segunda-feira, maio 9

o sutra do bolinho de arroz

















Hsuan Chien, quando jovem, era um devoto estudante do budismo. Ele estudou todos os conceitos e doutrinas, e tornou-se muito hábil em analisar os termos mais complexos.  Considerava-se um entendido em filosofia budista.  Aprendeu o Sutra do Diamante e orgulhava-se de ter escrito um longo comentário sobre ele.

Um dia, sabendo que em outra cidade havia um grande sábio que dizia coisas com as quais ele não concordava, ele resolveu viajar para lá, para provar com o seu conhecimento que o sábio estava errado.  Colocou o comentário sobre o Sutra do Diamante embaixo do braço e partiu.

No caminho ele encontrou uma velha que vendia bolinhos de arroz:
-       Gostaria de comprar alguns bolinhos, por favor! – Disse ele para a velha.
-       Que livros está carregando? – Perguntou a velha.
-       É o meu comentário sobre o sentido verdadeiro do Sutra do Diamante. Mas você não entende nada sobre esses assuntos profundos.  – Disse, desprezando a vendedora de bolinhos.
-        Vou fazer uma pergunta e se puderes responder, eu te darei todos os bolinhos de graça.
Ele, obviamente aceitou o desafio.
-       Está escrito que a mente do passado é inatingível, a mente do futuro é inatingível e que a mente do presente também é inatingível.  Diga-me: com qual mente você vai comer os meus bolinhos?
Hsuan Chien não soube o que dizer.
-       Sinto muito, mas acho que terá que comer bolinhos em algum outro lugar.  – Finalizou a velha.

Você vê? Do que adianta fazer o comentário sobre o Sutra do Diamante, e quando “a porca torce o rabo”, não saber de nada? E logo com a velhinha que ele julgou não compreender sobre assuntos profundos.

Se não tem mente no futuro, se não tem mente no passado, se não tem mente no presente, com que mente você vai comer os bolinhos? O que a velhinha está dizendo?

Não importa o que você esteja carregando na sua mente.  E todo o meu esforço aqui, se é que existe algum, é convencê-lo exatamente disso.  Do que importa o que você acredita?  Do que importa o que você acha?  O que quer que seja que você acredite, não passa de imaginação.

O que eu estou apontando para, não tem relevância nenhuma no nível fenomenológico. Ou seja, você não pode aceder a isso que você é. Isso que você é não pode ser experimentado por mim.  Isso que você é, transcende os fenomenos – não é objetivo, não é um objeto.

A mente não sabe nada disso. E nada que a mente saiba sobre isso, é de fato sobre isso que a mente sabe.  A mente pode pensar o que quiser, mas na hora de comer os bolinhos, com que mente você vai comê-los?

Um comentário: