-progresso”. Perdoem que eu não lembre o seu nome, mas o que me marcou foi justamente o fato da entrevista estar baseada nesse axioma: progresso existe? E o filósofo defendia que “progresso não existe, tudo será exatamente do mesmo jeito, sempre. Apenas parece que existe progresso, mas é ilusório”. Aqui, em nosso contexto, eu pergunto: por que não pode haver progresso?

Participante – Porque tudo está perfeito do jeito que está.

E para onde você olha para ver que tudo está perfeito?

Participante – Para o aqui e agora.

Este é o único movimento necessário. Só nesse lugar, tudo está perfeito. Porque do lado de fora não há perfeição. E, diga-se de passagem, não é por estar imperfeito que não há perfeição, é por causa dos seus olhos. Pois tudo está perfeito, sempre. Note!

Olhe as flores no jardim! Veja a tamanha criatividade... Nenhum de nós seria capaz de emular qualquer uma delas. Aliás, dê-se conta de que você não passa de uma flor – um pouco mais complexa, eu diria, mas tão bela quanto. Renda-se à magnitude do Todo! Note isso e comece a viver num estado de prece e agradecimento, ao invés de viver tentando mudar e melhorar, baseado nas ideias fantasiosas vindas de outrem, a respeito da realidade.

sexta-feira, agosto 12

experiência zero: um.






















A maioria das pessoas acredita que acordar – ou chegar ao cume da experiência humana – é um somatório de experiências. Porém, o clímax da experiência humana não é um somatório de experiências, é, ao contrário, a subtração de todas as experiências. A isso Buda deu o nome de shunyata, a experiência zero, a não-experiência.

Esta é a experiência onde aquele que experiencia não está presente, no entanto há algo que acontece. É difícil para a mente compreender, pois esta é a experiência da não-existência do experienciador. O cume dessa experiência é o momento em que experienciador se revela uma fantasia. Você tem defendido por toda a sua vida a manutenção de uma fantasia, enquanto o convite de olhar para dentro engendra a remoção do experienciador, porque essa é a verdade: não tem ninguém aí!

Dê-se conta que você acredita que não consegue ficar aqui e agora e, sabendo quem você verdadeiramente é, perceba que é impossível sair do aqui e agora. Essa é a única intenção do nosso encontro: através de uma investigação direta, proponho que você apenas questione todas as crenças que tem carregado até hoje como sendo verdade, como sendo você.

Veja! Seguindo a realidade proposta pela mente, somos um aglomerado de crenças, e é por isso que aquele que despertou para a realidade além das crenças o incomoda. Porque ele vem de encontro a esse aglomerado de crenças e rompe com essa estrutura. A minha proposta é muito simples: você não precisa acreditar em nada para ser você. Aliás, quanto menos acreditar, mais você é. Quanto mais você acredita, menos você é. Na verdade, você é – e ponto final. Mas as crenças o afastam dessa realização.

A mente é a faculdade do imaginado. Quantas coisas você imagina? É tudo imaginação – imagem em ação. Por isso o convite de aquietar-se e não imaginar nada. Experimente e veja o que acontece. É sensível agora!

Você imagina que tem que fazer alguma coisa para ficar aqui e agora, mas isso é um absurdo do ponto de vista cientifico, pois aqui e agora é tudo que existe. Ilustrando essa observação, para ficar ainda mais acessível, compartilho uma percepção que me ocorreu ontem, enquanto estava numa loja de discos. Havia um CD da Marisa Monte chamado “Universo ao meu redor”. Confesso que vi esse título e fiquei pensando: como ela pode estar rodeada pelo universo? Então quer dizer que o universo não é uni-verso, porque se o universo for universo, ou seja, o único verso, o todo, tudo, ela não pode ter uma existência separada dele. E, nesse caso, se o universo a está rodeando, significa que ela é uma coisa e o universo é uma outra coisa. Este é o jeito que o ser humano pensa, dualista. Todo o tempo estamos pensando de maneira equivocada, o meu intento está em convidá-lo a ver com seus próprios olhos o equívoco fundamental, que o leva a crer que você e o universo são duas coisas. Não há você, somente universo. Um.