terça-feira, junho 14

nem alegre, nem triste: liberdade.


















Se você pudesse agir como uma pedra ou como um animal, não seria mais interessante? Dadas as circunstâncias, é claro. Quando você fosse chamado a ser “humano”, seria humano, mas, uma vez explorado o estado pedra de ser, todas as dimensões estariam totalmente abertas para você. Você estaria com o tráfego livre em todas as dimensões do conhecido. Nada limitaria você.

O que quero dizer? Este é um convite para que você assuma uma identidade que é sinônimo de liberdade. Tudo o que ocorreu, está em ocorrência e que venha a ocorrer está contido em você. Nada deve ser negado. É uma proposta bárbara, eu sei! Rompe com o civilizado. Mas, o que fica tácito nessa proposta é que não se comportar de acordo com a maneira que os outros querem que você se comporte, faz do seu comportamento algo espontâneo.

Satsang, portanto, nos revela o espontâneo, o puro, o inocente, o aqui e agora, o eterno e o ilimitado... a liberdade total.

Se a felicidade se aproxima de você ela é vivida em totalidade; se a tristeza se aproxima de você, da mesma maneira, ela é vivida em totalidade. Mas você não faz a sua casa em nenhum desses ambientes. Você trafega entre todos os ambientes, mas não para em nenhum. Pois você, quem você verdadeiramente é, não é limitado por nenhum estado específico de ser, você não tem uma morada – você é onde todas as coisas acontecem.

Como sugere Cecília Meireles, nem alegre nem triste. O meu convite é que você comece a ver isso como sendo existencialmente você. E um dos propósitos é que, absorvendo o que está sendo dito em totalidade, mesmo que surja tristeza ou culpa gerada por um ato qualquer, ao contrário da “culpa” sugerida pelos critérios sociais, você salte para fora de todas as concepções – que não passam de ideias medievais – e note a inconsistência dos acontecimentos.

Realize que mesmo para ser uma pessoa, você precisa corresponder a condições externas a você. Por isso eu insisto! Essa é a minha ilimitação: eu não sou alegre e não sou triste tampouco. Nenhuma das duas possibilidades apreende a minha condição. A minha condição é incondicional. Então o meu convite é exatamente este: será que não viveríamos melhor, se não tivéssemos limitações?

segunda-feira, junho 13

ninguém, agora

















A partir da constatação de que não tem ninguém em lugar nenhum, os acontecimentos são observados sob a ótica da não importância. As coisas simplesmente acontecem, sem que haja um responsável por sua criação. Ninguém as criou, pelo simples fato de não ter ninguém.
Viver no presente engendra responder naturalmente às circunstâncias do momento, fazendo tudo o que se apresenta, sem tomar o que quer que seja como realidade. Afinal, a realidade é que você é a observação dos acontecimentos e, de maneira nenhuma, aquilo que observa é o objeto observado.
Responder com clareza aos acontecimentos, flui da atenção que você é. Render-se ao agora proporciona a visão clara e límpida de que não tem ninguém. Tudo o que acontece, acontece em você. Inclusive você – esse você pensado – é um acontecimento dentro da Consciência que você é.
Afaste-se daquilo que tem sido tomado como verdade e aproxime-se da Verdade proposta por Satsang. Sob esse aspecto, você pode estar atravessando o maior inferno sem a menor identificação com o sofrimento.

sexta-feira, junho 10

a barba do bodhidharma sem barba



























Um conto Zen:
Em frente à uma imagem de Bodhidharma com barba, Kakuan disse:
"– Por que esse homem não tem barba?"
Em seguida, um comentário de Mumon, um mestre Zen:
"Se quer estudar o Zen, deve fazê-lo com seu coração.
Quando atingir a realização, deve ser a verdadeira realização.
Você mesmo deve ter a face do grande Bodhidharma para vê-lo.
Apenas um vislumbre será suficiente.
Mas, se você diz que o encontrou, nunca o viu de verdade."

Estar dormindo é identificar-se com a forma, como se fôssemos as roupas que vestimos. Em sua maioria, as pessoas são as roupas que vestem, os carros que têm, as casas onde moram. Quando desperta, porém, você deixa de ser as roupas que veste.

