terça-feira, novembro 30
desvista o visto
As pessoas querem ser felizes.
Mas - aqui no meu pequeno mundo - eu faço um apelo:
ao invés de ser feliz, seja silencioso.
Seja o Silêncio!
E lembre-se: não existe nenhum produto externo a você
que possa ser vendido, para que você seja o Silêncio.
Para ser feliz, existe um Toyota, uma casa na praia,
uma mulher daquelas que eles mostram na televisão...
Mas ser silencioso não demanda nenhum produto externo a você.
É necessária apenas uma compreensão, um ver.
Em suma, ser silencioso depende apenas de você e de ninguém mais, de nada mais.
É por isso que é banalizado, que não serve para ser comercializado.
Talvez seja também por isso que não haja nenhum apelo na televisão que diga:
“Seja silencioso! Desligue a televisão, desligue o sistema de som, desligue o carro e olhe para o céu estrelado”.
Já imaginou? Vai que a multidão obedeça e se dê conta... o que aconteceria?
Então, aqui, seja silencioso.
Ou melhor, seja Você mesmo. Não se confunda com o visto. Desvista-se da confusão.
Desvista-se do confundido. Desvista-se do visto.
E note que neste momento de ser quem você É - silencioso -
todas as tensões desaparecem em relação ao futuro;
todas as tensões desaparecem em relação ao passado.
Note que tem algo essencial em você que está totalmente tranqüilo com o que vai acontecer,
porque existe uma sapiência, uma sabedoria totalmente evidente e intuitiva.
No Agora nada acontece. Agora só tem Silêncio. Veja!
Nesse momento, é como se o Silêncio falasse para ele mesmo.
Se você está olhando para dentro - e esse é o meu apelo - note como é tranqüilo
simplesmente ser Você.
O que você precisa Agora? O que lhe pode ser tirado, Agora? Você vê?
Se isso foi compreendido, a semente está posta.
Há algo mais do que a sua mente conhece. Isso é suficiente. E, então, a semente está plantada.
segunda-feira, novembro 29
receba o presente
Eu não tenho nada para lhe dar,
só preciso lhe tirar um monte de coisas, um monte de ideias.
Essa é a minha determinação.
Eu sei que têm muitos que irão espernear.
Ok, esperneie, não há problema.
Mas, para encontrar a Verdade, é preciso que lhe seja tirada toda a mentira.
Inclusive, é apenas temporário esse espernear.
Você acha que, sem as suas ideias, não será mais você.
Mas isso é mais uma mentira que lhe contaram e você acreditou.
São as suas ideias que o afastam de Você.
Perdendo as ideias a respeito de si, você, sim, deixa de ser o falso eu
e assume a sua verdadeira natureza como realidade.
Muitos confrontam a Verdade, mas ao perceber que Ela não é nada do que se imaginavam,
jogam fora a água e a sede. Sem se dar conta de que a coisa mais preciosa já encontrada,
acabou de ser jogada fora. Quando você olha dentro da sua mente e vê que a Verdade não é exatamente o que pensava, escolhe ficar com o que era pensado e joga fora a experiência real.
O meu convite é: jogue suas ideias fora e fique com o presente. Ideias não existem no presente.
Ou você consegue pensar no presente? Os pensamentos estão no passado e no futuro.
Eu sei que isso que estou perguntando pode parecer inacessível nesse momento.
E, digamos que eu concorde com você, que precisamos aprender algumas coisas...
Mas aprender, no contexto de Satsang, tem mais um aspecto de “des-aprender” do que de aprender.
Saber quem você é, não depende de um acúmulo, depende de um descarrego.
Você deve descarregar. Você deve “des-aprender”.
Satsang não é ganhar algo, é perder tudo que se pensa, tudo que se sente, tudo que se vê, tudo que se descreve...
Aquilo que você é, já é você. O que o afasta disso é tudo o que você "tem".
Se perde o que tem, fica aquilo que é.
O único engano é pensar que o Ser é alguma outra coisa que não você.
Você, inclusive pensa que reconhecer o Ser promove um grande evento, uma forte sensação...
mas se "a sensação" disso for bem fraquinha, bem tênue?
A questão é: “quem é você?"
É preciso averiguar. Investigue verticalmente!
Se averigua com precisão, você começa a desmascarar uma série de pensamentos.
Desde que você tenha disposição, sede, isso não é algo difícil.
Um punhado de carinho e comprometimento para com a Verdade é o suficiente.
Você é Consciência, sabendo ou não, querendo ou não.
Mas, no momento em que isso nasce no seu coração, você não vai parar até que encontre.
E, de verdade, não tem chance de não encontrar. A possibilidade de encontrar a si mesmo está muito perto de você.
sexta-feira, novembro 26
des-ilusão: portal para satsang
Estar em Satsang é estar no vazio da ausência das crenças.
É estar no ponto onde não há necessidade de crer no que quer que seja,
pela mera investigaçao de cada crença, dando-se conta de que toda crença é condicionada.
Toda crença tem uma condição pela qual ela exista, tem uma função.
Surge para manter um estado de realidade das coisas, que não é o seu estado natural.
Se você entender a diferença entre natural e artificial, vai entender que o estado natural das coisas
é absolutamente anterior a sua existência, é anterior a qualquer condição que seja posta.
Investigando os conceitos na sua mente, é possível que entre em contato com um oceano tão vasto
de crenças não investigadas, que lhe façam pensar: “Como parar de acreditar nas coisas que eu acredito?”
Para talvez tornar mais palpável o que estou dizendo... hoje mesmo, abri uma revista
e numa das matérias alguém estava falando do “Encontro das mulheres desiludidas”.
Mas ninguém se deu conta de que as mulheres e os homens, em geral, estão iludidos.
Quando você perde algo ou alguém, você entra num grande processo de desilusão.
Na nossa cultura olhamos para isso e dizemos: “A coitada, está desiludida com o marido. A coitada, está desiludida com os relacionamentos”.
Ora! Vejamos de uma forma positiva: “des-iludir-se” é entrar em contato com a realidade.
Mas dentro da lógica à qual todos estão condicionados, entrar em contato com a realidade é algo absolutamente não-desejável.
Cada desilusão na sua vida é um portal para o Satsang acontecer.
