Um mestre estava meditando com seus discípulos, enquanto um gato no cio, numa noite de lua cheia, começou a grunhir desesperadamente. O mestre, que seguia uma postura muito rígida, e por que não dizer “antiquada”, mandou amordaçar o gato. Os monges rapidamente correram e realizaram o pedido do mestre; e conseguiram finalmente meditar em silêncio. No dia seguinte, aconteceu a mesma coisa. Pegaram e amordaçaram o gato, e em seguida meditaram. No terceiro dia, o mesmo ocorreu. E isso começou a virar um hábito. Antes de sentarem, antes mesmo do gato gritar, os monges amordaçavam o gato. Um dia o mestre morreu e, ainda assim, eles continuaram essa prática: primeiro amordaçavam o gato e em seguida sentavam em silêncio. Até que o gato morreu. Mas nem isso os fez parar. Eles imediatamente saíram a procura de um outro gato. O que virou um ritual totalmente desconectado.
O que aconteceu? Eles perderam o ponto ou o quê? De que maneira isso tem a ver com você, com o encontro consigo mesmo? Todos os rituais podem ajudar a prorrogar e provocar um afastamento daquilo que é urgente! Investigue diretamente e veja quanto tempo você precisa para descobrir quem você é.
Aqui recorro a uma certa veia anarquista provinda de uma herança cultural, que diz o seguinte: não ajude quem está sofrendo, deixe-o a sofrer um pouco mais, até cansar, com a esperança que, de dentro desse desespero, ele desperte para aquilo que não sofre. E somente despertando para isso, é possível ver que o sofrimento era gerenciado absolutamente pela mente.
Portanto, o antídoto, às vezes, é não recorrer a nenhum paliativo. Esqueça o floral de Bach por um tempo! Perceba que aquilo que serviu a outrem ou mesmo a você num outro momento, não precisa ser trazido para o momento presente. Sofra até a exaustão do sofrimento.
A mente não aceita o simples, porque o simples destrói a possibilidade de sua existência. No simples, qual a necessidade de uma mente? Ela está sempre envolvida com o complexo. O seu gato sabe disso, o seu cachorro sabe disso, uma flor sabe disso... Namore-os um pouco e preste atenção. Veja como eles ficam todas as horas na maior absorção do ser, simplesmente sendo! Eles não estão nem um pouco preocupados se você vai mudar de casa ou de emprego, se você vai morrer, ou o que quer que seja. Estão imersos na presença.
Isso não quer dizer que não devamos exercer o dom que está implícito à condição do objeto corpo-mente, do sistema chamado “humano”. Mas afaste-se e veja que é apenas uma brincadeira. Ele tem uma função, use-a corretamente. Ele não tem como encontrar a resposta para a pergunta “Quem é você?”. Essa questão só pode ser respondida pelo Silêncio. Aliás, não se trata de uma resposta. Não tem resposta.
O impacto do nosso encontro passa por uma visão clara e direta. Nem mesmo podemos chamar de “caminho”, porque não nos leva de um ponto a outro. Você não precisa de ajuda e todo seu sofrimento se mantém apenas por ignorar essa realidade. Aproxime-se e ventile a possibilidade de não pensar mais tantas bobagens. Mantenha-se comprometido com a Verdade e, ainda que se apresente de maneira fragmentada, haverá a possibilidade de desmanchar-se em quem você verdadeiramente é.
Sempre perfeito! Namaste querido!
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