quinta-feira, abril 25

a resposta não é uma resposta













Participante – Quando você nos diz para buscar a resposta da pergunta “Quem sou eu?”, nesse momento me ocorre que: se existe resposta, ela está na periferia. Então, como algo da periferia pode ser resposta para o que está além disso?

Não se trata de uma “resposta”. A questão vem a ser irrelevante, inclusive. A pergunta deve ser reconhecida como um dispositivo para apontar para quem você é.

O que você é, sim, está além da periferia ou do centro. A pergunta surge e você, imediatamente, olha para “quem você é”. Não passa por pensamento nenhum. Estamos falando da experiência da não-experiência.

Todo o condicionamento constrói uma visão ilusória a respeito de quem somos. Aqui, o nosso intuito está em ter uma visão direta, sem reflexos, filtros ou projeções. Tentar ver uma resposta, é estar olhando para fora. Ver aquilo que vê, é olhar para dentro. E é dentro que está a resposta.

terça-feira, abril 23

o fim da história do personagem inexistente


É preciso estar atento. Buda nenhum criou terapias, porque a terapia trabalha com uma entidade imaginária, pretende melhorar uma entidade imaginária.

Participante – Reforça o ego.

Sim, reforça. Mantém.

Participante – Então, de repente, vejo que nada tem fundamento.

Nada tem fundamento, nada tem sentido enquanto você não compreende a Verdade a respeito de Si mesmo.

Participante – Mas o que estamos fazendo aqui, então?

Talvez você esteja aqui para se dar conta disso. Estamos indo ao fim da história do personagem imaginado. Não fique parado no meio do caminho. Tenho certeza de que o que estou compartilhando não faz sentido para a maioria de vocês. A maioria ou não está pronta ou não vem ao caso que desperte. Mas, certamente, é inevitável que uma pulga se instale atrás da sua orelha. E, aos que estão prontos, bem vindos! Estão no "lugar" certo.

Porém, não esqueça: não estou interessado em melhorar ninguém. Aliás, tampouco proponho que você fique em silêncio.

Nosso encontro é mais radical, mais vertical. Você não tem como ficar em silêncio porque não tem "você" e o "Silêncio". Silêncio é você. Silêncio.

sexta-feira, abril 19

na sombra, luz

Osho diz: "Eu não estou aqui para ajudar os seus preconceitos, eu não estou aqui para ajudar as suas tradições, os seus condicionamentos. Meu trabalho consiste em demolir você completamente, porque somente quando você é totalmente demolido nasce um novo".

Quem é esse você que precisa ser demolido? Estamos falando desse eu que você pensa que é, mas que não é você. Você pensa ser algo, mas antes desse pensar, antes de qualquer ideia, antes mesmo do seu nascimento, qual era a sua face?

Ao contrário do que muitos pensam, estar diante dessa revelação não remove a sua responsabilidade a respeito de estar no mundo. Você se move no mundo, o que você vai fazer não o redime de nada. Você vai ter de lidar com as dores, com as alegrias, com os ups e com os downs que a vida oferece.

De nenhuma maneira Meditação vem a ser uma saída, uma fuga. Não fuja da vida, encare-a. Entre intensamente nisso que chamamos "vida" e faça o que precisa ser feito, o que quer que seja, o papel que lhe couber. Afinal você e a vida sāo uma e a mesma coisa. Entregue-se!

 

 

quinta-feira, abril 18

o oculto expresso: você é isso!

Você é o oceano. A ideia de ser uma onda é inadequada, causa separação. A ideia de separação é a causa do sofrimento. E o sofrimento gera a a busca pela felicidade...

A boa nova é que não tem felicidade. E sofrimento, tampouco. Você sofre porque deseja a felicidade, algo fugaz, que vem e vai. Atente para o fato de que também o sofrimento vem e vai. Nada fica. Então, por que buscar um e evitar o outro? Você já teve o melhor carro, e ele se foi. Já teve aquele grande amor e este também se foi. Essa é a natureza das coisas. Essa é a lei do periférico: ir e vir. Tudo aquilo que aparece, desaparece. Tudo aquilo que vem, vai.

Só uma coisa não vem nem vai, permanece. E nāo é uma coisa. É para Isso que quero que você atente. Descubra o que é Isso que fica. O que é Isso que nunca foi, nunca irá e não veio de lugar nenhum? Veja! É o momento de compreender essa linguagem que, até hoje, tem sido completamente oculta. É o momento de compreender todas aquelas – antes incompreensíveis – histórias Zen.

Você está sendo iniciado e agora não só compreende a nova linguagem como pode vivenciá-la no seu dia a dia. Você está em casa e isso está ficando claro. Chega de se confundir com os sentimentos, com o corpo, com a mente. Este é um momento em que é necessário que muitos saibam a respeito de Si, seja um deles. Saiba quem você é. Seja quem você É.

quarta-feira, abril 17

o mesmo agora, diferente, sempre

Chega um ponto em que você precisa parar de mentalmente construir objetos e desenvolver relações com os mesmos. Grande parte da sua atenção, da sua energia, está voltada às relações com os objetos. A mente está o tempo todo lidando com isso, esse, aquilo, aquele… Tudo o que ocorre à lente dos sentidos.