Revela que você estava projetando algo em alguém ou num dado fenômeno, numa determinada condição...
e o que esperava não veio a acontecer. A tendência da mente é trocar de pessoa, de objeto, mas continuar com a ilusão.
Veja como você faz... Troca de carro, troca de namorado, troca de terapeuta, troca de emprego... está sempre projetando a sua realização nas mãos de algo ou alguém.
Se você olhar para Satsang, de verdade, vai ver que a sua realização não está nas mãos de ninguém,
que, inclusive, não pode ser projetada no futuro.
Você só pode ser quem você é, aqui e agora.
E uma vez que isso seja realizado há a tendência de que você sofra uma série de “des-ilusões”.
Se você olhar do ponto de vista cultural condicionado, ao conversar com sua mãe sobre a não existência do Papai Noel,
ela, certamente, sentirá muita pena de você. Mas se compartilha com alguém que já realizou o mesmo, ele dirá:
"Que bom! Finalmente você está acordando para aquilo que é”.
quinta-feira, novembro 25
o azul, o amarelo e a compaixão
Chegamos ao ponto de reconhecer que tanto a dor quanto a alegria,
tanto o choro quanto a risada, tanto o criminoso quanto a vítima... são a mesma coisa.
Essa é a minha chamada de hoje.
Nós estarmos aqui para ver, com toda a clareza, que aquilo que somos compreende tanto uma coisa, quanto a outra.
Este pequeno poema do Thích Nhất Hạnh, um monge vietnamita,
nos convida exatamente a essa visão:
Por favor, me chame pelo meu verdadeiro nome,
para que possa acordar
e a porta do meu coração seja aberta,
a porta da compaixão.
Qual é o seu verdadeiro nome?
O nosso encontro tem só essa função: chamá-lo pelo seu verdadeiro nome.
E não somente chamá-lo pelo verdadeiro nome, como chamá-lo de volta para o verdadeiro você.
Onde repousa todo o sofrimento?
O sofrimento não está naquilo que você é.
Está naquilo que, insistentemente, repetidamente, ideologicamente,
você repete como sendo você.
Tamanha é a insistência em ser aquilo que é visto e, nisso,
aquilo que você vê está separado daquilo que você pensa que é.
Você vive sob o império da separação.
Você vê o que pensa ou pensa o que vê?
Em realidade, todos pensam que vêem.
Esse pressuposto já está embutido e agora se articula apenas como oposição.
E oposição, conflito, gera sofrimento.
Portanto, chamá-lo de volta para quem você é, é urgente.
Onde está a dúvida? Por que você não volta?
Você se identifica com o que é visto e insiste em negar que é aquele que vê.
E, como descrito no poema, se você vê quem você é, a porta da compaixão se abre.
Permita o amadurecimento dessa visão.
Volte-se para dentro. Volte-se para aquilo que você é.
Exercite a possibilidade investigatória, que já está inserida em você,
para ver que você não é aquilo que a sua mente insiste em dizer que você é.
Encontrei também essa história de um outro vietnamita chamado Seung San, que fala o seguinte:
Você primeiro tem que tomar uma firme decisão para atingir a iluminação e ajudar os outros.
Você deve ter os cinco ou os dez preceitos. Saber quando mantê-los e quando quebrá-los.
Quando eles estão abertos e quando eles estão fechados.
Deixe ir o seu pequeno ser e torne-se o seu verdadeiro ser.
Você insiste em se relacionar com os seus pequenos seres e melhorar os seus pequenos seres.
Há, inclusive, a tese psicanalítica de que "quando você compreender toda a inconsciência do seu pequeno ser, se tornará consciente".
Mas essa é uma história para boi dormir... não é provável!
O foco precisa ser imediato. Acontece em menos de um segundo.
Se você decide firmemente ver quem você é, imediatamente uma coisa é trocada pela outra.
Imediatamente, você troca o pequeno ser, pelo verdadeiro ser.
Na sua natureza original, não existe nem isso, nem aquilo.
Quando você se vê como aquilo que é, de verdade, não existe outro.
Não existe nem isso, nem aquilo.
Qualquer divisão é um retorno ao pequeno ser, um retorno à sua pequena tragédia -
a comédica humana.
Você estabelece o seu drama desenhando isso ou aquilo.
O eu e o outro. O preto e o branco. O azul e o amarelo.
O em cima e o embaixo. O esquerdo e o direito.
Retorne para aquele lugar onde não existe nem uma coisa e nem a outra.
Na sua natureza original, não existe nem isso nem aquilo.
O grande espelho circular não tem gostos e nem "des-gostos".
Por isso aquele monge disse que quando você reconhece quem é você, a porta da compaixão é aberta.
Apenas lembre-se que abrir a porta da compaixão não é um exercício do pequeno ser.
A porta da compaixão é a realidade do supremo ser.
Não façamos desse supremo ser, uma possibilidade remota e futura. Onde ele está agora?
O supremo ser se encontra exatamente aqui, exatamente agora.
Simplesmente não se confunda com o que é visto.
Pra concluir, um último pequeno poema:
“Que engraçado,
esse ator agora servindo chá na sala de zazen,
pensa que ele sou eu.”
quarta-feira, novembro 24
zazen ou já zen?
Há muito tempo atrás, quando ainda não tinham inventado o telefone, um homem sem nenhum entendimento em direção à sua própria realização foi até um mestre e perguntou: “O que posso fazer para entender o Zen?” O mestre recomendou que ele sentasse em Zazen. Porém, o homem continuou: ”Não seria bom que eu estudasse os sutras dos magníficos iluminados que houveram? Não devo mergulhar em práticas devocionais a serviço dos outros?” Enfim, gerou uma série de propostas. Mas o mestre só reafirmou: “Se quer entender o Zen, sente em Zazen”. De nenhuma maneira aquele homem ficou feliz, e retrucou: “Como pode você - um assim chamado mestre -, pretensiosamente desmerecer a verdade que os sutras e as boas-ações carregam e me propor apenas sentar sem fazer nada, como a maior possibilidade de entendimento do Zen?” O mestre, pontualmente finalizou: “Como você pode chamar Zazen de sentar-sem-fazer-nada?”