O verdadeiro Bodhidharma não tem barba, porque o verdadeiro Bodhidharma não tem corpo – ele está além das imagens, além daquilo que pode ser visto. Mumon disse que para ver a face do grande Bodhidharma, você deve ver a si mesmo, pois, só assim, verá que você é o Bodhidharma. Entre aquilo que anima o Bodhidharma e você, não existe diferença. Bodhidharma não tem barba. Aquela imagem tem, mas é uma imagem, não o verdadeiro Bodhidharma.

quinta-feira, junho 9

assunto urgente: shiva.





















"Desnude-se da mentira e encontre o lugar de onde o “eu” vem.
Sem projetar o 'eu', você é Shiva.
Sua energia é a projeção na qual você brinca,
e Consciência é a fonte dessa brincadeira – fonte da mente, inclusive.
E isso é tudo."

Papaji

Se não projeta o “eu”, você é Shiva. Ciente de quem é, você corta as proposições formuladas pela mente como sendo você. A celebração não demanda a existência de nenhum “você”. Apenas o sofrimento demanda um “você”. Você costuma estar com um sorvete de melão, pensando em outro sabor. O que está faltando? O que está perdendo? Você insiste em inserir um “eu” - e, claro, um “meu” - no meio de tudo, argumentando com a realidade, com aquilo que é.

Porém, a manifestação ocorre para celebrar o Ser – e isso é tudo! Por isso, reforço esse convite, das maneiras que estão disponíveis no instante. Tomar consciência de Si é uma necessidade urgente. 

quarta-feira, junho 8

o eu e o outro



























Osho fala que temos medo de decidir, e que, a um certo ponto, é momento de decidir.
Para ilustrar melhor, recorro aqui às palavras de Seung Sahn, que tive a honra de ler outro dia: 

Primeiro, você tem que tomar uma firme decisão 
para atingir a iluminação e ajudar os outros.
Você já tem os cinco ou dez preceitos.
Saiba quando mantê-los e quando quebrá-los. 
Quando estão abertos e quando estão fechados.
Deixe ir o seu pequeno ser e torne-se o seu verdadeiro ser.

Você insiste em ficar se relacionando com seu pequeno ser, tentando melhorá-lo, seguindo a tese psicanalítica de que quando compreender toda a inconsciência do seu pequeno ser, vai se tornar mais consciente. Essa é uma história para boi dormir. Para ser Consciência, seu foco tem que ser imediato, em menos de um segundo.

Com a firme decisão de ver o que está sendo apontado, você troca uma coisa pela outra. Imediatamente, troca o pequeno ser pelo verdadeiro, e realiza que, onde repousa sua natureza original, não existe nem isso, nem aquilo.

Quando você se vê como o verdadeiro ser, não existe outro. Qualquer divisão é um retorno ao seu pequeno ser, um retorno à pequena tragicomédia humana, ao seu pequeno drama divino. Você estabelece o seu drama desenhando isso ou aquilo, “eu” e o “outro”, preto e branco, o azul e o amarelo, o de cima e o de baixo, o esquerdo e o direito.

Retorne para aquele lugar onde não existe nem uma coisa, nem outra. Em sua natureza original, não existe “nem isso, nem aquilo”. Aquilo que você é, não tem gostos, nem desgostos. A porta da compaixão não é exercício do seu pequeno ser - é a realidade do seu supremo ser.

Reforço: não façamos do supremo ser uma possibilidade remota e futura. O supremo ser se encontra exatamente aqui, exatamente agora. Apenas não se confunda com o que é visto. 

terça-feira, junho 7

tragédia + atenção = comédia
























O ser humano recebeu um papel. É como se ele fizesse parte de uma tragédia, grega. Venho, portanto, com um único convite. Proponho que você abra os seus olhos. Abra os olhos e essa tragédia tende a se tornar uma comédia, naturalmente. Nada precisa ser feito com a tragédia, apenas abra os olhos e ela vira uma comédia, imediatamente.

O problema é que, equivocadamente, parece natural permanecer de olhos fechados e artificial viver de olhos abertos. Com os olhos fechados, existe uma espécie de comunicação entre as partes. Quando você abre os olhos, é notável que não há comunicação nenhuma. Na verdade, a humanidade sofre de entropia generalizada, cada um fala de uma coisa.

