quarta-feira, fevereiro 16

a morte, o mar e castelos de areia
















Bom dia!

Por pura curiosidade, eu gostaria de saber por que quando é dito para vocês fecharem os olhos, vocês se aquietam e quando é dito para abrirem os olhos, imediatamente vocês começam a se mexer incessantemente? Só foi dito: “Abra os olhos”. Não foi dito: “Abra os olhos e comece a se mexer”. É incrível! Vocês começam a se coçar, a se arrumar na cadeira... O que é isso?

Participante – Eu estou inquieta. Estou muito inquieta.

Você está muito inquieta? Hum... Ok. E ao fazer essa afirmação, você está fazendo vista-grossa para quem você é, ou não?

Participante – Sim.

Qual é a inquietação da sua mente nesse momento?

Participante – Desde ontem, tenho tido sensações estranhas que começaram a partir da meditação. Me veio muito forte que até então eu estava ouvindo com a cabeça. Enquanto estava fazendo a meditação, mudou a forma de como eu estava ouvindo a música, e me despertou algo que parece ser mais ao nível de coração. É como se eu parasse de ouvir e desse um click no escutar. Essa foi uma percepção do meu corpo-mente e, depois disso, o Satsang de ontem foi muito forte para mim. Agora, realmente começaram a surgir algumas inquietações. À noite, vi o filme e antes de dormir me veio um pensamento e quando penso em alguma coisa, costumo anotar. Me ocorre que tenho que investigar isso aqui e eu anotei e queria que você me ajudasse. O que escrevi foi: “Se a existência é um jogo, a diferença é que: se eu penso que jogo, estou sendo jogado e se sei que estou sendo jogado, eu jogo”.

Isso é liberdade!

Participante – E tem mais... Antes de dormir, me veio também aquela frase, que até então eu tentava compreender, mas tinha dificuldade. A frase é: “O homem não morre duas vezes”. Registrei isso e fui dormir. Durante a noite, tive um sonho onde eu escrevia para alguém - não sei para quem -, e tinha um trecho onde eu colocava: “Quem está perto não está longe”. E quando acordei, me veio um ponto e a imagem da cruz. Junto com essa imagem, um outro pensamento: “O horizontal e o vertical no centro”. E mais: “O ponto de encontro”. Daí, escrevi também: “O ponto de encontro é o ponto de mutação onde tudo deixa de ser, mas sempre foi”. E depois surgiu outro pensamento, a respeito da escolha: “A questão do Dharma e do Karma surge. Um não exclui o outro. O Dharma como verdade não muda o Karma, que sabe que é mentira”. E no final, levantando para tomar banho, me veio mais isso: “Sinto a destruição de uma casa construída na areia para a construção de outra com a base sólida”.

Isso é confortável? É reconfortante?

Participante – Me parece que eu quero te dizer para cortar a minha cabeça. Está tudo mutilado.

Está sendo cortada.

Participante – Veio durante a meditação e tem vindo muito forte o aspecto de Jesus. Me vem que ele temeu a morte.

Sim. Agora, me diga: quem está confrontando a morte?

Participante – Eu.

E quem é você? Como algo que não é você pode morrer? Olha para esse medo e vê de onde ele nasce, veja se ele nasce de um espaço de realização ou de ignorância.

Participante – De ignorância.

São castelos na areia. Fico feliz que você note. É isso que Jesus simboliza para você. Mais cedo ou mais tarde, você tem de enfrentar a morte e confiar. Pondere: se você viveu 20 ou 30 anos confidente de ser esse corpo, é claro que fará o que for possível para que ele não morra. Mas a grande pergunta é: você é o seu corpo? Será que aquilo que você é, pode ser removido pela morte do corpo? Ou será que o que você realmente é, permanece mesmo com a morte do corpo?

Não importam as alegorias. Se você tem uma, investigue e veja: alegorias também são castelos de areia. Para você ser capaz de morrer enquanto alguma coisa, você tem que ser essa “alguma coisa” e se descobre que essa alguma coisa é apenas uma aparição que podemos tocar, medir, pesar... e, que, por ter nascido um dia, está fadada à morte, dentro dessa investigação é possível verificar: quem é que consegue ver essa aparição?

Participante – O Ser.

Isso! E o Ser pode ser visto, medido, pesado ou comprimido em algum espaço? Não. Portanto, como pode matá-lo? O Ser não nasce e não morre. Essa é a sua verdade. Ou você casa com ela de uma vez por todas ou continua sonhando com os seus castelos de areia.

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