sexta-feira, abril 29

pura subjetividade, estranheza intacta






















Ontem à noite li um livro, onde uma não-pessoa dizia que raros são os que querem a Verdade, os que estão buscando. E mais raros ainda são os que ficam para ver. Onde você se encontra? Não é verdade que dá vontade de voltar para o conhecido?

Em termos de mente, perder a cabeça não é uma coisa boa. Você recebe, repetitivamente, o comando de não perder a cabeça, de colocar a cabeça no lugar. Mas já parou para notar onde é o lugar da cabeça? Por incrível que pareça, se olharmos estruturalmente, o lugar da cabeça é no topo. E subconscientemente o topo é o lugar onde todos querem chegar.

Para retornar ao Ser, no entanto, você deve sair do topo e ir para dentro. Dentro é um lugar obscuro para a mente. Por não ser explícito, é um lugar obscuro – a mente não pode encontrá-lo. Aqui, então, eu retorno insistentemente: você tem que se dar conta de que o visto não é quem vê e quem vê nunca vai ser visto. Esta é a obscuridade para a mente.

Quando você era criança, a sua mãe disse para não conversar com estranhos. O Ser é um estranho para a sua mente, e como você se identifica com a mente, o Ser é um estranho para você. Assim, necessariamente, você não deve fazer amizade com Ele. Porém, como é da natureza do Ser permanecer para sempre no desconhecido, a estranheza permanece intacta para a mente. Novamente a crença a respeito de não falar com estranhos, retorna. A sua mãe, ou melhor, a sua mente diz: “Não veja quem você é, não volte para casa”.

Ao entrar no desconhecido, haverá, sim, uma estranheza. Você não pode conhecer a si mesmo, porque conhecer implica em determinar, medir, em ter um objeto, em ter uma relação sujeito-objeto... e o Ser é pura subjetividade. O Ser nunca se tornará um objeto, então a estranheza permanece intacta.

Agora a sua mente começa a ser inteligentemente removida. Ou, melhor dizendo, ela passa a ser colocada em seu lugar, onde exerce uma função prática em relação aos objetos percebidos pelos sentidos, sem nenhuma relação com a sua natureza mais íntima, que é o Ser – porque ela realmente não tem nada a ver com o Ser. Ela pode ser descartada, pode ser completamente colocada de lado e isso seria ver, simbolicamente, a sua cabeça perdendo o valor.

E, permitindo-me usar uma linguagem meio new age, eu poderia dizer que agora o coração tem mais valor. Mas para não nos perdermos, preciso discriminar que não estou falando do coração-sentimento. Estou falando do coração-cerne, do coração-ser, do âmago, do mais profundo. E o mais profundo não fica no topo.

Na linguagem dos seres humanos não estar no topo é estar embaixo e na linguagem mística não estar no topo é estar no centro, é estar dentro. Olhar para dentro, então, começa a subverter ou reverter a ordem do seu subconsciente.

quinta-feira, abril 28

amante daquilo que acontece

Outro dia me deparei com algo que dizia que o Deus cristão nos deu a escolha de sermos felizes ou tristes. Confesso que me pus a pensar a respeito de por quanto tempo temos convivido com isso... Simplesmente aceitamos essa crença como um fato, sem a menor investigação. Mas se trata de nada mais nada menos que um dogma, porque nunca foi objetivamente investigado.

Por isso, aqui, proponho uma simples reflexão: se pudesse escolher ser feliz ou triste, o que escolheria? Atenção! Note que há um “se”. Se pudesse... o que você escolheria? Já posso ouvir que a resposta seria “ser feliz”. Então, se Deus nos deu o livre arbítrio, porque não escolhemos ser felizes? Possivelmente nos enganaram em algum lugar. E é para investigarmos isso que estamos aqui.

O nosso interesse não está em reforçar algum dogma ou o que quer que seja. O nosso interesse é desorganizar o que está posto como verdade e ver o fato. Quando olharmos dessa maneira para a nossa própria existência, será possível notar que o corpo e a mente têm limitações intrínsecas, com irremediável impossibilidade de transcendência. Somente é possível dar-se conta das limitações, e apenas nesse movimento estará a possível transcendência.

Quando você desperta para o fato de que tanto a mente quanto o corpo são observados e que, portanto, você não é nem o corpo nem a mente, existem consequências liberadoras desse entendimento. Se o corpo não é você, e é o corpo que morre, fica óbvio que não é você quem morre. Se o corpo sofre e você não é o corpo, fica óbvio que não é você que sofre. Se o corpo está com fome e você não é o corpo, quem é que está com fome? Experimente conviver com esse entendimento.

