sexta-feira, abril 29

pura subjetividade, estranheza intacta






















Ontem à noite li um livro, onde uma não-pessoa dizia que raros são os que querem a Verdade, os que estão buscando. E mais raros ainda são os que ficam para ver. Onde você se encontra? Não é verdade que dá vontade de voltar para o conhecido?

Em termos de mente, perder a cabeça não é uma coisa boa. Você recebe, repetitivamente, o comando de não perder a cabeça, de colocar a cabeça no lugar. Mas já parou para notar onde é o lugar da cabeça? Por incrível que pareça, se olharmos estruturalmente, o lugar da cabeça é no topo. E subconscientemente o topo é o lugar onde todos querem chegar.

Para retornar ao Ser, no entanto, você deve sair do topo e ir para dentro. Dentro é um lugar obscuro para a mente. Por não ser explícito, é um lugar obscuro – a mente não pode encontrá-lo. Aqui, então, eu retorno insistentemente: você tem que se dar conta de que o visto não é quem vê e quem vê nunca vai ser visto. Esta é a obscuridade para a mente.

Quando você era criança, a sua mãe disse para não conversar com estranhos. O Ser é um estranho para a sua mente, e como você se identifica com a mente, o Ser é um estranho para você. Assim, necessariamente, você não deve fazer amizade com Ele. Porém, como é da natureza do Ser permanecer para sempre no desconhecido, a estranheza permanece intacta para a mente. Novamente a crença a respeito de não falar com estranhos, retorna. A sua mãe, ou melhor, a sua mente diz: “Não veja quem você é, não volte para casa”.

Ao entrar no desconhecido, haverá, sim, uma estranheza. Você não pode conhecer a si mesmo, porque conhecer implica em determinar, medir, em ter um objeto, em ter uma relação sujeito-objeto... e o Ser é pura subjetividade. O Ser nunca se tornará um objeto, então a estranheza permanece intacta.

Agora a sua mente começa a ser inteligentemente removida. Ou, melhor dizendo, ela passa a ser colocada em seu lugar, onde exerce uma função prática em relação aos objetos percebidos pelos sentidos, sem nenhuma relação com a sua natureza mais íntima, que é o Ser – porque ela realmente não tem nada a ver com o Ser. Ela pode ser descartada, pode ser completamente colocada de lado e isso seria ver, simbolicamente, a sua cabeça perdendo o valor.

E, permitindo-me usar uma linguagem meio new age, eu poderia dizer que agora o coração tem mais valor. Mas para não nos perdermos, preciso discriminar que não estou falando do coração-sentimento. Estou falando do coração-cerne, do coração-ser, do âmago, do mais profundo. E o mais profundo não fica no topo.

Na linguagem dos seres humanos não estar no topo é estar embaixo e na linguagem mística não estar no topo é estar no centro, é estar dentro. Olhar para dentro, então, começa a subverter ou reverter a ordem do seu subconsciente.

Um comentário:

  1. "O retorno é o movimento do Caminho
    A suavidade é a atuação do caminho
    Os seres sob o céu nascem da existência
    E a existência nasce da não-existência."
    Tao Te Ching.

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