quinta-feira, fevereiro 24

barco solto, idéia alheia




















Ouçam esse poema do Liquorman:

Você acredita que pode fazer uma diferença.
Você acredita que a sua dor é culpa sua.
Você acredita que pode fazer melhor.
Você acredita que é responsável.
Você acredita em todo o tipo de merda. 
Ram Tzu sabe isso:
Quando Deus quer que você faça algo,
você acredita que é a sua própria ideia.

Como seria se pudéssemos olhar para a vida e os seus acontecimentos, não como fazedores, não como responsáveis, mas, de verdade - vou usar uma palavra aqui que é totalmente imprópria psicologicamente  para as pessoas saudáveis e estabelecidas no sistema, mas entenda-me como puder -, como totalmente irresponsáveis?

Você não faz as coisas, as coisas acontecem! É claro que se pudesse, você faria melhor. Eu não tenho dúvida disso. Eu sei que você não magoaria ninguém, não faria nada errado... mas como?

Tem uma história que ilustra perfeitamente o que estamos abordando. Imagine essa cena: Um barco, com vinte assentos, vinte pessoas dentro. Cada assento tem um timão e cada pessoa está dirigindo o barco como seu timão. Está tudo indo bem, o barco desce o rio, e todos dirigem na mesma direção. Eis que surge uma curva para a direita, e todos giram o timão para a direita, e o barco segue. Cada um vai tendo a nítida sensação interna de poder, de controle, de determinação, de direcionamento, enfim... O barco vai para a esquerda, e todos seguem o mesmo impulso, virando para a esquerda, e aquela sensação de realização cresce. Porém, há vinte curvas para baixo, surge uma bifurcação e fica aquele impasse: você e mais uma meia dúzia põem o timão para a direita, e o barco vai para a esquerda. E você fica ali, sentado, numa grande crise existencial, porque fez tudo certo, e vinha dando tudo tão certo... e agora você chegou nessa bifurcação, fez o movimento na direção em queria que o barco fosse, e o barco não obedeceu. E não se dá conta de que o timão que você está segurando, não dirige absolutamente nada. Ele está solto. Há uma outra força movendo o barco.

Participante - Isso me faz lembrar os carrinhos dos parques de diversão...

Mas é isso mesmo! É um grande parque de diversão - era isso o que eu queria dizer. Nós estamos num parque de diversão. Você paga, mas não tem nenhum controle sobre aonde vai parar no instante seguinte.


O timão está solto, ele não está ligado à coisa alguma, ele está ligado apenas a você e à ideia de que você tem controle sobre ele e, consequentemente, sobre o movimento do barco. “Você acredita em todo o tipo de merda e Ram Tzu sabe isso: quando Deus quer que você faça algo, você acredita que é a sua própria idéia”.

Um comentário:

  1. Satyaprem desde que soube de voce, via Marcelo Ferrari, tenho lido tudo o que voce posta, os vídeos, enfim.. E me vejo no que escreve, em todas reflexões.. e isso é incrível..
    Sigo a psicofilosofia budista há longo tempo e lendo voce acontece que sinto o budismo mais leve, parece que os insights vem rápidos, claros..
    É muito bom te conhecer, acredite.
    Um forte abraço.

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