Minha proposta não exige nenhum movimento para sair da tragédia. Apenas, com os olhos abertos, veja que você não faz parte da tragédia, que isso não passa de uma projeção. Experimente! É como ir ao cinema. Escolha um drama e sente-se para assistir. Quando a luz se apagar, tente ficar totalmente consciente de onde você se encontra, observe. Haverá uma grande revolução, um intenso movimento a nível sentimental e emocional, na sala. Dependendo do filme, você passará por muitos aspectos. Sentirá alegria, raiva, medo, ternura, compaixão, amor, ódio, tesão... E, ao final, quando acendem as luzes e apagam a tela, você simplesmente pega o seu saco de pipoca e sai. Você até tenta metabolizar intelectualmente o que aconteceu naquela história, mas não passa de mera especulação.

Quando você assiste um drama, o que ele alimenta? E um filme de terror, que parte sua ele alimenta? Ele praticamente te obriga a fechar os olhos. Ele alimenta a parte obscura, trágica do papel que o ser humano herdou. Abrir os olhos promove uma nutrição diferente.

Existem muitos mal entendidos, tudo o que é dito pode ser adaptado. Não adapte, olhe! A única coisa que lhe resta, se você realmente quer libertar-se do engano, é abrir os olhos. No sonho que você vive, de olhos fechados, você é um personagem com um destino obscuro; um personagem regulado por uma trama de perdas e ganhos. O tempo todo está em pauta se você está se dando bem ou se dando mal; se vai dar tudo certo ou se vai dar tudo errado. Este é o drama do personagem. Isso é estar de olhos fechados.

E não precisa despertar em seu personagem a preocupação ativa de abrir os olhos de outrem. Abra seus próprios e isso será suficiente! Abra seus olhos e mantenha-os abertos. Isso irá contagiar quem estiver próximo, na mesma vibração, pois não existe distância física nisso que estou apresentando.

A distância física faz parte do mundo dos olhos fechados. Quando abre os olhos, se dá conta que a distância física é ilusória. Ela faz parte da tragédia. Na comédia, você descobre que, se tudo é você, não tem como haver distância física entre você e você mesmo; afinal, não tem nada, nem ninguém que não seja você. Existe uma combustão espontânea, mesmo sem nenhuma proximidade física, porque existe um campo vibratório.

segunda-feira, junho 6

wake up


 




Alguma pergunta?


Participante – É sempre assim?


Assim como?

Participante – Eu me senti sabatinada. Pensei que vinha aqui ficar em silêncio...

Mas este é meu único convite: que você não só fique como assuma que você é o Silêncio.

Participante – Mas você me fez indagações e eu me senti convidada a respondê-las. E eu me senti invadindo um espaço de todos. Não sei se as pessoas que estavam aqui desejavam isso. Me vi tomando um espaço que na verdade eu não acho que tenho.

Isso depende de quem você é e de quem os outros são.

Participante – Qual é o seu ponto de vista?


O meu ponto de vista é que você não invadiu o espaço de ninguém, porque não tem ninguém para ser invadido. A mente foi questionada, e a mente não é sua, é de todos. Então tudo o que foi feito, mesmo esse diálogo – que você chamou de "sabatina" – entre eu e você, serviu a todos, enquanto investigação. Eles não viram nada além do que suas próprias questões.


Participante – Acho que você é muito generoso.


Você também. Somente com muita generosidade você pode se prestar a uma “sabatina” assim, sem preliminares.


Participante – E sem conhecê-lo!


Viu? Tem que ter generosidade...


Participante – Hoje não vou conseguir dormir... a minha mente está de pernas pro ar!


Essa é a minha proposta: que você não durma nunca mais! Estamos aqui para que você desperte! E, ainda, aprecio que você tenha uma noite de questionamentos. Você tem dormido muito. Então desperte, questionando todas as questões que levantamos aqui.


Desperto, você vê todo o conteúdo mental sem discriminação. Não passa de matéria morta. A mente contém o suficiente apenas para lhe ajudar a pedir um copo d’água, desejar “bom dia”, atravessar a rua, chegar a um dado endereço... Mas todas essas teorias a respeito de para onde iremos ou de onde viemos; o que é certo ou o que é errado, todo esse blá blá blá se torna nulificado.


Você está aqui para tornar-se uma árvore, uma criança, um bebê. E isso é imediato. Não pode haver tempo, porque não é necessário nenhum tempo para você entrar no agora.


Participante – E você, quem é?


