quinta-feira, novembro 25
o azul, o amarelo e a compaixão
Chegamos ao ponto de reconhecer que tanto a dor quanto a alegria,
tanto o choro quanto a risada, tanto o criminoso quanto a vítima... são a mesma coisa.
Essa é a minha chamada de hoje.
Nós estarmos aqui para ver, com toda a clareza, que aquilo que somos compreende tanto uma coisa, quanto a outra.
Este pequeno poema do Thích Nhất Hạnh, um monge vietnamita,
nos convida exatamente a essa visão:
Por favor, me chame pelo meu verdadeiro nome,
para que possa acordar
e a porta do meu coração seja aberta,
a porta da compaixão.
Qual é o seu verdadeiro nome?
O nosso encontro tem só essa função: chamá-lo pelo seu verdadeiro nome.
E não somente chamá-lo pelo verdadeiro nome, como chamá-lo de volta para o verdadeiro você.
Onde repousa todo o sofrimento?
O sofrimento não está naquilo que você é.
Está naquilo que, insistentemente, repetidamente, ideologicamente,
você repete como sendo você.
Tamanha é a insistência em ser aquilo que é visto e, nisso,
aquilo que você vê está separado daquilo que você pensa que é.
Você vive sob o império da separação.
Você vê o que pensa ou pensa o que vê?
Em realidade, todos pensam que vêem.
Esse pressuposto já está embutido e agora se articula apenas como oposição.
E oposição, conflito, gera sofrimento.
Portanto, chamá-lo de volta para quem você é, é urgente.
Onde está a dúvida? Por que você não volta?
Você se identifica com o que é visto e insiste em negar que é aquele que vê.
E, como descrito no poema, se você vê quem você é, a porta da compaixão se abre.
Permita o amadurecimento dessa visão.
Volte-se para dentro. Volte-se para aquilo que você é.
Exercite a possibilidade investigatória, que já está inserida em você,
para ver que você não é aquilo que a sua mente insiste em dizer que você é.
Encontrei também essa história de um outro vietnamita chamado Seung San, que fala o seguinte:
Você primeiro tem que tomar uma firme decisão para atingir a iluminação e ajudar os outros.
Você deve ter os cinco ou os dez preceitos. Saber quando mantê-los e quando quebrá-los.
Quando eles estão abertos e quando eles estão fechados.
Deixe ir o seu pequeno ser e torne-se o seu verdadeiro ser.
Você insiste em se relacionar com os seus pequenos seres e melhorar os seus pequenos seres.
Há, inclusive, a tese psicanalítica de que "quando você compreender toda a inconsciência do seu pequeno ser, se tornará consciente".
Mas essa é uma história para boi dormir... não é provável!
O foco precisa ser imediato. Acontece em menos de um segundo.
Se você decide firmemente ver quem você é, imediatamente uma coisa é trocada pela outra.
Imediatamente, você troca o pequeno ser, pelo verdadeiro ser.
Na sua natureza original, não existe nem isso, nem aquilo.
Quando você se vê como aquilo que é, de verdade, não existe outro.
Não existe nem isso, nem aquilo.
Qualquer divisão é um retorno ao pequeno ser, um retorno à sua pequena tragédia -
a comédica humana.
Você estabelece o seu drama desenhando isso ou aquilo.
O eu e o outro. O preto e o branco. O azul e o amarelo.
O em cima e o embaixo. O esquerdo e o direito.
Retorne para aquele lugar onde não existe nem uma coisa e nem a outra.
Na sua natureza original, não existe nem isso nem aquilo.
O grande espelho circular não tem gostos e nem "des-gostos".
Por isso aquele monge disse que quando você reconhece quem é você, a porta da compaixão é aberta.
Apenas lembre-se que abrir a porta da compaixão não é um exercício do pequeno ser.
A porta da compaixão é a realidade do supremo ser.
Não façamos desse supremo ser, uma possibilidade remota e futura. Onde ele está agora?
O supremo ser se encontra exatamente aqui, exatamente agora.
Simplesmente não se confunda com o que é visto.
Pra concluir, um último pequeno poema:
“Que engraçado,
esse ator agora servindo chá na sala de zazen,
pensa que ele sou eu.”
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Obrigado Satya por renovar o convite de novo e de novo: "Simplesmente não se confunda com o que é visto". Namastê.
ResponderExcluirThank You.
ResponderExcluirestou começando a entender este negócio. rs
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