Nesse momento é possível ver que, num nível mais sutil, o pronome “eu” foi removido. Essa sabedoria nasce em você para transformar a rotina dos acontecimentos numa nova maravilha.

Fome é algo que aparece na Consciência que você é. Quando aparece fome na Consciência, uma vez apertado o botão da fome, este computador corpo-mente, este objeto programado, sabe muito bem o que fazer. Um mero distanciamento e pode ser visto que fome está acontecendo. Assim como todas as coisas, a fome acontece e você é a observação dos acontecimentos.

Aqui destaco uma tênue e abismal diferença entre o iluminado antigo e o atual. Antigamente foi dito por alguns iluminados que eles não sentiam fome, medo, tesão, ciúmes, inveja... isso ou aquilo. Dessa forma foi criado um modelo. Quando olhávamos para a nossa realidade cheia desses sentimentos, não era tão simples fugir dos comparativos e, assim, iluminação jamais seria possível. No entanto, agora, é possível notar simplesmente que você não é aquele que sente tudo isso. Tudo apenas aparece e você é aquele que observa o aparecer e o desapareder das coisas.

Não existem mais modelos. Se ainda há um modelo na sua mente do que um acordado seja, você tentará impor sobre si mesmo. Apenas saiba que é o corpo que está sentindo isso ou aquilo e que é a mente que pensa isso ou aquilo. Apenas saiba que você é aquele que observa, e tudo estará na mais perfeita ordem.

Diante de tal esclarecimento, não mais existe briga ou impertinência, não mais existe não-aceitação em relação ao que está acontecendo. Agora você se tornou um amante daquilo que acontece. Você ama a tudo o que acontece, incondicionalmente. Em aceitação, você nota que nada precisa ser modificado, porque as limitações são do limitado e você é o sem limites.

terça-feira, abril 26

sem registro, isso!

























Quando começamos a nos dar conta de que o “ver” é impessoal, nasce a possibilidade de realizar que o que acontece com o corpo no dia a dia, é pura expressão daquilo que somos. A partir desse ponto, é muito mais importante “ver” do que qualquer “fazer”.

Qualquer coisa que você faça, decorre de uma série de circunstâncias, que não sabemos de antemão quais são. No entanto, o “ver” é absoluto. Ao procurar a entidade que você pensa ser, o que encontra? Aquiete-se e veja que, no lugar dessa entidade, há algo totalmente pacífico, silencioso e impessoal. Isso é você! Você pode não acreditar, mas é.

Acordar, então, é ver que nada precisa acontecer. Acordar não é algo que acontece para alguém. Acordar é a revelação de que não tem ninguém. Desse modo, não há nada para acontecer nem alguém com quem aconteça. Acordar acontece para ninguém. E, na verdade, não acontece.

As pessoas e talvez você também esteja procurando por um acontecimento. Este é um velho hábito. Estamos muito acostumados aos acontecimentos. O homem precisa de registros. Você tem o registro do seu nascimento, o registro da Primeira Comunhão, o registro da escola, o registro do noivado, o registro do casamento, o registro do divórcio... para tudo o que acontece, você tem um registro. Até porque, se não houver nenhum registro, o que acontece com essa falsa entidade entitulada “eu”? Sem registros fica óbvio que a entidade não existe. Ela só existe porque existe registro dela, porque tem uma história para contar.

Já aquilo para onde Satsang aponta, para onde eu insisto em chamar a sua atenção, é algo que não precisa de registro. Porque, é nisso que as coisas acontecem. Tudo acontece e desacontece nisso. E isso não acontece nem desacontece.

Isso não é o seu corpo, porque o seu corpo está acontecendo nisso. Isso não é a sua mente, porque a sua mente está acontecendo nisso. Isso não são os seus sentimentos e sensações porque ambos estão acontecendo nisso.

Acordar proporciona uma mudança de ponto de vista, um entendimento. Você começa a ver que o corpo e a mente não são você e tampouco têm escolha. Tudo o que acontece, acontece nisso. E isso vê tudo acontecer e desacontecer. Enquanto podemos por assim dizer que isso é um não-acontecimento.

terça-feira, abril 19

na luz, nem os coelhos

















Estamos falando a respeito de apagar a noção que você tem de si mesmo. Simplesmente esqueça! Quando se pegar pensando sobre si, esqueça! Você se leva muito a sério. Veja quanto tempo tem se preocupado consigo e tudo a sua volta...

Você pensa que tem que se tornar iluminado, por exemplo. Nota como isso é uma coisa séria para você? Mas é tão estúpido – não é possível que você alcance a iluminação. Iluminação é o desaparecimento do você. Você nunca poderá dizer “eu sou iluminado!” – nunca! Mas você pode ser você, agora. E isso é muito melhor.