Viver a Consciência que você é, ser você, é ver que os objetos e, consequentemente, as relações são ilusórias. Tudo aquilo que você (pensa que) sabe não passa de flores no ar.

Eu aponto para qualquer objeto nessa sala e pergunto "O que é isso?" e a mente imediatamente tem um nome, uma história e uma relação desenvolvida para com este objeto. "Isso é uma cadeira. Esta cadeira é branca. Herdei uma cadeira igual a esta da minha bisavó e tenho muito apreço por ela". E, logo, a cadeira te leva à tua bisavó, que te leva a mais mil histórias…

Lá se foi mais uma chance de penetrar no mistério do agora, no não-saber. Já pensou como seria o mundo se você pudesse olhar para tudo ao seu redor, sempre, como se fosse a primeira vez? Porque assim o é, mas o condicionamento da mente nos rouba essa realização.

Suspenda o impulso de "saber" a respeito das coisas e relacionar-se com tudo através desse falso-saber. Isso abre um imenso espaço entre você e aquilo que você percebe – e esse espaço promove enorme descanso. Esse espaço deve ser aplicado, inclusive, em relação a este objeto "corpo" que é considerado pela sua mente como sendo você.

Esteja atento às relações propostas entre qualquer objeto – inclusive o corpo e a mente – e aquilo que percebe os objetos. Aquilo que percebe tem por habilidade apenas o testemunhar, sem nenhuma necessidade de envolvimento. Aquilo que percebe está antes do nome, antes da forma, antes da memória e além de qualquer história que possa ser contada.

sexta-feira, abril 12

o milagre de estar aqui


Os sentidos geram a noção de separação. Você abre os olhos, ouve, lembra... e logo aparece o outro, isso e aquilo. Romper com a ditadura dos sentidos é necessário. É preciso ficar claro que o mundo gerado pelos sentidos não é a derradeira realidade.
Observe o que acontece quando você dorme. O mundo desaparece. Desaparece o mundo, os seus problemas, o outro, você. É uma benção. Todos os dias você tem a oportunidade de "apagar". Se isso não fosse possível, 3 dias seriam suficientes para um colapso do sistema. As poucas horas de sono libertam você da falsa-realidade, da falsa-identidade.
Por isso é difícil acordar. Quando o despertador toca, você adoraria que aquilo não estivesse acontecendo. E é aí que se encaixa a nossa conversa. Satsang propõe que você desperte para o fato de que a realidade ditada pelos sentidos não seja a Sua realidade. Nesse sentido, acordar se torna um deleite. A vida acontece dentro de você, não há o que temer e todos os acontecimentos são vistos com maior distanciamento – sob a totalidade da Observação que você é.
No mundo regido pelos sentidos, as relações com os objetos causam cansaço. Você está sempre lidando com os nomes, as formas, as sensações, a imaginação. E lá se vai toda a sua energia... Agora, se você se mantém atento à Observação, sem dar nomes, sem catalogar tudo o que vê, tudo o que passa pela tela dos sentidos, você permanece vazio. Leve.
Portanto, dê uma chance para aquilo que há antes do construído, antes do criado, antes do conhecido, e veja o que acontece. Veja a vida passar por você ao invés de permanecer aí parado à espera de um milagre. O milagre acontece a todo instante. Abra os olhos e veja! É um milagre estar aqui. 

quinta-feira, abril 11

sem o drama, cadê o palhaço?


Nesse exato momento, feche os olhos por um instante e fique o mais quieto possível. Note! É vasto. Há uma presença silenciosa. Consciência. Consciência-não-objeto, consciência-não-coisa, incontível, ilimitada.

Tenha a coragem de ver. Isso é você! E está virgem, puro. Nada precisa ser aperfeiçoado. Você é perfeição. Não tem nada faltando, não tem nada sobrando. Veja. Não tem nada trágico nem difícil demais, apenas é o que é. Isso contém tudo.

Aquilo que acontece, vem e vai. Tenha coragem de ver a si mesmo não como uma entidade presa ao tempo. E sim como nada, ninguém  – no-body –, sem idade, sem forma, livre de dramas, livre de comédias.

Na verdade, você é o palco de qualquer drama ou comédia. Porém, incólume. Totalmente virginal. Você não precisa de reforma, você já está em casa: abra os olhos.

quarta-feira, abril 10

a quietude e a inteligência


É na quietude que as coisa acontecem, é na quietude que você fica inteligente. É na quietude que você sabe o que fazer. E como tem muito pouco a ser feito, fica difícil errar. Na quietude você sempre faz o movimento correto.

Um problema vem e te assombra, o que você faz? Se você fica quieto, se você nem mesmo o espera passar, se você nem mesmo se ocupa com isso, o problema some. A quietude, a Presença não oferece um ambiente adequado à evolução dos problemas. Eles simplesmente não sobrevivem. Nada fica.