Eu pergunto: o que a mente pode fazer para que você compreenda a si mesmo?
Como a mente pode ajudar na sua realização? Essa questão é a mais antiga e continua de uma modernidade intransponível. Por isso eu reforço: O que pode a mente fazer para a realização do Ser?
Não sei se a simples pergunta já permite ecoar aos seus ouvidos a resposta, que, diga-se de passagem, é de uma simplicidade estonteante. Veja! O que a mente pode fazer para o seu esclarecimento? Nada! A mente não tem acesso nenhum a isso. Portanto, permita o seu descanso.
Eu não me canso, nem me frustro em apontar para a seguinte localidade: o que quer que seja que a mente imagine, é absolutamente inalcançável. Por isso, a melhor prática em direção ao seu acordamento, que é o chamado direto de Satsang, é o silenciamento.
Pare! A mente não pode levá-lo onde você quer ir. Silencie!
Mas não como um método ou uma prática. Porque o Silêncio não está no amanhã.
Simplesmente veja que, se você põe de lado, por menos de um minuto que seja, todas as suas idéias, conclusões e pensamentos a respeito de si e do mundo, o que é que fica? Ou ainda, o que está lhe faltando para ser o que você já é?
Despertar é ver que você não decorre de um acúmulo de experiências. Recorra à visão de que nada precisa acontecer, porque não falta absolutamente nada para você ser você.
terça-feira, novembro 23
pensar não é ser
Se você se apega aos sentidos, existe separação.
Se olha com a alma, não tem separação.
Separação é uma noção nascida da ignorância da realidade.
Karma é apenas uma limitação na forma, nada pode ser feito a respeito.
Não se trata de um castigo divino;
a noção de castigo decorre de uma leitura supersticiosa do assunto.
Karma é a limitação da forma no mundo - a limitação e a expressão -,
Gal Costa tem o karma de cantar, por exemplo.
E você diria que é um bom karma, mas não é mau nem bom.
Nesse campo, junto com uma coisa vêm outras.
Viver o seu karma é aceitar as coisas como são.
Você não pode ser o que você não é, você só pode ser o que você é.
Encontre o seu parto, você tem que nascer para a sua verdade,
e a sua verdade é simples: Quem é você?
Tem tamanho? Forma? Nome? Nasceu em algum lugar?
Isso tem que ser olhado com olhos nus, coração aberto, sagrando em vunerabilidade,
sem nenhuma pré-concepção. Nenhuma delas nos servem. Jogue todas as concepções de lado,
olhe de frente e veja! Você está fadado a ver aquilo que todos os budas viram:
não existe ninguém chamado "eu" em lugar nenhum.
Somente quando você se pensa, existe um "eu".
Mas pensar não é saber. Pensar não é ser. Pensar é, simplesmente, pensar.
O que existe na mente, não existe em lugar nenhum a não ser na mente.
A árvore existe somente na sua mente.
Aquilo que vemos não é uma árvore.
O mundo que você vive está sendo construído e desconstruído o tempo todo
pelas suas ideias a respeito de tudo.
Eu proponho: desconstrua a sua ideia de mundo e veja o paraíso em que se encontra.
Ao se deparar com um limite, uma limitação na forma,
no mundo de Samsara, veja que ele é vazio de substância e o abandone intencionalmente.
Abandone as ideias!
Você se "de-limita" e não vê que o que tem que acontecer está acontecendo,
inclusive, à revelia dos seus interesses pessoais. Pois não há quem escolha.
Tudo é fruto da Consciência.
O karma do corpo é sofrer disso ou daquilo, mas a mente procura saída para a morte.
No entanto, ao mesmo tempo em que construímos enormes hospitais,
com a última tecnologia, na tentativa de curar o coração dos homens,
mais doenças do coração aparecem. É um paradoxo.
Essa é a brincadeira divina.
Quando sabemos de uma coisa, ignoramos outra equivalente,
de modo a eliminar uma ou outra.
É tudo uma grande brincadeira. Mas você se leva a sério e quer brincar de Deus.
Mas o jogo é dele... Quem é você?
segunda-feira, novembro 22
o coração e o lugar nenhum
- Satya, vejo que a pergunta "Quem é você" e a resposta estão no coração.
- E onde está o coração?
Minha preocupação é que a mente sempre tenta localizar, concluir.
Quando alguém diz "coração", aponta para um conceito,
algo conhecido e descrito pela mente.
A pergunta "Quem é você?' é um convite para que veja que
"você" não está em lugar nenhum - nem mesmo no coração.
Aquilo que você é, está muito além do coração.
É certo que devemos cair da mente para o coração.
Mas este é o meio do caminho.
O coração está no meio do caminho.
Chegando até aqui, você deve cair do coração para o Ser.
Certamente é muito mais gracioso, prazeroso e bonito estar no coração
do que na cabeça. Mas, uma vez que você caia no Ser,
não é possível descrever isso nem mesmo como "bonito".
Porque é tão grande, tão vasto, que não encontramos palavras.
A pergunta "Quem é você?" aparece para violar a mente e seus conceitos.
Ela surge para colocá-lo em conexão com a verdade e a realidade.
Quem é você?
No começo, existe um empreendimento da mente em descobrir, em saber.
E todos que tentaram com totalidade, com toda sua energia,
sabem que em algum momento chegou uma irremediável frustação.
Por mais que você tente, não há como saber.
Porque saber é o mesmo que conter.
E para conter deve haver uma divisão implícita ou explícita
entre o conhecido e o conhecedor. Ou seja, tem que haver um "você".
Esta é, fundamentamente, a condição em que a mente se encontra.
Esta é a condição em que a grande maioria de pessoas se encontram.
Todos são alguma coisa. Então, quando a pergunta é posta, em desaviso,
existe uma tendência gritante de que você vá em busca de alguma coisa,
acreditando piamente que mais cedo ou mais tarde encontrará algo.
Mas o fato é que não tem coisa nenhuma.
A ideia de que você seja alguma coisa, é fictícia.
Nem mesmo adianta dizer, antes que se torne uma realização sua.
Por isso um afunilamento é necessário. Investigue!
Você precisa ver que diante de uma resposta a respeito de quem é você,
passado um tempo, aquilo não é mais.
