sexta-feira, setembro 20

nem eu, nem você: isso!


Não existe o outro, tudo é você. Então, colocar-se no lugar do "outro" gera consequências muito elegantes, necessárias e incrivelmente revolucionárias.

Lao Tzu, que tinha umas ideias bem rocambólicas, praticamente inaceitáveis para o padrão mental da época e atual ­– por mais sofisticado que você pense que seja o padrão mental ocidental contemporâneo –, disse algo que considero uma pérola: "Onde há justiça não há compaixão". Contemple.

Justiça é quando você julga o outro. Compaixão é quando você não julga o outro. Quando você julga o outro cria um karma, existe uma lei de ação e reação: quando julga o outro você será julgado. Quando se compadece, colocando-se no lugar do outro, você resolve internamente.

O problema está em pensarmo-nos separados uns dos outros. Nos vemos separados, nos sentimos separados, e é dificil convencer o nosso sistema neurológico do contrário. Aliás, ver a não-separação não é uma questão de convencimento, é a suprema compreensão, é um dar-se conta, absoluto. De repente, é vista a ilusão da separação, colocam-se os pingos nos 'is' e o outro deixa de existir. Você deixa de existir como imagem.

O que corrompe as relações humanas é a mente, e a mente é plena inconsciência. Na medida em que começa a ver como ela se move, você se antecipa. Você aparece e ela não mais está, assim como a luz diante da escuridão. Consciência está presente. 

3 comentários:

  1. Me tocou tanto, que virou lágrimas.. A empatia conduz para o coração.
    Obrigada, Satya!

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  2. "Crio o material antes de pintá-lo, e a madeira torna-se tão imprescindível para minha pintura como o seria para um escultor. E o material criado é religioso: tem o peso de vigas de convento. Compacto, fechado como uma porta fechada. Mas no portal foram esfoladas aberturas, rasgadas por unhas. E é através dessas brechas que se vê o que está dentro de uma síntese, dentro da simetria utópica. Cor coagulada, violência, martírio, são as vigas que sustentam o silêncio de uma simetria religiosa.
    Mas agora estou interessada pelo mistério do espelho. Procuro um meio de pintá-lo ou falar dele com a palavra. Mas o que é o espelho?
    (...)
    Ao pintá-lo precisei de minha própria delicadeza para não atravessá-lo com minha imagem, pois espelho em que eu me veja já sou eu, só espelho vazio é que é espelho vivo.

    Luz!
    Amptalla

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  3. O texto é de Clarice Lispector, do livro Água Viva.
    Um abraço,
    Amptalla

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