Que o corpo e a mente tenham preferências, isso é indiscutível  – aliás, deixe-os ter. Isso não tem a ver com você. Inclusive as preferências são flexíveis, elas não causam sofrimento.

Isso me lembra uma historinha...

Mariazinha foi convidada para jantar na casa do Joãozinho. A mãe do Joãozinho, preocupada em agradar a convidada, no ato do convite, pergunta se ela gosta de brócolis. Mariazinha, prontamente, afirma gostar do vegetal. À mesa, a mãe do Joãozinho, feliz em oferecer um belo prato de brócolis, serve uma porção à Mariazinha e é surpreendida com uma recusa da menina.

        –  Não, obrigado!

        – Mas, Mariazinha, você disse que gostava de brócolis.

        – Sim, eu disse, mas não o suficiente para comê-los.

Não há sofrimento. Se você prefere comer brócolis, coma. Se não prefere, não coma. Mas não faça disso um problema nem para você nem para ninguém. Tenha o simples sempre em pauta. Se não come brócolis, coma outra coisa – "simples-mente".

E seja criativo! Há inteligência disponível. Se você aprecia subir montanhas e não tem condições para isso, faça um morrinho no seu quintal e "viaje" nisso. Não crie problemas. É tudo imaginação! Imagine-se no Himalaia de uma vez! Ofereça å sua mente aquilo que a deixe quieta. Quer seja um livro, um filme, uma corrida em volta da praça. Isso pode ajudar, pode fazer com que sua mente não crie tantos empecilhos acerca da quietude fazer parte da sua vida. 

terça-feira, abril 9

observar: a diáfana realidade do absoluto


Um dos pontos que sublinho no encontro que chamo de Experiência Zero é a eternidade da observação, o fato dela não ser perdida sob hipótese alguma. Você já se deu conta disso? Experimente agora: pare de observar e descreva o que ocorreu.

Participante – Vazio.

Vejo que a desatenção é realmente um atributo do ser humano. Acompanhe: se você observou que "vazio" ocorreu, como é que você parou de observar? Quem percebeu o "vazio", então?

Está implícito que a observação nunca deixa de acontecer. O que normalmente é descrito como parar de observar é aquele momento em que não existem pensamentos ou imaginação. O que relata um grande equívoco: o senso-comum pensa que a observação seja um atributo da mente.

Quando não há pensamentos, sensações ou qualquer tipo de imaginação ocorrendo, não significa que não haja observação. É possível haver lapsos de segundos sem pensamentos ou imaginação. Porém, nesse instante, você está observando a ausência de pensamentos. A observação é perene.

É isso o que você tem buscado e não encontra porque tudo o que você conhece, conhece através da mente. Estamos aqui para nos aproximarmos de uma realidade que há além do corpo, além da mente – Observação é a realidade do buda.

segunda-feira, abril 8

o azul e as nuvens de corpos separados














Quando você sabe que não sabe quem você é, você sabe quem você é. Aí, não se confunde mais, não está mais identificado com o corpo ou com a mente. O que estou compartilhando é que, se você percebe o seu corpo e a sua mente, você não pode estar dentro deles. A Consciência transcende o corpo – por isso há quem faça “viagem astral”, ou algo do gênero, porque quem somos está em todos os lugares ao mesmo tempo. Na verdade, não tem ninguém viajando, há imagem em ação, simplesmente está sendo visto o que pode ser visto, e para isso alguns organismos mais inclinados do que outros. Mas não tem ninguém viajando, não tem ninguém indo a lugar nenhum. Quero dizer, a viagem acontece em você, não com você. 

Se observar dentro da própria experiência, você vê que não tem como estar contido no seu corpo. Se fechar os olhos, o que você observa? Você observa que é maior? Maior de tal forma que não sabe onde termina, nem onde começa? Veja bem: se a Consciência está em todos os lugares, se a Consciência é tudo, onde os corpos estão? Tudo está dentro da Consciência. A Consciência contém tudo. Tudo o que existe é Consciência. Não tem nada fora da Consciência!

Não há peixe dentro d’água que esteja com sede. Você já viu um peixe com sede? Não. Porque a essência do peixe é a água, ele está ali, dentro d’água. Também é apenas uma metáfora quando falo que a Consciência contém o Todo. Não podemos pensar em termos de matéria, é apenas uma linguagem. O que quero que compreenda é que você não está contido no seu corpo, você transcende seu corpo e todos os corpos. Tudo está dentro de você. Não é dentro desse objeto corpo-mente, é dentro d’Aquilo que você verdadeiramente é.

Quando você realiza quem você é, o mundo da periferia se torna uma brincadeira – essa brincadeira a India chama de leela. Estar identificado com o corpo-mente é pura ilusão – a India chama de maya, a ilusão dos corpos separados. A verdade é que todos os corpos estão acontecendo dentro de quem você é, essa é a Essência de todas as coisas, a Consciência. Quando você realiza a sua Essência, cessa de ser quem você pensava e seu limite é perdido. Não há nada. Não tem espaço e não tem tempo. O que há, então? Apenas nuvens no azul...