E você insiste, vê uma outra coisa, e logo aquilo também não é.
Este é o momento dos primeiros vislumbres de que você está atrás de uma ficção
e só existe uma saída. Somente uma...
Ainda não direi qual é, mas vou contar uma história:
Um dia, numa árvore repleta de frutas, uma das frutas caiu no chão.
As outras começaram a zombar dela... enquanto ela, olhou para cima e exclamou: "Suas imaturas!"
sexta-feira, novembro 19
o colapso do imaginado: experiência zero.
"Satsang" é uma palavra que vem do sânscrito.
SAT significa Verdade e SANG significa encontro, comunhão.
Podemos dizer, portanto, que Satsang é comungar a Verdade.
Trata-se de um ato religioso - mas não ritualístico -,
estamos falando do Original.
A Verdade comunga com ela mesma e deixa transparecer,
de antemão, que você não é aquilo que estava pensando que era.
Essa é a máxima que Satsang nos trás.
É como uma brincadeira de esconde-esconde.
Eu proponho que você é a Verdade e você propõe que é esse corpo e essa mente.
Vejamos o que fica.
Sem sustentar o que pensa, você se entrega à verdade.
Se mantendo convicto das crenças a respeito de si e do mundo,
se entrega àquilo que pensa que é,
à herança imposta pela sociedade, pelos seus pais, pela sua escola... pelo mundo, enfim.
Em Satsang, a brincadeira é encontrar a Verdade, além de tudo que você imaginava até hoje.
E o mais divertido é que é muito mais simples do que você imagina.
Na verdade, você já está comungando a Verdade,
apenas não está consciente disso.
O nosso propósito, portanto, é uma mudança de percepção.
Vamos mudar a percepção do objeto percebido e notar
que aquele que percebe permanece o mesmo.
O objeto percebido é que muda.
Um esforço mínimo é necessário. Apenas um entendimento precisa ocorrer.
Relaxe e ouça. Algumas vezes pode vir a parecer absurdo o que a Verdade revela,
mas é de muito bom tom que você assuma que a sua "estrutura pensamental" está sendo ferida
e vá em frente, investigue.
Satsang colapsa tudo aquilo que você imagina.
Estamos diante do colapso do imaginado e do aparecimento do real.
A isso chamamos de "acordar". E essa não é uma experiência.
Vou repetir: não é uma experiência.
Seria fácil propor mais uma experiência de bem-estar,
mas esta seria apenas mais uma experiência de bem-estar, que estaria fadada a terminar em algum momento.
Tudo o que começa, termina.
Estamos aqui para olhar para uma outra coisa: aquilo que não começa nem termina
e que, portanto, não é uma experiência.
É uma não-experiência. Gosto de chamar de "experiência zero".
Tudo que é experimentado é experimentado no tempo.
Satsang é um retorno ao Original,
um retorno àquilo que você sempre foi, é e será, sem que se mova de onde se encontra.
quinta-feira, novembro 18
no frescor do agora
(Participante) - Satyaprem, eu sinto um imenso frescor em estar aqui.
Sim. Quer uma palavra mais bonita que essa?
É fresco, virgem, todo o tempo.
As histórias estão passando e o que está passando não sou Eu.
Eu estou sempre aqui e agora.
Me dei conta disso e tenho certeza de que você também pode se dar.
Qualquer história que você conte a respeito de si, é apenas uma história.
Isso não é você. Por isso, ao ver quem você é, existe uma sensação de frescura,
de ahaaaaa...
Essa é a realização de que você está sempre aqui e agora.
Em geral, todos mantém o foco nas histórias.
Por isso eu proponho que olhe, ainda que seja de vez em quando, para dentro.
Veja se existe alguma necessidade proveniente daquilo que você é em essência;
ou se Ele o convida a ficar em paz porque está tudo bem?
Se você vê o convite do Silêncio e aceita, ele faz-se presente mais e mais.
Ele chega a visitá-lo em horários inesperados.
Gentilmente, Ele bate à sua porta e pede para entrar,
mas se está muito ocupado com isso ou aquilo, decide que não pode atendê-lo,
porque está namorando ou fazendo compras...
E, afinal de contas, você tem uma imagem a zelar -
não cai bem abraçar o Silêncio assim, de repente, a qualquer hora,
em qualquer lugar... não é mesmo?
Mas espere um pouco... que imagem?
Você está imaginando coisas.
Eu pergunto: qual é a imagem daquilo que você é?
Tem alguma imagem?
Não. Você é inimaginável!
Não somente não tem imagem, como é inimaginável.
Se olha para o inimaginável e o abraça, namora com ele,
o que colhe disso?
Dê-se conta!
É inevitável que você colha relaxamento corporal e pacificação na sua mente.
Você para de correr atrás dos seus sonhos e não tenta mais evitar o inevitável,
em maior ou menor escala.
Viva! Siga aprendendo coisas... brinque com isso!
Mas mantenha o foco no interno, dentro. Esteja alerta.
E ao contrário do que muitos entendem como verdade,
você pode até estar alerta e esquecer a chave, isso não é um problema.
Sempre há uma segunda chance, porque aquilo que permeia todas coisas é pura bondade.
O Ser é bondade e está esperando por você.
Não tem outra palavra nesse momento. É fresco, mesmo. É o Silêncio.
Olhe para dentro e ponto final.
Olhando para dentro. Do que você precisa para ser você ou para viver?
Olhe: casas, carros, dinheiro... e, nesse exato momento, você não precisa nada. Veja!
(Participante) – Eu tenho a sensação de que poderíamos ficar aqui eternamente.
Esse é o meu convite: fique Aqui eternamente.
Não saia nunca mais d'Aqui!
quarta-feira, novembro 17
o mundo é a mente. você quem é?
Na medida em que começa a soltar os limites que lhe foram concebidos,
você entra no desconhecido.
A mente "entra", porque é ela que não consegue mais descrever
o novo ambiente em que se encontra.
Sem uma estrutura silenciosa, sem um ponto de atenção,
é comum tentar voltar ao estágio anterior, o conhecido.
O mundo é a mente.
Tudo o que conhecemos é a mente.
Qualquer que seja o enredo,
seja ele mental ou emocional, acontece na mente.