Não tenho a menor ideia.

sexta-feira, junho 3

o silencio como guia




















Atente para aquilo que é essencialmente você, e pare de pensar a respeito do que quer que seja. Veja se existe alguma marca no Silêncio que você é. Há alguma outra maneira de sofrer por algo que passou, senão pensando? Sem pensar, não tem como doer. E, atenção! Não proponho que negue o que aconteceu, apenas não repense, não reconte, permaneça no agora e o sofrimento começa a desprender-se de você.

Você está apegado aos acontecimentos. Em si, as coisas não têm vitalidade, não são nada. Você é quem dá valor a tudo o que vê. Se não reconta e não se apega, as coisas se desprendem, deixam de existir, e você deixa de estar triste. Mas isso põe a sua identidade em xeque. Assumindo essa realidade, você não precisará mais de ajuda, e não será mais vítima de nada.

A posição de vítima, embora dolorosa, é confortável – faz com que você consiga algumas coisas –, mas não passa de uma mendicância. O meu convite, portanto, é para que você entre em Si e pare de contar histórias, descubra que você não é um mendigo. Isso não é desejável?

Sem dar tanto valor às coisas que aconteceram, você começa a dar valor ao que está acontecendo no momento presente, ao que importa. Dando valor às coisas que aconteceram ontem, você tende a querer repetí-las – quando boas –, ou evitá-las – quando foram ruins. Ao tentar evitar ou na afirmação delas, você as repete. Porém, no momento presente, se não quer nem uma coisa nem a outra, você se surpreende totalmente com o que acontece. O presente é sempre novo.

Você não pensa, descubra quem é que pensa! Separe o joio do trigo e seja seu próprio Mestre, seu Mestre interior. Quem é você? A menos que saiba, a minha pergunta e a sua resposta não serão entendidas. O Ser não pode temer o descontrole, porque o Ser não sofre descontrole de forma nenhuma. Quem teme o descontrole é a parte, o ego. Identificado com o todo, você não teme o descontrole. Na verdade, você ama o descontrole – e, nesse sentido, descontrole significa espontaneidade.

O ego não suporta a espontaneidade, porque ele sempre tem que planejar, precisa estar sempre impecável. Se não for assim, ele está de cabeça para baixo.

Observe o seu dia-a-dia e veja se ele é baseado na espontaneidade ou no planejamento. Comece a entender o que guia o seu dia-a-dia. Onde está assentado o seu centro? O seu centro está no ego ou no Ser, no Silêncio que você é?


quinta-feira, junho 2

nada precisa ser feito

A única coisa que você precisa ter muito zelo é que o hábito torna as experiências automáticas. Você tende a fazer desse jeito hoje, por ter feito o mesmo ontem. Por isso: zelo e atenção!


Eu observo as árvores, e elas não choram porque os frutos caem de maduros. Ou você já viu alguma árvore triste por terem caído todas as suas folhas no inverno? Não. A sua tristeza é inventada. Você sofre porque existe um pensamento que diz que você não pode ficar sozinho, por exemplo. A mente diz que se você está só, é porque tem alguma coisa errada. Mas o que está errado? O único erro é você se sentir só e pensar que não deveria estar só.


Participante – Na verdade, só pensamos que precisamos de alguém. Isso é apenas um pensamento. E acho que é isso que está errado.


Pois é! É tudo óbvio. O que você tem que fazer? Não tem que fazer nada! Você precisa simplesmente ficar quieto e zelar por esse pano de fundo que é o Silêncio, que é a sua natureza. Você não precisa de nada! Isso não impede que você se envolva com as pessoas. Envolva-se! Mas sem nenhuma expectativa. Sem a expectativa de que aquilo vá ser para sempre, ou de que aquilo precise de um formato.


Ouvi uma vez: “Se não existe apontamento, não existe desapontamento”. Se você não puser expectativa numa determinada situação, como pode se desapontar com essa situação? É tudo uma questão de moldura, de mente, de como olhar para a realidade. Eu sei que está tudo óbvio, para você, mas você ainda insiste em fazer alguma coisa. Pergunte-se: quem quer fazer? O hábito.


O hábito nos diz que tem que ser feita alguma coisa. A voz do Silêncio diz que nada precisa ser feito, que tudo está bem do jeito que está. Não faça nada! As coisas vão acontecer por si mesmas. Note que todos os seus movimentos na vida, têm sido influenciados por algo transcendente, por algo maior que você. Note isso com atenção, e veja que nada precisa ser feito. Porque a ideia de que algo precisa ser feito, é uma ideia egóica.