Quem você realmente é, não tem necessidade nenhuma de iluminação e tampouco conhece iluminação. Seja você mesmo. E quando digo isso, não estou falando a respeito desse corpo sentado nessa cadeira. Muito embora o seu corpo e a sua mente também não possam iluminar, estou falando que quem você é já é iluminação. 

Apesar de não ser muito precisa, aqui podemos usar uma analogia: se alguém alcança a velocidade da luz, ela entra em combustão e se torna a luz ela mesma. Por isso nunca haverá um objeto viajando na velocidade da luz. Antes que ele a alcance, desaparece. 

Em nosso contexto, iluminação é tornar-se luz. O corpo não pode se tornar luz e ainda assim manter o seu estado físico. É simples assim! Você me entende? O corpo não pode ser luz; ele é pesado, grosso.

O Ser é Consciência aqui e agora e nada precisa ser feito. Você não pode alcançar isso, comendo cenouras ou entoando mantras. A única coisa que você pode se tornar comendo cenouras é um coelho. E coelhos não têm nada a ver com iluminação.

segunda-feira, abril 18

o lindo desacontecer no silencio
















Pensar a si mesmo como um objeto é parte de uma tremenda incompreensão. Você se pensa.  Foi programado a pensar que acaba no limite da sua pele.  Mas você não acaba aí. É tudo energia. Só não temos acesso, porque não temos os óculos corretos. Então nos enganados a respeito da realidade.

Mas, se você se deixar cair no Silêncio, indo mais e mais fundo, indo para dentro, você vê. Essa energia está sempre em movimento – ela nunca para, caso você goste ou não. A observação, no entanto, nos dá a maestria sobre os acontecimentos.  Um breve olhar e você pode ver que está implícito no que está acontecendo, o desacontecer. Tudo desacontece mais cedo ou mais tarde. Tudo é temporário.

Se houver uma grande turbulência, não se preocupe tanto, porque assim como veio, vai passar. Todas as coisas passarão e isso é inevitável.  Por que você está se preocupando tanto? A sua preocupação pertence a uma profunda ignorância. Acorde! Não há nada para se preocupar.

Agora, ouça bem: isso não significa que você não deva ir trabalhar. Vá! Trabalhe. Apenas saiba que não é você que está indo trabalhar. Este é simplesmente mais um evento, no tempo e no espaço. Faça o que for necessário que seja feito e nada mais além disso.

Lembre-se que tudo está preso a uma enorme rede de energia. Você não pode voluntariamente interromper a evolução dessa rede, pelo simples fato de não estar separado dela.  Não estamos falando a respeito de regular a sua vida. Você não precisa disso. Estamos falando a respeito de quem você é.

Investigue e deixe cair os seus conceitos. Aliás, eventualmente eles largarão você. Desperte e veja que eles não sobrevivem onde há luz.  Os conceitos vivem na escuridão, eles se alimentam da ignorância.  Se você acende a luz, eles somem.

sexta-feira, abril 15

um balde vazio e sem fundo e a água que cai

















Na realidade do Ser, você não está em ponto algum e não há outro ponto a chegar. O ponto já é aqui e agora. Você é aquilo que busca. Nesse sentido, o que quer que seja delineado para você como busca é errôneo, vai levá-lo para algum outro lugar. Por isso, buscar a si mesmo é uma coisa ridícula. Na busca de si, você se divide em dois. Quem está buscando a si? Se você já é aquilo que está buscando, não precisa buscar.

O que você tem buscado é uma ideia de si. Você tem um ideal, tem metas de iluminação: quando se mover como o Osho, ou quando não suar como o Mahavira. O Mahavira é um dos ícones indianos que diziam que não suava  tenho certeza que o Ser do Mahavira não suava, o meu também não sua, é o meu corpo que sua. Mas as pessoas precisavam da mitificação, então, eram dadas essas coisas. E assim nasceram os ideais.

Diziam que alguém entrava em Samadhi e não morria, então, em algum lugar na Índia, a polícia teve que tirar todo mundo à força porque havia um corpo fedendo, se deteriorando. Havia seis dias que o corpo estava morto sob o calor da Índia, e os discípulos estavam todos ao redor, dizendo que ele estava em Samadhi e iria voltar. Ora! Morreu, apagou a vela, agora queima! A realidade do corpo é fazer exatamente o que você tem observado ele fazer. Se alguém bater num Buda, ele sente dor. Se alguém fizer um carinho, uma carícia num Buda, ele sente prazer. O corpo sente fome, prazer, dor, cansaço, frio...

