quinta-feira, maio 23

o eloquente e silencioso discurso do fogo


Um dia perguntaram a Picasso, enquanto ele pintava um quadro: "Qual é a significância disso?" Ele voltou-se para aquela pessoa, numa espécie de estupefação, e disse: "Vá até o jardim e quando o pássaro cantar, pergunte-o qual o significado do seu canto. Se ele te responder, eu me comprometo em preencher tal lacuna".

Toda a confusão está em dar significância. Quem é esse que precisa de significância? A aquietação da mente não é um ato, é uma compreensão, um dar-se conta. É dar-se conta da ilusão. E, não só isso, é ver que também aquele que está vivendo a ilusão é uma ilusão.

O que está acontecendo agora? Para qualquer lado que você for, tentando responder, necessariamente, terá que acreditar na mente. E todo o papel da Verdade é mostrar o equívoco. Não tem nada acontecendo. Você deveria estar grato exatamente agora. Por nada.

O mundo conhecido como realidade é apenas uma descrição da mente, que não existe agora. Ela fica descrevendo, descrevendo... E você fica acreditando, acreditando... Quem acredita? Aquele que você pensa que é, acredita. Você é uma criança que acredita no Papai Noel.

Desde pequenininho te apresentaram: Chupeta. Coelhinho. Você. No começo você não acreditava, mas aquilo se tornou tão consistente na sua insistência que você sucumbiu: Ok! Eu, tu, ele, nós, vós... E agora é necessário um trabalho de desconstrução. Parece longo, árduo e complexo. Mas, de verdade, implica simplesmente em ver que pensamentos são pássaros passando. Você não precisa segui-los. Você os vê. Você apenas os vê. Mas se perde porque segue o pássaro. Você segue o pensamento. E seguir um pensamento desencadeia uma procriação de pensamentos ainda mais complexos. E, quando você menos percebe, está precisando de um mapa, de uma bússola, de um GPS.

Aonde você está indo? O primeiro pensamento que você segue é que você seja "alguma coisa". O primeiro pensamento é pensar que você "é" – que mentira! Sim, porque se você "é", você é "alguma coisa". E se você é alguma coisa, você "faz alguma coisa" e assim segue...

Volte ao límpido, volte ao anterior a tudo, ao antes do "eu sou". Ou você topa crer, dar significância, ou fica vazio. E, se você fica vazio, esse instante é suficiente. Escute o eloquente e silencioso crepitar do fogo.

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