Geralmente você precisa fazer algo, para depois dizer que o fez. Mas se você não faz nada, você não vai ter como dizer que fez alguma coisa. E isso é desapego. Desapego, inclusive, da ideia de quem faz.

Dê-se conta disso e verá que você não precisa fazer nada, pode permanecer silencioso, essa é a sua natureza. Apenas note.

quarta-feira, junho 1

psiu, aqui!

Vejam essa história Taoísta...

Havia três amigos discutindo a vida. Um deles disse: “Podem os homens viver juntos e não saberem nada a respeito disso? Trabalhar juntos e produzir nada? Podem eles, voar no espaço e esquecerem que existem num mundo sem fim? Os três amigos olharam-se e começaram a rir. Eles não tinham a menor explicação, no entanto, eles eram mais amigos que antes. Até que um dos amigos morreu. Confúcio, então, mandou um discípulo seu para ajudar os outros dois a cantar os seus agradecimentos ao amigo que morrera. Chegando lá, o discípulo viu que um dos amigos havia composto uma canção e o outro tocava um instrumento de corda para a canção composta. Essa era canção:

Ei, Sun Hun, onde você foi?
Ei Sun Hun, onde você foi?
Você foi onde realmente nós estamos.
E nós estamos Aqui.

Ao ouvir o verso, o discípulo de Confúcio gritou com eles e exclamou: “Posso eu inquirir onde você encontrou a rubrica desses obséquios?” Os dois amigos olharam um para o outro e riram: “Pobre coitado ele não sabe nada da nova liturgia!”

Ora! Essa Carolisse frívola na presença do falecido. Por isso eu pergunto: estamos aqui para reencenar a lógica Confuciana ou estamos aqui para inventar uma nova liturgia?

A canção deles dizia: “Ei, Sun Hun onde você foi? Você foi onde realmente estamos, e nós estamos aqui!” Nossa! Essa é a nova liturgia. É um convite sem grandes encenações, sem grandes complicações.

Verifique: eles perguntam onde foi Sun Hun, e a resposta eles sabem. Mas a mente quer uma explicação para tudo. De onde saiu isso? Quem é que autorizou aquilo? Alguém partiu, alguém está morto e o que é que você está fazendo? O discípulo do Confúcio considerou profano o gesto dos dois amigos, mas eles simplesmente se olharam e sorriram.

Pobre camarada, ele não conhece a nova liturgia. Ele não conhece a nova escritura. Ele não conhece a nova religião. Isto é o que está acontecendo todos os dias, uma nova liturgia. E você está sendo convidado a vivê-la!

terça-feira, maio 31

menos de um segundo

























Se você não compreende o meu apontamento, conversemos. Tente entender da melhor forma. Para hoje, trouxe um texto do Osho, que eu gostaria que você ouvisse. Ele diz: “Meditação é nada mais que uma exploração do seu espaço interior ignorado, desconhecido. Este pequeno espaço, de repente, vai relembrá-lo de que você é um Buda”.

Se abrirmos a fala do Osho, vemos que você não vai se tornar um Buda, você já é um Buda, apenas esqueceu. Como esqueceu? Onde esqueceu? Quando sua mãe lhe disse que você era filho dela. E olha que demorou algum tempo, ela não fez você esquecer rapidinho. A princípio, você desconfiava disso e levou mais ou menos uns cinco anos, até se convencer de quem você era, segundo o ponto de vista dela.

Se usássemos a lógica, precisaríamos, de uns cinco anos também para desfazer tal feito. Mas isso é irreal, não é verdade. Tudo o que você precisa, é de menos de um segundo. Tudo o que tem que ser feito é uma exploração do espaço interior ignorado, para que você relembre de quem você é.

Gosto de usar, ao invés de “relembrar”, “reconhecer”. De repente há um corte fundamental e você vê quem você é. E, saiba: muitos vêem isso. No entanto, poucos pegam com carinho e devotam-se a isso. Faz parte do drama humano. Há os que vêem, mas se ocupam de outras coisas consideradas mais importantes.