Agora, a Essência não sente nada disso, não precisa de nada disso. Ela é suficiente em si, mas nós entendemos isso como sendo a manifestação corpo-mente sentindo, tendo aqueles efeitos sobrenaturais, esotéricos. Fica mitificado. E nós tentamos fazer a mesma coisa: imitar.

Foi falado de não pensar no futuro e nem no passado, mas “quem você é”, o Ser, não pensa nem no futuro e nem no passado. Ele não pensa nada, quem pensa é a mente  a mente pensa e não tem jeito. Assim como suas pernas servem para caminhar, sua mente serve para pensar. Mas logo você pensa que suas pernas se movem quando sua mente quer, então, você espera que a mente, ela mesma, possa pensar e parar de pensar quando quiser. Mas, afinal, quem faria a mente pensar ou parar de pensar?

Participante — A própria mente.

Você tem alguma outra consciência de ser, a não ser a sua própria mente? Não tem. Por isso quero que você saiba “quem você é”, para compreender isso e fazer uma dissociação. No momento em que você “vê”, você nota que aquilo que pensa é a mente e que ela tem pensado uma série de coisas, inclusive a respeito de parar de pensar.

A mente é um elemento sutil, bem mais sutil do que o corpo. Nosso corpo é muito mais perceptível e concreto do que nossa mente. Onde está a mente? Não tem substância, mas o corpo parece ter. Então, Buda propôs que primeiro percebêssemos o corpo, depois os pensamentos e  mais sutil ainda  os sentimentos.

Vou guiá-lo até um ponto. A partir desse ponto, se você “vê” ou não “vê”, depende da Existência. Se ela quiser que você veja, ela deixa você “ver”. Mas até esse ponto eu te levo.

Uma vez visto, você estará observando por si mesmo. Você não pode ser o seu corpo porque você observa o seu corpo, observa a limitação do corpo através dos sentidos. Você observa a mente quando ela pensa, então, você não pode ser a mente. Quem é esse que observa? Essa é a pergunta. Na verdade, ela já está respondida: você é aquele que observa. Você é aquilo que está observando.

Não importa o que esteja acontecendo, a observação é sempre total. Ela precisa desse corpo-mente para se auto-observar. A pergunta que deixo é: “Quem é você?” Isso você tem que saber, tem que se dar conta. É um saber intuitivo, não passa pelo racional, nem passa pelo aparelho sensorial, pela estrutura sensorial. Senão, seria a mente tentando conceber o inconcebível.

É o peixe dentro d’água tentando conhecer o oceano como um todo. O peixe, pela limitação dele, apenas pode conceber o oceano fragmentadamente. Ele pode montar uma estrutura racional a partir dos fragmentos de memória, de experiências que ele tem, mas, ele pode ter o Todo? Por isso, eles chamam de experiência transcendental, mística ou iluminação  quando há transcendência. Na Psicologia, tentaram chamar de “transpessoal”, “psicologia transpessoal”  porque transcendia o fato de sermos uma pessoa. A observação dos fenômenos que transcendem a pessoa e o que você é, definitivamente, transcendem sua pessoa.

Isso não cabe na mente. Não pense que a mente tem de fazer alguma coisa com isso; deixe a mente falar, não use o que estou dizendo. Deixe isso cair para dentro de você e receba como um balde vazio e sem fundo recebe a água que cai.

Não tem como o imensurável caber dentro do limitado. Nosso corpo é limitado  como poderia caber o ilimitado dentro do corpo? Se tentar conceber isso, você está obviamente fadado ao fracasso. Há somente uma coisa que está aqui e agora e em nenhum outro lugar no tempo ou no espaço. Sem Consciência, você não estaria aqui e agora.

Por mera ignorância, você tem uma noção de separação. Não pense que é por algum outro motivo porque você já é a Iluminação!

quinta-feira, abril 14

nem ontem, nem hoje, nem amanhã



















Você se dá conta de como a mente sempre olha para você com condenação? Em contrapartida, o Silêncio o condena de alguma maneira? Não. O Silêncio aniquila você!
Onde o Silêncio está, não tem você. Você some à presença do Silencio. Ao invés de um “você” – cheio de histórias – está o Silêncio, livre e observativo.

Por mais dedicada que seja a sua busca, a verdade é que no Silêncio, até o meditador some. Enquanto a mente vive de condenações, de julgamentos; veja se no Silêncio existem expectativas ou planos de futuro. Para o Silêncio, o agora é suficiente. E isso altera absolutamente tudo. Se você precisa lembrar de algo que ocorreu no passado ou fazer algum planejamento para o próximo instante, faça-o, mas com o distanciamento de uma vida passada, de algo que não lhe pertence.

Participante – Satya, qual é o ponto comum entre o ensinamento de Jesus e o Zen?

O que que você entende como Zen?

