quinta-feira, setembro 8

céu: o limite do ilimitado



Como é possível julgar que exista pecado na ilusão? Ilusão é ilusão – tanto faz se você vai para a esquerda ou para a direita. Não faça vista-grossa! Não tem ninguém indo a lugar nenhum. Porém, atenção! Ao mesmo tempo – ou, ainda, no tempo – a ilusão está se movendo. No tempo está a morte, o sofrimento e a ilusão a respeito de todas as coisas.

Proponho, portanto, um experimento: ouse deixar de ser quem você pensa que é, e veja o que você perde. Do meu ponto de vista, deixando de ser algo ou alguém – restrito, condicionado – você ganha um espaço absoluto, ilimitado. Deixando de ser “alguém”, você ganha a vastidão do céu. Abra mão dos seus castelos de areia e absorva a realidade de que o céu é o limite. Você não tem nada a perder. Não há nenhuma garantia de conforto dentro do limitado, por mais confortavelmente que você viva. Eventualmente, você se depara com uma limitação do corpo e da mente – e não há nada a fazer quanto a isso. No entanto, se você vê o céu como limite, uma miríade de possibilidades se abre e prender-se ao limitado deixa de estar em pauta.

Note que neste instante, neste mínimo instante, não tem nada acontecendo. Não tem ninguém morrendo, tampouco vivendo. O pássaro canta porque está feliz. Mas, em realidade, ele nem sabe que está cantando, nem que está feliz. Ele não sabe que é um pássaro e não tem o menor senso de existência. Ele está ali, absorvido na humilde condição de ser uma mera manifestação da Consciência – e não há nada, nenhuma ideia, que o separe disso – logo, nenhum sofrimento.

Aqui, ressalto que o seu único exercício, constante, é estar atento e não fazer vista-grossa para a sua natureza original. Quando você ignora sua realidade-buda, tem sempre que arrumar, programar, fazer uma série de coisas. Você se dedica, incansavelmente, a arrumar e decorar os quartos dos seus castelos de areia. Mas, que ordem pode ter um castelo que não existe?

Sua mente precisa ser convidada a ver isso! Se ela puder ter o vislumbre de que os castelos são de areia, isso é o suficiente para que você descanse, se acalme, relaxe, celebre e curta todos os momentos. E, saiba, isso não exclui absolutamente nada. Se dói no seu estômago a comida que você comeu, chore! O corpo irá lidar com seu karma, no momento presente. Não deixe que nada interfira na integridade do momento presente. Não se confunda! Promova esse compromisso com o Presente que te é dado a todo instante.

Os indianos chamam de “Satchitananda”, aquele transbordamento que acontece quando você olha e vê que você não cabe dentro de si mesmo. O corpo transborda através dos olhos, lágrimas correm, há um transbordamento – afinal, não tem como conter Aquilo que você verdadeiramente é, dentro desse corpo mínimo. Estamos falando de “reconhecimento”. Quando você não faz vista-grossa, pode notar o seu corpo andando, falando, sentindo, comendo... Você simplesmente nota, observa, tudo isso acontecendo.

Você é aquele que vê, você não é aquele que come, que anda, que chora... A partir desse reconhecimento, você anda sem andar, senta sem sentar, come sem comer... Seu nome é Observação e seu sobrenome é Paz. E aquele que Observa não se importa nem se desimporta com o que está sendo observado, ele apenas observa, sem a menor interferência no destino do corpo ou da mente.

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