Portanto, eu desejo que você seja feliz com este encontro, e o valorize. O encontro com a Verdade não tem nada a ver com o que dizem. Tem a ver com o que você vê. Você tem que fazer uma mudança de perspectiva. De nada importa o que os outros dizem, só importa o que você vê.

sexta-feira, maio 27

a presença fazendo nada














Satya, desde sexta-feira à noite, quando esse trabalho começou, eu sinto que estou num estado alterado; mesmo não estando aqui no salão com você. Por três vezes eu tive esta mesma sensação, ao longo dos últimos anos. A primeira vez foi quando peguei o “Livro dos segredos”, do Osho. Aquilo foi muito forte para mim. Assim que abri o livro e comecei a ler, fiquei com essa mesma sensação que estou hoje. Então durante muito tempo eu li esse livro e andava com ele, sem saber por quê. Mais tarde, também neste salão, tive essa mesma sensação com a presença do Kiran. E agora novamente com você. Eu gostaria muito de entender e queria que você falasse o que é isso.
 
Essa alteração vem justamente do fato de você estar sendo convidado a um outro ambiente, que, na verdade, é a sua natureza original. E isso é irresistível. Você não precisa nem entender. Na verdade, vocês fazem um esforço totalmente vão. Não tente entender, simplesmente sente-se e ouça.
 
Diga-se de passagem: não tem trabalho nenhum acontecendo aqui. Essa é uma expressão viciada. Às avessas, estamos aqui fazendo absolutamente nada. E é isso que altera e faz com que algumas pessoas não gostem de voltar, porque pensam: “Vou ficar lá, fazendo nada, apenas ouvindo...”
 
Mas se ouvir bem uma única vez, nem me ouvir será necessário. Apenas fique aqui. Este é o único refúgio que você tem. Voltar-se para dentro não permite um entendimento lógico. Quanto mais você nota, mais alimenta a Presença.
 
Você vê que a mente está muito mais silenciosa hoje? Isso proporciona esse, por assim dizer, estado alterado. A Consciência está sendo alimentada. E a verdade é que você sairá daqui com isso. Isso vai com você a todos os lugares.
 
Existe a tendência de voltar para o conteúdo, por várias razões, mas o meu convite é para que você se renda; e isso que você está descrevendo estará sempre presente, ainda que nem eu nem você saibamos o que é.

quinta-feira, maio 26

amor é consciência


























Participante – Satyaprem, você falou hoje de manhã, que o pensamento é uma coisa da mente, e que está fora. E a emoção, onde ela está? Quem sente a emoção? Ela é corpo, é mente, vem do pensamento... ou o quê?

Para começar, eu separaria emoções, de sentimentos e de sensações. E tudo isso tem uma certa ligação com a mente. Na verdade, as sensações não. A sensação é uma propriedade do corpo em contato direto com um acontecimento qualquer. Já os sentimentos e as emoções estão envolvidos no conteúdo da sua mente. Sem determinado conteúdo, você não sente isso ou aquilo.

Praticamente tudo o que você sente, enquanto emoção e sentimento, têm um quê de mente, senão totalmente. Já a sensação de frio ou calor é uma resposta corporal ao ambiente, a uma situação. Se está frio ou quente, isso não envolve a mente. Já quando surge a ideia de que todos morrerão de frio, se baixar a temperatura, é a mente atuando e gerando uma certa emoção.

Tem uma parte que envolve o conteúdo da sua mente e faz você sentir coisas. E seu corpo foi desenhado para sentir, ele está o tempo todo sentindo. Se a sua mente estiver vazia, o corpo sente, em pureza, o que quer que seja que esteja acontecendo. Na pureza, na meditação, você tem acesso a uma sensação pura, inocente. Do contrário, ela está carregada pelo tempo.

Provavelmente você já viveu alguma experiência onde achava uma pessoa maravilhosa e depois, com o tempo, aquilo foi mudando e você já não tem mais a mesma sensação. A pessoa continua ali, mas aquela sensação sumiu. Essa é uma resposta eletroquímica do seu corpo, ele não está mais respondendo aos estímulos que a sua mente, mal investigada, chama de amor, por exemplo. Simplesmente há uma química circulando no corpo e é por isso que você tem que ser muito atento. Os sentidos nos enganam o tempo todo. Não é só a mente que engana, os sentidos também; e você os está sempre seguindo.