Participante – É um contato com o Eu Superior, com o Silêncio...

Um contato com o Eu Superior?

Participante – Sim. Com isso que não é a mente.

Quando quer que seja que quem quer que seja fale disso, aponte para isso, este é o ponto comum. E uma vez visto, você há de notá-lo em tudo e em todos.

Acomode-se e permita que, de um jeito ou de outro, a Verdade penetre em você. Existem diferentes formas de acesso, mas todas estão falando da mesma coisa.

Para aprofundar o que estou dizendo, ouça isso que o Sosan diz:

“Vazio aqui, vazio ali, mas o infinito universo está sempre ante os teus olhos -
infinitamente grande, infinitamente pequeno, nenhuma diferença.
Porque as definições todas desvaneceram-se.
E nenhuma fronteira, nenhum limite é encontrado.
Assim também com o ser e não-ser.
Não perca tempo com dúvidas e argumentos.
Isso não tem nada a ver com dúvidas e argumentos.
Uma coisa, todas as coisas.
Mova-se entre elas, misture-se com elas.
Sem nenhuma distinção.
Se não há condenação, o Silêncio pode ir aonde ele quiser, sentir o que ele quiser.
Viver nesta realização é não ser ansiedade em relação à não-perfeição.
Não existe perfeição.
Viver esta verdade é o caminho da não-dualidade.
Porque o não-dual é um com a mente que confia.
Palavras.
O caminho está além das palavras.
Porque Nisso não há ontem, não há amanhã e não há hoje.”

quarta-feira, abril 13

a bengala, a conspiração e a verdade
















Algo muito valioso é revelado em Satsang e você deve um profundo respeito a isso. Talvez ouça alguém dizer que você está se relacionando com Satsang como se fosse uma bengala, mas volte mesmo assim. Mantenha-se conectado com a sua visão, nada mais. Quando alguém disser que é uma bengala, convide-o a vir e verificar com os próprios olhos.

De certa maneira, podemos considerar correta tal afirmação. A criança começa a engatinhar, depois consegue andar se segurando nas paredes, nos móveis... e, por fim, anda sozinha. Porém, no nosso contexto, quando você consegue "Ver" sozinho, nasce o desejo de caminhar junto e que mais pessoas possam aproximar-se disso. O seu caminhar vai na mesma direção. Se você está em chamas e se mantém perto daqueles que também estão, o fogo aumenta. Quanto mais, melhor.

Este movimento não corrompe a sua individualidade. O seu Silêncio é o bastante, é satisfatório, é o que você está buscando. Ele está aqui e agora. Você pode dirigir com ele, ir ao cinema com ele... e se, em algum momento, notar que a chama está apagando, aproxime-se novamente do fogo.

É preciso humildade e clareza para ver até onde você pode ir sozinho, e quando ainda precisa estar junto. Ao saber disso, muita integridade é necessária para conseguir fazer algo que, inclusive, é contrário à nossa cultura. A lógica ocidental não permite que você necessite de algo para ir em frente.

Incontáveis foram as vezes em que fui ver o Osho e abandonei tudo o que estava fazendo e todos os conselhos e críticas que ouvia. Não me importava o que diziam, eu queria ver com meus próprios olhos e estava disposto a morrer por aquilo, independente do que dissessem. Me perguntavam se eu ainda fazia parte “daquela seita” e eu respondia que sim, porque não tinha como discutir a respeito disso com aquelas pessoas. Mas, se dizem que você faz parte de uma seita, você se incomoda, não é mesmo? De um certo modo, hoje já há mais abertura para falar sobre isso e trazer mais clareza. De fato, você não faz parte de uma seita, mas não espere que te entendam.
    
Permaneça íntegro, porque o mundo é conspiratório - ele não quer a Verdade. O mundo não quer que você acorde, ele quer que você continue fazendo exatamente o que eles estão fazendo. Se você começa a despertar, começa a perturbar a ordem. Só alguém que o ame muito vai absorver essa mudança.

terça-feira, abril 12

iluminação aqui e agora














Ana Elizabeth Diniz / Especial para "O Tempo" - Belo Horizonte/MG, Junho/2006

É preciso esgarçar conceitos construídos ou assimilados ao longo do tempo para entender o que propõe o místico Satyaprem - palavra que significa amor pela verdade.

Com uma sinceridade rara, ele vai, ao longo da entrevista, revelando que é preciso que rompamos com a estrutura formal da mente e vislumbremos o desconhecido, ou seja, a nossa própria natureza. Somos estranhos para nós mesmos.
É preciso ter consciência da consciência, ou ver quem realmente somos. "Não há busca, não há caminho, não há método. A iluminação é aqui e agora. Nada é tudo o que você tem a fazer. Renda-se!", provoca o místico.
É esse olhar quântico da experiência humana na Terra que Satyaprem compartilha com centenas de pessoas que vão participar dos "satsangs" - palavra sânscrita que significa encontro com a verdade - em diversas capitais do Brasil.