Investigando mais à fundo, os sentimentos são descritos mentalmente.
A mente contém e cataloga todos os sentimentos,
além de aceitar uns como proprietária e tentar eliminar outros como indesejáveis.
Mesmo quando se sente muito feliz, isso é a mente.
Feliz é um estado de sentimento que ocorre na mente,
descrito pela mente, conhecido pela mente e valorizado pela mente.
Por isso, ao receber a proposta de que você seja "não-mente", Silêncio,
de que você não seja a sua mente, a mente não entende.
O segredo compartilhado em Satsang é que você é Silêncio.
Realizar a si mesmo, seria tomar este segredo à risca.
No Silêncio não tem ruído, não tem problema.
Quando os problemas começam a aparecer
é porque está havendo uma sabotagem -
a mente nota que não é bom seguir rumo ao desconhecido,
porque, nele, ela some.
Então, ao invés de assumir que você está optando pelo sumidouro dela,
a mente propõe que você está com náuseas, com dor de cabeça,
que o seu sistema orgânico está disfuncional...
Ou seja, ela sabota completamente o estado de ser tranquilo,
quando nota que não é mais o capitão.
Ela propõe o afastamento da Verdade e a aproximação da manutenção
daquilo que nos foi apresentado como realidade.
A mente assume esse papel em detrimento à Verdade
e o segredo fica inescrutável.
Todo esse movimento é intra-mental,
pautado na ideia de que você esteja fazendo mal a si.
Mas o Silêncio não faz mal nem a você nem a ninguém.
A quem faz mal, aproximar-se do desconhecido?
O medo é da mente.
Ela cria situações que geram efeitos
e fazem com que você se afaste do essencial.
Então, estando diante do desconhecido,
talvez haja durante um certo tempo uma diarréia.
Mas veja isso como um expurgo,
porque a Verdade tende a corromper aquilo que é irreal,
e se você está muito identificado com o que não é real,
a presença da Verdade gera uma aparente desestrutura.
Se olhássemos para um círculo extremamente clássico e ¨anciente¨,
nesse momento, tal mente seria forçada
a permanecer em contato com o abismo.
Porque a Verdade é simples,
e para Ela não tem nada que não seja absurdamente simples.
Recorra ao Silêncio que você é, Agora.
Não tem nada para ser entendido.
A mente tenta estruturar, mas na presença da Verdade
isso se torna impossível.
A Verdade não é sistemática, não é racional,
portanto, se você entra com a sua cabeça,
tem a sensação de estar a "desaparafusar" tudo,
porque uma coisa não parece encaixar na outra.
Mas é isso mesmo. Não tem encaixe.
A Verdade é completamente aberta, espontânea.
Não se trata de uma leitura ou um discurso embasado num sistema.
É espontaneamente que, em Satsang, nos encontramos
e quedamos com a pergunta final: Quem somos nós?
segunda-feira, novembro 15
no coração de todas as experiências
O divino está em todas as coisas.
Nascimento, morte, relacionamentos, vazio, preenchimento,
existência, não existência... tudo vem da graça do divino
e a ele retorna.
Existem técnicas que colocam a sua atenção
em melhorar, em tornar bonito o que é feio.
Em Satsang, porém, a ideia é olhar para o que é inerente
e fundamenta todas as coisas.
Talvez você se dê conta de que a dor do outro é sua
e a sua dor é a do outro.
O prazer do outro é seu e o seu prazer é do outro.
Nisso, começa a surgir -
deixem-me usar uma expressão que está em voga -
uma nova "ética de ser".
Ela está baseada no coração de todas as experiências.
Toda experiência é um chamado ao que é inerente ao Ser.
Dê-se conta de que não se pode culpar o divino por ter feito isso ou aquilo.
Tudo o que acontece é entre o divino e ele mesmo.
Se aquilo que está no coração de todas as experiências é visto,
não tem nada para ser melhorado.
Caso contrário, você se volta para o periférico
e permanece identificado com as aparências, a forma.
Se isso está se tornando cada vez mais visível, melhor.
O meu convite é: se tem algo a ser melhorado,
olhe para o que está certo e não para o que está errado.
Olhando para o que está errado, você cai na história,
mas, se olha para o certo, sai da história e entra em retiro.
Você entra em Satsang.
Retire-se da história, do imperfeito.
Seja implacável e cruel com a sua história, entregue-a.
O que quer seja que você perca, não vale um tostão furado.
Olhe para o que está perfeito, de novo e de novo.
sexta-feira, novembro 12
mente é movimento. stop!
Na medida em que você descobre que não tem saída
e a frustração pela impossibilidade de realização dos seus desejos aumenta,
começa a nascer pela primeira vez a possibilidade de que você se dê conta
de que a maneira com que você lida com esse aspecto da vida, é equivocada.
Nesse ponto, surge a possibilidade de compreender que
aquele que está buscando é o que está sendo buscado.
Eu insisto! Mente é ruído.
Você tem que abrir o seu coração para o fato de que a sua mente só gera ruído.
E ruídos causam um sofrimento interminável.
Sempre que você diz "sim" à sua mente,
você entra numa ilusão completa a respeito da Realidade.
Quando diz "sim" à sua mente,
você começa a buscar a solução de um problema que não existe.
Só a mente crê que problemas existem.
Ela apresenta um problema e você concorda:
"Tenho que resolver isso, não posso mais viver assim.
A minha vida tem que mudar".
Mas, por que a sua vida está assim, em primeiro lugar?
Aliás, assim como?
Ver isso é fundamental.
Se você ouve com o coração, começa a se dar conta de que
esse é o movimento natural da mente.
E, diga-se de passagem, mente é movimento.
Para você ver, a mente tem que estar quieta.
Como, em tese, não dá para ir direto da mente para o ser,
pare no meio do caminho, no coração.
Ouça com o coração.
E talvez comece a ser desvendado este mistério
que existe em torno do fato de que
"aquele que está buscando é aquilo que está sendo buscado".
A palavra "busca", para a mente, engendra uma distância objetiva entre duas coisas.
Mas se você atravessou os paredões da mente,
sabe que aquilo que está buscando, já está aqui.