Portanto, permaneça atento e se mude para a Observação que você é – tudo passa diante dela. Nada pode ser feito quanto à temporariedade dos objetos. E as emoções também são objetos na Consciência. Já a Consciência é amor.

quarta-feira, maio 25

o problema é inversamente proporcional à consciência















A mente não quer parar, ela não ouve esta proposta. Isso torna mínima a chance de compreensão do que está sendo apontado. É preciso ouvir como um soldado. Stop! Fique quieto. Talvez, nos primeiros momentos, você sinta uma grande turbulência, porque a mente sabe que, se parar, o soberano fica nítido – o soberano é auto-evidente.

O convite "olhar para dentro" é uma outra maneira de dizer "stop!". Porque os sentidos, inclusive a mente, estão sempre ponderando algum acontecimento, sensação, movimento... sempre existe algo a ser feito. A todo instante, você está sentindo e pensando isso ou aquilo. Sua referência é essa relação entre sujeito e objeto.

Apenas quando o sujeito se aquieta, o objeto perde substância. Sem sujeito, não há objeto, e, sem objeto, não há sujeito. É exato questionar se as coisas são do jeito que a mente diz, pois o mapa que a mente tem é o tradicional. A tradição demanda tempo, o que pressupõe repetição.

Um livro só é um livro porque todos chamam de “livro”; porque, um dia, alguém disse que isso era um livro. Mas não é. “Livro” é apenas o nome disso e existe uma diferença abismal entre o que isso é e seu nome.

A mesma diferença está em você. Você é o que  pensa que é? Você é o que os outros pensam de você? Você é seu nome? É a sua forma? Só no âmbito das crenças - porque todos acreditam nisso. Porém, para saber quem você é, crenças não estão em pauta. Você tem que ser capaz de esquecer completamente tudo aquilo em que acredita, porque tudo não passa de conteúdo da mente.

Olhar para dentro, portanto, significa parar de se envolver com os eventos. Na medida em que você se envolve com um evento, elimina outros. Você passa dias, semanas, meses... envolvido com certos eventos que já nem estão mais presentes. Enquanto isso, muitos outros estão dançando na sua frente, e você não tem olhos  para vê-los.

A Observação introduz na sua vida a capacidade de ver que não existe nenhuma necessidade de se envolver com qualquer evento. Você age com o momento, faz o que tem que ser feito, e quando termina, está terminado. Existem muitas outras coisas em ocorrência.

Saiba: uma mente rica é cheia de eventos passados. Uma mente pobre não tem eventos. Pobreza significa não ter, não conter.  Por isso, permaneça vazio. Até pode parecer que algum esforço é necessário, mas nada é exigido para que você exerça sua própria natureza.

A mente é uma mala cheia de coisas. Você pode ir diminuindo o tamanho da mala, deixando somente o necessário. Experimente!

terça-feira, maio 24

espelho, o idiota


























 Osho diz: “Se você vê em mim um idiota, é porque você é um idiota! Se vê em mim um iluminado, é porque a luz em você está acesa”. Depende sempre de você, não de mim. E isso é verdade até embaixo d'água. Não tem o que discutir nem melhorar. Porque é isso mesmo! Você vê um idiota em mim? Você é um idiota!
Participante – Eu pude observar, ao longo do dia inteiro, a respeito daquilo que você falou: que a mente não existe. E é inacreditável, é incrível, a forma como ela se apresenta – para entrar em cena, para criar um problema, para fantasiar... Então por um tempo notei que há um envolvimento, mas quando consigo me manter atento, ela some!
Mantenha a rédea curta. Não solte! Segure o touro!
Participante – E cada vez que isso acontece, a atenção parece ficar mais aguda. Pareço ficar mais preparado para a próxima “segurada”. É como você falou em outro momento, que acumulamos um pouquinho de energia, um pouquinho de força.
Não deixe escapar!
Participante – É como se eu ficasse um pouco maior em relação ao touro. Na medida em que vou segurando, ele vai mudando de tamanho, vai diminuindo.
É isso mesmo! Chegue ao ponto de ver o touro bem pequenininho e você bem grande, segurando ele pelo rabo. Ele corre para lá e para cá e você não vai a lugar nenhum. Sentado, faça apenas um pouco de carinho nele.
O touro é a energia vital! Temos muita energia. Temos tanta energia, quanto o Universo! Até porque não somos nenhuma outra coisa. Então, é óbvio que, na inconsciência, essa energia faz gato e sapato. Essa canalização se organiza na medida em que você começa a ver quem você é.
O touro quer ir sempre para o caminho conhecido, o caminho que leva você para o inferno. E você, consciente de si, segura ele pelo rabo, até que se acalme. Daqui a pouco ele começa a correr para outro lado... e você permanece com a rédea curta. Não importa para que lado ele queira ir, contanto que você esteja ciente de quem você é.
Na medida em que a energia começa a fluir por canais diferentes, a ter outra fluência, você se torna irreconhecível a si mesmo. Então, a morte é necessariamente um corte com o conhecido e a entrada no desconhecido – sem a chance de reorganizar isso de uma maneira conhecida novamente. É o fim. Não tem como organizar ou reorganizar o desconhecido.
Por isso confiança é fundamental. O corte se estabelece na medida em que você não deixa o touro ir para o conhecido. E você já está bem grandinho, apto a isso. Você já se conhece o bastante.