O que ele propõe é radical: "O ser humano não tem meta. Não estamos aqui para fazer nada, não temos a menor função". Sua busca começou aos 23 anos, quando estudava jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Anarquista teórico, se encantou com o pensamento de Carlos Castaneda e do líder espiritual Osho e foi viver em Oregon, Estados Unidos, na década de 80, em uma comunidade conhecida como Rajeeshpuram, um "oásis no deserto", para onde se dirigiam todos aqueles que queriam experimentar uma vida livre, desapegada das amarras de uma sociedade escravizada pela ganância financeira.

Lá, Satyaprem, que não considera importante revelar o seu nome de batismo, se tornou um "sannyasin", classicamente um renunciante. Praticou durante anos a meditação ativa e conheceu uma vida de libertação dos sentidos.

Em Seattle, Estados Unidos, estudou com Suddha, uma discípula de Osho, que criou uma técnica chamada iluminação intensiva, ou vislumbre de iluminação, também conhecida no Japão como "satori".

Hoje, esse gaúcho de Bagé, e muitos anos vividos nos Estados Unidos, Índia, Holanda, Alemanha, Noruega e Suécia, trabalhando em comunidades como terapeuta, sentencia: "Você não é quem você pensa que é".

"O real não é o experimentado"

Estou diante de Satyaprem, olhos negros intensos. Como que advinhasse a complexidade do que ali seria dito, peço um café forte. E me coloco aberta para acolher palavras, apenas palavras que provocam, inquietam, estimulam e me remetem a um templo interior pouco explorado.

Naquele momento compreendo que "o real não é o experimentado". Contrariamente ao que eu supunha, eu não sou a observadora do mundo.

"Quem está vendo não é quem está observando. O observador é a consciência que é eterna, universal e una. Todos somos a mesma coisa - não coisa -, a consciência que não pode ser experimentada pelos objetos dos quais somos conscientes. O ser humano não pode experimentar a consciência porque ele é a própria consciência sonhando que é um ser humano", explica Satyaprem.

Lampejos de nós

Sem me dar tempo para processar essas informações, ele prossegue: "Tornar-se pressupõe tempo e o tempo não existe. Essa experiência é apenas um lampejo daquilo que já é. Ou seja, tornar-se é uma impossibilidade, pois já somos. Tudo faz parte e é a mesma coisa. Buscamos experiências daquilo que somos antes de sermos o que pensamos que somos - seres humanos".

O místico considera que devemos resgatar a ordinariedade. "Ela é fundamental para a compreensão de nossa natureza. A idéia é recolher idéias e viver o real, ver o ordinário como divino".

Satyaprem alerta: "Perceba quanta energia o indivíduo consome em tornar-se. Projeções para o futuro. Isso gera culpa e ansiedade. Estar preso ao presente é a verdadeira liberdade". Para o místico, o sonho do ser humano é recriar quem ele é quando ele já faz isso num ato de amor, breve.

"Compreender é controlar. Não existe instrumento capaz de entender o ininteligível. O corpo não contém a consciência, mas a consciência contém o corpo. O corpo está na consciência". Mas, afinal, pergunto eu, qual o objetivo do ser humano?

"Descobrir quem somos. Nossas ações são gerenciadas por uma força maior, estranha e externa a nós. O mecanismo corpo e mente é apenas um objeto na consciência. Na unidade a consciência se confunde com o objetivo até que ela se 'desconfunde'".

A mente se acomoda no silêncio do agora

Você tem que se acomodar no silêncio do agora. Só tem um lugar para ficar, e esse lugar lhe é dado, naturalmente, de presente. Ele é absolutamente o lugar mais relaxante de você ser. Seja agora! E veja o que você colhe desse "ser agora".

Se você se aquieta, você nota que aqui e agora não tem mente. E mesmo que ela apareça, como você não está a alimentando, ela desaparece. É como se a energia que estava focada antes em algum lugar fosse desfocada. O seu corpo-mente tem sempre um impulso, porque a natureza do corpomente é movimento.

Parada, a mente não existe. Ela sabe que parada, some. Então, ela se alimenta, ela tem sempre que fazer alguma coisa. É o movimento da mente e do corpo que faz a manutenção da idéia que você tem de quem você seja. Se você começa a se aquietar, essa idéia não é mais retroalimentada.

