segunda-feira, junho 27

sem sentido e sem não-sentido: isso!





















Gostaria de compartilhar um texto como vocês, chama-se: “Bordando”.

Quando eu era pequeno, a minha mãe costurava muito. Eu sentava no chão, brincando perto dela e sempre lhe perguntava o que estava fazendo. Ela respondia que estava bordando. Todos os dias eram as mesmas perguntas e as mesmas respostas. Observava o seu trabalho de uma posição abaixo de onde ela se encontrava sentada, e repetia: “Mãe o que a senhora está fazendo?” Dizia-lhe que de onde eu olhava o que ela fazia me parecia muito estranho e confuso, era um amontoado de nós e fios de cores diferentes, compridos, curtos, uns grossos e outros finos... E eu não entendia nada. Ela sorria, olhava para baixo e gentilmente me explicava: “Filho, sai um pouco para brincar e quando eu terminar o meu trabalho, chamo você e te coloco sentado em meu colo. Deixarei que veja o trabalho de minha posição. Mas eu continuava a me perguntar de lá de baixo, por que ela usava alguns fios de cores escuras e outros de cores claras. Por que me pareciam tão desordenados e embaraçados? Por que estavam cheios de pontas e de nós? Por que não tinham uma forma definida? Por que demorava tanto para fazer aquilo? Um dia, quando eu estava brincando no quintal, ela me chamou: “Filho, venha aqui e sente no meu colo!” Eu  sentei no colo dela e me surpreendi ao ver o bordado, não podia crer. Lá de baixo parecia tudo tão confuso e aqui de cima eu via uma paisagem maravilhosa. Então a minha mãe disse: “Filho, de baixo parecia confuso e desordenado, porque você não via que na parte de cima havia um belo desenho. Mas agora olhando o bordado da minha posição você sabe o que eu estava fazendo”. Muitas vezes ao longo dos anos eu tenho olhado para o céu e dito: “Pai, o que estás fazendo? Ele parece me responder: “Estou bordando a sua vida, filho”. E eu continuo perguntando: “Mas está tudo tão confuso, Pai, tudo está em desordem, há muitos nós, fatos ruins que não terminam e coisas boas que passam rápido. Os fios são tão escuros, por que não são mais brilhantes?” Ao que o Pai parece me dizer: “Meu filho, ocupe-se com o seu trabalho, descontraia-se, confie em mim e eu farei o meu trabalho. Um dia, colocarei você em meu colo e então vai ver o plano da sua vida, da minha posição”. Muitas vezes não entendemos o que está a acontecer em nossas vidas. As coisas são confusas, não se encaixam e parece que nada dá certo. É que estamos vendo o avesso da vida. Do outro lado, Deus está bordando.

Achei essa história muito interessante. Mas gostaria de ir mais fundo: será que tem um Deus bordando mesmo? E será que um dia você vai ver do ponto de vista dele o que ele está fazendo? Existirá, de fato, este tempo? Será que existe este embaixo e este em cima? Será que existe você e Deus separados?

É uma linda história, mas ela ainda propõe espera, separação e dualismo. Ela propõe que você se prepare, espere e confie que um dia venha a ver o que precisa ver. O que você precisa ver? No texto está implícito que precisamos ver os fios mais brilhantes que dêem sentido a esse aparente emaranhado de nós que a vida é. Mas quem tem essa esperança? Quem é que mantém essa esperança viva?

Ao ler essa história, surge um sopro de esperança. De repente é como se pudéssemos nos acomodar num conhecido espaço “de espera” e que, mais cedo ou mais tarde, Deus nos revelará o que é a vida que Ele te deu. Mas na verdade, gosto dessa história porque há nela um segredo sendo compartilhado, nos convidando a ver algo.

É um convite inaudito que, se ouví-lo, nos faz perder todas as esperanças. O que quero que veja é que é a mente que diz que, olhando aqui de baixo, está emaranhado, e é a mesma mente que propõe que um dia haja um desenrolar-se.

Nesse mínimo instante, se você não olhar para trás nem para frente, existe um segredo sendo revelado. Mas você insiste em depositar enorme esforço em dar um sentido à vida, enquanto que a vida não tem sentido e nem um “não-sentido”. Esta compreensão é o meu convite. 

Se a mente lê como “emaranhado” o que ela está vendo, imediatamente propõe que, no futuro, o seu pai ou a sua mãe te pegará no colo e mostrarão aquilo que você não estava vendo. Mas se este momento não vier a ocorrer?  Por que a necessidade de se manter no tempo? É a mente que se mantém no tempo e isso apenas reforça a ideia que você tem de si. O meu convite, eu sublinho: você não é quem você pensa que é. E isso é muito mais simples do que você imagina.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. o convite explícito neste texto,
    age feito um espanador virtual,
    limpando até os cantinhos da tela,
    remove a poeira que impede a visão.

    amor é sendo,
    amolecendo,
    grata.
    vinaya

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