Essa visão propõe o entendimento de que a busca, para ser realizada,
precisa de um "parar".
Aquiete-se.
Não tem lugar para a sua mente nisso!
Para simplificar a questão, simplesmente não dê ouvidos
ao que quer que seja que a mente diga.
Ouça, mas não corresponda.
Ouça, porque não tem como não ouvir.
O galo cantou e isso é indiscutível.
Não é possível exigir que você não ouça o galo cantar.
O galo cantou, mas qual é o significado disso?
Nenhum.
No entanto, você ouve a sua mente como se fosse
um galo cantando cheio de significância.
Tudo o que eu estou dizendo é: ouça a sua mente como um ruído qualquer.
E talvez, até encontre uma certa beleza no ruído proposto por ela.
A mente pode começar, inclusive, a gerar ruídos mais harmônicos.
Um ruído harmônico e criativo, serve a você.
Ele se prosta e não está contra você -
aqui me refiro ao "você-silêncio".
Não estou falando do "você-ego".
É fundamental que olhe para dentro.
Essa é uma outra maneira de dizer a mesma coisa.
A menos que você olhe para dentro, nada é possível.
Porque do lado de fora existe uma sequência de movimentos .
É um constante bicicletar. Um constante pedalar que não para nunca.
Se não é uma coisa, é outra. Não tem fim...
Olhar para dentro requer inclusive uma quietude corporal.
Exige um parar.
O Osho inventou meditações que sem explicação nenhuma exigiam,
forçosamente, um "parar".
Era aumentado o nível de movimentação ao extremo
e no topo do movimento ele dizia: Stop!
Isso é para que você veja que não importa o que esteja acontecendo,
a possibilidade de parar está dada.
Mas você tem que pegar.
Você tem que ouvir, você tem que disciplinar.
E, nesse sentido, a disciplina é: Stop!
Pare!
quinta-feira, novembro 11
vida é uma dança de átomos apaixonados
Como esquecer de si mesmo?
(Participante) - Deixando que a vida venha do jeito que ela vier.
E ela depende de você deixar ou não?
(Participante) - Não.
(risos)
Ela simplesmente vem. Ela não pergunta nada antes.
Temos uma tendência em achar que tudo depende dos nossos atos.
"A partir de agora eu vou deixar as coisas virem do jeito que elas vierem".
Ora! Você não se deu conta de que elas vêm, deixando ou não deixando?
Mesmo quando você não deixa, elas vêm.
Aliás, as vezes parece que quanto menos você deixa, mais elas vêm.
Então, não deixe nem "des-deixe" nada.
E veja que a vida é uma dança de átomos apaixonados,
felizes ou miseráveis, ao redor do sol - como diz Rumi.
Não tem como organizar.
Pelo menos, não tem a organização proposta pela mente.
Se você pensa que não é um dos átomos enlouquecidos ao redor do sol,
parece haver uma chance de organizar os átomos.
Mas você faz parte.
Você mesmo, como se concebe, é uma onda de átomos enlouquecidos ao redor do sol.
E não tem como reorganizar isso.
Pelo contrário, quanto mais você tenta reorganizar,
dar um destino à sua vida, de acordo com a sua vontade, mais sofrível tudo fica.
Esquecer-se de si mesmo é lembrar que você não é aquilo que pensa que é.
Que você não sé aquilo que as pessoas o ensinaram a pensar que você é.
Sim, porque você foi ensinado a pensar tudo o que você pensa.
Se ninguém tivesse ensinado, você não teria a metade das ideias que tem na cabeça.
Eu duvido muito que você coletaria todas essas ideias voluntariamente.
Isso não é inteligente e, inclusive, contraria toda a investigação proposta em Satsang.
Aliás, se você acha que é quem você pensa que é,
já notou que quem você pensa que é, de vez em quando muda?
É impermanente. E se é impermanente não pode ser você.
A equação é bem simples.
Mas todos exigem que você seja aquilo que eles pensam que você é.
E não pense que eles exigem isso por você. É por eles mesmos.
É porque confrontando essa 'realidade',
eles também terão que ver que eles não são quem eles pensam que são.
Quanta vezes já ouviu de alguém que você não parece mais ser a mesma pessoa?
Sim, você não é mais aquela pessoa que eles pensavam que você era ou o quê?
Em verdade, você continua sendo exatamente os mesmos átomos eulouquecidos ao redor do sol.
Não tem ninguém, não tem dois, não tem diferença.
Eu experimentei ser aquele que pensam que eu sou.
Mas para qualquer lado, é sofrível.
Só existe descanso, só existe silêncio, quando você deixa de ser
aquilo que você e os outros pensam que você é.
Satsang, portanto, é dedicado a esse evento secretivo:
esquecer-se de si mesmo.
Se alguém pergunta quem você é, você diz, simplesmente, que não lembra.
Afinal, por que seguir uma história que não está mais presente?
quarta-feira, novembro 10
na entrega, o bambi lambe o seu nariz
A grande liberdade que Satsang revela, é uma liberdade infinita.
Tudo está contido nessa liberdade.
Mas você decide que não quer mais ficar triste.
E este é o começo da escravidão.
No momento em que você decide que não quer mais isso ou aquilo,
você está decidindo pela não-aceitação - que é o antônimo de Deus,
de Liberdade, de Silêncio, do Ser.
Se de repente ficar tácito que não tem o que excluir,
o segredo foi compartilhado e compreendido.
Enquanto você não se der conta de que tudo pode ser contido em "quem você é",
você permanece brigando com aquilo que está, inclusive, o convidando
a abrir a possibilidade de dar boas vindas, de inlcuir tudo.
Seguindo a nobre verdade de Buda, de que tudo é sofrimento,
se você decide que não quer mais sofrer, você está indo contra a verdade.
E quando vamos contra a verdade, entramos num mundo totalmente ilusório.
Você pode até ficar suspenso na ideia de ter 'encontrado',
mas, de repente, você cai.
Tem a história de um homem que descobriu que todo o problema dele era uma grande árvore.
A cada primavera, dessa árvore brotavam milhares de folhagens malquistas, não aceitas.
Ele se empunhava de todo o tipo de artifícios para remover as folhagens indesejadas.
Se dedicava ferozmente ao assunto.