Essa idéia começa a sumir e surge algo novo: você começa a se tornar consciente de que você não é o que você pensa que é. Você permanece sendo quem você pensa que é, simplesmente, relembrando o passado. Sua memória tem um poder e se você nota isso, você pára de contar sua história e começa a ficar no silêncio.

Então, a história do silêncio - que não é uma história - começa a ser contada para você. Agora você olha para o agora. E, nisso, nasce um "novo você". A ênfase em olhar para dentro tem que ser absoluta. Se você olhar para o lado externo, o que você vê? Limitação, em todos os lugares.

Se você olhar para fora, tudo o que você vê é limite, inexoravelmente. Se você vê isso, você tem que antever que esse corpo e essa mente têm limites, porque eles foram criados por pessoas altamente limitadas pelo tempo, pela cultura imposta.

Claro que você pode trabalhar isso, mas, mesmo assim, não há o ilimitado na mente e no corpo.

A partir daí nasce uma outra possibilidade: como não olhar para o outro com compaixão, se você tem limites também? Nasce uma relação diferente. Você não mais exige do outro algo que ele não tenha condições de lhe dar.

Você não está aqui para preencher o outro, porque o seu preenchimento não vem de fora para dentro, e, sim, de dentro para fora.

A ênfase é: vá para dentro! E na medida em que você vai para dentro, você vê que as pessoas estão nesse atropelo, nessa ansiedade, nessa angústia, nesse medo, porque tudo que elas têm está do lado de fora. Você tem que começar a ver isso no seu dia-a-dia.

Comece agora! Este é um bom momento. Neste instante: quem é você? Para onde você olha para responder a essa pergunta? Olhe para dentro! Comece a entender o que "dentro" seja.

E, de dentro, não pode surgir resposta nenhuma, a não ser silêncio, relaxamento e paz. Toca nisso, se desmancha nisso... Já está aqui e agora! Meditação, então, não é uma técnica ou algo a ser feito, é algo inerente, que está dentro de você. Basta olhar para dentro.

Fragmentos de iluminação

Morte - Você ainda vai morrer, você ainda vai sentir dor, mas tem uma coisa que em nosso processo completo de vida não levamos em conta, não é falado, não é tocado, não é elaborado de forma alguma. Nós vivemos dentro da nossa cultura de uma forma refletida! Nós nos refletimos nos outros. E uma experiência refletida é secundária. Ela é indireta, não é uma experiência direta de quem somos.

Sofrimento - As pessoas sofrem porque vivem de acordo com o reflexo e o reflexo não é o que você é. Você não é o seu reflexo! Você é aquilo que é refletido, você é aquilo que está atrás do espelho.

Homem - Nós nos relacionamos com o mundo como se o mundo fosse um objeto, as pessoas fossem objetos e nós fossemos um sujeito. Nós não passamos de objetos também. Essa pretensão de ser alguém, que você chama de eu, é apenas um objeto. E aquilo que você é, transcende tudo isso, porque não pode ser manipulado por ninguém.


Você não pode ser nada que você esteja vendo, você é simplesmente aquele que vê. Você não pode ver a si mesmo, por que quem veria? Aquilo que nós somos, a essência é imensurável. No entanto, pode-se saber, pode-se realizar, pode-se reconhecer isso pelo simples motivo de que isso é a nossa realidade.



segunda-feira, abril 11

o que conhece, conhece em si
















Tem algo que permeia tudo o que acontece. Você é aquele que conhece, e aquele que conhece não pode se conhecer, porque, para isso, teria de haver dois: aquele que conhece e aquele que é conhecido. O que conhece, conhece em si. Essa é uma experiência direta: saber que você é aquilo que não está limitado ao corpo.

Você está vendo essa almofada e você não é essa almofada. Da mesma forma, você está me vendo e você não é esse que você está vendo. Agora, dê uma olhada: você vê o seu corpo? Ele pode ser sentido como uma coisa externa a você? Isso aponta apenas para uma realidade: você não é seu corpo, da mesma forma que não é a mente – já que percebe também os seus pensamentos.

Você não pode perceber quem verdadeiramente é, seja pensando calmamente, do jeito que gosta, ou histericamente, do jeito que não gosta. Se são três horas da manhã e você tem que levantar às seis e não está conseguindo dormir, você não pode fazer nada. Quanto mais se preocupa com o que está acontecendo, pior fica. E fica pior porque existe envolvimento – a mente se envolvendo com ela mesma. Um monte de flores e dragões no ar e você se envolvendo com eles. Eles aumentam de tamanho, se alimentam daquele envolvimento.

E se você não se envolver? Talvez você nunca tenha experimentado. Experimente! Olhe! Mas não olhe com a mente. Veja que você já está olhando, senão, será novamente a mente fazendo alguma coisa. E a mente olhando, estará fadada a esquecer.