segunda-feira, maio 23

o alfa e o omega
















Satsang é algo, primeiramente, novo e extraordinário. É novo porque nasce deste instante, provém de um lugar que só existe agora. Satsang significa ouvir, ver e ser, algo nunca antes visto. Aqui, portanto, a sua memória a respeito do que quer que seja, deve ser cancelada. O convite em Satsang é para que você veja o que, neste instante, é realmente importante.

Há muito tempo atrás, os homens acreditavam que a terra era plana e que, chegando no horizonte, cairiam dentro de um abismo. A crença era de que se você chegasse naquela borda, você cairia para dentro do inferno. As pessoas foram regidas durante todo aquele tempo por um sistema completamente supersticioso. Elas não sabiam, e nem queriam saber, porque, de alguma forma, eram atormentados por aqueles que capitalizavam da ignorância delas.

Levou um certo tempo até que um sujeito chamado “Galileu” observou e conseguiu estabelecer algumas regras que provaram que a terra não era plana. Descobriu-se que a terra era redonda e isso gerou uma grande turbulência. Como assim, redonda? – partir deste princípio faria todas as crenças antes estabelecidas, serem totalmente canceladas.

O interessante é que Galileu comprovou. Era um fato, não havia como discutir. Muito embora o Papa da época o tenha chamado e exigido que ele tirasse essa afirmação do seu livro – porque na Bíblia estava escrito que a terra é plana –, alegando que se tirasse, ele permaneceria cristão e iria para o céu e caso contrário, seria excomungado e iria para o inferno, Galileu, disse simplesmente que poderia tirar do livro, mas isso não anularia o fato de que a terra era redonda.

Levou um certo tempo para os humanos se acomodarem na ideia de que a terra é redonda.  Mas, tirando um pouco da objetividade desse assunto e trazendo para o lado místico, o que vemos com isso, além da grande necessidade de investigação, é que aquilo que você lança, faz uma volta e retorna ao mesmo ponto. De onde todas as coisas saem, é para onde todas as coisas voltam. Aquilo que sai do ponto A, retorna ao ponto A. Existe um ponto de onde todas as coisas saem e para onde todas as coisas voltam.

Pegue um círculo e veja que qualquer ponto deste circulo é o mesmo. Ele sempre vai dar no mesmo lugar, é perfeito. Mas o que isso tem a ver conosco? Agora eu pergunto: quem você crê ser? Você acredita ser algo plano, que vai chegar num determinado ponto, finito. Isso é apenas uma crença não investigada – medieval, eu diria. Se assumimos a realidade do espaço curvo, a ideia a respeito de quem somos, é alterada. Porque a verdade é que não estamos separados de nada.

Aqui levanto a possibilidade de questionarmos a condição humana e partirmos para uma nova percepção: Quem é você? Se acessa o medieval em você, que tem sido o mais acessível, você tem começo, meio e fim; e todos os pontos são distintos. Existe uma linearidade preenchida pelo A, seguido do B, C, Omega... Mas se isso não for verdade, quem é você?

A minha proposta é que você também seja curvo. De onde você vem é para onde você vai. E se de onde você vem é para onde você vai, existe um outro questionamento: será que você vem de algum lugar e vai para algum lugar? Investigando, é possível que uma série de mal entendidos sejam cancelados na mente humana, nas relações humanas. Se nos damos conta de que não viemos de lugar algum, nem vamos para lugar algum. Você é o alfa e o omega. Fica cancelado todo o temor, culpa, angústia... e a vida se torna uma grande celebração.