Até que num dia muito quente, no meio da floresta, enquanto destroçava todos os galhos,
depois de ter feito parte do seu trabalho - já com a expectativa de que tudo ia crescer de novo -,
ele caiu no chão de cansaço. Fechou os olhos e se entregou ao momento.
Nisso, um bambi surgiu de dentro da floresta e deu uma lambida no seu nariz.
Naquele instante, ele se deu conta de algo.
Você pensa: "dessa vez eu vou entender o que o Satya está dizendo".
Mas eu tenho uma má notícia: não tem como entender.
E esse é o grande impasse do nosso encontro.
Só quando você desistir, é que o bambi vai lamber o seu nariz.
Mas só quando você desistir.
A seqüência normal, devido ao nosso condicionamento, é de acúmulo.
Você pensa que só está faltando uma peça, e espera por ela.
Mas essa peça é um acúmulo, um acréscimo, uma coroação.
Eu tenho a peça que você procura, mas eu não posso dar.
E se você pegar, ela desaparece.
Se é que eu posso dizer que haja uma seqüência, a seqüência é outra.
Quando você cair de cansaço, o seu nariz será lambido.
Aqui, em nosso contexto, o que é cair de cansaço?
É a desistência. Não é uma desistência humana.
Não é como desistir e ir 'atrás' de outra coisa...
É como se você desistisse sem ir embora.
Dar-se conta do exato que você é,
não é motivo de coroação para aquele que você pensa que é até hoje.
Dar-se conta de si, é conhecer o caminho de Buda, é conhecer a si mesmo.
E "conhecer a si mesmo, é esquecer-se de si mesmo".
Ou seja, esse que você pensa que é, precisa ser totalmente esquecido.
E aí o verdadeiro "Si mesmo" lambe o seu nariz.
terça-feira, novembro 9
preso no teto do infinito
O simples fato de sua atenção estar intencionalmente voltada para Satsang, já é uma virtude. E eu acho que é a respeito disso que falaremos hoje.
Para onde a sua atenção está voltada?
Tem um ditado que diz: “Quem planta vento, colhe tempestade”. E é assim mesmo, Tudo que plantamos pequenininho, cresce. Você planta um ventinho e colhe uma tempestade. Portanto, da mesma maneira, se planta um minuto de silêncio, você está plantando uma intenção, está plantando um olhar em direção a quem você verdadeiramente é. E possivelmente, você irá colher o fruto dessa intenção.
Na verdade, todos nós recebemos a atenção de graça e também damos essa atenção de graça, selvagemente. A minha intenção, no entanto, é recompor esse quadro para que você possa perceber que colocar a sua atenção selvagemente em determinados lugares, pode resultar em tempestades.
Se a sua intenção é colher Paz, que eu suponho que seja, então, colocar atenção no lugar certo é fundamental. Se não olharmos para o lugar certo, permanecemos perdidos. E eu não estou falando de “certo” no sentido católico/cristão. Estou falando do lugar exato.
Para que possa olhar para dentro, é fundamental que se dê conta, para começo de conversa, de onde o “dentro” fica. Senão você vai estar brincando de cabra-cega. Você vai estar perdido: uma hora mexe aqui, outra hora mexe ali, outra hora mexe acolá, e nada, de verdade, dá naquilo que você está buscando.
Uns amadurecem mais rápido, outros mais lentamente, mas, eventualmente, você tem que se dar conta de que onde é plantada a sua semente de atenção, virá a ser colhida a sua intenção. Portanto, exemplificando, no momento em que a sua atenção requer um controle, um esforço, este já é um sinal de que você está colocando atenção no lugar errado.
Porque o lugar certo, dentro, é como um ímã, é magnético. No momento em que você coloca atenção no lugar certo, você é sugado, você desaparece como sendo este ‘você’ conhecido e aparece como sendo um outro Você.
Em outras palavras, permitam-me que eu repita uma frase que eu gosto muito: “Você não é quem você pensa que é”. Não importa o que você pense a respeito de si, talvez seja a última moda o que você está pensando que é você, mas você não é isso. E, ainda que você pense que é Consciência, você não está realizado enquanto Consciência, você só está pensando que é Consciência. Em outras palavras: o acesso tem que ser direto.
Quando a atenção é colocada no lugar certo, no lugar exato, o esforço desaparece. Existe um relaxamento e você se liberta. Você se liberta, inclusive, para esforçar-se em direção a algo. Você é livre também para fazer esforço, mas, sabendo que o seu esforço não tem nenhuma função, é só por esporte. “Sou paulista e gosto de me esforçar” - mas é apenas um esporte, não tem nada a ver com a Verdade, não tem nada a ver com quem você é. É apenas uma das formas de arte. Esforce-se tremendamente, mas perceba que, no fundo, você reconhece que é livre em qualquer direção.
Se a sua atenção for posta corretamente no lugar exato, você se liberta até para ficar tenso, triste, ou o que quer que seja. Você pode até sonhar que está preso.
Outro dia eu li uma pequena frase de um amigo onde diz: “Estou preso com a cabeça no teto do infinito”. É uma boa imagem. Ou é poesia ou é uma clara visão, uma visão direta, uma experiência direta de quem ele é de verdade - que lhe deu esse direito de dizer que ele está preso com a cabeça no teto do infinito. Porque se olhar corretamente, você vai se dar conta de que está livre, de que é livre, e, por último, de que você é liberdade. E, nesse sentido, tudo aquilo que era construído, condicionado, convivido até hoje como sendo ‘você’, começa a desaparecer, começa a se desintegrar.
Nesse ponto, nada precisa ser feito. Pelo contrário, agora a sua atenção vai para o lugar exato e aquilo que era alimentado erroneamente pelo mau direcionamento da sua atenção, não é mais alimentado.
segunda-feira, novembro 8
o desconhecido é estranho à mente
A sua mãe disse: “Não converse com estranhos”.
E o Ser é estranho à mente.
Logo, por você se identificar com a mente,
o Ser aparece como estranho.
E como é da natureza do Ser permanecer eternamente no desconhecido
e "inconhecível", a estranheza permanece intacta.
A crença de “não conversar com estranhos” tem um poder.