Você diz: “Desde que comecei a fazer meditação e ler os livros do Osho, estou me observando”. E antes? Você não estava se observando? É só uma terminologia que agora entrou na sua boca, mas, basicamente, você continuava se observando. Você é a Observação. Observe agora, nesse momento. Talvez a sua mente esteja mais quieta do que quando começamos a conversar e você está mais claro a respeito do “observar-se”.

O que acontece quando o estado de observação constante não está sendo constante? Como é que você sabe que não está constante? A mente quer controlar tudo. Mas não passa por ela, não é para ela que estou falando. Sua mente não precisa fazer nada. O que estou falando não é uma ideia, não tem como permanecer, não tem como manter, porque não depende de você o que está acontecendo.

Em alguns momentos você nota que está em conexão. E em outros momentos pode notar que não está em conexão. Alguma coisa acontece e você se percebe desconectado. Enredar-se na mente pensante, aquela que alucina, que se ilude, é a única forma de “desligar da tomada”. Mas é ilusório, ela acontece apenas na periferia, é efêmera, não dura para sempre. Você nunca está desconectado de verdade.

A onda se levanta, e de repente tem uma ideia de que ela seja uma onda. Ela esquece que é oceano, mas não deixa de ser oceano. E se ela não se preocupar com a desconexão, o que acontece? Não dá nem para dizer que ela volta a ser oceano, porque nunca deixou de ser. Simplesmente não alimente essa aparente desconexão.



sexta-feira, abril 8

quem seria você sem a sua trombeta?






















Ser e Consciência são um caso silencioso.
Não estamos falando a respeito de chegar a algum lugar. Não estamos falando a respeito de se tornar alguém. A Verdade já está aqui! Mas para vê-la, você tem que desaparecer.

Todas as propostas que a mente faz são baseadas no medo. Enquanto que você, quem você realmente é, não tem nada a temer. No entanto, eu tenho que concordar com a sua mente. Ela deve temer, porque nisso que Satsang revela, não há mente.

Quando falo que nisso não há mente, sei que é muito possível que você não tenha uma forma de compreender. Porque se não há mente, não há nada. Mas note que esse nada, não é a negação de algo. É o que faz tudo vibrar – os seus movimentos, as suas palavras, a sua respiração, a sua visão, a sua audição, os seus sentimentos... tudo é expressão disso.
Onde quer que a sua mente fique envolvida, é o passado. Estar em Satsang é assumir um caso com o Silêncio. É o fim de todas as histórias. Inclusive se você conta uma história à respeito do Silêncio, saiba que isso também é mais uma história na sua mente.

A vida acontece nisso, mas não é isso! O que é isto? Isso é o que eu tenho certeza que a sua mente se engana em descrever ou tentar compreender. Por isso não estou pedindo que descreva nem compreenda nada. Estou apenas o convidando a ficar quieto. Simplesmente observe. E não esqueça que isso não pode ser feito por você. Isso é você!

A mente diz “Agora estou observando” ou “Agora não estou observando”. E tudo isso acontece na observação que você é – impessoal e absolutamente sem propriedade.

Está aqui. Mas para perceber, é como se você quisesse escutar a canção dos passarinhos – você tem que parar de tocar o seu trombeta. Você está tocando o seu trompete muito alto e se queixa de não poder ouvir a sua própria respiração ou as batidas do seu coração. Pare de tocar a sua trombeta. Quem seria você sem a sua trombeta?

Você pensa que tudo o que tem é a sua trombeta e permanece 24 horas por dia “trombetando”. Simplesmente descanse um pouquinho e você vai ver algo que a sua mente adoraria alcançar, pegar. Mas não há nada para ser alcançado. O nosso encontro é a respeito de não pegar nada.

E aqui, eu gostaria que compreendesse bem: quando digo que não se trata de pegar nada, eu não estou dizendo para você ficar aí parado, do jeito que você está, enrolado nos seus conceitos. Você tem que esquecer quem você é. Apenas isso! E reforço isso porque algumas pessoas entendem que devem ficar do jeito que estão, pensando-se ser um objeto no tempo e no espaço. Mas não é nada disso. Existe uma sutileza no entendimento e você tem que ir lá, mais cedo ou mais tarde.

Você não está ok do jeito que está, porque isso não é você. O que você é, sim, está ok do jeito que está. E, ainda, o objeto faz parte, está ok inclusive que ele seja do jeito que ele é, com todas as suas imperfeições. Nesse sentido, o objeto está ok, mas a identificação com o objeto é que não é ok.

Se tem algo que você possa fazer, é não pensar-se. Não pense. Não tome a si mesmo tão seriamente. Não acredite que o objeto seja você e estaremos conversados.