Já ouviu falar a respeito de ficar aqui e agora? Acredito que muitas vezes. Porque eu também ouvi. O que nunca me ocorreu antes, foi perguntar às pessoas que me faziam tal proposição, se elas ficavam. Eu tomava por certo que estavam falando de algo que entendiam. Mas hoje sei que praticamente todos que me disseram isso um dia, não tinham a menor ideia do que estavam falando – apenas repetiam o que haviam ouvido de um Mestre.
O que acontece é que o Mestre sabia do que estava falando, mas, como num telefone sem fio, a proposta inicial vai perdendo significância, até o ponto de não ter nada a ver com o que foi dito. Experimente brincar de “telefone sem fio” e entenderá o que estou apontando.
Mas antes disso, vamos tentar estabelecer um diálogo elucidativo sobre o aqui e agora. Desde que nasceu, até hoje, quanto por cento você tem ficado aqui e agora? Elabore uma percentagem entre zero e qualquer decimal ou centesimal que seja. Como quiser...
Participante – Eu diria que um centésimo.
Participante 2 – Creio que uns cinco por cento.
E você?
Participante 3 – Não sei. Tenho a impressão de que desde que me propus a estar aqui e agora, houve momentos em que eu não pretendia nada. E nesses instantes eu acho que senti mais a Presença do que em outros momentos de meditação, por exemplo. Acho que é uma coisa inusitada.
Vejo que você está tentando organizar algo discursivamente, mas não é nada disso. Tanto de um lado quanto do outro, está equivocado. Vamos em frente!
Elabore o que é aqui e o que é agora. Ouça bem e não interprete a minha proposta. Eu não tenho nenhum interesse em que você sinta algo. Não estamos tendo um papo terapêutico. Por favor, aqui você pode falar “eu penso”, “eu vejo”, “eu acho”, porque é tudo a mesma coisa. É um engano considerar que você está num espaço mais profundo por “sentir”. Isso já passou, e pode esquecer, porque não levou ninguém a lugar nenhum. Foi uma tentativa, teve a sua função. Mas não está mais tangível. A minha pergunta não é o que você sente, eu quero saber apenas o que é aqui e agora.
O que a sua mente pensa do aqui e agora? Não sei se você se dá conta, mas é por ter alguma tese a respeito disso, que ela diz que você tem ficado tantos por cento no aqui e agora. Dedique esse momento a examinar exatamente: o que é aqui e o que é agora?
Participante – Seria correto dizer que para estar aqui e agora, tenho que não estar aqui e agora, num certo sentido?
Seria. Mas não seria absoluto. Tem uma pequena correção. É uma percepção relativa, pode não determinar nada. Dá para olhar de outra maneira.
Participante – A noção que eu tenho é que estar aqui e agora é prestar atenção e catalogar mentalmente, como você falou, todas as sensações. Isso virou o aqui e agora para mim. Então, o único jeito de estar aqui e agora é se eu não estiver nesse aqui e agora.
Sua resposta é relativa, mas não é isso. É melhor e muito mais simples.