E, nesse momento, ela quer dizer: “Não veja quem você é, não volte para casa”.
Porque existe uma estranheza.
Você vai se estranhar, diante do desconhecido.
Mas a verdade é que você nunca se conhecerá,
porque conhecer implica em determinar, medir, em ter um objeto,
em ter uma relação sujeito-objeto.
E o Ser é pura subjetividade, nunca vai se tornar um objeto.
Dê-se conta de que o visto não é quem vê e quem vê nunca vai ser visto.
O software deve ser inteligentemente removido.
Ou melhor, colocado no lugar dele.
Ele tem uma função prática em relação aos objetos percebidos pelos sentidos,
mas não a respeito da sua natureza mais íntima, que é o Ser.
Ele não tem absolutamente nada a ver com isso.
Nesse aspecto, ele pode ser descartado, pode ser colocado de lado.
A sua cabeça, simbolicamente, perde o valor
e o seu coração passa a ter mais valor.
Mas, aqui, permita-me discriminar algo:
não estou falando do coração-sentimento, estou falando do coração-cerne,
do coração-ser, do âmago, do mais profundo.
E o mais profundo não fica no topo.
Na linguagem dos "seres humanos",
não estar no topo é estar embaixo.
E na linguagem mística, não estar no topo é estar no centro,
é estar dentro.
Então, olhar para dentro começa a subverter ou reverter
a ordem do seu subconsciente.
Perder a cabeça é tomar consciência de que a cabeça, a racionalidade,
não rege e nunca regeu nada.
Só parece que sim.
Mas você já observou um iceberg?
Tem uma mínima parte aparente, no topo, acima da água.
E até parece que ali se encontra o timão, no sentido de direcionamento.
Mas se você mergulha e olha lá embaixo, vê que 90% do iceberg está submerso
e, em realidade, aquilo que está submerso é que dirige,
porque é aquilo que está submerso
que está mais intrinsecamente ligado ao movimento das águas.
Essa metáfora aqui se aplica perfeitamente:
o que aparece não é, e o que é não aparece!
Agora, decida: quem é você?
Você é aquilo que aparece aos sentidos
ou aquilo que não aparece aos sentidos,
mas onde os sentidos aparecem?
A Consciência não aparece,
são os sentidos que aparecem na Consciência.
domingo, novembro 7
Acordar é a revelação de que não tem você
Quando se dá conta de que o “ver” é impessoal,
você começa a perceber que o que acontece com o corpo,
na vida, no dia-a-dia,
é realmente uma expressão daquilo que você é.
A partir daí, se torna muito mais importante esse “ver”,
do que, necessariamente qualquer “fazer”.
O que quer que seja que você faça,
é decorrência de uma série de circunstâncias,
e nunca sabemos, de ante-mão, o que são.
No entanto “ver” é absoluto.
Diante do absoluto, procuramos a entidade "eu"
que pensamos ser e não encontramos nada.
No lugar da entidade há algo totalmente pacífico,
silencioso e impessoal - e Isso é você.
Acordar é ver.
Praticamente nada precisa acontecer.
Porque acordar não é algo que acontece para alguém.
Acordar é a revelação de que não tem ninguém.
Logo, não acontece para alguém. Acontece para ninguém.
E, na verdade, não acontece. Não é um acontecimento.
Normalmente as pessoas, e talvez você também,
procuram por um acontecimento.
É habitual.
Nós estamos completamente acostumados a acontecimentos,
o tempo todo precisamos de registros.
Registramos o nosso nascimento, a Primeira Comunhão,
a entrada na escola, a saída da escola, o noivado,
o casamento, a separação... tudo precisa ser registrado.
Porque se não houver registro, fica óbvio que a entidade falsa não existe.
Inclusive, ela só existe porque tem registro,
porque tem uma história para contar.
Já o que eu quero chamar a sua atenção para,
é algo que não precisa de registro para ser,
e tão pouco se importa com os registros.
Na verdade, as coisas acontecem nisso que você é.
Elas não acontecem para justificar o que você é.
As coisas acontecem e desacontecem nisso,
e isso não acontece.
Isso não desacontece, tampouco.
Do que estamos falando?
Não é do seu corpo, porque o seu corpo está acontecendo nisso.
Não é da sua mente, porque a sua mente está acontecendo nisso.
Não é a respeito dos seus sentimentos e sensações,
porque ambos estão acontecendo nisso.
Tudo, absolutamente tudo o que acontece, acontece nisso.
E isso não acontece em lugar nenhum.
Você é um não-acontecimento.
sexta-feira, novembro 5
o aprendido e o essencial
"Silêncio" é um nome que indica sem definir.
Nada é definido quando digo "silêncio".
O nome é apenas indicativo.
A verdade é que nem o barulho interfere.
Aquilo que não pode ser definido está sendo indicado.
Essa é uma tentativa de indicação,
mas quem você é, não pode ser definido.
Aquilo é você, mas você não é Aquilo.
Tem um você que é definido e um você que é indefinível.
Osho diz: “Existem dois homens comigo, o aprendido e o essencial.
Aquele que eu sou antes de qualquer coisa e aquele que eu sou depois de todas as coisas”.
O essencial é aquele que observa, é aquele que está no centro de tudo.
Aquele que foi aprendido está na periferia - são os comportamentos, o corpo, a mente...
Se você chegou até aqui com aquele da periferia é por que ele fez um bom trabalho,
agora olhe para o essencial, olhe para o centro e descubra que entre o centro e o periférico existem infinitas milhas de distância.
O que acontece com um, nunca acontece ao outro,
Na verdade, nada acontece para Aquilo que você é.
Isso é dar-se conta do essencial, isso é voltar para casa.
Nisso não existe causa e nada se move.
Não estamos falando do silêncio-objeto, Satsang aponta para o silêncio-não-coisa,
para a consciência-não-coisa.
Não estamos falando da consciência-objeto, passível de entendimento.
A Consciência não pode ser entendida,
você só pode sê-la e agora, nesse instante, você já é.
Nada precisa ser adicionado, nada precisa ser removido.
Trata-se apenas de um entendimento.
Viver Isso em sua mais completa extensão, deve ser o seu trabalho.
É necessário o reconhecimento e que ele se estabeleça.
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